Esta é uma história sobre
Border Collies que aconteceu longe de nós, mas tão longe que nos permita revelar a identidade de alguns dos seus intervenientes. Um nosso amigo, que
sempre espera milagres onde raramente acontecem, particularmente quando o
dinheiro escasseia, recebeu de presente um bonito Border Collie desleixado.
Como é proprietário de um pequeno rebanho de ovelhas, vá-se lá saber para quê,
entendeu fazer do Border um cão pastor de nomeada, já que a raça do animal
parece ter nascido para isso.
Como não o sabia ensinar e
não encontrou nas redondezas quem o fizesse, o bom do homem agarrou no cão e
levou-o para a quinta de um expert que se dedica ao ensino de cães de
pastoreio, deixando-o ali para ser convenientemente instruído. Passado algum
tempo voltou àquele lugar para se inteirar dos progressos do animal. O
instrutor foi peremptório, o cão não se ajeitava nada, provavelmente por porvir
de pais de concurso e não de pastoreio.
Perante o desânimo do
proprietário, o instrutor, mostrando-se solidário, propôs-lhe um negócio: trocar
aquele cão por outro já ensinado, adiantando-lhe que não se preocupasse com o
montante do reembolso a haver, quantia que ainda hoje está no segredo dos
deuses. E assim aconteceu, o nosso amigo voltou para casa com um cão habilitado
para o que queria, que por sinal é feito que nem um bode, para além de estar
mal sociabilizado e de ser desconfiado.
Perguntarão os nossos
leitores e bem: o que sucedeu ao outro cão? O Border bonitinho acabou por aprender
o necessário e tornou-se num excelente cão pastor, sendo hoje o orgulho do seu
instrutor, que ficou com um cão ideal – belo e funcional! O nosso amigo acabou
duplamente burlado, coisa que infelizmente já não estranha, porque ficou com o
pior cão e ainda teve que pagá-lo! Ele esqueceu-se ou não sabia que o tempo
acaba por vencer todos, sejam homens, sejam cães, que os persistentes e os que nunca
se rendem tendem a ser vencedores, porque têm o tempo como aliado e ele todos
dobra.
O que acabámos de afirmar
não é mera doutrina militar, até porque a tropa “apenas” potencia nos indivíduos
aquilo que eles tem para dar-lhe, mas sim lições de e para a vida. Compreende-nos
melhor quem ainda se lembra do que é o reflexo condicionado, porque sabe que o
tempo tem em tudo uma importante palavra a dizer. Treinar cães é uma arte que
assenta em grande parte na insistência dos seus instrutores, proveniente do
elevado grau de ânimo e paciência que os sustenta. E quem não tem estas características,
por mais que diga que o é, jamais será um genuíno adestrador.
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