sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

“PONTO LARGO QUE O FREGUÊS É DE LONGE”

Um correeiro já falecido, por sinal um bom amigo, daqueles que nunca esquecemos, tinha por hábito dizer para um empregado seu, quando este se prendia com pormenores desnecessários, numa peça de um cliente ocasional, que dificilmente os voltaria a procurar, por estar acostumado a trabalhos menos rigorosos e mais baratos, a seguinte sentença: “Ó Manel, isso quer é ponto largo, porque o freguês é de longe!” Assim também procedem, indevidamente, determinados criadores de cães, que vendem os cachorros desacompanhados do respectivo pedigree, prometendo entregá-lo no mais curto espaço de tempo, o que por norma não acontece, se os compradores forem pouco versados nos meandros da canicultura, pouco exigentes e confiados, já que o registo no CPC não é necessário para o licenciamento camarário. 
Porque procedem esses criadores assim? Primeiro, porque são desonestos e depois porque procuram tirar vantagem dos incautos. Quem já criou cães de raça sabe, que em quase todas as ninhadas sobram registos, porque há gente que nunca os reclama ou chega a levantar. Esse “excedente”, quando volumoso, nas mãos de gente sem escrúpulos, acabará por substituir novos registos individuais e de ninhada, diminuindo assim as despesas desses criadores. Também serve para “transformar” um ou mais cachorros alheios, com ou sem registo, em produto da casa, podendo inclusive ser vendido para “registar” um ou mais cães sem registo, que doutra forma jamais alcançariam pedigree. 
Por vezes, especialmente com os cães que vêm a ser treinados, mercê da sua qualidade e interesse prà reprodução, surge a necessidade do seu pedigree, o que irá obrigar os donos a ir buscá-lo ao criador, que normalmente não o tem, porque não registou o cão ou porque o atribuiu a outro. Nestes casos, os criadores em falta, tentam demover os donos dos seus intentos, dizendo-se indisponíveis e carentes de tempo para o procurar. E se porventura aparecer, mediante a insistência dos proprietários, o registo entregue não corresponde, na maioria dos casos, ao cão em questão (diferente filiação, idade, microchip e até variedade cromática). 
Nestes momentos de crise que nos assolam, em que a canicultura vai a pique, as trapaças tendem a multiplicar-se, apesar do Natal retardar o seu afundamento. Se por acaso decidir comprar um cachorro e não lhe for entregue de imediato o seu registo, não confie em promessas e acautele-se, pague metade do valor do animal e diga ao criador que pagará o resto, quando ele lhe entregar o registo em falta. Não deixe que o burlem na ânsia de levar o cachorro para casa!

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