O maior problema dos portugueses é a falta de unidade, e não estou a parafrasear ou a fazer eco doutros, porque me engano amiúde e cada vez tenho mais dúvidas, enquanto humano, falho e circunscrito ao tempo em que vivo. Quisera eu adivinhar o futuro! Não tendo outra solução, comparo o passado com o presente e tiro elações para o que há-de vir, de acordo com a minha condição de homem simples, desafortunadamente pouco bafejada pela erudição. Apesar das minhas limitações, que não são poucas, empreendi a leitura da nossa História e a compreensão da nossa Nação pela apreciação de três relatos: o cristão, o muçulmano e o judeu, porque a tanto me levou a nossa grandeza cultural, única em parte e comum aos países latinos da bacia mediterrânica, hoje em igual crise e ávidos de soluções. E quando digo que nos falta unidade, quer queira quer não, estou a repetir o que alguém já disse, desde os alvores da Nação até à presente data. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, mas o nosso carácter individualista e metafísico continua a obstar ao traçar de metas e objectivos que melhor nos serviriam, retardando a unidade que garantiria a nossa autêntica soberania. Entretanto, consumimos o que nos põem no prato e aplaudimos o que nos é vendido, como se necessitássemos de ser aprovados e o mundo não começasse cá dentro.
Os políticos que temos por cá, por mais ignota e díspar que seja a sua ideologia, são todos iguais e os partidos que os sustentam, agarram-se a tutelas para justificar querelas mais antigas do que eles, provavelmente da idade em que o homem apareceu na terra e se tornou fratricida. Aliás, não precisamos destes partidos, já estamos demasiado divididos, a exemplo do peixe: em cabeça, rabo e posta, e prontos a ser consumidos. Apelar ao nacionalismo não é fácil, porque aos muito ricos pouco lhes importa ser português ou não e aos mais pobres sê-lo é maldição. Os primeiros vêem o Estado como um esbanjador de fortunas e os últimos sentem-se roubados por ele. Se houver alguma forma de nos levantarmos, ela terá que vir da classe média, a que sempre suportou este País e que hoje se vê ameaçada externa e internamente, onde o bom senso impera, a fraternidade existe e o nacionalismo ainda é possível, o que dito doutro modo significa que, se a classe média sucumbir, perderemos imediatamente a identidade nacional, o que não é difícil, uma vez que continuamos a pedir dinheiro unicamente para pagar dívidas, o que torna todos mais pobres até ao culminar da ruína, se entretanto nada for feito. E como é sabido, pobre é pobre, não necessita de nacionalidade e não ganha visto pró exterior, porque a bandeira da fome é por todos conhecida e igual por toda a parte.
Agora veio a morte de Nelson Mandela, o Madiba, o Rolihlahla, o Dalibhunga, o Tata e o Khulu, ninguém fala doutra coisa e há ainda quem queira aprender a língua Xhosa! Não se pode negar a importância deste sul-africano, a sua contribuição para o diálogo e para convivência inter-racial na África do Sul, o papel que teve na queda do apartheid e o que fez pela libertação, dignificação e igualdade dos africanos ali. Compreendemos o luto oficial e a bandeira a meia haste, até pelo sacrifício do homem, mas achamos exagerado compará-lo a Ghandi, porque o indiano nunca aconselhou a luta armada e não consentiu que a sua mulher participasse em sevícias e assassinatos, estando liberto ou preso. O que temos dificuldade em aceitar é que o assassinato de uns quantos cidadãos nacionais, oriundos da Madeira, ocorrido na África do Sul, ao tempo de Mandela, não tenha merecido igual respeito e homenagem. Com justiça foi atribuído ao Madiba o Prémio Nobel da Paz, mas tê-lo-ia sido se os interesses do Ocidente não fossem garantidos, atendendo a importância da África do Sul para a economia mundial? E depois, como se comportará o governo da África do Sul na era pós Mandela? Toda esta carga mediática não será uma atempada jogada política, uma medida de pressão para que os velhos ódios não retornem, já que a pressão mediática nunca torna vazia? Queira Deus que produza efeito e o esforço de Mandela não tenha sido em vão!
Mas vamos por partes, os indianos tiveram um Ghandi, os africanos um Martin Luther King e um Mandela, e a nós quem nos valerá? Como D. Sebastião não voltou, será Nossa Senhora de Fátima? Honestamente penso que não, que ela mais valerá ao Vaticano e aos cofres da Igreja. Quem se levantará entre portugueses, espanhóis, italianos e gregos, tantas vezes tratados como “pretos do mar” pelos seus pares do Norte da Europa, ainda que os irlandeses não tivessem melhor tratamento no início da sua emigração para os States? Julgo ser mais importante aprendermos com o exemplo de vida de Mandela do que chorarmos a sua morte, por termos um País a levantar, já que a “Europa a duas velocidades”, recambia-nos para modos de vida contra os quais se insurgiram os sul-africanos e donde saíram vencedores. Será que os dois genes que nos separam dos restantes europeus nos impedem a mudança e a concretização deste País por construir? Pela parte que me toca, não me considero inferior a nenhum deles, porque quando obrigado a competir fora de portas, sempre ocupei os lugares cimeiros, mesmo estando só ou em minoria. Aceitar o estatuto de europeu de 2ª, é atentar contra o nosso sangue, contra a nossa dignidade, cultura e história. Como sou devedor à Nação que me abrigou, nego-me determinantemente a ser um “nativo assimilado”. Estou em crer que não estou só, que há muitos portugueses que pensam e defendem o mesmo, fartos de serem espoliados, desconsiderados e humilhados, da mesma têmpera dos que outrora se levantaram e insurgiram.
Este País de brandos costumes ainda não se consegui livrar de todos os “Miguéis de Vasconcelos e Brito”, de toda uma casta de oportunistas a soldo estrangeiro, responsável pela ruína da nossa agricultura, pelo estoiro da pesca, pela estagnação da nossa indústria, pela desertificação do interior e pela venda em hasta pública de tudo o que precisamos e nos pertence, como é o caso das reformas, da educação e da saúde. Endividados até à segunda geração, os portugueses são obrigados a trabalhar mais e a receber menos, a descontar mais e a ter menos regalias, convidados a emigrar e a assinar contratos que mais os comprometem, como aqueles identificados pelo Professor Emmerich Krause, professor emérito de diversas Universidades do Estado da Turíngia, na Alemanha, que identificou e qualificou quatro, a saber: os contratos fingimento, os contratos de pedra, os contratos de requalificação e os contratos não contratos. E que dizem os nossos parceiros europeus acerca de tudo isto? Que temos um governo muito corajoso! Pudera! Eles jamais seriam capazes de sujeitar os seus povos à mesma sorte e sair impunes!
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