sábado, 28 de dezembro de 2013

IMAGEM RARA DUM CRIME QUE SE REPETE

Talvez a maior das cobardias seja enganar quem nos é fiel, levar à morte quem nos dá vida. A imagem acima remonta ao final da II Guerra Mundial e mostra-nos uma companhia de cães anti-tanque russos, desfilando em parada com os seus tratadores de bicicleta. Todos sabemos que aqueles animais iriam, caso fossem utilizados, acabar estraçalhados debaixo de algum tanque alemão, como aconteceu no Cerco de Estalinegrado. Nessa ocasião, muitos outros foram abatidos pelos atiradores da Wehrmacht, cuja primeira missão matinal era abatê-los. Em Maio do próximo ano, celebramos o 69º aniversário do final da II Guerra Mundial, mas os cães continuam a ser utilizados para o mesmo fim. Agora é a Al-Qaeda que os usa como cães suicidas, colocando dentro deles explosivos ou fazendo-os transportar, como aconteceu há relativamente pouco tempo nalguns aeroportos internacionais e no Iraque. Vale a pena questionar: quando acabará o terrorismo contra os cães? Jean-Paul Sartre disse uma vez que: “quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem”, o que nem sempre é absoluto, porque os andrajosos continuam a usar e a matar cães, seres ainda mais miseráveis nas suas mãos, quando usados na guerra! Os cães não se agradam de memoriais, evocações ou perdões oficiais, somente esperam viver a sua vida em paz.
Faltará muito para esse dia chegar? Uma coisa é certa: nisto todos temos uma palavra a dizer, enquanto cidadãos, criadores, proprietários e adestradores de cães!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

UMA QUESTÃO DE CENTÍMETROS

Mesmo que evoluísse de cara tapada, sabíamos que o condutor da foto acima nos pertence ou que esteve entre nós, atendendo ao esforço empregue, ao tipo de alinhamento, ao particular da trela, ao andamento do animal e ao pormenor da cauda aparada. Sabemos que o homem vai em esforço pela contracção do pescoço e pelo exagero da passada, e que breve vai ter que abrandar, atendendo aos centímetros que vai perdendo em relação à projecção da pata dianteira do cão. Feitas as contas, porque sabemos a altura de ambos, é fácil medir o comprimento da passada do condutor e sabemos o montante do período a bater, podemos afirmar que marcham a uma velocidade instantânea de 6.35km/h. Existe uma relação óptima entre a altura do cão e do seu condutor, visando o aproveitamento da marcha canina, enquanto andamento musculador preferencial, que assenta numa diferença entre os 120 e os 110cm, para que a condução se torne cómoda para quem conduz (um cão rectangular com de 60cm de altura, considerando o aproveitamento da sua marcha, é próprio para um homem de 1.70m). Neste caso o desfasamento é notório, porque o cão mede 68cm e o dono somente 1.60m, faltando-lhe 18cm para que possa evoluir sem esforço, já que será obrigado a uma passada constante de 120cm ou a 2 passadas dentro do mesmo intervalo de tempo.
Quando a diferença de altura entre o condutor e o cão não alcança os 110cm, diz-se que estamos na presença de um “binómio impróprio”. Em Portugal, onde as pessoas são por norma mais baixas que os restantes europeus, também porque as senhoras há muito chegaram ao adestramento, aceita-se com normal uma diferença de 100cm, para que a velocidade de manutenção (5km/h), a desenvolver na escola e a executar nos passeios diários, possa ser mantida por mais tempo, o que obrigará estes condutores ao alargamento ou ao aumento da velocidade da passada, considerando a melhoria dos ritmos vitais inerentes ao desenvolvimento dos índices atléticos caninos. Bem sabemos que tanto a cadência quanto a velocidade de marcha que empreendemos, se encontram ou pouco acima das mínimas exigidas pelo Exército Português (112 passos por minuto, 1.31m/s, 4.716km/h), porque nos importa marchar lado a lado com os cães e dispensá-los da tracção, sempre que tal nos for possível. Há casos em que isso não é viável, devido à disparidade entre a cadência de marcha empregue e a morfologia de determinadas raças caninas. Na fotografia seguinte encontramos um exemplo revelador, ao vermos a impropriedade da marcha do soldado inglês perante o comprimento e altura do Irish Wolfhound, que é obrigado a deslocar-se a passo e atrasado. Caso o cão marchasse, o soldado britânico seria obrigado a entrar em “passo de corrida” e a um travamento periclitante, nada condizente com a solenidade do acto.
Uma vez explicadas as questões técnicas, importa dar os parabéns ao primeiro condutor deste artigo, porque apesar do peso das suas primaveras e do esforço a que se sujeita, insiste em se manter em forma, a valer ao cão e a servir de exemplo.

QUANDO OS ALUNOS PARTEM

Quando os nossos alunos partem, levam-nos parte de nós, momentos que tentaremos reviver com os que chegam. Dos maus, velhacos ou pouco aplicados depressa nos esqueceremos, talvez nos lembremos dos seus cães e venhamos a servir-nos do seu exemplo como advertência. Os bons e os broncos jamais esqueceremos, porque os primeiros justificaram o nosso trabalho e os últimos emprestaram-lhe alguma graça. Alguns permanecerão nossos amigos para além do desaparecimento dos seus companheiros, uns deixarão de dar notícia e outros retornarão com novos cães ou indicar-nos-ão aos seus familiares e conhecidos. Mas o que mais nos custa, é o desaparecimento dos cães, porque os ajudámos a crescer, trabalhámos para a sua capacitação e sentimo-los também nossos. Apesar de não haverem dois cães iguais, muitos dos que já pereceram, ainda nos servem de referência para os que agora chegam, dando-nos ânimo para prosseguir e força para acreditar. Nunca nos esqueceremos dos binómios que entre nós se destacaram, das dificuldades que enfrentaram e das vitórias que alcançaram, porque estivemos presentes em todos esses momentos, advertindo, animando, ensinando, socorrendo e corrigindo homens e cães, até à transcendência da constituição binomial. E nisto não diferimos dos pais, que estando os filhos aptos, só lhes resta vê-los partir.

LABRADOR: A MELHOR OPÇÃO ATÉ À PUBERDADE

Ouve-se que “há uma idade para tudo”, ao que nós complementamos: haver um cão próprio para cada idade. Do berço à puberdade, o Retriever do Labrador é o cão mais indicado, muito embora outros se prestem para o mesmo fim, mais pelas características individuais do que pelo legado da sua raça. As crianças até à puberdade precisam de um companheiro presente, condescendente, afectuoso, paciente e dedicado, para ganharem confiança e se equilibrarem emotivamente. Estas qualidades são inatas na maioria dos Labradores, que criam laços afectivos muito fortes com os “pirralhos”, ao ponto de os protegerem e de se tornarem cúmplices das suas brincadeiras, umas vezes a gosto e outras por indução. Nos ciclos infantis em que o perigo nem sempre é perceptível, estes cães tendem a evitar males maiores, livrando as crianças de muito aperto e evitando que saiam molestadas, podendo inclusive resgatá-las dentro de água ou segurá-las diante de um perigo iminente.
Devido à sua baixa territorialidade e propensão excursionista, os Labradores dividem o seu espaço, adaptam-se facilmente ao das crianças e partem alegres rumo às suas brincadeiras. Acresce ainda o facto de serem muito asseados e de poderem levar os infantes ao arrumo, uma vez que adoram transportar coisas de um lado para o outro e são persistentes nesse hábito. Independentemente das atitudes extremadas das crianças, que outros entenderiam como ameaça ou sinal de presa, estes retrievers mantêm a temperança e não respondem perante atitudes hostis, geralmente produto dos amuos, das mudanças de humor e explosões próprias da infância. Como não têm as venetas presentes noutros bracóides, nem têm por hábito abusar da sua força, a sua submissão irá permitir que qualquer criança os guie ou segure pela trela sem grande preparo, prestando-se às mais variadas brincadeiras e mantendo as crianças debaixo de olho, “entendendo” isso como missão ou militância.
Feliz é o miúdo que cresce com um Labrador ao lado, porque irá crescer confiante e sem atropelos, forte e sem chiliques, jamais sofrerá de cinofobia e aprenderá a respeitar os animais. No entanto, logo que seja possível, devemos ensinar-lhe que os cães não são todos iguais, que assim como todas as pessoas são diferentes, também existem cães maus e donos ainda piores!

CÃO DE ÁGUA: PARA AGRADAR A GREGOS E TROIANOS

Para se evitarem possíveis desentendimentos domésticos, convém que a aquisição de um cão seja uma decisão familiar e não uma opção exclusiva de um dos seus membros, a bem da família e do bem-estar do animal. Levar um cão para casa, deverá ser uma decisão bem pensada, porque irá obrigar a algumas alterações e todos deverão ter conhecimento disso, considerando a inevitável coabitação, que nem sempre é fácil e automática. E neste sentido, a raça a escolher é deveras importante, porque deverá preencher as expectativas de todos, não agravar em demasia o seu caderno de encargos e possibilitar a conservação do património doméstico, intacto e asseado. Para quem não quer um cão roedor, inquieto, agressivo, exigente e barulhento, o Cão de Água Português poderá ser a melhor da opções, porque é ajuizado, calmo, bastante sociável e de fácil integração, características que o distinguem da maioria dos cães, quando somadas ao seu carácter afável, propensão silenciosa e extraordinária cumplicidade.
Ao contrário doutros, devido à sua rusticidade, ele exige menos disponibilidade física dos donos, é de fácil contentamento e não se torna incómodo, para além de ser alegre e de não largar pêlo, particular que muito facilita a sua instalação dentro de casa, onde não hostiliza as visitas e se sente particularmente à vontade, comportando-se como um verdadeiro “gentleman”, recebendo todos de bom grado, respeitando o seu espaço e acorrendo às suas solicitações, contribuindo de sobremaneira para o bom ambiente à sua volta. É normalmente adquirido por pessoas de meia-idade, gente que já ultrapassou o tempo dos abusos e que privilegia as amizades, que procura manter a harmonia à sua volta e que não dispensa a paz, mais dada aos afectos do que às inimizades, funcionando o cão como uma extensão do seu status.
Como é amigo do seu dono e apto para lhe fazer as vontades, aprende com muita facilidade e assume, sem maior dificuldade, as incumbências ou tarefas que lhe forem distribuídas, podendo constituir-se num animal de desporto ou de competição, apesar de não ser essa a sua principal vocação. Diante do adestramento clássico, que comporta as disciplinas de obediência, pistagem e guarda, ele irá obter melhor classificação na obediência do que nas outras disciplinas, o que não invalida que venha a ser um bom cão-pastor ou um caçador razoável. Alcança particular notoriedade no transporte de objectos, podendo “trazer à mão” muitos deles. Como cão de salvamento dentro de água, necessita de maior envergadura, o que não o exclui da detecção e da prestação de socorro.
Menos territorial que os comuns lupinos e os molossos, mais saudável que os toys e bassetóides, mais comunicativo que os lebróides, menos ciumento que os caniches, mais ajuizado que os bracóides e menos estridente que os vulpinos, o Cão de Água Português é um companheiro de excepção, um amigo postado ao nosso lado que tudo faz para não incomodar, que assimila o nosso modo de vida como seu, acompanhando-nos por toda a parte sem nos comprometer. Quem o aconselhou como cão de família ao Sr. Barack Hussein Obama II, não o enganou! É estranho que a maioria dos portugueses desconheça o seu Cão de Água e leve para dentro de casa outros cães, mais sensíveis, problemáticos e quezilentos que o nosso companheiro algarvio. Quer viver tranquilo com um cão ao lado? Não hesite, vá buscar um Cão de Água Português! 

VIAJAR PARA DENTRO COM PÉS FORA!

Todos os que estamos acostumados a conduzir cães à trela, sentimos uma liberdade pouco experimentada quando o fazemos, a nossa cabeça evade-se, o stress abandona-nos e a memória transporta-nos a outras paragens, a momentos que não esquecemos, a sonhos que nunca abandonámos e a um prazer que nos preenche. O tempo passa e não damos pelas horas, o frio não nos incomoda e a chuva é só para os outros. Compenetrados, não tugimos nem mugimos, cadenciados na marcha, envoltos em nós próprios, com os pés no caminho e a mente em excursão. E nessa viagem para dentro de nós, somos de tudo um pouco, mil e uma personagens que nunca fomos e que gostaríamos de ter sido. Conduzir um cão equilibra-nos, retempera-nos e dá-nos esperança, porque fazemos as pazes com o passado e acreditamos no futuro. Quem será o responsável de tamanha transformação: a serotonina ou a necessidade de evasão? É possível que seja o cão! 

O RIO DAS NICADAS E OS RABACOS

Esta alegoria, uma verdade insofismável do ponto de vista ecológico, assenta sobre um vocábulo antigo – “O Pião das Nicas” e sobre um termo do linguajar popular, mais comum na parte ocidental da Estremadura e no sudoeste do Ribatejo – “Rabacos ou Raibacos”. O pião das nicas é aquele indivíduo que sofre as culpas alheias e do qual se zomba, o que sempre apanha por tabela, alguém insignificante que, sem saber como, arca com todas as consequências, sem daí tirar qualquer vantagem e ter como se defender, perto dos conceitos ou do misto de burro de carga e bode expiatório. Rabacos é a adulteração popular do nome “ruivacos”, que se atribui a uma categoria de pequenos peixes fluviais, sem grande interesse, nada apelativos de cor e a cheirar a lodo, outrora muito comuns nas ribeiras ribatejanas e nos rios dos Concelhos de Mafra e Torres Vedras, hoje praticamente extintos ou em vias de desaparecer. Por causa do particular destes peixes, quando alguém atribui a outro “o cheiro a rabacos”, está a dizer que tal indivíduo cheira mal e necessita de tomar banho. O “v” do substantivo original virou “b”, porque a noroeste do Concelho de Mafra, a partir de Ribamar e até Torres Vedras, as gentes apresentam essa tendência no seu linguajar. Com o tempo e para dar mais ênfase ao termo, o pião das nicas passou a “pião das nicadas”, exaltando também a violência sofrida por quem alcança esse cognome. A partir disto, “baptizámos” o rio deste artigo como “Rio das Nicadas”, para unir os dois conceitos e podermos “navegar” convosco. Fomos obrigados a estas explicações porque ambos os termos tendem ao esquecimento, pela adopção de novos conceitos, pela alteração das gentes e pelo desaparecimento dos citados peixes daquele particular geográfico.
O Rio das Nicadas anda revolto, remoinha em todas as direcções e acusa o choque dos ventos continentais com os atlânticos, as suas águas estão turvas e espumam-se contra as margens enlameadas, perdeu o brilho e a transparência, escorre empapado e nauseabundo, como cadáver em putrefacção. As pedras do seu leito, que há muito perderam as algas, estão encardidas e cercadas de detritos, a vegetação aquática desapareceu, as rãs já não se ouvem, as libelinhas foram para outras paragens e dos pássaros de outrora nem sinal. As enguias, as bogas e os achigãs não se avistam, somente as fataças, meio arrebentadas e em pequeno número, sobrevivem numa exígua faixa junto à foz. Dir-se-ia que o rio está morto, não fora um pequeno cardume de rabacos que ali teima em ficar, por falta de alternativas, a lutar pela vida e prestes a perecer, sufocado pelo poluição e por outros perigos que vamos já dizer.
Os rabacos, pela escassez de plâncton, pouco têm para comer e correm o risco de virem a ser comidos, eles e a sua possível descendência, como já aconteceu com outros peixes, porque os cágados cederam lugar às tartarugas vermelhas da Califórnia, os lagostins invadiram o rio e para montante as lontras e o peixe-gato espreitam, todos eles esfomeados e não menos que os corvos marinhos, aves insaciáveis que não lhes dão tréguas. As tartarugas californianas (tartarugas de ouvido vermelho), espécie invasora que devora tudo por onde passa, depois de exterminar os grilos e os girinos, vai-lhes à desova, ataca os jovens cardumes, come as poucas plantas que o rio suporta e as culturas adjacentes, não desprezando qualquer rabaco adulto na sua frente.
Os lagostins, vindos doutras paragens na década de 70, tornaram-se reis e senhores do rio, vivendo enterrados e a escarafunchar, porque trocam de carapaça e têm um apetite voraz. Apesar de preferirem plantas, porque também são omnívoros, devoram moluscos, insectos, larvas, girinos e até a alguns peixes, entre eles os rabacos, como não podia deixar de ser, contribuindo eficazmente para o seu desaparecimento, tanto pela fome como pela morte. Mais cedo do que é esperado, quando já não houverem rabacos e o rio das nicadas nada tiver para lhes dar, eles devorarão os campos ao seu redor até encontrarem outro rio que os sacie, migrando frequentemente.
Enquanto houver rabacos, e falta pouco para que deixem de existir, as lontras poderão engordar lustrosas e nadar de barriga cheia, porque os lagostins não deixarão de se multiplicar e algum rabaco lhes há-de calhar. Mas quando os rabacos desaparecerem e nem plantas houver para comer, os lagostins irão para outras paragens e as lontras serão obrigados a procurar outros locais para sobreviverem, porque há muito dizimaram crustáceos, anfíbios, répteis e até algumas pequenas aves. Com o Rio das Nicadas estéril a jusante, a procura de alimento levá-las-á rio adentro, onde um predador silencioso, maior e mais forte as esperará: o Peixe-Gato, o grande siluro.
Ao que consta, o Peixe-Gato chegou ao Rio das Nicadas vindo de Espanha, pela mão de um biólogo alemão (Roland Lorkowsky) e espalhou-se por alguns dos nossos rios, onde já foi encontrado e capturado. O siluro é um predador de topo e come de tudo o que mexe dentro de água, para além pequenos mamíferos e aves, caçando em águas menos profundas quando escasseia o alimento. Diante dele as nossas lontras não terão grande sorte, tampouco os corvos, porque à falta de melhor, não hesitará em dar-lhes caça. Dentro em breve, os rabacos desaparecerão, as tartarugas californianas também, os lagostins debandarão, as lontras nunca mais se verão e dos corvos não haverá rasto! Já houve quem o confundisse com um crocodilo e andasse por aí apavorado, não obstante ser igualmente perigoso para os humanos, porque em adulto pode atingir 3m de comprimento e pesar até 150kg. E como o peixe-gato é de água doce, não tendo o que comer e não podendo ir para o mar, acabará também por sucumbir.
Para nós, autores desta alegoria, o Rio das Nicadas é o País e os rabacos são os portugueses. Seguindo o mesmo raciocínio, haverá alguém capaz de nos dizer, quem serão as tartarugas californianas, os lagostins, as lontras e o peixe-gato? Não nos parece difícil! Mais fácil será repovoar os rios Alcabrichel, Lisandro e Sizandro de ruivacos do que manter os portugueses dentro do seu País, superpovoado de invasores e colaboracionistas, pronto a condenar os seus filhos ao degredo e à miséria. Não haverá que dar caça às espécies invasoras, antes que elas nos cacem de vez? Entretanto, não abandone tartarugas californianas, apanhe quantos lagostins puder, deixe as lontras em paz e não engorde o peixe-gato, cace-o ou deixe-o morrer à míngua, porque acima dos 15kg nem para comer serve e as suas ovas são tóxicas! Considerando o estado de conservação dos portugueses, caso pudéssemos ser avaliados como as outras espécies animais, pela União Internacional para a Conservação da Natureza e Recursos Naturais (UICN), porque “a lei da selva” continua a imperar entre os homens, a sigla que nos atribuiriam seria a “CR” (criticamente ameaçados, sofrendo de alto risco de extinção num futuro próximo), a mesma atribuída aos Ruivacos do Oeste (Achondrostoma Occidentale). Não gostaríamos que Portugal viesse a ser um reino desaparecido, um “Reich der Toten”, um 死者的境界”ou um  “царство мертвых”, mas o lugar onde vivem os portugueses, orgulhosos da sua terra e da sua história, defensores do seu espaço e cultura.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking Semanal dos textos mais lidos desta semana ficou assim ordenado:
1º_ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
2º_ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIVERSAS LINHAS DE PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
3º_ O CÃO LOBEIRO UM SILVESTRE ENTRE NÓS, editado em 26/10/2009
4º_ “X” DE JARRETE DE VACA, editado em 25/07/2011
5º_ O QUE FALTA AOS CÃES NACIONAIS, editado em 08/10/2010

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 de Leitores por País ficou assim escalonado:

1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º China, 6º França, 7º Macau, 8º Angola, 9º Tailândia e 10º México.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

CAI A NOITE E ELES AVANÇAM

Dia após dia, quando a noite cai, avançam silenciosos e nem se dá por eles, partindo para as suas missões, para que a nossa segurança seja garantida e possamos dormir em paz. Estamos a falar dos cães policiais de patrulha, que ao contrário dos nossos, deitados aos nossos pés, rondam vielas, azinhagas e travessas, onde o crime espreita e aguarda ocasião. Quando desistimos de fazer “zapping”, os olhos se fecham e a televisão fica ligada, dentro das carrinhas policiais, há cães prontos para entrarem em acção. Nos palácios adoptados como residências oficiais, atribuídas a membros do governo ou a altos dignatários da República, os binómios rodam e assistem ao apagar das luzes nos lares à sua volta. A trabalhar no mesmo horário, encontram-se os cães das empresas privadas de segurança, a guardar entrepostos comerciais, parques automóveis, armazéns, fábricas, habitações e pessoas. Nas propriedades de grande extensão, nas quintas e nas moradias, os cães de guarda mantêm-se alerta, zelando pelos donos e pelo seu património, protegendo-os de possíveis invasores e dos “amigos do alheio”. A noite cai na cidade e espalha-se pelos arrabaldes, podemos dormir descansados: os cães estão de olhos abertos!  
Bem longe da comodidade do nosso aconchego, algures numas montanhas distantes, rochosas, inóspitas, poeirentas, gélidas e frias, por onde andou Alexandre o Grande e a guerra parece não ter fim, no Afeganistão, os cães das forças aliadas vão sair em patrulha, “side by side” com os homens que melhor os entendem, procurando pela noite adentro indícios, explosivos, inimigos e possíveis atiradores, acções rotineiras que não lhes garantem a salvaguarda e que sempre causam vítimas, contudo necessárias para a diminuição das baixas e para o avanço das tropas. Queremos daqui enviar votos de Bom Natal para um “Acendra” em serviço naquelas paragens, desejando-lhe em simultâneo que volte breve, inteiro e com saúde, para junto da família e dos seus cães.
 Quando a noite cai, porque me deito com as galinhas, lembro-me sempre da oração do “Anjo da Guarda”, prece que me ensinaram na meninice. Os seus versos invadem-me a memória: “Anjo da Guarda, minha companhia, guarda a minha alma, de noite e de dia”. Nunca vi nenhuma criatura alada que se parecesse com um anjo, mas tenho visto muitos anjos de quatro patas ao longo da minha vida, quando socorrem soterrados, guiam invisuais, alegram as crianças, acompanham os idosos, valem aos doentes, protegem os soldados, defendem os seus donos e dão a vida pelos seus. E tudo isto a qualquer hora do dia ou da noite! Se tem um cão junto de si, então durma descansado, porque ao seu lado já repousa o seu “anjo da guarda”. E se algum perigo vier quebrar o repouso da noite, bem depressa ele o avisará e colocar-se-á ao seu lado, pronto para o defender. Se é verdade que Deus criou os anjos para o seu serviço, então o homem imitou-O ao criar o cão! Antes de adormecer, digo para mim mesmo, na esperança de ser ouvido por quem me possa valer: “boa sorte companheiros, espero ver-vos amanhã!”

ATÉ A FAZER CROCHET OU TRICOT, SE ENSINA O “QUIETO” A UM CÃO!

Nunca se viu tanta gente com tamanha dificuldade em manter os seus cães quietos como agora! Será do uso vulgarizado dos peitorais ou faltará autoridade a uns e sobrará complacência a outros? Talvez a ausência de conhecimento, a falta de experiência e o desprezo pelo condicionamento sejam os principais responsáveis pela novidade, porque até a ler o jornal, a tricotar ou a fazer crochet, se ensina qualquer cão a ficar “quieto”. Como não temos “truques na manga” e não sabemos fazer milagres, iremos adiantar as causas mais comuns da resistência canina e o modo mais fácil para se alcançar o “quieto”, figura obrigatória da obediência, comando que reforça a autoridade dos donos e código indispensável para a salvaguarda de pessoas, cães e outros animais. 
A resistência ao “quieto” tanto pode provir de uma razão genética como duma ambiental, sendo fácil detectar a sua origem pelo comportamento de cada indivíduo, apesar de ambas se poderem conjugar pelo tipo de liderança emprestado e pelo particular social dos cães, porque também estamos a tratar de submissão. A maior ou menor rejeição ao comando, sempre dependerá do impulso ao poder dos indivíduos e do seu perfil psicológico global, já que os mais valentes são por norma irreverentes e os mais fracos são dominados pela insegurança. Tanto uns como outros, ainda que por razões antagónicas, na instalação deste comando de travamento, manifestarão algum stress e resistir-lhe-ão, porque uns não gostarão de se ver travados e os outros necessitarão de sentir os donos por perto. Independentemente dos casos, a assimilação do comando exige que os cães se sintam cómodos, o que nos obrigará a ir ao seu encontro e a compreender as causas do seu desagrado, porque não podemos vencer a sua insegurança, irreverência, medo e stress se os alimentarmos, repto que exigirá dos seus donos uma postura calma, constante e paciente, para além dum “modus operandi” próprio para cada animal, o que a seguir explicaremos. 
Quando tiramos um cachorro da sua ninhada e o levamos para casa, já sabemos que os primeiros dias no lar de adopção não irão ser fáceis, porque ele não reconhecerá o sítio, sentirá a falta da mãe e dos seus irmãos, e tudo à sua volta ser-lhe-á estranho, o que levará a ganir desalmadamente pelo seu antigo mundo. Nestas ocasiões costumamos trazer algo do seu canil de origem, para suavizar a mudança brusca e facilitar a sua instalação. Resistimos a deixá-lo só e passamos a maior parte do tempo com ele, para que mais depressa se habitue ao nosso lar e reconheça os novos membros do seu grupo. Por causa disso, costumamos ir buscar cachorros à sexta-feira, para que durante o fim-de-semana se habituem à nova morada e possam chegar à semana seguinte mais ou menos integrados. Movida por este cuidado, há gente que tira férias para poder estar mais tempo com o cachorro recém-chegado, o que nos parece correcto e até louvável, diante do sofrimento e da necessidade de bem-estar do animal. 
Este procedimento inicial indicia-nos o modo progressivo para a instalação do “quieto”, que deverá acontecer: primeiro com os pertences do animal ao seu redor e depois sem eles; com o dono ao lado e depois perante o seu afastamento gradual; com o dono à vista e depois com ele ausente; de início em casa, depois na Escola e finalmente na rua; do silêncio absoluto para o estrondo; das circunstâncias ideais para as problemáticas e das rotineiras para as excepcionais. Os cães muito dominantes ou os deveras mimados poderão ser induzidos ao cumprimento da ordem pelo concurso da trela ou da prisão. Mas o “quieto” pode ainda instalar-se de modo mais fácil, pelo cumprimento dos protocolos domésticos correctos, quando ensinamos o cão a aguardar a ordem para comer, quando o mandamos sentar antes de sair para a rua, quando limitamos o seu trânsito, quando não permitimos que se aproxime da mesa das refeições, que vasculhe o caixote do lixo e que venha ter connosco sem autorização prévia. E para que ninguém se espante, anunciamos desde já: um cachorro aos 90 dias de idade pode já ter assimilado o comando de “quieto”e deseja-se que todos o assimilem antes da sua maturidade sexual, o que irá evitar-nos muita canseira, desalento e exposição ao ridículo. Se ao acerto do cão somarmos a recompensa que lhe é devida, bem depressa o “quieto” fará parte da sua vida. O “quieto” pode ainda tirar-se, sem maior dificuldade, a partir da captura de um objecto pelo cão. 
Subsistem casos em que o travamento precoce é indesejável, normalmente relacionados com cães psicologicamente mais débeis, que importa recuperar, e com outros destinados a acções ofensivas, a quem urge dar autonomia para o exercício da sua vocação, muito embora o que é bom dificilmente se estrague, o que implica em dizer que um bom guardião não depende de condições, nasce assim, apesar do treino aproveitar, direccionar e potenciar toda a carga genética de que é portador. 
Mas se mesmo cumprindo, meticulosamente, todos os procedimentos que atrás mencionámos, ainda lhe sobrar um cão irreverente, que desata a fugir quando lhe apetece e o manda bugiar, o que é não é nada plausível e fácil de acontecer (acontece com frequência a quem se deixa chantagear emocionalmente, é instável e pouco insistente), não desanime, porque a situação tem conserto e o cão ainda pode aprender o “quieto”, mesmo que seja um estouvado macho adulto, por demais ardiloso, feito surdo e prepotente, que ignora o dono, não se agrada da recompensa, desconsidera a repreensão e não acusa o castigo. Cães com estas características só virão a assimilar o “quieto” pela experiência negativa, quando convencidos da impossibilidade da fuga e da omnipresença dos donos, o mesmo sucedendo àqueles que também estouvados, ardilosos, feitos surdos e prepotentes, se põem em fuga, apesar de adorarem os donos, de se agradarem da recompensa, de acusarem a repreensão e temerem o castigo, porque para os muito-dominantes e para os extra-mimados, o remédio é exactamente o mesmo, ainda que com ênfases diferentes, porque uns são teimosos por natureza e os outros tornaram-se impacientes por insatisfação (pelo excesso de zelo dos donos), necessitando ambos da regra que o “quieto” oferece. E dito isto, qual virá a ser mais perigoso: o bruto que é franco ou o mimado que é velhaco? A experiência ensinou-nos que os primeiros carregam sobre os fortes e os últimos não poupam os fracos. Se os donos tivessem juízo, jamais os cães seriam tontos! 
A postura rebelde destes cães, inata ou adquirida, quer seja ostensiva ou apelativa, irá obrigar-nos a prendê-los pela trela na 1ª fase da instalação do “quieto”, para que permaneçam na posição inicial, não fujam e aprendam a respeitar a ordem que lhes é dada. Em casa podemos prendê-los a um móvel, a um sofá ou até a uma porta. Na rua podemos valer-nos de uma árvore, de uma cerca ou de um banco de jardim à nossa frente, tendo o cuidado de não lhes consentir que troquem de imobilização ou dispersem a sua atenção, sinais que normalmente antecedem a evasão. Há cães que tentam invalidar-nos os comandos pelo recurso ao gemido e à salivação, usando-os no exacto momento em que soltamos a ordem, pelo que devem ser repreendidos. Caso os cães se levantem e lutem contra a prisão, o comando a aplicar-lhes será o “não”, nunca o de “quieto”, porque já desobedeceram e não convém anular a 1ª ordem, que se deseja ver cumprida de modo pronto e imediato. No início desta fase, se os cães já se souberem deitar correctamente (equilibrados), o “deita” é a imobilização que melhor nos serve, porque os relaxa e dificulta a sua saída. Sabemos que o “não” entrou em desuso, como também sabemos da sua substituição por coleiras de choques eléctricos. Contudo, enquanto for possível, continuaremos a optar pelo reforço da autoridade dos donos e a poupar o sistema nervoso dos cães. 
Quando os cães já conseguirem permanecer quietos e imperturbáveis, com os olhos postos em nós, num período igual ou superior a 20 minutos, é chegada “a altura do crochet, do tricot ou da leitura do jornal”, ocasião em que os travaremos já soltos, primeiro junto deles e depois até a uma distância razoável, aproveitando também esses momentos para realizarmos outras tarefas ou hobbies, mantendo os animais ao alcance da nossa visão periférica e sujeitos ao nosso reparo (pode ensinar-se o “quieto” quando estamos a fazer a barba, a tomar banho, a lavar a loiça, a arrumar a sala, a trabalhar no computador, a tocar piano, a ver televisão, a passar a ferro, a ler, a escovar o fato, a engraxar os sapatos, etc.). Daí a pouco tempo, havendo o cuidado da recapitulação e da mudança gradual de ecossistemas, conforme indicámos no 1º período do 4º parágrafo, os cães permanecerão quietos por toda a parte e de lá só sairão quando os donos os chamarem. 
Os cães que obtiveram “livre-trânsito” dentro dos lares dos seus donos, seguindo os seus passos por todo o lado, tentarão resistir ao “quieto”, porque não é esse o seu hábito, não vendo com bons olhos a perca de privilégios e a separação dos donos. Pela mesma razão, também os cães que mal saem dos canis e anseiam pela excursão, abominarão ter de ficar quietos no exterior, quando acostumados a avançar pelos campos afora. O “quieto”, como quase todos os comandos de obediência a ministrar a um cão, pode ser alcançado em casa, aprimorado na escola e praticado onde for necessário, não dispensando o treino e a recapitulação que os outros também exigem. Para além disto, “o quieto” espelha a cumplicidade binomial e possibilita a divisão de tarefas entre homens e cães, contribuindo de sobremaneira para o seu sucesso colectivo.

ORDEM DESUNIDA NUMA RENDIÇÃO SOLENE

Não queremos com este artigo crucificar publicamente as praças retratadas, que pensamos terem dado o seu melhor, porque lhes vimos estampado no rosto o incómodo e o embaraço. Também não temos como objectivo denegrir a GNR e a suas missões, porque nos sobra admiração e falta-nos motivo para o fazer, porque em abono da razão, ela tem elevado o nome de Portugal por toda a parte. E depois, seria incúria condenar todo um efectivo de 25.000 homens pelo desacerto de dois numa cerimónia solene, ademais porque a sua responsabilidade transcende, estamos em crer, a deste par de jovens cinotécnicos militares, porque o desempenho das praças, a menos que sejam constituídas em “pelotões auto-comandados”, acontece debaixo de ordem e sob indicação de quem comanda. Por tudo isto, ainda que a foto não o revele e apenas capte os executantes, não se consegue isentar de responsabilidades quem preparou e escalou aqueles binómios. Até porque não são caso único, a saga tende a repetir-se ao 3º Domingo de cada mês, quando os cães não param quietos, levantam-se quando deviam estar deitados, abandonam a posição de “senta”, não param de ladrar e tratam como intrusos o turno de sentinelas e os comandantes das guardas. No meio da algazarra, após ser tocado o Hino Nacional, alguém disse que seria de entregar aos cães um arranjo musical próprio, para melhor acompanharem o Hino! Chalaças à parte, a situação é constrangedora, porque a solenidade do acto cai caricata pela calçada. 
Os Esquadrões de Cavalaria a cavalo têm honrado os seus pergaminhos e feito jus à sua tradição, agora com melhores montadas e com uma Charanga renovada, tornando-se um prazer para a vista e para o ouvido, levando-nos à exaltação patriótica, já que a música está cá para despertar emoções. A Banda da Guarda não ficou parada no tempo nem nas partituras, tocando afinada o seu vasto repertório, sendo o Corpo que mais cativa o público assistente, seguido pela presença dos cavalos. No entanto, como lidar com artistas não é fácil, alguns músicos resistem á limpeza e polimento dos seus instrumentos. Os cães é que vão de mal a pior, tanto no que concerne à obediência como no que diz respeito à sua apresentação. Sobre a obediência já falámos e sobre a apresentação dos cães vamos falar agora. Já vimos Filas de S. Miguel, Rottweilers, Pastores Alemães e Malinois, salvo honrosas excepções, maus do ponto de vista morfológico e famélicos de aspecto, alguns com pior apresentação que os encontrados nos canis destinados à adopção, vítimas do abandono e oriundos de dietas ocasionais. Ignoramos o porquê da situação, mas não nos custa adivinhar! Há quarenta anos atrás ninguém tinha cães como os da Guarda, hoje é difícil encontrar quem os tenha pior do que eles. Não somos saudosistas, mas neste caso, supomos que com alguma justiça, apetece-nos exclamar: “Ó tempo volta para trás!” 
Os Rottweilers aparentam ser mais bracóides do que molossos, considerando a sua envergadura e comportamento. Os Pastores Alemães, para além do manto rarefeito e baço, da precariedade da sua ossatura e aprumos, apresentam-se com pesos abaixo do peso indicado pelo estalão, próximos do peso atlético ou abaixo dele, como se não comessem há muitos dias e tivessem empreendido uma caminhada forçada até ali. Os Filas de S. Miguel e os Malinois, talvez por serem mais rústicos, não acusam o peso das dietas, muito embora, no caso dos Filas, fosse de todo conveniente que se escolhessem exemplares maiores, atendendo à necessidade da presença ostensiva. Há muito que resistimos à abordagem deste assunto, esperançados na mudança e orgulhosos da Guarda que temos, enquanto fiel depositária das nossas ancestrais tradições militares, até porque quem a viveu por dentro, dificilmente a jogará fora, apesar de já termos tocado o assunto, indirectamente, no artigo “PIPES AND DRUMS”, editado no dia 22 de Janeiro deste ano. Assim como estamos certos que há algo a fazer, também acreditamos que será feito, pois tarde é aquilo que nunca chega! 
Mesmo que não simpatize com o nosso actual Presidente da República, que nós também não e não sabemos bem porquê! Será por causa do nome Aníbal, que significa “dádiva do Deus Baal” ou por a sua silhueta nos fazer lembrar Tarik ibn Zyhad, que invadiu e conquistou a Península Ibérica em 711 e o qual nunca vimos? Ao certo não sabemos, já que o nosso mundo afectivo não cessa de nos pregar partidas! Independentemente do maior ou menor apreço por Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, que não deixa de ser o mais alto dignatário da Nação, vale a pena ir a Belém ver a Rendição Solene da Guarda, cerimónia militar ímpar em Portugal, que acontece ao 3º Domingo de cada mês, em frente ao Palácio Nacional de Belém, virada para o Jardim Afonso de Albuquerque, às 11 horas da manhã. Depois da cerimónia, a Charanga ainda obsequiará os turistas com uma apresentação extra do seu Carrossel. E se por acaso os cães destoarem, perdoem-lhes porque são animais! Nós só lá voltaremos quando nos prometerem que os cãezinhos se “portam na linha”! Oxalá esse dia não tarde!
PS: Não virámos a 1ª, a 2ª e a 4ª fotografias por causa do anúncio ao fundo, que a nosso ver, deveria ser tirado antes da cerimónia e recolocado lá depois dela, se fosse caso disso. Quiçá, para o próximo ano, esteja lá um anúncio da “Toys r Us” ou da Coca-Cola, o primeiro a anunciar a venda de soldadinhos de chumbo e a segunda afirmando a sua lusitanidade, já que tem tudo a ver, casando excepcionalmente a “bota com a perdigota”!

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos desta semana ficou assim ordenado:
1º_ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
2º_ A CASOTA DO CÃO, editado em 29/12/2009
3º_ O ESTRANGULADOR, editado em 12/03/2010
4º_ JOÃO DA VILA VELHA: O ARQUITECTO DOS MENÚS, editado em01/02/2010
5º_ EU QUERIA UM PASTOR ALEMÃO, DE PREFERÊNCIA TODO NEGRO, editado em 05/06/2010

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 dos Leitores por País desta semana ficou assim ordenado:
1º Portugal, 2º Estados Unidos, 3º Brasil, 4º Alemanha, 5º China, 6º Rússia, 7º Cabo Verde, 8º França, 9º Holanda e 10º Suiça.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A CASOTA DO CÃO? QUEM DIRIA!

Em 29 de Dezembro de 2009, há quase quatro anos atrás, publicámos um artigo sobre a casota do cão, onde adiantámos medidas para a sua construção e denunciámos a impropriedade de muitas que se encontram à venda, por serem exíguas ou por se tornarem lesivas para os cães, condicionantes que levariam ao seu desuso e consequente abandono. Nunca pensámos que viria a ser um dos artigos mais lidos (1425 leitores), mantendo-se no top de preferências até ao presente mês. Acreditamos que o artigo tenha surtido efeito entre nós, levando alguns fabricantes à construção de casotas mais adequadas, mercê duma procura mais exigente. Entre outras vantagens, a casota de um cão deverá permitir que o animal se possa levantar lá dentro, andar lá de pé, deitar-se de lado sem ficar encavalitado, virar-se sem dificuldade e entrar e sair sem ser agachado. Se sabe qual é a altura do seu cão e procura uma casota para ele, consulte o artigo e logo descobrirá as dimensões ideais.

MESTRE DE ARTIMANHAS

Apesar dos milhares de anos que leva domesticado, o cão continua um predador, a desenvolver estratégias que sirvam os seus intentos e que melhor enganem os seus donos. Os cães domésticos são peritos na arte de chantagear, porque têm vontade própria, mesmo sendo dependentes. Sem grande dificuldade, conseguem chantagear emocionalmente os donos, apelando despudoradamente aos seus sentimentos e adquirindo posturas que os sensibilizam, quando surpresos na desobediência ou quando intentam desobedecer, exactamente como fariam diante dum chefe de matilha (macho-alfa), como sinal de submissão, não se coibindo de gemer quando desejam algo ou de pedir festas aos donos para o alcançar. Os mais mimados são os que mais chantageiam, porque conhecem o âmago dos seus mestres e os limites da sua resistência, podendo apresentar-se tristes, afastar-se e amuar, tirando ainda proveito dum mimetismo indutor à compaixão (abatimento das orelhas, cauda debaixo do corpo, tremuras, barriga deitada para cima, transporte dum objecto, pedido de colo, etc.), criando à nossa volta um ambiente de mal-estar, que nos levará à cedência, exactamente como faria um filho interesseiro, futuramente mal-educado, incontrolável e carenciado de mais ajuda. 
Nos cães destinados ao trabalho, ao contrário do que se esperaria, sobressai um grande número de velhacos, cuja manha se anicha na insegurança emocional dos seus condutores, atrapalhados entre o uso da razão e o apelo emocional. É importante relembrar que a manha não tem uma origem genética, mas sim ambiental, o que transfere para os líderes a responsabilidade do fenómeno, ainda que dois cães de idêntico perfil psicológico recorram às mesmas artimanhas. Como a manha é reactiva, surgindo como resposta à impropriedade da liderança, não sendo contrariada, tende a aumentar e a comprometer a obediência no seu todo, o que infelizmente, para cúmulo das nossas penas, levará ao reparo dos condutores, correcção raramente bem aceite e por vezes até aparentemente desnecessária, porque os homens resistem à mudança e muitos deles dificilmente sairão da fossa entre o “querer” e o “fazer”. Porém, o respeito pelos cães não nos deixa outra opção. Um cão assim manhoso, para além de colocar a máscara de “carneiro mal morto”, começa por perder velocidade e a demorar no cumprimento das ordens, na ânsia de receber algum alento para depois voltar a desobedecer. E quando isto se repete amiúde, o seu conserto torna-se quase impossível. Por via disto, persistirá no erro, continuará a chantagear, a aproveitar qualquer distracção, a pôr-se em fuga quando menos se espera, a atacar quem não deve, a comprometer o seu uso e a atrasar a sua autonomia. 
A artimanha canina eclode poucos dias depois dum cachorro entrar pelo nosso lar adentro, quando começa a conhecer os cantos à casa e as pessoas que nela habitam. Breve irá aprender a fugir, a desobedecer-nos, a resistir às regras, e a aproveitar as dissensões, para depois intentar pôr todos ao seu serviço, o que não é difícil atendendo à sua fragilidade e ao carinho que desperta. Assim como todos cachorros precisam de ser mimados para se sentirem seguros e desejados, em simultâneo, porque as suas tropelias tendem a agravar-se e a torná-los manhosos e incontroláveis, convém ensinar-lhes regras de higiene e convivência, dando assim início à sua coabitação harmoniosa connosco.

DIE SCHRECKLICHE KREATUR: A AVANTESMA

A Avantesma, também entendida como “abantesma”, é uma simulação típica da reeducação, consiste na transformação dum comum figurante numa criatura capaz de fazer suspeitar qualquer cão, que apelando despudoradamente aos seus instintos mais básicos, o levarão à auto-defesa, à perseguição e à captura daquele tipo inesperado de presa, dispensando-se assim os desarranjos sociais, os traumas psicológicos e os meios químicos usados para o mesmo efeito. O disfarce do figurante, que visa a troca de alvos, deve ser o menos familiar possível, para que desperte a curiosidade e se constitua numa criatura tentadora aos olhos do animal. Para a elaboração do disfarce podem usar-se as vulgares máscaras de carnaval e decorar-se os fatos de ataque com motivos naturais ou artificiais, visando o maior impacto da figura. Quando são conhecidas as inimizades de determinado cão, então o disfarce deverá recriar uma delas. Durante anos recorremos à Avantesma nos nossos acampamentos, quando tínhamos em mãos cachorros destinados ao ofício guardião. A última vez que a utilizámos foi numa instrução nocturna no Belas Clube de Campo, há alguns anos atrás e os resultados foram os esperados, para espanto da maioria dos participantes, onde transformámos a figurante, tirando partido da vegetação circundante, num misto de “Athene noctua” com “Mantis religiosa”, recriando os movimentos típicos dessa ave e desse insecto. 
A Avantesma serve para recuperar os cães que se tornaram mansos pelo peso ambiental (por inibição, erro pedagógico, liderança imprópria, excessiva sociabilização, carência de condições, ausência de estímulos e travamento desmedido), apesar de robustos e saudáveis dos pontos de vista físico e psicológico, sem entraves genéticos e acertadamente escolhidos para guardar, quando bonacheirões e apáticos. O disfarce do figurante (avantesma) serve ainda para iniciar os cachorros menos confiantes e os cães que só se interessam por alvos menores (cães, gatos e outros animais), operando neles a troca de alvos. Para além de despoletar o impulso à luta nos cães, ela tende a reforçá-lo, pela curiosidade que desperta e pela aversão que liberta, fortalecendo o ímpeto, melhorando a abordagem, potenciando os golpes e instigando à sua variação. 
O uso da máscara, que encobre as feições humanas e as transforma, tende a diminuir o receio dos cães e aumenta-lhes a fixação, particularmente daqueles que sempre foram repreendidos, que doutro modo jamais ousariam enfrentar o que quer que fosse, por medo da reprimenda ou do castigo, quando associados à figura humana, porque nem sempre um cão valente pressupõe um dono igual e os fracos, quando em vantagem e por medo, tendem a acobardar quem os serve, carregando neles sem piedade, para que nunca venham a ser carregados. Surtindo a avantesma o seu duplo propósito (o despertar dos receosos e a troca de alvos), gradualmente, de acordo com as respostas positivas obtidas, o figurante irá livrar-se do disfarce até ao seu total abandono. Por norma, quando o trabalho é bem feito, não há necessidade de retornar ao disfarce, e se houver, nada nos garante que sejamos bem sucedidos, porque os cães aprendem pela observação e pela experiência, o que os leva à desconfiança e dificulta o seu engano. Mas temos tudo a ganhar, se usarmos o disfarce para os cães já aprovados, porque certos do seu sucesso, bem depressa cairão sobre o figurante, robustecendo-se assim para os ataques reais. 
Como o figurante na Avantesma é um “transformer”, reproduzindo na sua actuação diferentes tipos de presa, os seus movimentos característicos e reacções à captura, é possível dotar os cães de novos ataques e ensiná-los ao ataque de alvos imóveis, porque o disfarce torna o figurante mais vulnerável e interessante para eles. Para o alcance do ataque a alvos imóveis, necessário quanto temos um homem armado pela frente ou um larápio versado em cães, que se deita imóvel no chão e finge-se de morto, o que normalmente leva ao desinteresse e à cessação dos ataques caninos, sempre será melhor recorrermos à Avantesma do que pedir ao figurante que alce a perna ou mexa os braços, porque se encontra numa posição incómoda e a sua mobilidade é menor. Perante o estoiro do figurante é irrisório pendurá-lo, pontapeá-lo ou pô-lo a nadar em seco. 
O disfarce de um figurante nem sempre pode ser considerado como “Avantesma”, porque muitas vezes é usado para canalizar a ira dos cães para alguém em particular, como simulacro para a captura de um grupo de indivíduos, previamente identificados e com características específicas. A Avantesma é somente uma manobra de estímulo, o resto é trabalho premeditado, melhor arquitectado e com destinatários certos.