terça-feira, 27 de abril de 2010

Morangos e juízos

Um engenheiro agrónomo duma direcção regional da agricultura, no âmbito das suas funções, decidiu visitar um fruticultor que se dedicava também à produção de morangos. Ao chegar ao local da exploração, surpreendeu o agricultor a sulfatar aqueles frutos rosáceos com um pesticida de largo espectro e duração. Depois de breve conversa, apercebeu-se que o homem era simples, de pouca instrução e que ignorava os cuidados a haver com o pesticida utilizado, que ao não serem respeitados, poderiam colocar em risco a saúde dos futuros consumidores. Como lhe competia, para além de lhe ter adiantado alguns subsídios para o aumento da produção, o engenheiro explicou-lhe quais os procedimentos correctos, alertando-o que a colheita só deveria acontecer nove dias depois da aplicação daquele pesticida. Contente com as explicações e não querendo passar por ingrato, o fruticultor foi de imediato colher um pequeno cesto de morangos, que entregou de imediato ao engenheiro, dizendo: “ São para si, pode comer à vontade, mais frescos do que estes não há!”.

Esta história verídica, que nos foi contada há poucos anos, remete-nos para os procedimentos exigíveis aos condutores pela salvaguarda dos seus cães, geralmente pouco observados, esquecidos ou ignorados, também para a fraca aplicação dos conteúdos de ensino, muitas vezes submersos no fosso que separa o conceito da prática e que reclamam pela recapitulação doméstica (estudo e exercício). O momento e a circunstância são factores a considerar diante de qualquer investidura ou encargo, na transição do presente para o futuro e nas implicações de um para o outro. Neste momento, parece-nos, os jovens não são ensinados a raciocinar, o que obsta à análise concreta dos seus problemas e retarda a sua solução, o que nos transporta para um verdadeiro desastre de origem ambiental. Por outro lado, considerando as implicações genéticas e culturais adjacentes à geografia da nossa escola (zona saloia), onde a população nativa é assolada pela subjectividade, resiste à erudição e apenas respeita o seu próprio juízo, ouvindo apenas o que julga conveniente e subtraindo tudo para além disso, torna-se muito difícil proceder à mudança de mentalidades e operar as adaptações inerentes ao exercício do adestramento. O momento não é o melhor e as circunstâncias pouco ajudam.

Passemos a alguns exemplos concretos tão caricatos quanto o episódio do cesto dos morangos. É do conhecimento de todos os condutores, como medida preventiva contra os envenenamentos, que os cães devem comer e beber à altura certa (5 cm abaixo da sua altura corporal). Alguns deles, quando participam nas actividades escolares no exterior, nos momentos de descanso e supercompensação, acabam por distribuir a água a escassos 20 cm do chão ou com os bebedouros nele colocados, mesmo a dois passos de uma rocha ou de um banco de jardim (esclarece-se que a classe escolar actual é maioritariamente constituída por cães de Pastor Alemão, invariavelmente acima da tabela). Todos também sabem dos tratamentos semanais preventivos contra as otites e da contribuição da água para o problema. Não obstante chegam a Abril, mês em que treinamos o salvamento dentro de água, sem os terem levado a cabo e depois admiram-se que os cães abanem as orelhas no dia seguinte. Determinado condutor depois de haver desleixado a excursão diária do seu cão, acção inadvertida em que invariavelmente reincide, repara na estreiteza da traseira do animal e diz: “este cão nunca mais engorda!” Será que a gordura pode substituir os músculos e não serão estes sujeitos a maior esforço com o aumento do peso do animal? E para terminarmos com chave d’ouro, reproduzimos aqui a sentença de uma condutora, digna de figurar nos diálogos do filme “Aldeia da Roupa Branca”, fiel testemunho da prosápia e sapiência regionais: “ A gente dê-xó falar, que fale praí à vontade, e depois cá fazemos a nossa conta”. Daqui endereçamos a nossa solidariedade para todos os que leccionam, pois nunca foi fácil ser professor!

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