O QUE É O “SENTA”. O “senta” é o segundo automatismo de imobilização que ensinamos e preconizamos o seu alcance ainda antes do treino escolar. Ele possibilita uma imobilização mais segura do que o “alto” e menos eficaz que o “deita”, porque é um comando intermédio entre a acção e a imobilização plena. Por causa disso e perante o afastamento do condutor, deve ser reforçado pelo “quieto”. Consiste na imobilização do cão e no abatimento exclusivo das suas patas traseiras, equilibradas entre si, tanto à distância do dono como ao seu lado. O “senta” ao lado do condutor deve garantir o alinhamento entre os pés de um e as mãos do outro. Como imobilização que é, de modo gradual e de acordo com o condicionamento operado, devem evitar-se os movimentos de cabeça do animal, sintomas de fuga eminente, meios para a invalidação da ordem e subsídios para o seu descontrole. A melhor terapia para o efeito acontece com o dono virado para o animal e atento à sua possível distracção. Com isto evitam-se os ataques não ordenados e as fugas indesejáveis.
PARA QUE SERVE. São inúmeras as aplicações da figura e dela se faz uso em todas as disciplinas cinotécnicas, tanto no trabalho como no descanso, enquanto meio interactivo próprio dos propósitos binomiais, não fora obediência o esqueleto de todas elas. E como a maioria dos cães é urbana, é por aqui que começamos. O “senta” torna-se obrigatório junto às passadeiras para peões, antes de se iniciar a sua travessia. O cão deve ficar condicionado a fazê-lo até ao ponto de desnecessitar de ordem. O procedimento visa a salvaguarda da vida do animal, o condicionamento é fácil e os cães vadios adquirem-no por observação dos transeuntes. Os donos vitimados pelo excessivo improviso, em circunstâncias ligadas às condições atmosféricas, atraso relativo ou menor densidade de trânsito, tendencialmente optam por atravessar as estradas de volta a casa por onde melhor lhes aprouver, obstando ao condicionamento e colocando em risco a vida do animal. Sempre que entramos numa loja de uma rua pouco movimentada, esta é a figura de imobilização ideal, desde que a demora não seja por demais prolongada. Quando encontramos alguém na rua e paramos para conversar, quando vamos ao quiosque comprar o jornal e também enquanto aguardamos a nossa vez na sala de espera do veterinário, esta é a imobilização indicada. Quando alguém se dirige a nós, a pedir qualquer informação ou quando somos nós a solicitá-la, o “senta” deve ser activado.
“SENTA” E SEGURANÇA. Todos os automatismos de imobilização são figuras de alerta e vigilância e são requeridos de acordo com o particular das circunstâncias (por causa disso se exige também a correcção de postura dos donos). Todos os comandos de obediência pressupõem acções para além do alcance imediato dos condutores e normalmente são desaproveitados ou usados parcialmente. O “senta” é a figura indicada para a guarda carro, do carrinho do bebé ou dos pertences do seu dono, quando o período de vigilância é curto e o perigo espreita. O cão sentado ao lado de qualquer pertence é por si mesmo intimidativo e dispensa normalmente outro tipo de acções, reflexas ou condicionadas, ainda que alguns papalvos sempre insistam na distracção do animal. A permanência em qualquer figura de imobilização encontra-se cativa ao seu trinco: o “quieto”. O “senta” possibilita o retempero das forças ao cão guardião e garante-lhe os indíces de alerta. A figura intermédia é mais eficaz na observação e detecção do que o “deita”, especialmente se os muros forem altos e inibidores dos círculos odoríficos.
CAMINHOS PARA A OBTENÇÃO DO “SENTA”. A apropriação do “senta”, à imitação dos restantes automatismos de imobilização, não dispensa a persuasão, independentemente dos caminhos escolhidos para a obtenção da figura (afectivos ou coercivos), considerando o seu cumprimento incondicional, pronto e imediato. E porque é chegada a hora de deixarmos os cães em paz, evitando-se os históricos atropelos, entendemos o “senta” como uma decorrência da recompensa, na reclamada relação entre tratamento e treino, para “naturalizar” o artificialismo da resposta animal. O cumprimento dos desejos do cão leva-o a obedecer, transformando-se a obediência no melhor meio para a comunicação bilateral duradoura. A supressão dos vínculos afectivos, o desprezo pelos ciclos infantis, a novidade da liderança e até a própria selecção dos cães, induziram aos métodos do passado e hoje felizmente ultrapassados (que o digam os cães). Contudo, porque são poucos os condutores zelosos e ainda não vivemos no mundo ideal, contrafeitos e em situações extremas, não podemos banir de imediato a coerção, particularmente entre os adoradores de cães e entre aqueles que apenas se servem deles, considerando o bem-estar e a sobrevivência canina. Estas posturas radicais espelham extremismos de difícil solução, porque uns ajoelham-se diante dos cães e os outros não hesitarão em descartá-los. Uma coisa é certa: a experiência directa do cão indicará qual o caminho a seguir, obrigando-se os condutores à aquisição doutros procedimentos, já que os benefícios da pedagogia geral de ensino são prós binómios e não exclusivamente prós cães. Seriam só para os cães se eles aprendessem sozinhos! Todavia, nesta matéria, quão vã é a disciplina diante da afeição.
TÉCNICAS E AJUDAS PARA A FIGURA. O empurrãozinho pelas costas que obriga o cão a abater-se de traseira, é o método mais comum e é-o porque evita o recuo do animal, coisa fácil de acontecer quando a figura é alcançada exclusivamente pela elevação da frente do cão, uma vez imobilizado. O método já tem barbas e tem sobrevivido à alteração dos métodos, porque dispensa maiores cuidados técnicos e “resolve” a resistência advinda da ausência dos necessários vínculos afectivos. A opção torna-se obsoleta perante os cães que aguardam ansiosamente a sua recompensa, naturalmente sentados, fixados no dono e concentrados. O recurso à pancadinha é por isso mesmo coercivo e extraordinário, ainda que por vezes possa ser indispensável, porque mais vale carregar no cão atrás do que descarregar-lhe um sopapo nos queixos. E porque a técnica é de recurso, a ela se chama justificadamente “baixa técnica”.
COMO FAZER O “SENTA”. Como já se percebeu, entendemos o “senta” como uma decorrência da recompensa e valemo-nos da persuasão da trela para a obtenção dos alinhamentos. Ainda que o “senta” possa ser alcançado sem o contributo do “alto”, coisa para depois e diante de emergência, ele sempre resultará da melhor ou pior execução dos automatismos que o antecedem (“junto” e “alto”). Uma vez garantido o “alto”, cuja execução já explicámos, convidamos o cão para o “senta”. A figura é obtida pela conjugação das linguagens verbal e gestual com o auxílio da trela, já que ela visa em exclusivo a soberania dessas linguagens. A execução da figura acontece em 3 momentos. No 1º momento passamos toda a trela para a mão esquerda, sem aliviar a tensão e libertamos a nossa mão direita. No 2º momento puxamos a trela para cima pelo dobrar do braço, à medida que baixamos a mão direita em direcção ao focinho do animal. Estas duas acções são acompanhadas simultaneamente pelo comando “senta”. Depois, no terceiro momento, quando o cão já se encontra sentado, o excesso de trela retorna à mão direita naturalmente e o condutor permanece imóvel. O braço do condutor que auxilia o movimento do cão (o esquerdo), deve servir-se do tronco como alavanca e nunca recuar face à resistência do animal, geralmente associada a vícios, ao medo pelo condutor e à ausência de procedimentos anteriores. O “senta” pode dispensar o contributo da linguagem gestual, mas a prática ensinou-nos da sua necessidade para os cães, para a harmonia binomial e para defesa e comodidade dos seus condutores. A vantagem para os cães resulta da mímica que estabelece a cumplicidade, porque o movimento da mão reflecte a sua acção e a sincronia binomial sai reforçada e constitui-se em arte. O “senta” operado ao gesto não denuncia nenhum dos membros do binómio, o que é de extrema importância para a sua segurança e salvaguarda. Imagine-se um cão sentado à porta de um café, com o dono a tomar a “bica” lá dentro, na companhia doutros cidadãos com igual propósito. Subitamente o cão levanta-se e o dono berra: “senta”! Ainda que ninguém engula a chávena ou entorne o café pela roupa abaixo, a situação não deixa de ser caricata e incómoda para os demais. Tudo isto pode ser evitado pelo contributo da linguagem gestual. O “senta” pode ser operado através do clicker ou doutro instrumento sonoro mediante código previamente aceite e combinado.
O PORMENOR DA CAUDA. Todos os comandos de imobilização são figuras em esfinge e o pormenor da cauda não pode ser omitido. A cauda é imprescindível para os cães, complementa a sua coluna vertebral, é usada para o seu equilíbrio, manifesta emoções e ajuda na sua impulsão, elevação, suspensão e recepção ao solo, independentemente dos gostos estéticos de cada um. Depois do comando de “senta”, os condutores devem estender as caudas dos cães, criando-lhes o hábito para a postura. Se a cauda ficar debaixo da barriga dos animais, ela servirá de baloiço para o desequilíbrio dos seus quartos traseiros (deitados à vaca); se ficar dobrada e paralela a uma das pernas, induzirá os cães a tombar para o lado contrário, convidando-os para o “deita” e para o relaxe.
A RELAÇÃO ENTRE A MARCHA E O “SENTA”. O convite para a marcha regular possibilita um “senta” mais célere e correcto, porque ajuda no equilíbrio membro a membro e tende a colmatar algumas deficiências articulares menos graves, por força do desenvolvimento muscular periférico. Para que melhor se entenda aquilo que aqui dizemos, relembramos que um cão sem uma perna é capaz de galopar, mas incapaz de marchar. As deficiências articulares graves obstam, por dor ou cansaço, à correcta postura dos cães na figura.
DÁ-ME 3 TEMPOS! Esta é uma frase própria dos assistentes de realização, uma indicação para os actores afim de aguardarem 3 segundos entre a voz de “acção” e o início da sua prestação. Os cães conhecedores do tri-comando básico (alto, sente e deita), perante a delonga de novas ordens ou diante do afastamento dos seus condutores, transitam de uma figura para a outra e optam por aquela que imediatamente que lhe sucede (ex: do alto para o “senta” e do “senta” para o “deita”). Inúmeras vezes a responsabilidade do desacerto é dos condutores, que despejam ordens em bardo e não respeitam o salutar intervalo entre elas. Para que o cão não entre em confusão e tire partido disso, importa guardar 3 segundos de intervalo entre a execução das distintas figuras (ex: “alto”, 3 segundos depois “senta”).
“SENTA”: VIAS ASCENDENTE E DESCENDENTE. O “senta” pode ser alcançado por via ascendente ou descendente, conforme decorra do “alto” ou do “deita”. Em ambos os casos a obtenção da figura deve acontecer, ainda que iniciemos os trabalhos pela via descendente. Quando assim procedemos (por via ascendente e descendente), ganha-se a autonomia da figura, a liderança sai reforçada e o binómio mais pronto. O auxílio da trela facilita a instalação das duas vias.
O PROBLEMA DA REPETIÇÃO DO COMANDO. Diante da resistência do cão, alguns condutores aflitos repetem várias vezes a ordem de “senta”, o que dificulta a absorção do comando por parte do animal e leva à sua execução tardia. Como o cão não é surdo, não está a dormir e não foi de viagem, o procedimento é inútil e desconcertante. Perante a resistência do animal há que separar as águas, considerar a sua idade, experiência directa e procedimentos de que foi alvo. Se estivermos na presença de um cachorro, o retorno à primeira fase passará pelo auxílio da recompensa ou de um brinquedo. Procederemos doutro modo se o cão for adulto e objecto de todos os cuidados pedagógicos, soltando imediatamente o “não” perante o incumprimento manifesto. E quando se repete o comando, quando irá o cão obedecer? À primeira, à segunda ou à quinta vez? Como tantas vezes já dissemos, a obediência tem uma condição exclusiva: o seu cumprimento pronto e imediato.
SINCRONOMIA ENTRE O MOVIMENTO DO CÃO, A ACÇÃO DA TRELA E A LINGUAGEM GESTUAL. Tanto a pressão da trela como a mão indutora à figura só cessam a sua acção quando o cão se sentar finalmente. O alívio precoce da pressão na trela provoca o atraso da figura e o movimento adiantado da mão contribui para a desobediência canina. A linguagem gestual tem como objectivo a cumplicidade das acções, facto visível na sincronia entre o movimento de um e a resposta do outro, não o de transformar os condutores em velhos espantalhos, esfarrapados e ultrapassados.
A INDUÇÃO FORNECIDA PELO ALÍVIO DA TRELA. Os cães já batidos, os mais frágeis e os bonacheirões aproveitam a distracção dos condutores e servem-se do alívio da trela para se deitarem. O desencanto pelo treino, o cansaço e a ausência de momentos de supercompensação produzem o mesmo efeito pela ausência de estímulo, dando o “senta” azo ao “deita”. Nestes casos a recompensa é imperativa e deve acontecer antes do alívio da trela. Por vezes uma simples festa no peito resolve o problema e suprime a tendência.
O CONTRIBUTO DO ESPELHO DE SOLO. O Espelho de Solo consiste num rectângulo de 100 cm de comprimento por 50 cm de largura, que tem desenhado no seu interior uma cruz, que divide a largura ao meio e o comprimento em duas partes diferentes, uma de 30 e outra de 70 cm, sendo pintado ou desenhado no solo. Usamo-lo para corrigir os alinhamentos do cão em relação ao dono nos automatismos de imobilização, principalmente quando as classes apresentam esse problema ou imperfeição. Qualquer um pode desenhar, pintar ou riscar um espelho de solo na área da sua residência ou no seu quintal, aperfeiçoando dessa maneira o tri-comando básico. Esta prática acelera a absorção dos conteúdos de ensino, garante a evolução escolar e possibilita o ensino sem mestre. No Espelho de Solo podemos também operar a correcção do “junto” e procurar a excelência técnica, sem stress e quando nos aprouver. Ele é um garante dos alinhamentos e pode evitar os embaraços daqueles que, traídos pelos nervos e assolados pela ânsia de aprender, não conseguem entender as explicações e alcançar as correcções. O “senta” pode e deve ser exercitado no Espelho de Solo. O assunto não se esgota aqui, estamos prontos para maiores explicações.
PARA QUE SERVE. São inúmeras as aplicações da figura e dela se faz uso em todas as disciplinas cinotécnicas, tanto no trabalho como no descanso, enquanto meio interactivo próprio dos propósitos binomiais, não fora obediência o esqueleto de todas elas. E como a maioria dos cães é urbana, é por aqui que começamos. O “senta” torna-se obrigatório junto às passadeiras para peões, antes de se iniciar a sua travessia. O cão deve ficar condicionado a fazê-lo até ao ponto de desnecessitar de ordem. O procedimento visa a salvaguarda da vida do animal, o condicionamento é fácil e os cães vadios adquirem-no por observação dos transeuntes. Os donos vitimados pelo excessivo improviso, em circunstâncias ligadas às condições atmosféricas, atraso relativo ou menor densidade de trânsito, tendencialmente optam por atravessar as estradas de volta a casa por onde melhor lhes aprouver, obstando ao condicionamento e colocando em risco a vida do animal. Sempre que entramos numa loja de uma rua pouco movimentada, esta é a figura de imobilização ideal, desde que a demora não seja por demais prolongada. Quando encontramos alguém na rua e paramos para conversar, quando vamos ao quiosque comprar o jornal e também enquanto aguardamos a nossa vez na sala de espera do veterinário, esta é a imobilização indicada. Quando alguém se dirige a nós, a pedir qualquer informação ou quando somos nós a solicitá-la, o “senta” deve ser activado.
“SENTA” E SEGURANÇA. Todos os automatismos de imobilização são figuras de alerta e vigilância e são requeridos de acordo com o particular das circunstâncias (por causa disso se exige também a correcção de postura dos donos). Todos os comandos de obediência pressupõem acções para além do alcance imediato dos condutores e normalmente são desaproveitados ou usados parcialmente. O “senta” é a figura indicada para a guarda carro, do carrinho do bebé ou dos pertences do seu dono, quando o período de vigilância é curto e o perigo espreita. O cão sentado ao lado de qualquer pertence é por si mesmo intimidativo e dispensa normalmente outro tipo de acções, reflexas ou condicionadas, ainda que alguns papalvos sempre insistam na distracção do animal. A permanência em qualquer figura de imobilização encontra-se cativa ao seu trinco: o “quieto”. O “senta” possibilita o retempero das forças ao cão guardião e garante-lhe os indíces de alerta. A figura intermédia é mais eficaz na observação e detecção do que o “deita”, especialmente se os muros forem altos e inibidores dos círculos odoríficos.
CAMINHOS PARA A OBTENÇÃO DO “SENTA”. A apropriação do “senta”, à imitação dos restantes automatismos de imobilização, não dispensa a persuasão, independentemente dos caminhos escolhidos para a obtenção da figura (afectivos ou coercivos), considerando o seu cumprimento incondicional, pronto e imediato. E porque é chegada a hora de deixarmos os cães em paz, evitando-se os históricos atropelos, entendemos o “senta” como uma decorrência da recompensa, na reclamada relação entre tratamento e treino, para “naturalizar” o artificialismo da resposta animal. O cumprimento dos desejos do cão leva-o a obedecer, transformando-se a obediência no melhor meio para a comunicação bilateral duradoura. A supressão dos vínculos afectivos, o desprezo pelos ciclos infantis, a novidade da liderança e até a própria selecção dos cães, induziram aos métodos do passado e hoje felizmente ultrapassados (que o digam os cães). Contudo, porque são poucos os condutores zelosos e ainda não vivemos no mundo ideal, contrafeitos e em situações extremas, não podemos banir de imediato a coerção, particularmente entre os adoradores de cães e entre aqueles que apenas se servem deles, considerando o bem-estar e a sobrevivência canina. Estas posturas radicais espelham extremismos de difícil solução, porque uns ajoelham-se diante dos cães e os outros não hesitarão em descartá-los. Uma coisa é certa: a experiência directa do cão indicará qual o caminho a seguir, obrigando-se os condutores à aquisição doutros procedimentos, já que os benefícios da pedagogia geral de ensino são prós binómios e não exclusivamente prós cães. Seriam só para os cães se eles aprendessem sozinhos! Todavia, nesta matéria, quão vã é a disciplina diante da afeição.
TÉCNICAS E AJUDAS PARA A FIGURA. O empurrãozinho pelas costas que obriga o cão a abater-se de traseira, é o método mais comum e é-o porque evita o recuo do animal, coisa fácil de acontecer quando a figura é alcançada exclusivamente pela elevação da frente do cão, uma vez imobilizado. O método já tem barbas e tem sobrevivido à alteração dos métodos, porque dispensa maiores cuidados técnicos e “resolve” a resistência advinda da ausência dos necessários vínculos afectivos. A opção torna-se obsoleta perante os cães que aguardam ansiosamente a sua recompensa, naturalmente sentados, fixados no dono e concentrados. O recurso à pancadinha é por isso mesmo coercivo e extraordinário, ainda que por vezes possa ser indispensável, porque mais vale carregar no cão atrás do que descarregar-lhe um sopapo nos queixos. E porque a técnica é de recurso, a ela se chama justificadamente “baixa técnica”.
COMO FAZER O “SENTA”. Como já se percebeu, entendemos o “senta” como uma decorrência da recompensa e valemo-nos da persuasão da trela para a obtenção dos alinhamentos. Ainda que o “senta” possa ser alcançado sem o contributo do “alto”, coisa para depois e diante de emergência, ele sempre resultará da melhor ou pior execução dos automatismos que o antecedem (“junto” e “alto”). Uma vez garantido o “alto”, cuja execução já explicámos, convidamos o cão para o “senta”. A figura é obtida pela conjugação das linguagens verbal e gestual com o auxílio da trela, já que ela visa em exclusivo a soberania dessas linguagens. A execução da figura acontece em 3 momentos. No 1º momento passamos toda a trela para a mão esquerda, sem aliviar a tensão e libertamos a nossa mão direita. No 2º momento puxamos a trela para cima pelo dobrar do braço, à medida que baixamos a mão direita em direcção ao focinho do animal. Estas duas acções são acompanhadas simultaneamente pelo comando “senta”. Depois, no terceiro momento, quando o cão já se encontra sentado, o excesso de trela retorna à mão direita naturalmente e o condutor permanece imóvel. O braço do condutor que auxilia o movimento do cão (o esquerdo), deve servir-se do tronco como alavanca e nunca recuar face à resistência do animal, geralmente associada a vícios, ao medo pelo condutor e à ausência de procedimentos anteriores. O “senta” pode dispensar o contributo da linguagem gestual, mas a prática ensinou-nos da sua necessidade para os cães, para a harmonia binomial e para defesa e comodidade dos seus condutores. A vantagem para os cães resulta da mímica que estabelece a cumplicidade, porque o movimento da mão reflecte a sua acção e a sincronia binomial sai reforçada e constitui-se em arte. O “senta” operado ao gesto não denuncia nenhum dos membros do binómio, o que é de extrema importância para a sua segurança e salvaguarda. Imagine-se um cão sentado à porta de um café, com o dono a tomar a “bica” lá dentro, na companhia doutros cidadãos com igual propósito. Subitamente o cão levanta-se e o dono berra: “senta”! Ainda que ninguém engula a chávena ou entorne o café pela roupa abaixo, a situação não deixa de ser caricata e incómoda para os demais. Tudo isto pode ser evitado pelo contributo da linguagem gestual. O “senta” pode ser operado através do clicker ou doutro instrumento sonoro mediante código previamente aceite e combinado.
O PORMENOR DA CAUDA. Todos os comandos de imobilização são figuras em esfinge e o pormenor da cauda não pode ser omitido. A cauda é imprescindível para os cães, complementa a sua coluna vertebral, é usada para o seu equilíbrio, manifesta emoções e ajuda na sua impulsão, elevação, suspensão e recepção ao solo, independentemente dos gostos estéticos de cada um. Depois do comando de “senta”, os condutores devem estender as caudas dos cães, criando-lhes o hábito para a postura. Se a cauda ficar debaixo da barriga dos animais, ela servirá de baloiço para o desequilíbrio dos seus quartos traseiros (deitados à vaca); se ficar dobrada e paralela a uma das pernas, induzirá os cães a tombar para o lado contrário, convidando-os para o “deita” e para o relaxe.
A RELAÇÃO ENTRE A MARCHA E O “SENTA”. O convite para a marcha regular possibilita um “senta” mais célere e correcto, porque ajuda no equilíbrio membro a membro e tende a colmatar algumas deficiências articulares menos graves, por força do desenvolvimento muscular periférico. Para que melhor se entenda aquilo que aqui dizemos, relembramos que um cão sem uma perna é capaz de galopar, mas incapaz de marchar. As deficiências articulares graves obstam, por dor ou cansaço, à correcta postura dos cães na figura.
DÁ-ME 3 TEMPOS! Esta é uma frase própria dos assistentes de realização, uma indicação para os actores afim de aguardarem 3 segundos entre a voz de “acção” e o início da sua prestação. Os cães conhecedores do tri-comando básico (alto, sente e deita), perante a delonga de novas ordens ou diante do afastamento dos seus condutores, transitam de uma figura para a outra e optam por aquela que imediatamente que lhe sucede (ex: do alto para o “senta” e do “senta” para o “deita”). Inúmeras vezes a responsabilidade do desacerto é dos condutores, que despejam ordens em bardo e não respeitam o salutar intervalo entre elas. Para que o cão não entre em confusão e tire partido disso, importa guardar 3 segundos de intervalo entre a execução das distintas figuras (ex: “alto”, 3 segundos depois “senta”).
“SENTA”: VIAS ASCENDENTE E DESCENDENTE. O “senta” pode ser alcançado por via ascendente ou descendente, conforme decorra do “alto” ou do “deita”. Em ambos os casos a obtenção da figura deve acontecer, ainda que iniciemos os trabalhos pela via descendente. Quando assim procedemos (por via ascendente e descendente), ganha-se a autonomia da figura, a liderança sai reforçada e o binómio mais pronto. O auxílio da trela facilita a instalação das duas vias.
O PROBLEMA DA REPETIÇÃO DO COMANDO. Diante da resistência do cão, alguns condutores aflitos repetem várias vezes a ordem de “senta”, o que dificulta a absorção do comando por parte do animal e leva à sua execução tardia. Como o cão não é surdo, não está a dormir e não foi de viagem, o procedimento é inútil e desconcertante. Perante a resistência do animal há que separar as águas, considerar a sua idade, experiência directa e procedimentos de que foi alvo. Se estivermos na presença de um cachorro, o retorno à primeira fase passará pelo auxílio da recompensa ou de um brinquedo. Procederemos doutro modo se o cão for adulto e objecto de todos os cuidados pedagógicos, soltando imediatamente o “não” perante o incumprimento manifesto. E quando se repete o comando, quando irá o cão obedecer? À primeira, à segunda ou à quinta vez? Como tantas vezes já dissemos, a obediência tem uma condição exclusiva: o seu cumprimento pronto e imediato.
SINCRONOMIA ENTRE O MOVIMENTO DO CÃO, A ACÇÃO DA TRELA E A LINGUAGEM GESTUAL. Tanto a pressão da trela como a mão indutora à figura só cessam a sua acção quando o cão se sentar finalmente. O alívio precoce da pressão na trela provoca o atraso da figura e o movimento adiantado da mão contribui para a desobediência canina. A linguagem gestual tem como objectivo a cumplicidade das acções, facto visível na sincronia entre o movimento de um e a resposta do outro, não o de transformar os condutores em velhos espantalhos, esfarrapados e ultrapassados.
A INDUÇÃO FORNECIDA PELO ALÍVIO DA TRELA. Os cães já batidos, os mais frágeis e os bonacheirões aproveitam a distracção dos condutores e servem-se do alívio da trela para se deitarem. O desencanto pelo treino, o cansaço e a ausência de momentos de supercompensação produzem o mesmo efeito pela ausência de estímulo, dando o “senta” azo ao “deita”. Nestes casos a recompensa é imperativa e deve acontecer antes do alívio da trela. Por vezes uma simples festa no peito resolve o problema e suprime a tendência.
O CONTRIBUTO DO ESPELHO DE SOLO. O Espelho de Solo consiste num rectângulo de 100 cm de comprimento por 50 cm de largura, que tem desenhado no seu interior uma cruz, que divide a largura ao meio e o comprimento em duas partes diferentes, uma de 30 e outra de 70 cm, sendo pintado ou desenhado no solo. Usamo-lo para corrigir os alinhamentos do cão em relação ao dono nos automatismos de imobilização, principalmente quando as classes apresentam esse problema ou imperfeição. Qualquer um pode desenhar, pintar ou riscar um espelho de solo na área da sua residência ou no seu quintal, aperfeiçoando dessa maneira o tri-comando básico. Esta prática acelera a absorção dos conteúdos de ensino, garante a evolução escolar e possibilita o ensino sem mestre. No Espelho de Solo podemos também operar a correcção do “junto” e procurar a excelência técnica, sem stress e quando nos aprouver. Ele é um garante dos alinhamentos e pode evitar os embaraços daqueles que, traídos pelos nervos e assolados pela ânsia de aprender, não conseguem entender as explicações e alcançar as correcções. O “senta” pode e deve ser exercitado no Espelho de Solo. O assunto não se esgota aqui, estamos prontos para maiores explicações.
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