PREÂMBULO. Se o “junto” é a pedra basilar da obediência, o “aqui” será certamente a sua mão direita, porque em cima de ambos se alicerça todo o adestramento clássico. O ensino do “quieto” sempre deveria suceder ao do “aqui”, indicando qual o modo da reunião binomial pretendida. No entanto, para nossa desventura, somos por vezes obrigados a inverter essa ordem e nem sempre por causa do carácter dos cães, a quem não cabe a pedagogia e que acabam vítimas da sua inexistência. O adestramento versus condicionamento procura tão-somente nos cães a parceria, a autonomia controlada e a sua prestação complementar, coisas oferecidas pela cumplicidade, garantidas pela obediência e executadas de acordo com o particular canino. A cumplicidade não pode provir de uma raiz cínica, mas basear-se na afeição recíproca, a obediência não pode desconsiderar o carácter do animal enquanto indivíduo e seu desempenho desnudará sempre a qualidade dos seus líderes, apesar de todos os cães serem diferentes e patentearem diversas mais-valias ou habilidades. Para que a liderança surta efeito, ocupando o líder o lugar mais alto da hierarquia, é necessário que ele aja de acordo com o cão que tem na frente: mais paternal com os submissos e menos tolerante com os dominantes. Como os submissos vivem normalmente à sombra dos donos e os dominantes divertem-se a fugir deles, é preciso encontrar o ponto de equilíbrio entre o travamento e a recompensa. Aos binómios constituídos por cães muito dominantes e por donos deveras submissos ensinamos primeiro o “quieto”, para robustecer a autoridade do dono e aumentar a submissão do cão; aos binómios constituídos por donos muito dominantes e cães muito-submissos ensinamos primeiro o “aqui”, para amaciar os donos e levar de vencida o medo dos cães. À parte destas situações extraordinárias, sempre começamos pelo “aqui”, particularmente se não foi alcançado no lar.
O QUE É O “AQUI”. Do ponto de vista operacional o “aqui” é um comando híbrido, porque tanto pode ser um automatismo de imobilização, quando usado para a cessação das acções, como um automatismo direccional, quando requerido para as mudanças de direcção. Não obstante, é mormente usado como automatismo direccional. Consiste no chamamento do cão e na sua apresentação imediata. Normalmente a figura é alcançada pelo rodar do cão sobre as costas do condutor, entrando pelo seu lado direito e imobilizando-se depois à sua esquerda. Numa fase mais adiante, na procura de um “aqui” mais célere, o cão entrará directo no lugar de condução (o esquerdo) rodopiando automaticamente sobre si próprio. O comando não necessita de ser salpicado com o nome do animal, porque o bicho não é surdo e bem cedo reconhece a voz do dono. Quando se persiste neste erro, facilmente o comando transitará para o nome do cão, substituindo-o, o que é altamente reprovável, porque sabendo-se o nome do guardião logo se alcançará o seu controle. O “aqui” não deve substituir o “junto”, erro bastante comum e visível nalgumas modalidades desportivas caninas. Esse uso abusivo do comando acaba por arruiná-lo e dar cabo daquele que substitui.
O “AQUI” NATURAL. Todo e qualquer comando podem ser alcançados sem o contributo da coerção e deseja-se que assim aconteça. O “junto” e o “aqui” são figuras naturais no cão doméstico, ainda que careçam de algum aprimoramento, porque os cachorros seguem-nos por toda a parte e sempre procuram a nossa presença. A tarefa entre os cães territoriais encontra-se mais facilitada e pode ser de difícil obtenção junto dos mais primitivos, instintivos ou seleccionados para outros propósitos. Tal é o caso das raças seleccionadas para o tiro (reboque de trenós para o transporte de pessoas e mercadorias), dalgumas próprias para o ofício cinegético e daquelas cuja utilidade não foi procurada e por isso mesmo é desconhecida. Nestes casos a mecanicidade das acções tende a consertar aquilo que geneticamente foi omisso. Havendo o cuidado de aproveitar a propensão natural canina de seguir o dono, a obediência acontece sem problemas como resultado da coabitação. A ruína da obediência doméstica, porque o cão é um animal social, resulta de dois factores: da ausência do líder e da entrega do cão a si próprio (muitas vezes logo após a sua adopção). Se o “aqui” decorrer do bom acompanhamento doméstico, ele será mais pronto e célebre, alegre e duradouro e facilitará de sobremaneira o adestramento, particularmente quando recompensado. Por outro lado, se o comando de “aqui” anteceder a distribuição do penso diário, o automatismo acontecerá naturalmente por força da experiência directa.
O “AQUI” E A PROCURA DO DONO. O exercício da pistagem, que começa pela procura do dono, é um dos melhores meios para o alcance do “aqui”, especialmente para os cães mais autónomos e cientes do seu estatuto. Este trabalho que é uma brincadeira para ambos, algo tangível ao “jogo do gato e do rato”, é indispensável para os cães valentes e super mimados, propensos à emancipação precoce e despertos para desafios alheios à constituição binomial. O exercício da obediência é por norma mais fácil junto das cadelas, dos cães mais submissos, vulneráveis e franzinos. Os machos, que ainda não perderam o atavismo que os leva à procura de novos grupos, são geralmente mais rebeldes e procuram a evasão. A procura do dono deve acontecer antes da sua maturidade sexual, porque a ausência de regra quando somada aos ímpetos juvenis excursionistas, desprezará a ordem e obrigará a meios mais persuasivos ou coercivos para a instalação do “aqui”.
A GULA E O “AQUI”. É muito fácil ensinar o “aqui” aos cães que foram obsequiados por um forte impulso ao alimento, porque a gula os submete agradavelmente, havendo alguns que vivem literalmente para comer. O recurso ao biscoito ou a outra iguaria tem-se revelado um importante subsídio para a instalação do comando, evitando maiores contratempos, o duelo das vontades e reforçando o papel da liderança, porque a entrega do petisco garante o automatismo. A técnica não é nova e não carrega qualquer erudição. A haver alguma novidade, ela passará pela ausência de maior contacto entre o homem actual e os animais ao seu redor, porque o dono da comida sempre foi o patrão do animal. Não se passará o mesmo com os homens? Todavia, a técnica não é absoluta e a sua validade é restrita, porque existem cães pouco propensos ao alimento e que apenas comem para sobreviver, desinteressando-se dos manjares colocados à sua disposição. Para estes a técnica terá de ser outra e passará certamente pelo reforço dos laços afectivos comuns.
O “AQUI”, O INSTINTO DE PRESA E O IMPULSO AO MOVIMENTO. Um churro, uma bola ou outro brinquedo do agrado do cão podem ajudar na instalação do comando, quando usados como estímulo e reforço da mão indicadora do movimento, desde que a atenção do cão neles se fixe. Se o objecto utilizado apitar quando apertado, a tarefa torna-se mais fácil e a concentração canina mais objectiva, porque o brinquedo responde à captura operada pelo cão e desperta o seu instinto predador. Após o alcance da figura, porque os cães detestam perder e desinteressam-se do que está para além do seu alcance, o brinquedo deve-lhes ser jogado e o seu prémio alcançado, porque só a certeza do sucesso mantém o seu interesse. E para que não restem dúvidas, os brinquedos destinados aos cães não são os seus exclusivos destinatários, mas meios através dos quais se estabelece o entendimento entre homens e cães, o que equivale a dizer que são também para os donos. É efémero lançar brinquedos num canil ou jogá-los num quintal, particularmente se ali houver pedaços de madeira, penas de aves e outros objectos de uso comum aos moradores da casa. O que torna o brinquedo artificial atractivo é o odor do dono, o movimento que ele lhe imprime, a sua constituição em presa, a acção dividida e a aprovação do trabalho realizado pelo cão. A ausência destas condições, porque são elas que estabelecem a diferença, torna os brinquedos desprezíveis aos seus olhos, que os pode considerar como cacos ou dejectos, algo sem interesse, sem préstimo e isento de vida.
O “AQUI” COERCIVO. O recurso ao “aqui” coercivo sempre espelha a incapacidade do dono em se fazer ouvir, o seu distanciamento relativo ao animal e o desprezo pelos mais elementares princípios pedagógicos, maleitas advindas do desrespeito pelo cão enquanto indivíduo social, reflexo e dependente. Quando a Escola é vista como uma panaceia, o adestrador vira Deus; quando ele aponta erros, que vá para o diabo que o carregue! Querendo libertar-se desses desígnios, isentar o cão de maior desaprovo e perante o carácter rudimentar de alguns donos (felizmente poucos), cuja adaptação rasa o impossível, o educador, ainda que à revelia e contrafeito, vê-se obrigado ao “aqui coercivo”, já que o automatismo irá ser alcançado para além dos desejáveis vínculos afectivos e acontecerá pelo gélido, cru e puro condicionamento mecânico. O “aqui” coercivo é desenvolvido em 3 fases e serve-se da corda de 6 metros como subsídio de ensino, exactamente a mesma que mais tarde irá ser usada para a pistagem. A corda pode e tem vindo a ser substituída pelas trelas extensíveis, de modelo profissional, de tela mais larga e de igual comprimento, já que a sua recolha é automática e não causa qualquer embaraço. A opção forçada pelo “aqui” coercivo obriga à prévia instalação do comando de “quieto”. Na 1ª fase, depois da imobilização do cão e uma vez tirada a folga da corda ou guia, o condutor puxa vigorosamente o animal para si e em simultâneo solta o comando de “aqui”, de modo a garantir a celeridade e a surpresa da acção na busca do automatismo. A progressão linear e o arranque automático do cão são objectivos a considerar. Depois, ensina-se ao animal o lado de entrada, solicita-se-lhe o comando de roda, depois o “junto”, logo a seguir o “alto” e depois o “senta” (não convém pedir-lhe o “deita” por causa da morosidade das acções). A distância entre condutor e cão vai aumentando gradualmente e todas as acções desejam-se perfeitas. Na 2ª fase, que só acontece pela instalação do condicionamento anterior, a guia continua esticada mas presa ao pé esquerdo do condutor, que a pisa. A ordem de chamada dispensa a acção da guia e procura-se a soberania do comando verbal. Quando tal não acontece, o retorno à fase anterior torna-se obrigatório. Na 3ª fase o comando já é executado em liberdade. Uma boa sessão de treino costuma bastar para o automatismo, muito embora necessite de recapitulação para sua instalação definitiva.
O “AQUI”: O CHECK-UP DA OBEDIÊNCIA. Considerando o exercício da obediência, se um condutor pode ser avaliado pela sua postura, modo de respirar e pela entoação dos comandos, a qualidade de um treinador desnuda-se na execução do “aqui”, porque duma assentada vê-se a obrigado à execução de 7 figuras (“quieto”, “aqui”, “roda”, “junto”, “alto”, “senta” e “deita”). A prontidão das acções, a mímica canina visível na figura, a execução correcta dos automatismos e o respeito pelos alinhamentos são parâmetros avaliativos. A excelência do “aqui” revela-se no “junto” automático, quando o cão rodopia sobre si mesmo e se coloca à disposição do condutor, debaixo da mão de condução ordinária (a esquerda), após ali ter chegado a galope. Este aprimoramento técnico dificilmente será alcançado por meios coercivos e resulta normalmente do concurso da recompensa ou dos brinquedos, espelhando assim a importância da cumplicidade prá melhor prestação binomial.
PARA QUE SERVE O “AQUI”. Este automatismo serve exclusivamente a reunião binomial, independentemente do cariz ou propósito das suas acções (lúdicas, normativas, policiais, etc.), ainda que possa ser usado como travamento das acções indesejáveis por parte do cão ou como subsídio de correcção direccional. Em qualquer dos casos ele é um comando de emergência e serve para evitar o afastamento não autorizado do cão ou solicitar a sua presença imediata, porque o binómio desloca-se ordinariamente a par e passo (em “junto”).
COMO FAZER O “AQUI”. Todas as figuras que constituem o “aqui” e que manifestámos há dois parágrafos atrás (O “AQUI”: O CHECK-UP DA OBEDIÊNCIA), podem ser alcançadas naturalmente e sem maiores dificuldades, mediante recurso ao espólio do cão e tirando-se partido dos seus impulsos herdados mais desenvolvidos, havendo o cuidado de o recompensar efusivamente pelo trabalho efectuado. O comando pode evoluir da linguagem verbal para outras linguagens e ser accionado mediante sinal sonoro. Se houver o cuidado de o usar, aquando da distribuição do penso diário, ele passará rapidamente a automatismo pelo contributo da feliz experiência directa. Apesar dos cães não nascerem com um kit de obediência, ela encontra-se facilitada pelo particular social do cão. As dificuldades no ensino e a estupidez atribuída a certos cães resultam maioritariamente do fraco empenho dos seus donos. Quiçá se a sua dificuldade de adaptação não os transporta a outros défices ou impropriedades. O assunto não se esgota aqui, estamos prontos para maiores explicações.
O QUE É O “AQUI”. Do ponto de vista operacional o “aqui” é um comando híbrido, porque tanto pode ser um automatismo de imobilização, quando usado para a cessação das acções, como um automatismo direccional, quando requerido para as mudanças de direcção. Não obstante, é mormente usado como automatismo direccional. Consiste no chamamento do cão e na sua apresentação imediata. Normalmente a figura é alcançada pelo rodar do cão sobre as costas do condutor, entrando pelo seu lado direito e imobilizando-se depois à sua esquerda. Numa fase mais adiante, na procura de um “aqui” mais célere, o cão entrará directo no lugar de condução (o esquerdo) rodopiando automaticamente sobre si próprio. O comando não necessita de ser salpicado com o nome do animal, porque o bicho não é surdo e bem cedo reconhece a voz do dono. Quando se persiste neste erro, facilmente o comando transitará para o nome do cão, substituindo-o, o que é altamente reprovável, porque sabendo-se o nome do guardião logo se alcançará o seu controle. O “aqui” não deve substituir o “junto”, erro bastante comum e visível nalgumas modalidades desportivas caninas. Esse uso abusivo do comando acaba por arruiná-lo e dar cabo daquele que substitui.
O “AQUI” NATURAL. Todo e qualquer comando podem ser alcançados sem o contributo da coerção e deseja-se que assim aconteça. O “junto” e o “aqui” são figuras naturais no cão doméstico, ainda que careçam de algum aprimoramento, porque os cachorros seguem-nos por toda a parte e sempre procuram a nossa presença. A tarefa entre os cães territoriais encontra-se mais facilitada e pode ser de difícil obtenção junto dos mais primitivos, instintivos ou seleccionados para outros propósitos. Tal é o caso das raças seleccionadas para o tiro (reboque de trenós para o transporte de pessoas e mercadorias), dalgumas próprias para o ofício cinegético e daquelas cuja utilidade não foi procurada e por isso mesmo é desconhecida. Nestes casos a mecanicidade das acções tende a consertar aquilo que geneticamente foi omisso. Havendo o cuidado de aproveitar a propensão natural canina de seguir o dono, a obediência acontece sem problemas como resultado da coabitação. A ruína da obediência doméstica, porque o cão é um animal social, resulta de dois factores: da ausência do líder e da entrega do cão a si próprio (muitas vezes logo após a sua adopção). Se o “aqui” decorrer do bom acompanhamento doméstico, ele será mais pronto e célebre, alegre e duradouro e facilitará de sobremaneira o adestramento, particularmente quando recompensado. Por outro lado, se o comando de “aqui” anteceder a distribuição do penso diário, o automatismo acontecerá naturalmente por força da experiência directa.
O “AQUI” E A PROCURA DO DONO. O exercício da pistagem, que começa pela procura do dono, é um dos melhores meios para o alcance do “aqui”, especialmente para os cães mais autónomos e cientes do seu estatuto. Este trabalho que é uma brincadeira para ambos, algo tangível ao “jogo do gato e do rato”, é indispensável para os cães valentes e super mimados, propensos à emancipação precoce e despertos para desafios alheios à constituição binomial. O exercício da obediência é por norma mais fácil junto das cadelas, dos cães mais submissos, vulneráveis e franzinos. Os machos, que ainda não perderam o atavismo que os leva à procura de novos grupos, são geralmente mais rebeldes e procuram a evasão. A procura do dono deve acontecer antes da sua maturidade sexual, porque a ausência de regra quando somada aos ímpetos juvenis excursionistas, desprezará a ordem e obrigará a meios mais persuasivos ou coercivos para a instalação do “aqui”.
A GULA E O “AQUI”. É muito fácil ensinar o “aqui” aos cães que foram obsequiados por um forte impulso ao alimento, porque a gula os submete agradavelmente, havendo alguns que vivem literalmente para comer. O recurso ao biscoito ou a outra iguaria tem-se revelado um importante subsídio para a instalação do comando, evitando maiores contratempos, o duelo das vontades e reforçando o papel da liderança, porque a entrega do petisco garante o automatismo. A técnica não é nova e não carrega qualquer erudição. A haver alguma novidade, ela passará pela ausência de maior contacto entre o homem actual e os animais ao seu redor, porque o dono da comida sempre foi o patrão do animal. Não se passará o mesmo com os homens? Todavia, a técnica não é absoluta e a sua validade é restrita, porque existem cães pouco propensos ao alimento e que apenas comem para sobreviver, desinteressando-se dos manjares colocados à sua disposição. Para estes a técnica terá de ser outra e passará certamente pelo reforço dos laços afectivos comuns.
O “AQUI”, O INSTINTO DE PRESA E O IMPULSO AO MOVIMENTO. Um churro, uma bola ou outro brinquedo do agrado do cão podem ajudar na instalação do comando, quando usados como estímulo e reforço da mão indicadora do movimento, desde que a atenção do cão neles se fixe. Se o objecto utilizado apitar quando apertado, a tarefa torna-se mais fácil e a concentração canina mais objectiva, porque o brinquedo responde à captura operada pelo cão e desperta o seu instinto predador. Após o alcance da figura, porque os cães detestam perder e desinteressam-se do que está para além do seu alcance, o brinquedo deve-lhes ser jogado e o seu prémio alcançado, porque só a certeza do sucesso mantém o seu interesse. E para que não restem dúvidas, os brinquedos destinados aos cães não são os seus exclusivos destinatários, mas meios através dos quais se estabelece o entendimento entre homens e cães, o que equivale a dizer que são também para os donos. É efémero lançar brinquedos num canil ou jogá-los num quintal, particularmente se ali houver pedaços de madeira, penas de aves e outros objectos de uso comum aos moradores da casa. O que torna o brinquedo artificial atractivo é o odor do dono, o movimento que ele lhe imprime, a sua constituição em presa, a acção dividida e a aprovação do trabalho realizado pelo cão. A ausência destas condições, porque são elas que estabelecem a diferença, torna os brinquedos desprezíveis aos seus olhos, que os pode considerar como cacos ou dejectos, algo sem interesse, sem préstimo e isento de vida.
O “AQUI” COERCIVO. O recurso ao “aqui” coercivo sempre espelha a incapacidade do dono em se fazer ouvir, o seu distanciamento relativo ao animal e o desprezo pelos mais elementares princípios pedagógicos, maleitas advindas do desrespeito pelo cão enquanto indivíduo social, reflexo e dependente. Quando a Escola é vista como uma panaceia, o adestrador vira Deus; quando ele aponta erros, que vá para o diabo que o carregue! Querendo libertar-se desses desígnios, isentar o cão de maior desaprovo e perante o carácter rudimentar de alguns donos (felizmente poucos), cuja adaptação rasa o impossível, o educador, ainda que à revelia e contrafeito, vê-se obrigado ao “aqui coercivo”, já que o automatismo irá ser alcançado para além dos desejáveis vínculos afectivos e acontecerá pelo gélido, cru e puro condicionamento mecânico. O “aqui” coercivo é desenvolvido em 3 fases e serve-se da corda de 6 metros como subsídio de ensino, exactamente a mesma que mais tarde irá ser usada para a pistagem. A corda pode e tem vindo a ser substituída pelas trelas extensíveis, de modelo profissional, de tela mais larga e de igual comprimento, já que a sua recolha é automática e não causa qualquer embaraço. A opção forçada pelo “aqui” coercivo obriga à prévia instalação do comando de “quieto”. Na 1ª fase, depois da imobilização do cão e uma vez tirada a folga da corda ou guia, o condutor puxa vigorosamente o animal para si e em simultâneo solta o comando de “aqui”, de modo a garantir a celeridade e a surpresa da acção na busca do automatismo. A progressão linear e o arranque automático do cão são objectivos a considerar. Depois, ensina-se ao animal o lado de entrada, solicita-se-lhe o comando de roda, depois o “junto”, logo a seguir o “alto” e depois o “senta” (não convém pedir-lhe o “deita” por causa da morosidade das acções). A distância entre condutor e cão vai aumentando gradualmente e todas as acções desejam-se perfeitas. Na 2ª fase, que só acontece pela instalação do condicionamento anterior, a guia continua esticada mas presa ao pé esquerdo do condutor, que a pisa. A ordem de chamada dispensa a acção da guia e procura-se a soberania do comando verbal. Quando tal não acontece, o retorno à fase anterior torna-se obrigatório. Na 3ª fase o comando já é executado em liberdade. Uma boa sessão de treino costuma bastar para o automatismo, muito embora necessite de recapitulação para sua instalação definitiva.
O “AQUI”: O CHECK-UP DA OBEDIÊNCIA. Considerando o exercício da obediência, se um condutor pode ser avaliado pela sua postura, modo de respirar e pela entoação dos comandos, a qualidade de um treinador desnuda-se na execução do “aqui”, porque duma assentada vê-se a obrigado à execução de 7 figuras (“quieto”, “aqui”, “roda”, “junto”, “alto”, “senta” e “deita”). A prontidão das acções, a mímica canina visível na figura, a execução correcta dos automatismos e o respeito pelos alinhamentos são parâmetros avaliativos. A excelência do “aqui” revela-se no “junto” automático, quando o cão rodopia sobre si mesmo e se coloca à disposição do condutor, debaixo da mão de condução ordinária (a esquerda), após ali ter chegado a galope. Este aprimoramento técnico dificilmente será alcançado por meios coercivos e resulta normalmente do concurso da recompensa ou dos brinquedos, espelhando assim a importância da cumplicidade prá melhor prestação binomial.
PARA QUE SERVE O “AQUI”. Este automatismo serve exclusivamente a reunião binomial, independentemente do cariz ou propósito das suas acções (lúdicas, normativas, policiais, etc.), ainda que possa ser usado como travamento das acções indesejáveis por parte do cão ou como subsídio de correcção direccional. Em qualquer dos casos ele é um comando de emergência e serve para evitar o afastamento não autorizado do cão ou solicitar a sua presença imediata, porque o binómio desloca-se ordinariamente a par e passo (em “junto”).
COMO FAZER O “AQUI”. Todas as figuras que constituem o “aqui” e que manifestámos há dois parágrafos atrás (O “AQUI”: O CHECK-UP DA OBEDIÊNCIA), podem ser alcançadas naturalmente e sem maiores dificuldades, mediante recurso ao espólio do cão e tirando-se partido dos seus impulsos herdados mais desenvolvidos, havendo o cuidado de o recompensar efusivamente pelo trabalho efectuado. O comando pode evoluir da linguagem verbal para outras linguagens e ser accionado mediante sinal sonoro. Se houver o cuidado de o usar, aquando da distribuição do penso diário, ele passará rapidamente a automatismo pelo contributo da feliz experiência directa. Apesar dos cães não nascerem com um kit de obediência, ela encontra-se facilitada pelo particular social do cão. As dificuldades no ensino e a estupidez atribuída a certos cães resultam maioritariamente do fraco empenho dos seus donos. Quiçá se a sua dificuldade de adaptação não os transporta a outros défices ou impropriedades. O assunto não se esgota aqui, estamos prontos para maiores explicações.
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