segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O sucesso que vem da instalação doméstica

Como o Francisco e Célia acabam de adquirir dois CPA’S, também porque queremos valer a outros, transcrevemos aqui parte do texto escolar: “ RECUPERAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E ESTÍMULO DO SENTIMENTO TERRITORIAL (VARIEDADES RECESSIVAS) ”, porque nele se faz saber como instalar um cão no lar adoptivo doméstico. Aos citados damos os parabéns e aconselhamos esta leitura, que é ao mesmo tempo de interesse geral e chave do nosso sucesso pedagógico.

“... Comecemos então pela instalação “at home”, primeiro dos passos para o aniquilamento ou desenvolvimento do sentimento territorial canino. É prática comum, entre aqueles que possuem quintas ou moradias, despachar o cachorro de imediato para um canil logo após a sua aquisição, como se aquele lugar fosse o mais apetecível aos olhos do animal. Aqueles donos que se encontram remetidos em andares ou apartamentos, sempre encontram em varandas e cozinhas o espaço ideal para alojar o recém-chegado amigo de quatro patas. Outros há, que largam cachorros em grandes extensões territoriais julgando nelas encontrar o paraíso para o futuro guardião. Infelizmente todos eles estão enganados e com isso podem gerar problemas psicossociais que poderão atentar contra o salutar desenvolvimento do seu fiel amigo. A somar a isto, pode acontecer e não raramente acontece, a inutilidade do animal para a tarefa pretendida.

Raptar um cachorro da mãe e abandoná-lo a si próprio numa idade em que não sabe cuidar de si e que carece da identificação e protecção do bando, no mínimo é criminoso! Com quem irá aprender a lutar e a defender-se, quem o vai alertar para os perigos e ensinar-lhe quais são os seus inimigos? O cão não nasceu para estar só! É isso que fazemos quando o afastamos de nós antes da idade da cópia (4 meses). A seguir ao imprinting, é importante não descorar o ciclo infantil que decorre até aos 4 meses, pois ele influenciará positiva ou negativamente o comportamento futuro do cachorro, porque fará parte da sua experiência directa e determinará o seu posicionamento social entre iguais e perante espécies diferentes. Entregar o cachorro aos seus instintos de sobrevivência não é a melhor das pedagogias, por certo não andamos à procura de um amigo esquivo e selvagem!

Para que haja um desenvolvimento objectivo do sentimento territorial é preciso que seja o cachorro a escolher o primeiro dos seus territórios e não o seu dono! E essa escolha é de suma importância, porquanto clarifica qual o perfil psicológico do cachorro e os cuidados a haver com ele, tendo em vista o trabalho a que se destina. Cachorros que dormem debaixo da cama dos donos rapidamente os defendem, a união binomial é algo que floresce antes do treino propriamente dito e que deve acontecer na sequência de uma boa instalação doméstica. Somos conhecedores do rosário dos cocós e chichis; dos pêlos e dos danos causados pelos cachorros: ossos do ofício! Lembramos aqui o episódio verídico de um Pároco duma Freguesia do Oeste, que também foi capelão militar, a daquele clérigo que farto de apanhar cocós do seu cachorro, o entregou a um vizinho, merecendo deste o seguinte comentário: “Esperava Vossa Reverência que o cachorro borrasse para as Alturas?”

No que à instalação doméstica diz respeito e para que seja bem feita, ela deve ser desenvolvida em 3 fases, sendo a primeira operada dentro de casa (H), a segunda no jardim (G) e uma última no perímetro da propriedade a defender (P). Quando assim procedemos, alcançamos os melhores resultados e colhemos os melhores frutos, pois não trabalhámos em vão. No entanto uma pergunta urge: Quando é que se passa de uma fase para a outra? Só o cachorro nos pode dizer quando! Quando ele abandona a companhia dos donos e vai-se deitar à porta da entrada e ali permanece alerta, dias depois é tempo de o instalar no jardim. Quanto estiver no jardim e manifestar desejo de bater território é chegado o momento de lhe abrir a cancela. Resumindo, uma boa instalação doméstica acontece de acordo com o crescimento do cachorro e não por decreto do seu proprietário. Só assim não se atenta contra o natural surgimento das inevitáveis e desejáveis maturidades. Por isso importa respeitar a sigla HGP, só assim poderemos usufruir dos benefícios objectivos das variedades recessivas (precoces), sem atentar contra o desenvolvimento do seu sentimento territorial.

Ainda que qualquer das fases se reverta de grande importância, a primeira é aquela que carece de maiores cuidados e que, por isso mesmo, pode condenar as seguintes. As dificuldades encontradas serão muitas e cada cachorro enquanto indivíduo coloca diferentes problemas e solicita diferentes ajudas. Assim, teremos de abordar o assunto partindo dos princípios gerais a respeitar.

Nunca é demais recordar que a estrutura sócia canina assenta sobre a matilha e que essa se encontra sujeita a um líder, e que partir dele acontece o restante escalonamento. Isso obriga-nos, entre outras coisas, a não consentir que todos lá em casa dêem ordens ao cachorro, já que não é desejável que ele se sinta o último da escala social, lugar geralmente ocupado pelos inibidos ou mais fracos e que é impróprio para um guardião. Pela mesma razão, devem existir um ou mais elementos neutros (NE), pessoas que se dispensam das tarefas educacionais caninas, que coabitam com o cão sem qualquer tipo de preocupação pedagógica ou desejo de dominância, literalmente pessoas que pertencem ao seu dono e que teimará em defender. O elemento neutro só deverá comandar o cão em caso de necessidade e na ausência do dono.

Onde há carinho há protecção e a inexistência do primeiro pode levar à supressão do segundo. Daí que a inoperância de um cão na indução defensiva resulte geralmente de uma relação deficitária com o dono. Isto se o problema não for de origem genética, o que é fácil de antever quando o dono cumpriu todos os requisitos anteriores ao treino.

É importante não esquecer que é o sentimento territorial que induz à defesa e que esta passa obrigatoriamente pela segurança do refúgio e pela vida partilhada com o dono. Agora compreende-se claramente porque chamamos à indução ofensiva uma solução colectiva para um problema individual, uma vez que ela tende a consertar aquilo que o dono desleixou ou não soube transmitir ao cão.

O território de um cão é o espaço onde ele se oculta e aparece, onde se sente seguro e se alimenta, local onde é “rei e senhor”, lugar onde habita o líder que lhe distribui tarefas, perímetro a defender que considera também seu. Por todas estas razões, são as cadelas que devem visitar os cães e não o inverso, para não dar azo a inibições e para evitar o ataque das fêmeas sobre os machos que intentam copular com elas. Obviamente o recurso à cópula pode ser usado como estímulo para o desenvolvimento do sentimento territorial, uma vez que os cães lutam pela posse das fêmeas e estas robustecem-se pelo exercício da maternidade.

A guarda de objectos depende em primeira instância dos impulsos guardiães e estes são aflorados mediante objectos que o cão considera seus ou do seu dono, acessórios que fazem parte do seu dia-a-dia. Daí que os horários das refeições devam ser respeitados e a sua distribuição efectuada pelo dono. A troca constante de locais de instalação; a irregularidade de horários na distribuição dos pensos; a variação dos horários de vigilância e uma liderança dividida ou imprópria, tendam a eliminar definitivamente a territorialidade de um cachorro, pelo que não deverão ser colocados em prática. Os cães necessitam para sentir seguros de saber com o que contam, havendo alguns que sabem que ao Sábado é dia de iguaria especial ou que pela manhã os donos lhe irão dar um petisco do seu agrado, colocando-se previamente no sítio da sua distribuição. O cão é um animal de hábitos e aqui o hábito faz o monge.

Quando se falha ou se despreza a fase “H”, torna-se muito difícil a recuperação das variedades recessivas precoces, que tendencialmente seguem os seus instintos e demonstram total apatia pelo trabalho de equipa. As variedades serôdias remeterão ainda para mais tarde o surgimento das aptidões requeridas e sempre carregarão a instabilidade da omissão dessa importante fase da instalação doméstica. E quando isso acontece, a batata quente irá ser passada ao adestrador! O que poderá ele fazer? Irá ser capaz de reverter o processo? Como poderá melhorar um relacionamento baseado na desconfiança dum e na incerteza do outro?” Sobre este tema, colocamo-nos à disposição dos nossos leitores para maiores explicações.

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