Noutros tempos, quando ainda participávamos em provas e perante o insucesso de determinado binómio, era comum ouvir-se a pergunta: “o cão de que raça era?”, porque raramente os CPA’s falhavam e quando isso acontecia a culpa era geralmente dos seus condutores. Se por acaso o cão fosse de outra raça, já a causa do insucesso poderia ser repartida e o seu condutor ser inocentado. É evidente que os Pastores Alemães não são especialistas em coisa nenhuma e para cada tipo de serviço sempre haverá uma raça que os ultrapassará. O Pastor Alemão perde em velocidade para o Malinois, não tem a capacidade de aprendizagem do Poodle, tem dentes de leite quando comparado com a força de mandíbula do Rottweiler, é cego de nariz perante os bracos e não faz a abordagem ao olfacto como os Pastores Belgas. Apesar disso, ainda não se produziu um cão tão completo como ele, um multi-funcional por excelência que teima em ser a sombra do dono. Há quem o julgue como “estupidamente obediente” e um telecomandado, o que tem alguma verdade e coloca em maus lençóis os seus condutores, porque sempre espelhará a qualidade dos seus mestres. A despeito da sua mais-valia, nem toda a gente nasceu para ter um Pastor, ainda que nutra pela raça um apreço excepcional, porque o cão é exigente, reclama por serviço, tem vontade própria e torna-se silvestre quando ignorado.
A Acendura sempre foi uma casa de Pastores e hoje é-o por excelência, já que 90% dos cães em treino pertencem a essa raça, sendo conduzidos por crianças, adolescentes, gente madura e idosos, de ambos os sexos e de diferente capacidade e objectivos, o que torna o cão num terapeuta insofismável e num auxiliar válido para um sem número de propósitos. Inesperadamente, porque tal nunca se passou entre nós, três condutores de pastores apresentam dificuldades no comando de “quieto”, laborando abaixo do exigível pelo Quadro de Crescimento Funcional. Dois cachorros são da nossa proveniência e outro desconhece-se a sua origem. Em nenhum deles foi ou é visível qualquer incapacidade ou impropriedade que obste a instalação do referido automatismo. A ausência de entraves genéticos aponta claramente para uma razão ambiental e não isenta os donos de culpa, porque todos eles desprezam amiúde a recapitulação doméstica, preferindo ter os cães à solta e entregues aos seus auspícios, o que obsta ao melhor aproveitamento escolar e causa transtorno ao grupo. Todos os cachorros já chamaram os donos à atenção, ainda que de modo diverso. Um deles comeu um frasco inteiro de vitaminas e roeu o estrangulador, outro passa os dias a correr atrás do rabo e o terceiro desfila que nem um lobo desconfiado, fugindo aos fortes e carregando nos fracos. Ainda que os três reclamem por uma maior acuidade e pela divisão de tarefas, o caso do terceiro é o mais grave porque o confinamento tem substituído a excursão diária, entravando a sociabilização e não tirando partido do robustecimento oferecido pela variação dos ecossistemas.
Um pároco nosso conhecido, pessoa devotada ao seu ministério e dado à reflexão, depois de longo meditar sobre os sermões que proferira, chegou à seguinte conclusão: “ … tenho passado a vida inteira a pregar para os ausentes e são os presentes que têm comido por tabela”. Na mesma contingência nos encontramos nós, redactores e leitores, porque mais uma vez somos obrigados a falar sobre a importância da recapitulação doméstica, na ténue esperança que algum dos indigitados leia o que aqui fazemos saber e produza alteração no relacionamento com o seu cão. Uma coisa é comum aos três condutores deficitários: é a primeira vez que são proprietários de um Pastor Alemão e isso de alguma forma atenua a irresponsabilidade da sua postura.
Apesar de domesticados e por mais que o queiramos, os cães não abandonaram o seu particular biológico, continuam sujeitos à sua natureza e a agir de acordo com os propósitos da sua espécie, já que as suas respostas naturais diferem das obtidas pelo condicionamento (artificiais). A submissão canina não é gratuita e encontra-se sujeita a regras, ao exercício da liderança que as estipula e que procura a coabitação harmoniosa entre homens e cães. A inserção de qualquer comando não é eterna e não acontece de modo isolado, ao invés, obedece a conjunto de condições decorrentes da dependência que por sua vez viabiliza o adestramento. Trelas, canis, correntes e muros são meios para contrariar as respostas naturais, porque a privação da liberdade reforça a submissão que torna possível o uso dos cães. Nenhum cão nasce obediente e sempre resistirá, de um modo ou de outro, à novidade da obediência. Adestrar, que aqui poderia ter o significado de “ludibriar”, é uma arte baseada no aproveitamento e transformação do potencial animal, chegando a inibir instintos e a controlar impulsos. Assim se compreende porque sempre será mais fácil conduzir à trela um cão anteriormente acorrentado do que outro que sempre andou em liberdade, entregue aos seus desígnios e distante de qualquer norma.
Os cães que acima citámos passam a maior parte dos dias a seu bel-prazer, normalmente dispensados da recapitulação doméstica, das rotinas do treino e apenas sujeitos a uma sessão semanal de instrução, o que os amarra ao ponto de partida e obstrui o seu aproveitamento. Acostumados à liberdade, vêem a obediência como um incómodo e bem depressa se põem em fuga, mandando bugiar os donos e correndo para parte incerta. Tudo o que é ensinado na Escola deve ser repetido em casa, constituir-se em rotina e transformar-se em automatismo, porque a Escola não é um fim em si mesma e a obediência é para ser exercida e exercitada no lar. Não basta levar os cães ao treino, há que treiná-los em casa e aí aplicar as soluções adiantadas pela Escola.
A excursão diária, o recurso aos diferentes automatismos de imobilização, o uso dos vários subsídios direccionais, o contributo dos brinquedos e das brincadeiras pedagógicas não devem ser menosprezados, a cumplicidade deve ser requerida e a divisão de tarefas um facto, porque o “milagre” do treino assenta sobre o trabalho e é para acontecer em casa. Procrastinar na Escola e desprezar a instrução no lar, é o cúmulo da tolice e a ninguém aproveita. Infelizmente, o desprezo pelos pormenores só é notado quando se transforma em disparate. Há que estar atento. Fica o aviso!
A Acendura sempre foi uma casa de Pastores e hoje é-o por excelência, já que 90% dos cães em treino pertencem a essa raça, sendo conduzidos por crianças, adolescentes, gente madura e idosos, de ambos os sexos e de diferente capacidade e objectivos, o que torna o cão num terapeuta insofismável e num auxiliar válido para um sem número de propósitos. Inesperadamente, porque tal nunca se passou entre nós, três condutores de pastores apresentam dificuldades no comando de “quieto”, laborando abaixo do exigível pelo Quadro de Crescimento Funcional. Dois cachorros são da nossa proveniência e outro desconhece-se a sua origem. Em nenhum deles foi ou é visível qualquer incapacidade ou impropriedade que obste a instalação do referido automatismo. A ausência de entraves genéticos aponta claramente para uma razão ambiental e não isenta os donos de culpa, porque todos eles desprezam amiúde a recapitulação doméstica, preferindo ter os cães à solta e entregues aos seus auspícios, o que obsta ao melhor aproveitamento escolar e causa transtorno ao grupo. Todos os cachorros já chamaram os donos à atenção, ainda que de modo diverso. Um deles comeu um frasco inteiro de vitaminas e roeu o estrangulador, outro passa os dias a correr atrás do rabo e o terceiro desfila que nem um lobo desconfiado, fugindo aos fortes e carregando nos fracos. Ainda que os três reclamem por uma maior acuidade e pela divisão de tarefas, o caso do terceiro é o mais grave porque o confinamento tem substituído a excursão diária, entravando a sociabilização e não tirando partido do robustecimento oferecido pela variação dos ecossistemas.
Um pároco nosso conhecido, pessoa devotada ao seu ministério e dado à reflexão, depois de longo meditar sobre os sermões que proferira, chegou à seguinte conclusão: “ … tenho passado a vida inteira a pregar para os ausentes e são os presentes que têm comido por tabela”. Na mesma contingência nos encontramos nós, redactores e leitores, porque mais uma vez somos obrigados a falar sobre a importância da recapitulação doméstica, na ténue esperança que algum dos indigitados leia o que aqui fazemos saber e produza alteração no relacionamento com o seu cão. Uma coisa é comum aos três condutores deficitários: é a primeira vez que são proprietários de um Pastor Alemão e isso de alguma forma atenua a irresponsabilidade da sua postura.
Apesar de domesticados e por mais que o queiramos, os cães não abandonaram o seu particular biológico, continuam sujeitos à sua natureza e a agir de acordo com os propósitos da sua espécie, já que as suas respostas naturais diferem das obtidas pelo condicionamento (artificiais). A submissão canina não é gratuita e encontra-se sujeita a regras, ao exercício da liderança que as estipula e que procura a coabitação harmoniosa entre homens e cães. A inserção de qualquer comando não é eterna e não acontece de modo isolado, ao invés, obedece a conjunto de condições decorrentes da dependência que por sua vez viabiliza o adestramento. Trelas, canis, correntes e muros são meios para contrariar as respostas naturais, porque a privação da liberdade reforça a submissão que torna possível o uso dos cães. Nenhum cão nasce obediente e sempre resistirá, de um modo ou de outro, à novidade da obediência. Adestrar, que aqui poderia ter o significado de “ludibriar”, é uma arte baseada no aproveitamento e transformação do potencial animal, chegando a inibir instintos e a controlar impulsos. Assim se compreende porque sempre será mais fácil conduzir à trela um cão anteriormente acorrentado do que outro que sempre andou em liberdade, entregue aos seus desígnios e distante de qualquer norma.
Os cães que acima citámos passam a maior parte dos dias a seu bel-prazer, normalmente dispensados da recapitulação doméstica, das rotinas do treino e apenas sujeitos a uma sessão semanal de instrução, o que os amarra ao ponto de partida e obstrui o seu aproveitamento. Acostumados à liberdade, vêem a obediência como um incómodo e bem depressa se põem em fuga, mandando bugiar os donos e correndo para parte incerta. Tudo o que é ensinado na Escola deve ser repetido em casa, constituir-se em rotina e transformar-se em automatismo, porque a Escola não é um fim em si mesma e a obediência é para ser exercida e exercitada no lar. Não basta levar os cães ao treino, há que treiná-los em casa e aí aplicar as soluções adiantadas pela Escola.
A excursão diária, o recurso aos diferentes automatismos de imobilização, o uso dos vários subsídios direccionais, o contributo dos brinquedos e das brincadeiras pedagógicas não devem ser menosprezados, a cumplicidade deve ser requerida e a divisão de tarefas um facto, porque o “milagre” do treino assenta sobre o trabalho e é para acontecer em casa. Procrastinar na Escola e desprezar a instrução no lar, é o cúmulo da tolice e a ninguém aproveita. Infelizmente, o desprezo pelos pormenores só é notado quando se transforma em disparate. Há que estar atento. Fica o aviso!
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