Um cão pode ser treinado em qualquer idade para qualquer fim, desde que o uso não implique em abuso e ponha em risco a sua integridade. O cão aos dois anos é um jovem e poderá ter um futuro promissor no adestramento, desde que a actividade escolhida esteja de acordo com as suas características físicas e psicológicas. E porque somos constantemente bombardeados com a pergunta acima, decidimos constitui-la em tema e abordar o assunto de modo mais pormenorizado, já que o treino de cachorros é pouco visível e somos procurados depois do seu desaproveitamento ou face a posteriores dificuldades manifestas: “casa roubada; trancas na porta!”
Não há entre nós o hábito enraizado de treinar cachorros, porque apesar da novidade já ser antiga, as modas sempre chegam com algum atraso a terras lusitanas, tudo aqui arriba em “fim de estação” e por causa disso sempre partimos atrasados. Na cinotecnia tem se passado exactamente o mesmo e só há pouco tempo alguns optaram por tal serviço, ainda que sem saberem bem o que fazer. O treino de cachorros pressupõe o acompanhamento dos seus ciclos infantis, a potenciação dos seus impulsos herdados, a correcção dos seus desaprumos e a melhoria dos seus ritmos vitais, através da plasticidade dos primeiros ciclos etários e considerando o seu bem-estar.
Treinar mais cedo não implica em usar precocemente, mas em levar de vencida impropriedades ou inaptidões que obstem ao pleno exercício das futuras funções. A primazia é dada à ginástica correctora e o acompanhamento é individual, ainda que estimulado pelos cães mais velhos, constituídos em agentes de ensino e mestres do viver social canino. Entre os 4 e os 6 meses de idade, o nosso cuidado incide sobre a correcção morfológica, na tentativa de eliminar ou minimizar os desaprumos dos cachorros que nos são confiados. Abatimento de metacarpos, peito estreito e mãos atiradas para fora, pé chato e descodilhamento, dorso selado e jarrete de vaca, são inaptidões que teimamos em eliminar, vendo normalmente o nosso esforço premiado.
Tentamos contrariar o gigantismo, o pernaltismo e o nanismo, robustecendo as articulações dos mais pesados, aumentando a envergadura dos mais leves e solicitando aos mais frágeis um maior desenvolvimento. Em simultâneo, através da experiência variada e rica, operamos o desenvolvimento do impulso ao conhecimento canino, porque o crescimento físico sempre é acompanhado pelo desenvolvimento intelectual. Capacitar é a palavra de ordem e nisto temos sido aprovados. Quando o acompanhamento dos cachorros é bem feito, a obediência transita da imposição para a decorrência e a inibição dá lugar ao estímulo. Treinar mais cedo possibilita o reforço dos vínculos afectivos entre donos e cães, preparando atempadamente os condutores para o ofício da liderança e para a gestão consensual do esforço canino, porque, no nosso entender, o binómio deve ser constituído quando o cão procura a hierarquia e antes da maturidade sexual.
O desprezo pelo acompanhamento dos ciclos infantis pode acarretar inaptidões e menos valias (físicas e psicológicas), comprometer a sociabilização e colocar em risco a liderança. A maioria dos desvios ou disparates patenteados nos cães adultos resulta do descuido de que foram alvo em cachorros, graças ao particular da sua experiência directa e à ignorância dos seus donos em tal matéria. Sejamos honestos, o que aumenta as fileiras escolares? Não serão os cães que levam os donos à boleia, aqueles que tudo destroem, os que se tornaram incontroláveis e ausentes de qualquer préstimo? Dificilmente um cão que não dá problemas virá a frequentar uma escola. Facilmente se antevê que optar pelo método da precocidade é prevenir e capacitar, operar a constituição binomial que garantirá a futura coabitação harmoniosa no lar e na sociedade.
Quanto mais tarde chegar um cão à escola, mais difícil se torna a sua recuperação física e o seu aumento cognitivo, e nisto deve ser respeitado. Entre os 12 e os 36 meses muita coisa é ainda recuperável, atendendo ao desenvolvimento da envergadura e ao auxílio da maturidade emocional. Contudo, essa recuperação não será plena e será mais visível ao nível cognitivo, isto se as raças convidados não forem de índole precoce. De qualquer modo, dificilmente um cão antes dos 3 anos manifestará incapacidades que o afastem do concurso do treino e se as manifestar, cabe ao adestramento minorá-las e encontrar outras soluções que possibilitem o seu bem-estar, melhor qualidade de vida e longevidade. Se entendermos o treino como um benefício, nenhum cão deve ser arredado das suas vantagens e mais-valias, todos são bem-vindos e em todos a alteração será visível. Tarde é aquilo que nunca chega!
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