terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O NOME DO CÃO

O nome que atribuímos a um cão é algo que o acompanhará para toda a vida e que o diferenciará dos outros, permanecendo inclusive para além do seu desaparecimento. Geralmente atribuímos nomes que nos são gratos ou que vagueiam no nosso imaginário pelas mais variadas razões ou motivos, já que o nome do cachorro acaba por reflectir as expectativas que nele depositamos. Também se põem nomes por despeito; zombaria; antropomorfismo; local de nascimento; por reposição e por sentimentos ou desejos inconfessos. Quando isto acontece é tão clara a autoridade do dono sobre o animal quanto a sua visão especicista sobre o relacionamento a haver entre ambos. Assim, o nome do cão acaba por melhor identificar o dono e o mundo ao seu redor do que a individualidade animal desejada. É verdade que um proprietário canino se desnuda quando trata ou chama o seu cachorro pelo nome. Esse endeusamento humano acaba por evidenciar a sua tacanhez e não raramente a sua cegueira em tal matéria.

Como é do nosso conhecimento o mundo do cão é composto maioritariamente por sons e odores, o que nos obriga à escolha de palavras cuja sonoridade não atente contra a sua integridade psíquica e desaproveite o seu rendimento físico. Mais, o nome deve levar ao conserto daquilo que a genética desacertou e adequar-se às necessidades ambientais ou laborais que o cão terá pela frente. Estamos aqui a falar de bem-estar animal que começa também pela escolha do seu nome, o que nos leva ao estudo e reparo das consoantes que o constituem, já que consoantes labiais; dentais; guturais ou sibilantes despertam diferentes emoções e por isso mesmo respostas diferentes e ninguém quer que elas se tornem inesperadas ou desapropriadas.

Como se conclui, antes da aplicação do nome, importa conhecer as características psíquicas do cachorro e só depois proceder à sua escolha. Aqui pode surgir o primeiro problema: quando eu não tenho como identificar o perfil psicológico do cachorro. Neste caso importa atribuir-lhe um nome querido aos mamíferos que passa pela sonoridade labial e pela tranquilidade das vogais mudas agregadas num dissílabo. Nomes extensos e demora no cumprimento das ordens teimam em separar-se, podendo relegar para depois a salvaguarda da integridade e da vida animal. Convém não esquecer que o primeiro comando de obediência a instalar num cachorro é a atribuição do seu nome e o consequente chamamento. Assim, os nomes devem ser curtos para não se perder tempo nas acções ou haver quebra da sua intensidade ou clímax.

Os sons sibilantes operam travamento e de todo devem ser evitados, porque tendem, geralmente, a funcionar como comandos inibitórios. É catastrófico colocar tais nomes em cachorros cujas maturidades sejam precoces ou tardias, porque nos primeiros podem operar a castração dos seus impulsos à luta e à defesa e por consequência à perca da agressividade desejada e nos segundos, gerar tal confusão e temor até ao total afundamento do binómio, já que o cão virá a “morrer de medo pelo dono” e dificilmente ousará mostrar as mais valias da sua individualidade. Em suma, um nome sibilante sempre carrega o pesado fardo do travamento.

Para melhor compreensão do assunto, reportemo-nos ao caso dos Pastores Alemães. A necessidade da homogeneidade que só os factores dominantes podem oferecer foi o primeiro dos remédios encontrado, o que levou quase à extinção das variedades recessivas por exigirem diferentes formas de travamento. Trabalhar em quadro aberto, numa raça com nove variedades cromáticas diferentes e tirar delas o máximo rendimento possível não é tarefa fácil e exige delicados cuidados e não pouco conhecimento. Por causa disso, nunca se aconselha um cão negro ou de manto vermelho a quem nunca teve experiência anterior com um da variedade dominante, tal é o caso e a prática nos Pastores Alemães. Entre eles e segundo métodos já em desuso, procurava-se a proliferação da variedade dominante e estabelecia-se a altura do treino (por volta de 1 ano de idade) e a maioria dos comandos era de entoação sibilante. Como facilmente se antevê, muitos cães foram considerados inaptos e a selecção foi operada com base nos de maior aptidão. Com isto perderam-se para sempre singularidades e qualidades inerentes àquilo que se eliminou. Estamos a falar do excelente olfacto dos lobeiros ancestrais; do equilíbrio dos cães negros e da ferocidade dos de manto vermelho. A perspectiva militar e a reclamada uniformização dispensaram as diferenças individuais, cativas aos diferentes momentos das suas maturidades. Na verdade, um nome sibilante só faz sentido quando aplicado a um cão muito dominante ou a um inibido, ao primeiro porque lhe estabiliza e regra o impulso ao poder e ao segundo porque só um medo maior o fará arrepiar caminho e levar de vencida os seus fantasmas.
Deixemos agora a história e passemos ao quotidiano. Se o seu cachorro tem um nome sibilante, como evitar os malefícios dele advindos? Evita-se o nome e cria-se um diminutivo de acordo com as características psicológicas do animal, (Jazz » Jazzito » Ito). É de todo desejável que isso aconteça bem antes da sua maturidade emocional, porque os benefícios serão maiores. Em síntese, os nomes guturais devem ser usados nos cães de guarda, os labiais para os de companhia e os dentais para os toys, para os mais carinhosos ou para aqueles que necessitam de uma dose extra de tolerância e carinho. Os nomes guturais transmitem energia e força e serão mais recomendáveis se forem aspirados. Mas que fique bem claro: o nome do cão é sagrado! Só o dono o deve conhecer, ele deve ter dois nomes, um para a rua e outro para a indivisibilidade binomial (intimidade); respectivamente: o de registo e o de tratamento operacional. Assim procederam os treinadores afamados do passado, cuja memória é ainda relembrada através das façanhas operadas pelos seus cães.

Porque dizemos que o nome do cão é sagrado?
Porque só o dono o deve saber e dizer, ele é como um código “pin”, pois é um comando que dá acesso a outros comandos, substituindo facilmente as ordens de “quieto” e “aqui”, o comando de “atenção” e operar a cessação indesejável de qualquer acção. Tudo isto se torna mais fácil, infeliz e erroneamente, quando os donos antecedem os comandos com o nome do cão. Nunca se deve juntar um comando inibitório ao nome do cachorro, já que o animal ao ser chamado de imediato se submete. A isto chama-se uso indevido do nome do cão. Que ninguém tenha dúvidas: para que a resposta animal rapidamente aconteça, não há necessidade de salpicar os comandos com o nome do cão, porque ele não irá melhor obedecer por causa disso!

Na via pública e entre estranhos, perante gente suspeita e meliantes o cão é um “no name”, uma vez que os ladrões rondam e os vizinhos tendem a falar demais. A propósito de vizinhos e para se evitar males maiores, eles só devem conhecer o nome oficial do cão, que de nada lhes vale e é importante não esquecer que as paredes têm ouvidos. Muito cuidado com o uso e abuso do nome do cão! Desejamos que doravante, quanto tiver de escolher um nome para o seu cachorro, não o faça como os demais, que navegam pela Internet à procura de nomes de cães ou o fazem através das mais variadas revistas caninas. Primeiro estuda-se o cão e só depois se aplica o nome, porque importa ressalvar a individualidade biológica do cachorro que lhe cai em mãos.

Sem comentários:

Enviar um comentário