terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A ENDOGAMIA DO NOSSO DIA-A-DIA

Logo desde os primórdios da domesticação a endogamia aconteceu de modo experimental, tornando-se intencional pelos resultados obtidos. A ela se deve, um pouco por toda a parte, a separação entre o cão e os canídeos que estiveram na sua origem, tornando-o diferente e possibilitando a sua utilização, enquanto caçador, sentinela e guarda de rebanhos, pela diminuição da autonomia e pelo aumento da dependência. Se o lobo é produto da evolução das espécies, o cão é uma criação humana, desenvolvida para além da primeira e sujeita aos destinos da humanidade. O retorno às origens é hipoteticamente possível, os Dingos são exemplo disso, muito embora a maioria dos actuais grupos somáticos caninos não sobrevivesse a esse regresso, por força da selecção operada ao longo de milénios que impede o cão de se tornar selvagem automaticamente. Também por causa disto, o cão é para o homem uma responsabilidade acrescida, porque a sobrevivência canina está nas suas mãos e disso não se pode alhear.

Da endogamia ancestral chegámos à actual, mais artificial e nociva pela constituição das diferentes raças, pela observância dos padrões e pela opção das variedades dominantes, muitas vezes extraídas de indivíduos recessivos a quem se deve as diferenças, pondo em risco a continuidade dessas raças pela consanguinidade latente e pelas incapacidades que ela transporta, quer elas sejam de índole física, psicológica ou cognitiva. A maioria das raças caninas está enferma, particularmente as sujeitas a uma só variedade cromática e infestadas de genótipos iguais, responsáveis em primeira-mão pela perca do vigor, da qualidade de vida e da longevidade, perpetuando incapacidades físicas ou outras que certamente as virão a vitimar. Conhecendo-se a raça, toma-se conhecimento imediato das suas maleitas ou incapacidades familiares, porque a manipulação genética a isso induziu, ao desconsiderar o essencial na procura da excelência. E a cegueira a tudo levou, seleccionámos cães a partir do nanismo e do gigantismo, aproveitámos os fenótipos, fizemos cruzamentos biologicamente pouco prováveis e desprezámos um sem número de indivíduos da reprodução, provavelmente pilares do seu bem-estar e portadores do seu bio-equilíbrio. Infelizmente procedemos de igual modo com os outros animais domésticos.

Para garantir a continuidade das raças actuais, sabendo-se que a saturação acontecerá mais cedo ao mais tarde, obrigando à hibridação que possibilitará a multi-variedade, defendemos, naquelas em que tal for possível, os beneficiamentos heterozigóticos que garantam a infusão de outras linhas, pela contribuição das variedades recessivas sobre a menos valia encontrada nas dominantes, graças aos elementos comuns presentes em todos os cães. E dizemos isto porquê? Porque em muitas das variedades desprezadas do actual processo selectivo não são visíveis as mesmas incapacidades que acompanham os padreadores actuais. Quase sem darmos conta, porque a manobra é confiada ao segredo dos deuses, este rejuvenescimento tem acontecido, muitas vezes através da hibridação encoberta ou do retorno às variedades originais, sendo o Rottweiler de pêlo comprido um claro exemplo disso e não é caso único. Estamos em crer, dispensando a visão apocalíptica das coisas, que a ciência do Sec.XXI irá consertar os erros da canicultura dos Sec. XIX e XX, por necessidade e em abono dos cães.

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