sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A guerra de titãs: o Cão que ataca o treinador

Apesar de não ser impossível, dificilmente esta situação acontecerá entre aqueles que criaram o seu cão desde cachorro. E quando isso acontece, só pode resultar de duas coisas (isoladas ou combinadas): da super dominância do cão ou da impropriedade da liderança, porque os cães não nascem iguais e todos os homens são diferentes. Se o problema resultar do temperamento do cão, intimamente ligado a um forte impulso ao poder, só a reeducação poderá redireccionar o animal e capacitá-lo para a parceria. O desenvolvimento deste processo pedagógico deverá ser operado por um profissional, dispensando no princípio a presença do dono e sujeitando o cão ao internamento, para que o aumento da dependência implique na diminuição da autonomia e torne possível a gestão do animal. O trabalho será desenvolvido em quatro fases e só se passará de uma para a outra segundo a resposta positiva, envolve diferentes agentes de ensino e obriga à perpetuação dos procedimentos. Na 1ª fase o trabalho é da exclusiva responsabilidade do adestrador e garante o sucesso nas fases seguintes, porque procura a descodificação e instala o condicionamento, na supremacia dos estímulos sobre os instintos, visando o controlo e a utilidade. A existirem escaramuças, elas só serão admitidas nesta fase, porque se acontecerem nas seguintes, mostram a sua nulidade, despropósito ou impropriedade, condenando as restantes ao insucesso e dificultando de sobremaneira a recuperação do cão. Uma vez operado o redireccionamento do animal e os automatismos de travamento que garantem a cessação das acções indesejáveis e ratificam a liderança, é chegada a hora da 2ª fase. A 2ª fase é a da pré-transferência, quando se transfere a liderança para outro condutor, que apesar de experiente, tenta reproduzir o comportamento do dono do cão e testa os automatismo de acordo com esse particular. É geralmente um profissional e quando o não é, a experiência já lhe legitimou o encargo, possibilitando-lhe um desempenho seguro e ao mesmo tempo simulado. Não havendo o mínimo de percalços, o que obrigaria ao retorno à 1ª fase, dá-se início à transferência propriamente dita, altura em que debaixo de supervisão, entregamos o cão ao dono e lhe solicitamos a liderança. Esta é a 3ª fase e acontece em dois locais distintos: primeiro no local da reeducação e só depois no lar de adopção. Essa transferência só acontecerá mediante a aprovação do adestrador e do dono, pela certeza do primeiro e pela confiança do segundo. A 4ª fase, também ela subdividida em dois momentos, obriga o dono às classes escolares e opera, se for caso disso, os necessários reajustamentos, rectificando a mensagem que possibilita o accionar dos códigos. O que se procura aqui é fixação dos procedimentos, a regra que tudo garante e o reavivamento das respostas artificiais obtidas. Depois disto o cão é entregue à responsabilidade do dono, debaixo da advertência do apego aos procedimentos, porque o seu desuso pode reactivar o que até ali se levou de vencida, regressando o animal ao seu estágio inicial. A brevidade ou morosidade do processo pedagógico depende do grau da dominância do animal, da sua mais valia cognitiva e da experiência directa antecedente à reeducação. Geralmente, nos casos menos complicados, a 1ª fase tem uma duração de dois meses, a 2ª de um e a 3ª de dois. A 4ª, no seu segundo momento, é vitalícia, ainda que a idade do cão pareça vir em nosso auxílio. Certamente existirão outros métodos, não os contestamos, mas sobre o nosso podemos dizer que temos tido um aproveitamento de 100%. Com isto temos evitado a castração e a injecção letal, para alegria dos cães, gozo dos donos e pelo benefício do trabalho. Agradecemos aos donos que nos confiaram os seus cães e que foram alvo do nosso processo reeducativo, que nos contactem e que atestem ou não aquilo que aqui dizemos.
Normalmente, a impropriedade da liderança ou o seu receio são resolvidos pela assiduidade escolar e isso lhes basta, ainda que o objecto do ensino seja o dono e a tarefa não seja por isso mesmo mais facilitada, considerando a divinização canina presente nalguns e o antropomorfismo de outros, para já não se falar do abandono dos cães a si próprios e da ausência de condições que obstam à parceria. O objectivo deste artigo é evitar a morte prematura dos cães e o seu encerramento em canis, como se fossem feras ou não tivessem qualquer préstimo, o que infelizmente acontece e onde menos se espera. Nenhum cão é descartável e isento de qualquer préstimo, a arte do adestramento reside na adequação e no aproveitamento, na adaptação binomial que possibilita a divisão de tarefas.

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