quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

KRAV MAGA E CÃES DE GUARDA

Nos encontros que a vida providencia e nas lições que nos dá, cuja repetida novidade não dispensa a necessária adaptação, deparámo-nos com um confronto simulado entre um robusto lutador de Krav Maga e um cão de guarda, liça onde o animal levou vantagem pela cinofobia do seu oponente. Para quem não sabe o que é o Krav Maga e quais são os seus objectivos, adiantamos que se trata de um sistema de luta corpo a corpo, desenvolvido em Israel, que envolve técnicas de luta, torções, defesa contra armas, bastões e facas, imobilizações e golpes, cujo treino não dispensa exercícios aeróbicos e anaeróbicos e, que há muito se estendeu para além das fronteiras do Estado Hebraico, vindo a ser adoptado como parte da formação de forças militares e policiais de elite noutros confins, estendendo-se também a sua prática a civis.
Enquanto técnica de defesa pessoal, o Krav Maga não possui regras, porque é utilizado para garantir a sobrevivência do seu praticante, mantê-lo incólume e neutralizar qualquer ataque de que venha a ser alvo por todos os meios ao seu alcance. Tem como princípios gerais contra-atacar logo que possível ou atacar preventivamente; direccionar os seus ataques para as áreas mais sensíveis e vulneráveis do corpo humano (genitais, olhos, mandíbula, garganta, joelhos, etc.); neutralizar rapidamente opositores pelo fluxo constante de contra-ataques e se necessário aleijar ou matar. Em simultâneo, prepara o seus praticantes para manterem a consciência das ameaças e perigos que o cercam, para se aperceberem doutras ameaças, poderem valer-se de objectos úteis para a sua defesa e ataque e se necessário descobrir rotas de fuga, o que torna um bom praticante de Krav Maga numa potente arma letal, ainda que seja ensinado a só fazer uso da força quando tal se tornar imperativo.
Sabendo-se que os homens são volúveis e que a ocasião faz o ladrão, no confronto directo entre um bom praticante de Krav Maga (não cinófobo) e um comum cão de guarda, facilmente o homem levará vantagem e o cão acabará neutralizado ou eliminado, particularmente agora em que se enfatizam os seus ataques em detrimento da sua defesa, o que aumenta a sua exposição e compromete gravemente a sua salvaguarda. Pior estará um cão se o praticante desta técnica de defesa pessoal tiver algum conhecimento cinotécnico ou alguma experiência como figurante ou cobaia, vantagem que tradicionalmente temos procurado dar aos nossos condutores caninos ao convidá-los para figurantes pensando na sua defesa.
Caso o cão esteja condicionado a avisar antes de atacar, a fazê-lo a um só golpe, à meia-suspensão, ao braço do seu opositor e desconsiderando a sua defesa, certamente terá a vida presa por um fio, por se pendurar irremediavelmente para a morte. Todos sabemos que homens e cães melhoram consideravelmente com o tempo, o treino e a experiência, que são poucos os cães que estudam os seus opositores e que descobrem as suas vulnerabilidades individuais, vindo a atacá-los onde menos esperam, impedindo dessa maneira a sua defesa e alcançando vantagem. Afortunadamente os cães têm poucos instintos e não seguem cegamente, facto que os torna aptos para os serviços que deles esperamos pela personalidade presente em cada um deles e pelo carácter que lhes imputamos, o que para nós é uma tremenda responsabilidade diante da sua salvaguarda.
Assim, considerando salvaguarda dos cães de guarda diante de opositores potencialmente letais, é de todo conveniente que todos os guardiões possuam, para além da robustez necessária, um forte impulso ao conhecimento alicerçado nos outros que o tornam válido para o efeito (ao movimento, à luta, à defesa e ao poder), porque doutro modo os seus ataques serão instintivos e de fácil neutralização. O seu código, modo de operar e cessação das acções não deverão ser do conhecimento público; devem ser condicionados a não denunciar a sua presença e a procurar a vantagem da surpresa; a atacar a vários golpes e a afastar-se dos alheios; a operar ataques de surtida e não de contacto; a aprender a desarmar agressores e a carregar nas suas zonas corporais mais vulneráveis; a dar prioridade aos ataques de intercepção e não os lançados; a camuflar-se e a tirar partido da ocultação que a noite e as outras circunstâncias oferecem; também a atacar alvos imóveis e agressores com diferentes apresentações e género (ocultos, empoleirados, sentados e deitados), porque importa que surjam de surpresa, não sejam surpreendidos ou ludibriados, ataquem eficazmente, saibam como defender-se e anulem os possíveis contra-ataques.
O cão de guarda é hoje mais uma contra-arma que uma presença dissuasora e sendo-o, carece de uma preparação apropriada, actualizada e mais rigorosa diante dos perigos e inimigos que eventualmente terá pela frente. Por melhor preparado que esteja, sempre partirá em desvantagem no confronto directo com o homem, desvantagem que poderá ser anulada por uma dupla de cães de igual capacitação, a trabalhar em parceria ou pelo concurso de uma matilha funcional para esse fim. Treinar cães para guarda não é um brincadeira, a menos que apostemos e estejamos preparados para perder o “brinquedo”! 

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