Nos encontros que a vida
providencia e nas lições que nos dá, cuja repetida novidade não dispensa a
necessária adaptação, deparámo-nos com um confronto simulado entre um robusto
lutador de Krav Maga e um cão de guarda, liça onde o animal levou vantagem pela
cinofobia do seu oponente. Para quem não sabe o que é o Krav Maga e quais são
os seus objectivos, adiantamos que se trata de um sistema de luta corpo a
corpo, desenvolvido em Israel, que envolve técnicas de luta, torções, defesa
contra armas, bastões e facas, imobilizações e golpes, cujo treino não dispensa
exercícios aeróbicos e anaeróbicos e, que há muito se estendeu para além das
fronteiras do Estado Hebraico, vindo a ser adoptado como parte da formação de
forças militares e policiais de elite noutros confins, estendendo-se também a
sua prática a civis.
Enquanto técnica de defesa
pessoal, o Krav Maga não possui regras, porque é utilizado para garantir a
sobrevivência do seu praticante, mantê-lo incólume e neutralizar qualquer
ataque de que venha a ser alvo por todos os meios ao seu alcance. Tem como
princípios gerais contra-atacar logo que possível ou atacar preventivamente;
direccionar os seus ataques para as áreas mais sensíveis e vulneráveis do corpo
humano (genitais, olhos, mandíbula, garganta, joelhos, etc.); neutralizar
rapidamente opositores pelo fluxo constante de contra-ataques e se necessário
aleijar ou matar. Em simultâneo, prepara o seus praticantes para manterem a
consciência das ameaças e perigos que o cercam, para se aperceberem doutras
ameaças, poderem valer-se de objectos úteis para a sua defesa e ataque e se necessário
descobrir rotas de fuga, o que torna um bom praticante de Krav Maga numa
potente arma letal, ainda que seja ensinado a só fazer uso da força quando tal
se tornar imperativo.
Sabendo-se que os homens
são volúveis e que a ocasião faz o ladrão, no confronto directo entre um bom
praticante de Krav Maga (não cinófobo) e um comum cão de guarda, facilmente o
homem levará vantagem e o cão acabará neutralizado ou eliminado,
particularmente agora em que se enfatizam os seus ataques em detrimento da sua
defesa, o que aumenta a sua exposição e compromete gravemente a sua
salvaguarda. Pior estará um cão se o praticante desta técnica de defesa pessoal
tiver algum conhecimento cinotécnico ou alguma experiência como figurante ou
cobaia, vantagem que tradicionalmente temos procurado dar aos nossos condutores
caninos ao convidá-los para figurantes pensando na sua defesa.
Caso o cão esteja
condicionado a avisar antes de atacar, a fazê-lo a um só golpe, à
meia-suspensão, ao braço do seu opositor e desconsiderando a sua defesa,
certamente terá a vida presa por um fio, por se pendurar irremediavelmente para
a morte. Todos sabemos que homens e cães melhoram consideravelmente com o
tempo, o treino e a experiência, que são poucos os cães que estudam os seus
opositores e que descobrem as suas vulnerabilidades individuais, vindo a atacá-los
onde menos esperam, impedindo dessa maneira a sua defesa e alcançando vantagem.
Afortunadamente os cães têm poucos instintos e não seguem cegamente, facto que
os torna aptos para os serviços que deles esperamos pela personalidade presente
em cada um deles e pelo carácter que lhes imputamos, o que para nós é uma
tremenda responsabilidade diante da sua salvaguarda.
Assim, considerando
salvaguarda dos cães de guarda diante de opositores potencialmente letais, é de
todo conveniente que todos os guardiões possuam, para além da robustez
necessária, um forte impulso ao conhecimento alicerçado nos outros que o tornam
válido para o efeito (ao movimento, à luta, à defesa e ao poder), porque doutro
modo os seus ataques serão instintivos e de fácil neutralização. O seu código,
modo de operar e cessação das acções não deverão ser do conhecimento público;
devem ser condicionados a não denunciar a sua presença e a procurar a vantagem
da surpresa; a atacar a vários golpes e a afastar-se dos alheios; a operar
ataques de surtida e não de contacto; a aprender a desarmar agressores e a
carregar nas suas zonas corporais mais vulneráveis; a dar prioridade aos
ataques de intercepção e não os lançados; a camuflar-se e a tirar partido da
ocultação que a noite e as outras circunstâncias oferecem; também a atacar
alvos imóveis e agressores com diferentes apresentações e género (ocultos,
empoleirados, sentados e deitados), porque importa que surjam de surpresa, não
sejam surpreendidos ou ludibriados, ataquem eficazmente, saibam como
defender-se e anulem os possíveis contra-ataques.
O cão de guarda é hoje mais
uma contra-arma que uma presença dissuasora e sendo-o, carece de uma preparação
apropriada, actualizada e mais rigorosa diante dos perigos e inimigos que
eventualmente terá pela frente. Por melhor preparado que esteja, sempre partirá
em desvantagem no confronto directo com o homem, desvantagem que poderá ser
anulada por uma dupla de cães de igual capacitação, a trabalhar em parceria ou
pelo concurso de uma matilha funcional para esse fim. Treinar cães para guarda
não é um brincadeira, a menos que apostemos e estejamos preparados para perder
o “brinquedo”!
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