O antropomorfismo relativo
aos animais de estimação, que mais serve às patologias outrora latentes dos
seus donos, veio para ficar e ganha agora contornos de religião, como se o
animismo nunca houvesse sido ultrapassado, o homem não evolui-se e a ciência
fosse um mito. A frase que inicia este texto, que poderemos traduzir a grosso
modo por “Mas eu não os vejo como cães, vejo-os como seres humanos presos em corpos
de cães”, é da autoria duma cidadã britânica, agora com 26 anos de idade, a
viver em casa dos pais, filha de um operário da construção civil e de uma ajudante
de cozinha, que gastou à volta de 1.250£ (1,1739 €/ 4,0146
Reais) na compra de presentes de Natal para os seus cães, respectivamente um Labrador
e um Bichon Frise, como fez saber ao tablóide britânico “Mirror”.
Não se sabe quando
deixaremos de perscrutar o nosso umbigo e ousaremos olhar para o mundo à nossa
volta. Certo é que a dita “miss” esmerou-se a comprar presentes para os cães,
num total de 100 segundo uma lista previamente elaborada, onde constavam
brinquedos, roupas, meias personalizadas, cobertores, almofadas, trelas e
coleiras, para além de calendários do advento com as respectivas guloseimas. E
como se isso não bastasse, confessou ainda que, caso se lhe sobrassem mais 100£,
as gastaria de boa vontade em mais brinquedos para os seus cães. Não será
tamanha insanidade movida pela vaidade e maldade? Se olharmos para o mundo que
nos rodeia e atentarmos para o número das crianças que morrem à fome, não
parecem restar dúvidas! O antropomorfismo canino agora em voga outra coisa não
é que uma ideologia religiosa-fratricida.
Será que gostar de cães
implica em rejeitar os homens? Que é lícito, razoável e justo estender a mãos
aos cães e virar as costas aos homens? Nós dizemos que não, mas todos os dias
temos notícia de mais gente que procede assim. Gostar de cães é tratá-los
convenientemente de acordo com a sua espécie e necessidades, apostar e tudo
fazer pelo seu bem-estar e salvaguarda, e educá-los é estender os seus
benefícios às pessoas que nos rodeiam. Homens e cães desembarcaram neste mundo
para servir, não nasceram para se substituírem uns aos outros. Quem promove indevidamente
um cão a pessoa, a dura submissão se condena e gradualmente virá a tratar os
seus semelhantes “abaixo de cão”, porque despreza o grupo a que pertence e
envereda por outro dominado pela fantasia, não raramente erigido pelas suas
próprias incapacidades que só lhe trazem desilusão. Há que acordar e valer aos
cães sem desprezar os homens!
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