segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

EU QUERIA, TU QUERIAS, TODOS QUERÍAMOS!

Eu queria, tu querias, todos queríamos juntar o belo ao funcional, procura infrutífera que tem dominado os actuais criadores do Cão de Pastor Alemão. E como tal não tem sido possível, só duas hipóteses se tornam viáveis: ou isentam-se os cães do trabalho ou alteram-se os actuais critérios de beleza (a primeira opção tem sido a mais seguida até aqui). Sorrateiramente, assim como quem não quer a coisa e de um momento para o outro, há quem julgue ter encontrado a solução na meia-linha, beneficiando cães de linha laboral com os oriundos da linha estética. Igual esforço vêm empreendendo os criadores do Pastor Alemão Branco, ao beneficiá-los com cães da actual linha estética na esperança até hoje vã de os reintegrarem.
E se o desejável retorno ao passado for possível pela meia-linha, à gloriosa prestação do Cão de Pastor Alemão de boa memória, tal acontecerá pelo contributo dos exemplares lobeiros, porque a variedade pertence à proto-selecção, resiste ainda hoje aos entraves biomecânicos estéticos, foi menos flagelada com os pruridos dos shows de conformação e tem uma linha de crescimento mais longa, o que implica numa fase plástica anatómica maior, num robustecimento superior e numa capacidade de aprendizagem acima da média. A comprová-lo está o facto da maioria dos cães de trabalho ser hoje desta variedade cromática, sendo raro não existir a sua contribuição para a formação de cães laborais doutras pigmentações, o que leva muitos a exclamar que sem o concurso dos lobeiros o retrocesso seria ainda maior. Por causa disto, quem anda por cá com olhos de ver, ao procurar cães de meia-linha, prefere os lobeiros ou outros cuja construção seja igual ou superior a 4/8 de lobeiro.
Escolher um cão de meia-linha preto-afogueado sem a infusão de sangue lobeiro ou com apenas 1/8 na sua construção e beneficiá-lo depois com outro de linha laboral, pode não surtir o efeito esperado, porque o peso da variedade dominante será superior aos benefícios procurados, uma vez que sempre existiram CPA’s muito angulados, demasiado alongados e de costelas planas como ainda hoje se aprecia, embriões inequívocos dos pastores atabalhoados que muitos aplaudem pela estranheza e pitoresco da sua apresentação e locomoção, a despeito do seu bem-estar, saúde articular, longevidade e rendimento.
Feitas as contas, quando um cão de meia-linha tem na sua construção 4/8 ou mais de preto-afogueado, é mais do que certo que seguirá tangivelmente a curva de crescimento da linha estética, que é mais curta, menos moldável e cujos índices cognitivos são mais rudimentares, pormenores que tornam mais cedo agressivo e menos versátil. Estas menos valias individuais poderão vir a ser ultrapassadas pela convivência com um cão laboral mais velho, que ao servir de seu agente de ensino, o projectará para novos desafios e o levará a uma maior capacitação. Breve voltaremos a este assunto, deveras apaixonante e que não se encerra aqui. 

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