Eu queria, tu querias,
todos queríamos juntar o belo ao funcional, procura infrutífera que tem
dominado os actuais criadores do Cão de Pastor Alemão. E como tal não tem sido
possível, só duas hipóteses se tornam viáveis: ou isentam-se os cães do
trabalho ou alteram-se os actuais critérios de beleza (a primeira opção tem
sido a mais seguida até aqui). Sorrateiramente, assim como quem não quer a
coisa e de um momento para o outro, há quem julgue ter encontrado a solução na
meia-linha, beneficiando cães de linha laboral com os oriundos da linha
estética. Igual esforço vêm empreendendo os criadores do Pastor Alemão Branco,
ao beneficiá-los com cães da actual linha estética na esperança até hoje vã de
os reintegrarem.
E se o desejável retorno
ao passado for possível pela meia-linha, à gloriosa prestação do Cão de Pastor
Alemão de boa memória, tal acontecerá pelo contributo dos exemplares lobeiros,
porque a variedade pertence à proto-selecção, resiste ainda hoje aos entraves biomecânicos
estéticos, foi menos flagelada com os pruridos dos shows de conformação e tem
uma linha de crescimento mais longa, o que implica numa fase plástica anatómica
maior, num robustecimento superior e numa capacidade de aprendizagem acima da
média. A comprová-lo está o facto da maioria dos cães de trabalho ser hoje desta
variedade cromática, sendo raro não existir a sua contribuição para a formação
de cães laborais doutras pigmentações, o que leva muitos a exclamar que sem o
concurso dos lobeiros o retrocesso seria ainda maior. Por causa disto, quem
anda por cá com olhos de ver, ao procurar cães de meia-linha, prefere os
lobeiros ou outros cuja construção seja igual ou superior a 4/8 de lobeiro.
Escolher um cão de
meia-linha preto-afogueado sem a infusão de sangue lobeiro ou com apenas 1/8 na
sua construção e beneficiá-lo depois com outro de linha laboral, pode não
surtir o efeito esperado, porque o peso da variedade dominante será superior
aos benefícios procurados, uma vez que sempre existiram CPA’s muito angulados,
demasiado alongados e de costelas planas como ainda hoje se aprecia, embriões
inequívocos dos pastores atabalhoados que muitos aplaudem pela estranheza e
pitoresco da sua apresentação e locomoção, a despeito do seu bem-estar, saúde
articular, longevidade e rendimento.
Feitas as contas, quando
um cão de meia-linha tem na sua construção 4/8 ou mais de preto-afogueado, é
mais do que certo que seguirá tangivelmente a curva de crescimento da linha
estética, que é mais curta, menos moldável e cujos índices cognitivos são mais
rudimentares, pormenores que tornam mais cedo agressivo e menos versátil. Estas
menos valias individuais poderão vir a ser ultrapassadas pela convivência com
um cão laboral mais velho, que ao servir de seu agente de ensino, o projectará
para novos desafios e o levará a uma maior capacitação. Breve voltaremos a este
assunto, deveras apaixonante e que não se encerra aqui.
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