sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

DOS 2 PARA OS 4 E DAÍ PARA A VIDA INTEIRA

NOTA PRÉVIA: Este artigo complementa o texto já editado em 28/10/2010: “O PESO DOS 4 MESES NO CÃO DO AMANHÔ.
Em matéria de desenvolvimento físico, atendendo à plasticidade visível, nenhum ciclo etário é tão importante como o que vai dos 2 para os 4 meses nos cachorros, que ao 4º mês de vida vêem o seu peso à nascença multiplicado por 40, particularmente os indivíduos de raça média, rectangular e de características lupinas, cuja curva de crescimento se estende praticamente até aos 12 meses, ainda que cresçam até aos 6 meses essencialmente para cima e partir daí mais horizontalmente até à harmonizarem a altura com o comprimento.
Esta fase da vida dos cachorros que antecede a excursão e o início do seu escalonamento social, é ainda mais importante quando os seus criadores erraram na escolha dos progenitores e/ou lhes faltaram com as dietas indicadas, deliberadamente ou por ignorância, já que criar cães seriamente é o primeiro passo para a penúria, o que torna a canicultura num acto de paixão e não numa actividade lucrativa, inerente a quem pode e não somente a quem o deseja, porque dificilmente o investimento feito terá retorno. A despesa feita com uma ninhada, com os seus gastos próprios e os havidos com os seus progenitores, poderá eventualmente ser colmatada se essa criação for integrada em actividades paralelas mais lucrativas (hotel, treino, venda de ração, de acessórios, etc.). Quem ganha ordinariamente dinheiro com os cachorros são aqueles que os compram e vendem, hoje também eles em sérias dificuldades por força da excessiva oferta e da escassa procura.
Para melhor compreensão do que vamos explicar, valer-nos-emos do Cão de Pastor Alemão como exemplo. É um grande risco comprar cachorros desta raça com menos de 5kg às 8 semanas de vida, porque tal marcador poderá indiciar animais pequenos ou pernaltos, esquivos e de fraco impulso ao alimento. Poder-se-á dar o caso do leite materno ter sido fraco e/ou as dietas depois do desmame impróprias, pelo que importa averiguar as causas do défice de peso, se genéticas ou ambientais. Caso sejam de origem genética, diante da plasticidade que acompanha a idade, mercê do enriquecimento das dietas, os cachorros desenvolver-se-ão até mais 30%; caso sejam de origem ambiental, a sua recuperação e robustez acontecerão naturalmente, ainda que com algum atraso, atraso também visível na troca tardia dos dentes. Como se compreende, os benefícios operados nos primeiros não serão transmitidos à sua descendência. É comum, nas ninhadas subnutridas, que os cachorros mais pequenos e fracos sejam os primeiros a levantar as orelhas, pormenor a desconsiderar nas ninhadas devidamente acompanhadas, onde os primeiros a fazê-lo serão os que as terão melhor implantadas.
A possível recuperação dos cachorros acontecerá pela alteração e riqueza das dietas, podendo alguns não dispensar o complemento diário de comida fresca, considerando o fraco impulso ao alimento de uns e as exigências de outros. Merecerão especial cuidado os que aos 3 meses pesem abaixo dos 15kg, que irão exigir alimentos ricos em cálcio, vitaminas, minerais e proteínas, medida que caberá aos veterinários assistentes recomendar, porque não faltam casos de raquitismo. Não adianta engordá-los quando a sua estrutura óssea for imprópria (leve e desaprumada) e nos casos de manifesta panosteíte, porque isso só irá comprometer a sua saúde, desempenho, desenvolvimento e bem-estar (importa primeiro “consertar” a estrutura). Optando-se pelo complemento diário da comida fresca, adianta-se que a carne mais recomendável é a de borrego, que como todos sabemos é a mais cara, muito embora a dobrada (dobradinha) não o seja e a bovina seja também recomendada. Torna-se evidente que os cachorros afectados pela insuficiência pancreática exócrina, afecção muito comum nos cães de linha estética, não poderão concorrer a estes benefícios por lhes serem altamente lesivos e nalguns casos até fatais.
E como milagreiros nunca nos faltaram em tempo algum, há que evitar os pantomineiros que dizem tudo resolver, injectando nos cachorros hormonas de crescimento como se de um “remédio santo” se tratasse e importasse valer a bovinos, muitas vezes sem o prévio conhecimento dos donos e por conselho dos criadores dos animais. Tal aplicação projectará os cachorros para o gigantismo e mais agravará os seus desaprumos, sendo invariavelmente responsável pelo desprendimento de líquido sinovial nos cotovelos (higroma) graças à sobrecarga provocada nos membros anteriores pelo aumento inusitado do peso. A injecção dessas hormonas irá alterar a relação entre a altura e o peso dos cães que o Estalão do CPA adianta, cujo limite máximo é de 1.7 (ex: 68 cm: 40 kg =1.7), apresentando alguns relações de 1.4 como se fossem Rottweilers. Ainda que a libertação de líquido sinovial e as possíveis coxeiras venham a cessar quando os animais atingirem a idade adulta, convém relembrar que o CPA é um trotador veloz, persistente e resistente, não um molosso que, bamboleando a traseira, transita automaticamente do passo para o galope curto.
Conhecedores destes problemas e apostados no desenvolvimento salutar dos cachorros CPA e de outros, mas tendo como exemplo os primeiros e a sua tabela de crescimento, tudo fazemos para que cresçam harmoniosamente até à puberdade e daí para toda a vida, apostando no seu robustecimento estrutural e no equilíbrio entre a altura/envergadura, já que a escolha é fácil: ou investe-se na sua fase de crescimento ou andaremos ciclicamente a correr atrás do prejuízo. Segundo o que temos verificado ao longo de várias décadas, cachorros machos que aos 4 meses pesam menos de 18 kg, dificilmente virão a ser saudáveis e aptos para o desempenho deles esperado. Importa referir que o desenvolvimento físico é acompanhado pelo aumento cognitivo correspondente que induz ao equilíbrio psicológico responsável pela maior ou menor capacidade de aprendizagem, o que faz da fragilidade física o primeiro entrave para o salutar desenvolvimento do impulso herdado ao conhecimento.
Criar cães é saber aproveitar os seus ciclos infantis, nomeadamente aquele de maior plasticidade, o decorrente dos 2 para os 4 meses. O complemento da dieta fresca, desde que não induza à indesejável obesidade, é também válido para os cachorros de fraco impulso ao alimento, normalmente portadores de pequenas cabeças e de esqueletos leves e atípicos, porque ao aumentar-lhes a gula, fará que se desenvolvam melhor e para além das expectativas. Há cães que dispensarão estes cuidados? Sem dúvida, mas não serão muitos. E quando são assim há que felicitar os seus criadores pelo acerto nos beneficiamentos. Voltaremos a este assunto quando se justificar e nos for solicitado.

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