NOTA PRÉVIA:
Este artigo complementa o texto já editado em 28/10/2010:
“O PESO DOS 4 MESES NO CÃO
DO AMANHÔ.
Em matéria de
desenvolvimento físico, atendendo à plasticidade visível, nenhum ciclo etário é
tão importante como o que vai dos 2 para os 4 meses nos cachorros, que ao 4º
mês de vida vêem o seu peso à nascença multiplicado por 40, particularmente os
indivíduos de raça média, rectangular e de características lupinas, cuja curva
de crescimento se estende praticamente até aos 12 meses, ainda que cresçam até
aos 6 meses essencialmente para cima e partir daí mais horizontalmente até à
harmonizarem a altura com o comprimento.
Esta fase da vida dos
cachorros que antecede a excursão e o início do seu escalonamento social, é
ainda mais importante quando os seus criadores erraram na escolha dos
progenitores e/ou lhes faltaram com as dietas indicadas, deliberadamente ou por
ignorância, já que criar cães seriamente é o primeiro passo para a penúria, o
que torna a canicultura num acto de paixão e não numa actividade lucrativa,
inerente a quem pode e não somente a quem o deseja, porque dificilmente o
investimento feito terá retorno. A despesa feita com uma ninhada, com os seus
gastos próprios e os havidos com os seus progenitores, poderá eventualmente ser
colmatada se essa criação for integrada em actividades paralelas mais
lucrativas (hotel, treino, venda de ração, de acessórios, etc.). Quem ganha
ordinariamente dinheiro com os cachorros são aqueles que os compram e vendem, hoje
também eles em sérias dificuldades por força da excessiva oferta e da escassa
procura.
Para melhor compreensão do
que vamos explicar, valer-nos-emos do Cão de Pastor Alemão como exemplo. É um
grande risco comprar cachorros desta raça com menos de 5kg às 8 semanas de
vida, porque tal marcador poderá indiciar animais pequenos ou pernaltos,
esquivos e de fraco impulso ao alimento. Poder-se-á dar o caso do leite materno
ter sido fraco e/ou as dietas depois do desmame impróprias, pelo que importa
averiguar as causas do défice de peso, se genéticas ou ambientais. Caso sejam
de origem genética, diante da plasticidade que acompanha a idade, mercê do
enriquecimento das dietas, os cachorros desenvolver-se-ão até mais 30%; caso
sejam de origem ambiental, a sua recuperação e robustez acontecerão
naturalmente, ainda que com algum atraso, atraso também visível na troca tardia
dos dentes. Como se compreende, os benefícios operados nos primeiros não serão
transmitidos à sua descendência. É comum, nas ninhadas subnutridas, que os
cachorros mais pequenos e fracos sejam os primeiros a levantar as orelhas,
pormenor a desconsiderar nas ninhadas devidamente acompanhadas, onde os
primeiros a fazê-lo serão os que as terão melhor implantadas.
A possível recuperação dos
cachorros acontecerá pela alteração e riqueza das dietas, podendo alguns não
dispensar o complemento diário de comida fresca, considerando o fraco impulso
ao alimento de uns e as exigências de outros. Merecerão especial cuidado os que
aos 3 meses pesem abaixo dos 15kg, que irão exigir alimentos ricos em cálcio,
vitaminas, minerais e proteínas, medida que caberá aos veterinários assistentes
recomendar, porque não faltam casos de raquitismo. Não adianta engordá-los
quando a sua estrutura óssea for imprópria (leve e desaprumada) e nos casos de
manifesta panosteíte, porque isso só irá comprometer a sua saúde, desempenho,
desenvolvimento e bem-estar (importa primeiro “consertar” a estrutura).
Optando-se pelo complemento diário da comida fresca, adianta-se que a carne
mais recomendável é a de borrego, que como todos sabemos é a mais cara, muito
embora a dobrada (dobradinha) não o seja e a bovina seja também recomendada. Torna-se
evidente que os cachorros afectados pela insuficiência pancreática exócrina,
afecção muito comum nos cães de linha estética, não poderão concorrer a estes
benefícios por lhes serem altamente lesivos e nalguns casos até fatais.
E como milagreiros nunca
nos faltaram em tempo algum, há que evitar os pantomineiros que dizem tudo
resolver, injectando nos cachorros hormonas de crescimento como se de um “remédio
santo” se tratasse e importasse valer a bovinos, muitas vezes sem o prévio
conhecimento dos donos e por conselho dos criadores dos animais. Tal aplicação
projectará os cachorros para o gigantismo e mais agravará os seus desaprumos,
sendo invariavelmente responsável pelo desprendimento de líquido sinovial nos
cotovelos (higroma) graças à sobrecarga provocada nos membros anteriores pelo
aumento inusitado do peso. A injecção dessas hormonas irá alterar a relação entre
a altura e o peso dos cães que o Estalão do CPA adianta, cujo limite máximo é
de 1.7 (ex: 68 cm: 40 kg =1.7), apresentando alguns relações de 1.4 como se
fossem Rottweilers. Ainda que a libertação de líquido sinovial e as possíveis
coxeiras venham a cessar quando os animais atingirem a idade adulta, convém
relembrar que o CPA é um trotador veloz, persistente e resistente, não um
molosso que, bamboleando a traseira, transita automaticamente do passo para o
galope curto.
Conhecedores destes
problemas e apostados no desenvolvimento salutar dos cachorros CPA e de outros,
mas tendo como exemplo os primeiros e a sua tabela de crescimento, tudo fazemos
para que cresçam harmoniosamente até à puberdade e daí para toda a vida,
apostando no seu robustecimento estrutural e no equilíbrio entre a altura/envergadura,
já que a escolha é fácil: ou investe-se na sua fase de crescimento ou andaremos
ciclicamente a correr atrás do prejuízo. Segundo o que temos verificado ao
longo de várias décadas, cachorros machos que aos 4 meses pesam menos de 18 kg,
dificilmente virão a ser saudáveis e aptos para o desempenho deles esperado. Importa
referir que o desenvolvimento físico é acompanhado pelo aumento cognitivo
correspondente que induz ao equilíbrio psicológico responsável pela maior ou
menor capacidade de aprendizagem, o que faz da fragilidade física o primeiro
entrave para o salutar desenvolvimento do impulso herdado ao conhecimento.
Criar cães é saber
aproveitar os seus ciclos infantis, nomeadamente aquele de maior plasticidade,
o decorrente dos 2 para os 4 meses. O complemento da dieta fresca, desde que
não induza à indesejável obesidade, é também válido para os cachorros de fraco
impulso ao alimento, normalmente portadores de pequenas cabeças e de esqueletos
leves e atípicos, porque ao aumentar-lhes a gula, fará que se desenvolvam melhor
e para além das expectativas. Há cães que dispensarão estes cuidados? Sem
dúvida, mas não serão muitos. E quando são assim há que felicitar os seus
criadores pelo acerto nos beneficiamentos. Voltaremos a este assunto quando se
justificar e nos for solicitado.
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