Um dos
serviços caninos de resgate mais especulados e pouco conhecidos é o
desenvolvido pelos cães farejadores de cadáveres, cujo método de treino é por
demais semelhante aos que resgatam pessoas vivas ou que são especialmente
preparados para a detecção de estupefacientes ou componentes explosivos,
diferindo apenas no objecto na sua busca. Estes cães têm como objectivo
encontrar restos mortais humanos, que conseguem diferenciar dos pertencentes a
outros animais, sendo capazes de detectar tanto os mais recentes quanto os mais
antigos, ao ponto de encontrarem o sítio onde esteve um cadáver, uma simples
gota de sangue ou um dente. Alguns deles são ainda capacitados para sinalizar
cadáveres humanos submersos em rios, poços e lagoas, o que faz deles uns
auxiliares de valor inestimável, quando chamados a fazê-lo depois do desaparecimento
de uma ou mais pessoas ou após um grave cataclismo (terramotos, inundações,
tornados, avalanches, explosões, etc.), como aconteceu na tragédia de
Entre-os-Rios/Penafiel em 2001 (queda da Ponte Hintze Ribeiro), no “11 de
Setembro de 2001” nos Estados Unidos e ainda recentemente em Itália quando
vários terramotos assolaram o centro desta nação transalpina
Ainda não se descobriu ao
certo quais os odores libertados pelos cadáveres humanos que os cães detectam,
apesar de vários cientistas já haverem identificado 478 compostos químicos
diferentes nos corpos em decomposição. Quando o vierem a descobrir, será muito
mais fácil esmerar o treino e a aptidão dos cães farejadores de cadáveres, que
ao invés de seguirem rastos no solo, captam esses círculos odoríferos no ar.
Seja qual for essa assinatura química, certo é que ela está presente em todo o
processo, quer se trate de cadáveres frescos ou de esqueletos com muitos anos
de idade. No passado pensava-se que tanto a “cadaverina” como a “putrescina”
(compostos químicos produzidos pela quebra dos aminoácidos durante a
decomposição) seriam os responsáveis pelo acerto dos cães, hipótese hoje
abandonada por não corresponder à verdade. Há quem diga que os cães para além
de detectarem o odor dos gases em decomposição, são também ajudados pelo cheiro
das “cavéolas” (invaginações presentes na membrana plasmática e abundantes nas
células musculares lisas, endoteliais e nos adipócitos). Também há quem creia
que tal se deve aos compostos animais chamados de “esteres” (grandes componentes
de gordura animal) e também nos ossos. Estas incertezas têm impossibilitado a
criação duma substância sintética realmente válida para o treino dos cães.
Não obstante e de eficácia
absoluta ainda por comprovar, devido aos diferentes estágios da decomposição,
existem à venda no mercado “cadaverina” e “putrescina” sintéticos. Não lhes
sobrando outra alternativa, os cães farejadores de cadáveres, porque precisam
de praticar, ver-se-ão obrigados a procurar sangue, mortos e pedaços de corpos
humanos, o que não é fácil de encontrar e que raramente estará à disposição de
quem os procurar, muito embora o engenho humano e o aproveitamento de certas circunstâncias
particulares possam facilitá-lo (não estamos a falar de profanação de cadáveres
ou do roubo de membros amputados). Diante dessa impossibilidade há quem inicie
e treine os seus cães na procura de carne, sangue, ossos e vísceras de porco,
animal cujo cadáver liberta odores muito semelhantes aos encontrados nos corpos
humanos em decomposição. De qualquer modo e até à presente data, nada nem ninguém (máquina ou animal) é tão eficaz na procura de cadáveres humanos como os cães, amigos para a vida e
até na morte.
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