domingo, 25 de setembro de 2016

A OPÇÃO BELGA NOS PASTORES HOLANDESES

O Pastor Holandês, “Hollander”, como os súbitos de Guilherme de Orange-Nassau gostam de tratá-lo, é um cão pastor pouco conhecido entre nós e pouco visto pelo mundo, contrastando com a popularidade e propagação do Pastor Alemão e dos Pastores Belgas seus vizinhos. No final do Séc. XIX as três raças conviveram lado a lado e eram praticamente indistintas, deixando de sê-lo logo no início do Século seguinte. A relação de proximidade destas três raças caninas de origem comum ficou a dever-se ao particular das fronteiras da Holanda, país virado para o Mar do Norte e geograficamente encrustado entre a Alemanha e a Bélgica, fronteiras com linhas de demarcação pitorescas como a que se pode ver na foto abaixo.
Este cão chegou aos nossos dias com duas apresentações e díspares propósitos, diferença resultante de duas preocupações distintas que se prendem com a sua conformação e uso, subdividido em cães de beleza e de trabalho. Os primeiros reafirmam as suas diferenças morfológicas em relação aos outros lupinos de pastoreio seus vizinhos e os últimos procuram elevar os índices laborais da raça, dotando-a de maior operacionalidade e versatilidade, enquanto provedora de cães para tarefas guardiãs, policiais, militares e de resgate.
Após o término da II Guerra Mundial, donde a Alemanha saiu derrotada e odiada pela ocupação que empreendeu pela Europa Continental, nomeadamente na Holanda, houve necessidade de combater a endogamia e dotar a raça de sangue novo, opção que recaiu sobre os Pastores Belgas Malinois e Tervurens em prejuízo dos Pastores Alemães que a haviam beneficiado antes do 1º Conflito Mundial, que na altura eram semelhantes aos Pastores holandeses, ainda que maiores (na altura haviam também Pastores Alemães rajados/tigrados e de pelo de arame/crespo). O recurso ao Malinois prestou-se à proliferação de cães holandeses de pelo curto e o uso dos Tervurens possibilitou a continuidade dos seus exemplares de pelo comprido. Esta opção não ficou perdida na história e ainda hoje continua em uso nos Pastores Holandeses ditos de trabalho, cuja biodiversidade transpira saúde e robustece física e operacionalmente os “Hollanders”.
A origem comum dos pastores alemães, belgas, holandeses e também de alguns franceses, tem possibilitado um maior conhecimento sobre as origens de cada um deles e explicado os diferentes critérios de selecção que foram observados em cada uma das raças. O Pastor Holandês é hoje maioritariamente belga (de tamanho, envergadura e biomecânica), ainda que o particular da sua cor e a morfologia da sua cabeça o distinga, seja um pouco mais comprido, menos tímido e instintivo, mais concentrado e menos agressivo, fácil de ensinar e próprio para trabalhar em matilha, propriedades distintas que o remetem para as mais-valias presentes nos alvores da raça e para a contribuição do CPA na sua origem (o Hollander é mecanicamente belga mas de diferente personalidade).
A raça apresenta três variedades de manto: pelo cerdoso, pelo comprido e pelo curto, todas rajadas/tigradas e de base exclusivamente dourada ou prateada. Deseja-se que o cão seja o mais escuro possível, que a sua máscara seja negra e que não tenha pesadas manchas brancas no peito ou nas patas. Raça onde predominam os factores cromáticos preto, azul e vermelho, justificados pela excelência laboral pretendida, destacam-se nela os exemplares de pelo cerdoso/crespo, por norma maiores, de ossatura superior e de aspecto mais intimidatório, que surpreendem os menos conhecedores da raça, julgando tratar-se de Bouviers da Flandres, Schnauzers ou de híbridos de Laekenois, quando usados pela Polícia Holandesa nos patrulhamentos de grandes eventos.
Os amantes dos Pastores Alemães tendem a descrever o Pastor Holandês como um CPA/GSD dos primórdios, de ossatura ligeira, pernalto, menos comprido, pouco angulado e de cauda mais curta, como uma imitação barata do cão alemão ou como uma tentativa frustrada dos holandeses terem um cão de igual valor, muito embora o Hollander seja muito mais do que isso, respire a saúde que o actual CPA não tem, seja um ás no resgate e lesto na prestação de socorro, um cão cujo desempenho expressa cabalmente o pragmatismo visível nas gentes dos Países Baixos, que apesar do seu exíguo território, sempre marcham na vanguarda das nações europeias.  

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