O Pastor Holandês,
“Hollander”, como os súbitos de Guilherme de Orange-Nassau gostam de tratá-lo,
é um cão pastor pouco conhecido entre nós e pouco visto pelo mundo,
contrastando com a popularidade e propagação do Pastor Alemão e dos Pastores
Belgas seus vizinhos. No final do Séc. XIX as três raças conviveram lado a lado
e eram praticamente indistintas, deixando de sê-lo logo no início do Século
seguinte. A relação de proximidade destas três raças caninas de origem comum
ficou a dever-se ao particular das fronteiras da Holanda, país virado para o
Mar do Norte e geograficamente encrustado entre a Alemanha e a Bélgica,
fronteiras com linhas de demarcação pitorescas como a que se pode ver na foto
abaixo.
Este cão chegou aos nossos
dias com duas apresentações e díspares propósitos, diferença resultante de duas
preocupações distintas que se prendem com a sua conformação e uso, subdividido
em cães de beleza e de trabalho. Os primeiros reafirmam as suas diferenças
morfológicas em relação aos outros lupinos de pastoreio seus vizinhos e os
últimos procuram elevar os índices laborais da raça, dotando-a de maior
operacionalidade e versatilidade, enquanto provedora de cães para tarefas
guardiãs, policiais, militares e de resgate.
Após o término da II
Guerra Mundial, donde a Alemanha saiu derrotada e odiada pela ocupação que
empreendeu pela Europa Continental, nomeadamente na Holanda, houve necessidade
de combater a endogamia e dotar a raça de sangue novo, opção que recaiu sobre
os Pastores Belgas Malinois e Tervurens em prejuízo dos Pastores Alemães que a
haviam beneficiado antes do 1º Conflito Mundial, que na altura eram semelhantes
aos Pastores holandeses, ainda que maiores (na altura haviam também Pastores
Alemães rajados/tigrados e de pelo de arame/crespo). O recurso ao Malinois
prestou-se à proliferação de cães holandeses de pelo curto e o uso dos
Tervurens possibilitou a continuidade dos seus exemplares de pelo comprido.
Esta opção não ficou perdida na história e ainda hoje continua em uso nos
Pastores Holandeses ditos de trabalho, cuja biodiversidade transpira saúde e
robustece física e operacionalmente os “Hollanders”.
A origem comum dos pastores
alemães, belgas, holandeses e também de alguns franceses, tem possibilitado um
maior conhecimento sobre as origens de cada um deles e explicado os diferentes
critérios de selecção que foram observados em cada uma das raças. O Pastor
Holandês é hoje maioritariamente belga (de tamanho, envergadura e biomecânica),
ainda que o particular da sua cor e a morfologia da sua cabeça o distinga, seja
um pouco mais comprido, menos tímido e instintivo, mais concentrado e menos
agressivo, fácil de ensinar e próprio para trabalhar em matilha, propriedades
distintas que o remetem para as mais-valias presentes nos alvores da raça e
para a contribuição do CPA na sua origem (o Hollander é mecanicamente belga mas
de diferente personalidade).
A raça
apresenta três variedades de manto: pelo cerdoso, pelo comprido e pelo curto,
todas rajadas/tigradas e de base exclusivamente dourada ou prateada. Deseja-se
que o cão seja o mais escuro possível, que a sua máscara seja negra e que não
tenha pesadas manchas brancas no peito ou nas patas. Raça onde predominam os
factores cromáticos preto, azul e vermelho, justificados pela excelência
laboral pretendida, destacam-se nela os exemplares de pelo cerdoso/crespo, por
norma maiores, de ossatura superior e de aspecto mais intimidatório, que
surpreendem os menos conhecedores da raça, julgando tratar-se de Bouviers da
Flandres, Schnauzers ou de híbridos de Laekenois, quando usados pela Polícia
Holandesa nos patrulhamentos de grandes eventos.
Os amantes dos Pastores
Alemães tendem a descrever o Pastor Holandês como um CPA/GSD dos primórdios, de
ossatura ligeira, pernalto, menos comprido, pouco angulado e de cauda mais
curta, como uma imitação barata do cão alemão ou como uma tentativa frustrada
dos holandeses terem um cão de igual valor, muito embora o Hollander seja muito mais
do que isso, respire a saúde que o actual CPA não tem, seja um ás no resgate e
lesto na prestação de socorro, um cão cujo desempenho expressa cabalmente o
pragmatismo visível nas gentes dos Países Baixos, que apesar do seu exíguo
território, sempre marcham na vanguarda das nações europeias.
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