domingo, 25 de setembro de 2016

OLHAR PARA O SUL COM OLHOS DE VER E APRENDER

Quanto mais conheço as culturas alentejana e algarvia mais as admiro, e nesta coisas de além Tejo podemos também incluir parte da Beira Baixa, tanto étnica como culturalmente, cujos povos comungam do mesmo saber antigo, que para os demais parece místico, não deixa de espantar e está em vias de perder-se. Apostados em saber mais sobre estas culturas, de certo modo desprezadas por razões históricas e político-económicas, debaixo doutras de cariz racista sem fundamento, porque os mouros andaram por toda a Península e chegaram até a roubar os sinos e as portas da Catedral de Santiago de Compostela, decidimos auscultar os mais velhos para saber dos seus hábitos e costumes e do tratamento que sempre deram aos cães, cientes do património cognitivo que os diferentes “Reinos das Taipas” lhes legaram por influência das pioneiras universidades árabes da Espanha Muçulmana, responsáveis pelo saber de protoveterinários como Eb-Ebb-Beithar, também entendido como Ibne Albeitar, cujas terapias assentavam por excelência nos benefícios e poder curativo de diferentes ervas.
Ervas que consumiam por falta de outros vegetais, de sabor único e aromático que tornam única a sua gastronomia e que estendiam à dieta dos seus cães, quando importava enriquecer os seus pensos (vitaminas e minerais) ou curá-los (por ingestão ou uso tópico). Estamos a falar das seguintes plantas: Acelga (Beta vulgaris); Alabaça/Labaça/Catacuzes (Rumex crispus L.); Alecrim (Rosmarinus officinalis); Beldroega (Portulaca oleracea); Cebolinho (Allium schoenoprasum); Coentros (Coriandrum sativum); Estragão (Artemisia dracunculus); Espargos silvestres (Asparagus aphyllus); Folha de Beterraba (Beta vulgaris); Funcho (Foeniculum vulgare); Hortelã da Ribeira/Erva Peixeira (Mentha cervina); Manjerona (Origanum majorana); Oregãos (Origanum vulgare); Poejo (Mentha pulegium); Salsa (Petroselinum crispum); Saramagos (Raphanus raphanistrum); Segurelha (Satureja montana); Serpão (variedade silvestre do Tomilho); Tengarrinha (Scolymus hispanicus) e Urtiga (Urtica dioica). O uso destas plantas, outrora responsável pela sobrevivência das populações mais pobres, é hoje muito raro e procurado, porque as novas gerações transitaram dos campos para as cidades e hoje desconhecem-nas.
O consumo destas plantas acabava por pôr homens e animais em sintonia com o relógio biológico e garantir o equilíbrio dos ecossistemas onde habitavam, regulando nos cães a muda do pelo pela alteração das dietas. É também certo que os cães das populações mais pobres eram mais saudáveis, não atormentados pela obesidade e tinham maior esperança de vida, bem-estar hoje periclitante pela repetitiva caldeirada das rações consumidas agora pelos cães em substituição da comida fresca, em grande parte responsáveis pela recorrência sistemática aos medicamentos sintéticos, sabendo-se que muitas delas contribuem inusitadamente para a obesidade, uremia, diabetes e para a ocorrência de vários tumores nos cães, considerando o dúbio controlo de qualidade dos seus ingredientes e processo de fabrico, que forçam a transição carnívoro-omnívoro nos cães. Afortunadamente cresce o número de proprietários caninos que opta por distribuir aos seus cães comida fresca ou semifresca.
Entendemos haver uma correlação entre a dispensável transição da dieta mediterrânica para a do norte da Europa que nos vitima e a transição da comida fresca para a ração que não poupa os cães. Continuamos a afirmar que nada substitui a comida fresca quando bem balanceada e temos várias dietas à disposição dos leitores que as solicitarem (estamos certos que os cães irão adorá-las). O Sul do País tem muito que ver e ainda mais para nos dar! 

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