Quanto mais conheço as
culturas alentejana e algarvia mais as admiro, e nesta coisas de além Tejo
podemos também incluir parte da Beira Baixa, tanto étnica como culturalmente,
cujos povos comungam do mesmo saber antigo, que para os demais parece místico, não
deixa de espantar e está em vias de perder-se. Apostados em saber mais sobre
estas culturas, de certo modo desprezadas por razões históricas e político-económicas,
debaixo doutras de cariz racista sem fundamento, porque os mouros andaram por
toda a Península e chegaram até a roubar os sinos e as portas da Catedral de
Santiago de Compostela, decidimos auscultar os mais velhos para saber dos seus
hábitos e costumes e do tratamento que sempre deram aos cães, cientes do
património cognitivo que os diferentes “Reinos das Taipas” lhes legaram por
influência das pioneiras universidades árabes da Espanha Muçulmana,
responsáveis pelo saber de protoveterinários como Eb-Ebb-Beithar, também
entendido como Ibne Albeitar, cujas terapias assentavam por excelência nos
benefícios e poder curativo de diferentes ervas.
Ervas que consumiam por
falta de outros vegetais, de sabor único e aromático que tornam única a sua
gastronomia e que estendiam à dieta dos seus cães, quando importava enriquecer
os seus pensos (vitaminas e minerais) ou curá-los (por ingestão ou uso tópico).
Estamos a falar das seguintes plantas: Acelga
(Beta vulgaris); Alabaça/Labaça/Catacuzes
(Rumex crispus L.); Alecrim (Rosmarinus
officinalis); Beldroega (Portulaca
oleracea); Cebolinho (Allium
schoenoprasum); Coentros (Coriandrum
sativum); Estragão
(Artemisia dracunculus); Espargos
silvestres (Asparagus aphyllus); Folha
de Beterraba (Beta vulgaris); Funcho
(Foeniculum vulgare); Hortelã da Ribeira/Erva
Peixeira (Mentha cervina); Manjerona
(Origanum majorana); Oregãos (Origanum
vulgare); Poejo (Mentha pulegium); Salsa (Petroselinum crispum); Saramagos (Raphanus raphanistrum); Segurelha (Satureja montana); Serpão (variedade silvestre do
Tomilho); Tengarrinha (Scolymus
hispanicus) e Urtiga (Urtica dioica).
O uso destas plantas, outrora responsável pela sobrevivência das populações
mais pobres, é hoje muito raro e procurado, porque as novas gerações
transitaram dos campos para as cidades e hoje desconhecem-nas.
O consumo destas plantas
acabava por pôr homens e animais em sintonia com o relógio biológico e garantir
o equilíbrio dos ecossistemas onde habitavam, regulando nos cães a muda do pelo
pela alteração das dietas. É também certo que os cães das populações mais
pobres eram mais saudáveis, não atormentados pela obesidade e tinham maior
esperança de vida, bem-estar hoje periclitante pela repetitiva caldeirada das
rações consumidas agora pelos cães em substituição da comida fresca, em grande
parte responsáveis pela recorrência sistemática aos medicamentos sintéticos,
sabendo-se que muitas delas contribuem inusitadamente para a obesidade, uremia,
diabetes e para a ocorrência de vários tumores nos cães, considerando o dúbio
controlo de qualidade dos seus ingredientes e processo de fabrico, que forçam a
transição carnívoro-omnívoro nos cães. Afortunadamente cresce o número de
proprietários caninos que opta por distribuir aos seus cães comida fresca ou
semifresca.
Entendemos haver uma
correlação entre a dispensável transição da dieta mediterrânica para a do norte
da Europa que nos vitima e a transição da comida fresca para a ração que não
poupa os cães. Continuamos a afirmar que nada substitui a comida fresca quando
bem balanceada e temos várias dietas à disposição dos leitores que as
solicitarem (estamos certos que os cães irão adorá-las). O Sul do País tem
muito que ver e ainda mais para nos dar!
Sem comentários:
Enviar um comentário