Com cerca de um século de
existência (1919), o “Coywolf”, um híbrido de Coiote, Lobo Vermelho e Cão
(maioritariamente de Pastor Alemão e Dobermann), prolifera na Província
canadiana de Ontário, no nordeste dos Estados Unidos e avança agora para o
sudeste norte-americano, alcançando novos territórios que as espécies selvagens
na sua origem jamais ousariam, chegando inclusive a cidades como Washington,
Boston e New York (estima-se que o seu número já ultrapasse um milhão). Esta
subespécie ou nova espécie, outros dirão como classificá-la, surgiu
naturalmente da hibridação atrás citada sem intervenção humana directa,
resultando do desmatamento e da desenfreada caça ao lobo ocorridos na região
Sul da província canadiana de Ontário, que quase levou à extinção do Lobo
Vermelho e que o levou a procurar novos parceiros para copular (coiotes e cães
domésticos).
O Coywolf apresenta na sua
construção 60% de Coiote, 30% de Lobo Vermelho e 10% de Cão, infusão que o
torna forte, inteligente e evasivo. Contrariamente à maioria dos híbridos, que
são naturalmente menos vigorosos e mais frágeis quando comparados com as
espécies na sua origem, o Coywolf demonstra uma adaptabilidade superior em
diferentes territórios e ambientes, sendo um predador capaz de caçar tanto em
florestas cerradas como em pradarias e para além delas, já que a contribuição dos
cães domésticos permite-lhe adaptar-se ao viver citadino pelo alcance de novas
dietas, das quais fazem parte abóboras, melancias e outros produtos hortícolas,
assim como alimentos descartados, caçando também ratos, esquilos e até gatos,
sendo também necrófago. A contribuição dos lobos e dos cães dotou-o de maior
tamanho - 25 kg, sensivelmente o dobro do encontrado no coiote comum, de
maiores mandíbulas e força de mordedura, de mais músculos, velocidade e poder
de choque, sendo capaz de derrubar sozinho um veado e em matilha de abater um
alce. Preferencialmente usa as redes ferroviárias para alastrar o seu
território e tornou-se noctívago para se ajustar ao viver nas cidades.
Diante de tudo isto,
estamos na presença de uma fantástica história de evolução. Os Coywolves uivam
para unir o seu grupo ou para marcarem território, fazendo-o também quanto se
encontram satisfeitos, nascem em tocas escavadas em encostas ou a coberto de
árvores caídas no mês de Junho. O ensino dos cachorros é feito pelos pais e a
sua formação acontece em pântanos “cranberry”, onde abundam arbustos dotados de
frutos suculentos. Andam em média de 10 a 15 milhas por noite, apesar de haver
notícia de alguns Coywolves terem caminhado 50. A sua grande mobilidade, mais
do que qualquer boom, explica por que razão são vistos por toda a parte. Não é
fácil capturá-los para estudo, porque são particularmente desconfiados e pouco
arriscam, sendo necessário muita paciência e boa carne nas armadilhas. Muitos
deles têm sido capturados para estudo do seu ADN e posterior implantação de
coleiras de rádio, acção que visa um melhor conhecimento dos seus hábitos e
rastreamento. Apesar de ser legal caçá-los de Outubro a Março no Estado do Massachusetts,
a sua população é considerada estável e dificilmente virão a atacar seres
humanos.
O treino convencional
destes canídeos é praticamente impossível, porque nasceram para ser autónomos e
são muito ricos em instintos, o que os torna particularmente desconfiados e
obviamente pouco ou nada cúmplices, pormenores que ficam a dever-se ao alto
percentual de coiote na sua construção, reforçado pelo percentual de lobo nela
existente e à pouca contribuição dos cães na sua formação. Contudo, se
invertermos o percentual dos caninos presentes na sua formação, dando-lhe 60%
de Cão, 30% de Lobo e 10% de Coiote, podemos alcançar bons companheiros e até
bons guardiões. Se procurarmos cães para a detecção ou para o rastreamento, o
ideal é fazê-lo com 70% de Cão e 30% de Coiote ou de Chacal, sendo este último
muito bem aproveitado para o efeito pelo biólogo russo Klim Sulimov, na década
de 80 do século passado, que comprovou a sua eficácia na detecção de explosivos
nos aeroportos russos.
Exceptuando a última
hibridação cão-lobo levada a cabo recentemente pelos russos, com uma subespécie
do lobo cinzento e nativa do Mar Cáspio, a maioria dos cães-lobos tem sido
votada ao desastre, acontecendo o contrário nas hibridações entre os cães
selvagens e os domésticos, dos quais o Wolfdog Kunming chinês é exemplo.
Estamos convencidos, porque já o experimentámos, falando de cães-lobo, que a
hibridação com o Lobo Ibérico (Canis lupus signatus) é viável e profícua. De
qualquer modo, se ao invés do lobo para melhorar os cães tivéssemos usado o
chacal, seríamos melhor sucedidos, muito embora essa hibridação seja melhor
alcançada pela contribuição de cães tipo spitz ou eurasier, porque estes melhor
do que outros conservam as qualidades de ambas as espécies que são indispensáveis
ao trabalho procurado.
O futuro do cão-lobo, logo
à partida condenado, passará por mais cão e menos lobo, pela redução do
percentual do Canis lupus nos Wolfdogs. O despertar para as mais-valias do
Chacal, que tardiamente aconteceu, parece que veio para ficar e um pouco por
toda a parte é solicitado para a formação de novos cães de trabalho nas suas mais
variadas vertentes ou especialidades. Pondo de parte as expectativas, os
desafios e os benefícios lançados pela hibridação, importa atentar para o Coywolf
como o mais insigne exemplo de evolução dos nossos dias.
Sem comentários:
Enviar um comentário