quinta-feira, 8 de setembro de 2016

COYWOLF: UM HÍBRIDO COM MUITO QUE CONTAR

Com cerca de um século de existência (1919), o “Coywolf”, um híbrido de Coiote, Lobo Vermelho e Cão (maioritariamente de Pastor Alemão e Dobermann), prolifera na Província canadiana de Ontário, no nordeste dos Estados Unidos e avança agora para o sudeste norte-americano, alcançando novos territórios que as espécies selvagens na sua origem jamais ousariam, chegando inclusive a cidades como Washington, Boston e New York (estima-se que o seu número já ultrapasse um milhão). Esta subespécie ou nova espécie, outros dirão como classificá-la, surgiu naturalmente da hibridação atrás citada sem intervenção humana directa, resultando do desmatamento e da desenfreada caça ao lobo ocorridos na região Sul da província canadiana de Ontário, que quase levou à extinção do Lobo Vermelho e que o levou a procurar novos parceiros para copular (coiotes e cães domésticos).
O Coywolf apresenta na sua construção 60% de Coiote, 30% de Lobo Vermelho e 10% de Cão, infusão que o torna forte, inteligente e evasivo. Contrariamente à maioria dos híbridos, que são naturalmente menos vigorosos e mais frágeis quando comparados com as espécies na sua origem, o Coywolf demonstra uma adaptabilidade superior em diferentes territórios e ambientes, sendo um predador capaz de caçar tanto em florestas cerradas como em pradarias e para além delas, já que a contribuição dos cães domésticos permite-lhe adaptar-se ao viver citadino pelo alcance de novas dietas, das quais fazem parte abóboras, melancias e outros produtos hortícolas, assim como alimentos descartados, caçando também ratos, esquilos e até gatos, sendo também necrófago. A contribuição dos lobos e dos cães dotou-o de maior tamanho - 25 kg, sensivelmente o dobro do encontrado no coiote comum, de maiores mandíbulas e força de mordedura, de mais músculos, velocidade e poder de choque, sendo capaz de derrubar sozinho um veado e em matilha de abater um alce. Preferencialmente usa as redes ferroviárias para alastrar o seu território e tornou-se noctívago para se ajustar ao viver nas cidades.
Diante de tudo isto, estamos na presença de uma fantástica história de evolução. Os Coywolves uivam para unir o seu grupo ou para marcarem território, fazendo-o também quanto se encontram satisfeitos, nascem em tocas escavadas em encostas ou a coberto de árvores caídas no mês de Junho. O ensino dos cachorros é feito pelos pais e a sua formação acontece em pântanos “cranberry”, onde abundam arbustos dotados de frutos suculentos. Andam em média de 10 a 15 milhas por noite, apesar de haver notícia de alguns Coywolves terem caminhado 50. A sua grande mobilidade, mais do que qualquer boom, explica por que razão são vistos por toda a parte. Não é fácil capturá-los para estudo, porque são particularmente desconfiados e pouco arriscam, sendo necessário muita paciência e boa carne nas armadilhas. Muitos deles têm sido capturados para estudo do seu ADN e posterior implantação de coleiras de rádio, acção que visa um melhor conhecimento dos seus hábitos e rastreamento. Apesar de ser legal caçá-los de Outubro a Março no Estado do Massachusetts, a sua população é considerada estável e dificilmente virão a atacar seres humanos.
O treino convencional destes canídeos é praticamente impossível, porque nasceram para ser autónomos e são muito ricos em instintos, o que os torna particularmente desconfiados e obviamente pouco ou nada cúmplices, pormenores que ficam a dever-se ao alto percentual de coiote na sua construção, reforçado pelo percentual de lobo nela existente e à pouca contribuição dos cães na sua formação. Contudo, se invertermos o percentual dos caninos presentes na sua formação, dando-lhe 60% de Cão, 30% de Lobo e 10% de Coiote, podemos alcançar bons companheiros e até bons guardiões. Se procurarmos cães para a detecção ou para o rastreamento, o ideal é fazê-lo com 70% de Cão e 30% de Coiote ou de Chacal, sendo este último muito bem aproveitado para o efeito pelo biólogo russo Klim Sulimov, na década de 80 do século passado, que comprovou a sua eficácia na detecção de explosivos nos aeroportos russos.
Exceptuando a última hibridação cão-lobo levada a cabo recentemente pelos russos, com uma subespécie do lobo cinzento e nativa do Mar Cáspio, a maioria dos cães-lobos tem sido votada ao desastre, acontecendo o contrário nas hibridações entre os cães selvagens e os domésticos, dos quais o Wolfdog Kunming chinês é exemplo. Estamos convencidos, porque já o experimentámos, falando de cães-lobo, que a hibridação com o Lobo Ibérico (Canis lupus signatus) é viável e profícua. De qualquer modo, se ao invés do lobo para melhorar os cães tivéssemos usado o chacal, seríamos melhor sucedidos, muito embora essa hibridação seja melhor alcançada pela contribuição de cães tipo spitz ou eurasier, porque estes melhor do que outros conservam as qualidades de ambas as espécies que são indispensáveis ao trabalho procurado.
O futuro do cão-lobo, logo à partida condenado, passará por mais cão e menos lobo, pela redução do percentual do Canis lupus nos Wolfdogs. O despertar para as mais-valias do Chacal, que tardiamente aconteceu, parece que veio para ficar e um pouco por toda a parte é solicitado para a formação de novos cães de trabalho nas suas mais variadas vertentes ou especialidades. Pondo de parte as expectativas, os desafios e os benefícios lançados pela hibridação, importa atentar para o Coywolf como o mais insigne exemplo de evolução dos nossos dias.  

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