quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

XITA: UMA CADELA DE SONHO

Antes de ser a “Menina do Cão Vermelho”, a Joana Moura foi carregada para o mundo do adestramento pela Xita, uma Pastora Alemã preto-afogueada, Rhein-Möselring, criação do falecido Carlos Veríssimo, uma cadela grande e generosa, que ainda é viva e que tem particularidade de ser uma “costureirinha” (de atacar a vários golpes e de não se fixar em nenhum), o que a tornou famosa por ser praticamente indefensável, porque procurava a carne e esperava o contra-ataque para ripostar (por vezes esquecíamo-nos disso). O início da Xita não foi o mais promissor, porque o pai da menina desconfiava da qualidade da cachorra, o que nos obrigou, para o convencer, ao disparo de dois tiros de 9mm na frente do animal, que teria na altura cerca de dois meses de idade. Dois meses depois constituiu-se o binómio Joana/Xita, com a primeira a alcançar a puberdade e a segunda a estranhar as incertezas da sua líder, o que delongou o ensino de ambas, também dificultado por uma instalação doméstica canina deficitária. Pouco a pouco, porque a cadela era de altíssima qualidade e a dona plena de disponibilidade, o binómio começou a dar frutos e a destacar-se, ainda que não lhe sobrasse outra alternativa, porque apostámos nele e sabíamos quanto valia a prata da casa.
Ao contrário do que se possa imaginar e apesar da sua tenra idade, não poupámos a Joana, porque bem cedo vimos que era briosa e competitiva, valente, decidida e ávida de ir mais além, o que a fez entrar precocemente no mundo dos adultos, apesar de nunca nos ter desapontado, de ter acatado as correcções e ter evoluído como poucos. Por tudo isto estamos-lhe gratos, já que foi um desafio ganho e um privilégio tê-la como aluna, considerando o que fez com a Xita e o que mais tarde alcançou com o Flikke, dentro da Escola e quando chamada a representá-la. Perguntar-nos-ão: o que fez a Xita para ser considerada uma cadela de sonho? A proeza mais extraordinária que lhe vimos foi a capacidade de acerto, porque mesmo recebendo indicações erradas, acabava por acertar na solução dos exercícios, “condão” presente nos Pastores de outrora e hoje pouco visível nos actuais, mais ansiosos e menos concentrados. Talvez o facto de ser recessiva em negro e em vermelho uniforme tenha contribuído para isso, já que apresentava a concentração típica dos negros e a valentia reconhecida aos vermelhos, muito embora o “gás” e o tamanho lhe tenham vindo da sua ascendência lobeira. Seria injusto desconsiderar, diante da sua extraordinária aptidão e entrega, o imprinting operado pela Família Veríssimo, sem dúvida bem conseguido e também ele responsável pelo êxito laboral desta cadela.
Sem grande dificuldade, apesar da atrapalhação inicial da sua condutora (na altura com 10 anos de idade), a Xita abraçou rapidamente a disciplina de obediência, facto impossível de ser dissociado do carinho e do cuidado que lhe foram dispensados. Brilhou na ginástica devido às suas performances atléticas, força e tamanho, quem não a conhecesse, juraria tratar-se de um macho e dos bons! Na endurance venceu todos os obstáculos e ultrapassou todas as combinações. Para se ter uma ideia aproximada da capacidade atlética desta Rhein-Möselring, na sua ficha de inscrição escolar, na avaliação feita aos 15 meses, pode ler-se: pulsações em descanso: 76 (plena recuperação aos 3 minutos), velocidade instantânea: 48km/h, salto vertical: 1.20m, salto em extensão: 3.75m, muros: 2.50m, ponte-quebrada: 2.20m, excelente nas escadas de 5.40m, extremamente resistente e hábil nos obstáculos compostos. Como nota adicional, no final da página lê-se: “cão a mais!”, aludindo à sua qualidade quando comparada com o particular etário da sua condutora. Se outra virtude a Xita não tivesse, bastar-nos-ia o que fez pela Joana, acompanhando-a, esperando por ela e ajudando-a a crescer!
Na disciplina de guarda, para além do pormenor que contámos no primeiro parágrafo, a Xita revelou maior aptidão nas áreas da defesa pessoal, o que a ninguém espanta atendendo ao seu sexo, forte impulso à defesa, grande envergadura, natureza de aviso, cumplicidade e sentido protector, apesar de fazer ataques lançados, de guardar o carro e de perseguir possíveis meliantes. Transitou facilmente da linguagem verbal para a gestual e da condução à trela para a condução em liberdade, o que possibilitou o seu desempenho à distância. Revelou especial aptidão para a tracção e para a pistagem, participou em vários acampamentos e exibições, serviu algumas vezes como cão de terapia e preparou a Joana para melhor valer ao Flikke. Bisneta do Warrior d’Acendura Brava, de quem herdou muito do seu potencial físico e cognitivo, inclusive o hábito de enfiar a cabeça para pedir festas, a Xita deu-nos ainda dois excelentes filhos, para além de muitos outros: o Zorro, propriedade do Sr. António da Cunha e a Amora, propriedade da Sr.ª Isabel Paiva da Silva, ambos valentes, decididos e particularmente agradáveis à vista. Ainda valente e disponível, continua a guardar a casa dos seus donos, conservando o seu carácter protector e alegre. Bem-hajas Xita, porque também com a tua ajuda uma menina se fez mulher! 

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