sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

APAGADOTES POR FALTA DE AMOR

O termo “apagadote”, aqui subentendido como um indivíduo sem brilho ou grande préstimo, veio-o até nós pela pessoa de um economista, que sem jeiteira nenhuma para os cães, não hesitava em rotular assim os seus colegas de classe, cuja maioria era de qualidade bem superior à sua. Já nos deixou há muitos anos mas o termo ficou, adjectivando condutores caninos com dificuldades em se fazer compreender, por força de uma mensagem imprópria e desinteressante para os cães, isenta de emoções e sentimentos, que ao serem compreendidos, facilitariam a interacção e a pronta resposta dos animais. É curioso reparar que a maioria dos actuais condutores em instrução são melhores a travar do que a incentivar, sentindo-se escangalhados e expostos ao ridículo quando obrigados a animar, como se não gostassem dos animais ou se vissem obrigados a esse frete. Como resultado disso, os seus cães resistem ao “junto” e desinteressam-se dos desafios propostos pelo treino, como se também andassem por ali a “cumprir calendário”. O viver social urbano exerce uma pressão violenta sobre os indivíduos, levando-os à assimilação da máscara quotidiana e ao resguardo progressivo dos seus sentimentos, desequilibrando-os pelo transtorno emocional, o que põe alguns a falar consigo próprios, outros para “o boneco” e muitos incomunicáveis, o que irá dificultar de sobremaneira a comunicação interespécies.
Escravos também desse “modus vivendi”, tornado obrigatório pela sobrevivência e contrário aos seus afectos, os proprietários caninos tornados condutores dos seus cães, sem muitas vezes se aperceberem disso, acabam por lidar com os animais como o fazem com os seus iguais, conseguindo interiorizar sentimentos mas incapazes de os exteriorizar, inibição fatal para quem espera aceitação, procura a recompensa e não dispensa os afectos: os cães. Debaixo deste panorama importa que as aulas sejam descontraídas para que os condutores se sintam à vontade, integrados no núcleo escolar como o fariam em família e consigam libertar-se do fardo quotidiano que obsta ao seu potencial individual e realização pessoal. A opção pelas aulas colectivas, que tão bem servem o estreitamento das relações do indivíduo com o grupo, tendem a “quebrar o gelo”, a devolver-lhe a naturalidade e a aceitar o auxílio mútuo, enriquecendo cada um com a sua parte o colectivo em instrução. Pouco a pouco e também com o auxílio dos cães, os condutores irão conseguir libertar sentimentos e emoções perceptíveis aos animais, advindas do amor que nutrem por eles, o que os levará à aquisição de uma mímica e entoações próprias para a ratificação dos seus propósitos. Como qualquer adestramento sem afectos é abusivo e quase estéril, importa desenvolver os laços afectivos entre homens e cães que garantem a profícua cumplicidade.

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