Subsistem praxes
universitárias irreverentes e divertidas, como convém, que servem o seu
propósito: a integração dos caloiros, muito embora o seu número tenda a
diminuir face a outras que nunca deveriam de existir, lesivas à dignidade dos
praxados, abusivas, de conotação ideológica dúbia, descontroladas, despudoradas,
excessivamente agressivas, muitas vezes baseadas na sodomia, que podem deixar
marcas para toda a vida e que já culminaram nalgumas incapacidades e mortes
(por menor número de baixas, no passado recente, já se encerraram algumas unidades
militares). E porque não gostamos de juízos temerários, assistimos a algumas
desta índole, convidados à força, porque saltaram para a via pública, boquiabertos
e com vontade de largar os cães para cima dos praxistas, geralmente alunos
pouco aplicados (cite-se o exemplo do “dux veteranorum da Universidade de
Coimbra, há duas décadas acoitado por ali), dados à beberrice, sedentos de gozo,
ávidos de poder, torpes de discurso e mal intencionados, que de copo na mão,
não medem a gravidade dos seus actos e o dolo que causam, expondo publicamente as
suas vítimas ao ridículo e muitas vezes até, pormenores da sua intimidade, como
se fossem e na verdade são-no, “guest stars” de qualquer pornochachada, numa
produção à custa dos amesquinhados, com uma banda sonora repleta de “alhos e bugalhos”
e que pode culminar com o dedo na “coisa” ou no “dito cujo” de cada um, mesmo
que não pertençam a nenhuma faculdade de medicina ou venham a ter qualquer
cadeira de anatomia.
Estas práticas
criminosas de obediência cega, estuporadas e mais violadoras dos direitos
individuais do que as usadas pela ditadura que ultrapassámos, sem margem para
dúvida, buscam a carneirada e a sonegação do espírito crítico dos praxados, a
transformação da sua identidade para uma maralha de objectivos pouco claros,
sujeita a obrigações e sanções próprias, segundo a arbitragem de quem praxa e
servindo não se sabe quem e o quê, fundamentando assim hierarquias e
dependências que ultrapassarão em muito o término das praxes, capazes de
condenar alguns indivíduos ao desrespeito por si próprios, ao trauma, ao
servilismo, à alienação e ao niilismo, porque os alguns praxistas,
descontrolados e desconhecedores dos seus limites, acabam por desconsiderar e
violar a integridade dos seus forçados sequazes.
Melhor sorte teriam os
praxados, e que bem faria aos praxistas, porque uns seriam tratados como homens
e não como fedelhos, e os outros não como “sobas” mas como iguais, se as más
praxes académicas cedessem lugar à recruta militar, onde uns ganhariam coragem
e os outros disciplina, aprendendo todos a defender-se, formando um corpo com
objectivos definidos, ciente das suas responsabilidades, determinado, coeso e
ao serviço de todos nós, segundo a incumbência de cada um, em prol de Portugal
e na defesa da sua soberania. O recrutamento militar, a nosso ver, deveria ser
endereçado aos “Dux’s” sem aproveitamento, como medida correccional para a sua
falta de empenho e propensão esclavagista, o que já sucedeu no passado, aquando
da guerra colonial e do serviço militar obrigatório, quando aos repetentes não
restava outra sorte. Talvez estejamos a ser radicais, mas não deveria haver
limites para a estultícia? Não seria bom sanear os maus alunos das faculdades e
substituí-los por outros mais aplicados e de maior empenho? Julgo que todos
sairíamos a ganhar!
Mas como
isso tão depressa não acontecerá e duvidamos que venha a acontecer, pelo menos
nos anos mais próximos, importa denunciar os abusos e responsabilizar os
culpados, dar combate à prepotência e à estupidez, visando o bem-estar
colectivo e o da juventude universitária em particular, gente que nos governará
amanhã. Na Acendura Brava também fizemos
uso de uma praxe que se repetiu ao longo de décadas, que consistia em convidar
o aluno recém-chegado para a “manga”, fazendo frente a um cão, em ataque
lançado a 30m, prática alcunhada de “baptismo”. Sem que o novato de
apercebesse, era escolhido um cão obediente e seguro, de acordo com a robustez
do “figurante”, muito embora lhe vendêssemos a ideia de que tratava de uma fera
e de um comedor de homens. Porque os acidentes acontecem e o medo atiça os
cães, por precaução, o adestrador permanecia ao lado do indigitado (por vezes o
próprio dono do cão), para o travar em caso de necessidade. Nunca ninguém se
aleijou, apesar de alguns se desequilibrarem pela força dos impactos. O uso desta
praxe, enquanto cerimónia iniciática, fez com que todos os alunos, homens e
mulheres, ao longo dos anos e sem excepção, acabassem por colaborar na
capacitação dos cães de guarda uns dos outros.
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