Talvez quando o coelho bravo acabar, alguém repare no Podengo, o avalie com outros olhos e lhe descubra “novas” utilidades. Falar de Podengos é falar de vergonha, da nossa pouca-vergonha, porque nenhuma raça tem sido tão chacinada nos canis terminais municipais como o Podengo, apesar ser o símbolo do Clube Português de Canicultura. E como se isto não bastasse, a maioria dos cães abandonados ou é podengo ou seu descendente, verdade também visível nos canis de recolhimento e adopção. Não iremos aqui tratar da história da raça, sem dúvida mediterrânica e levada até ao Novo Mundo, porque outros já o fizeram e fizeram-no bem. O que nos interessa é divulgar o seu potencial, em particular o da sua variedade mais pequena, identificada por podengo português pequeno e que na gíria é tratado por “Anão”, porque o testámos e aprovámos como cão farejador de eleição.
Como trabalhámos podengos dos três tamanhos, durante uma década e para diferentes fins (alarme, caça, companhia e pistagem), sentimo-nos à vontade para falar deles, também porque nos vimos obrigados a reeducar alguns. A par disto, acompanhámos inúmeras ninhadas e observámos muitas jornadas de caça ao coelho, ouvindo atentamente os seus criadores e proprietários, registando tanto as suas queixas quanto o seu contentamento, para além de observarmos o comportamento dos animais no terreno, o que nos permitiu estabelecer diferenças, compreender diversos modos de actuação e reconhecer o particular de cada variedade independentemente do seu tamanho, muito embora os diferentes tamanhos obriguem ou sejam aproveitados para distintos usos.
Debaixo do frenesim na caça e sedentos pela captura, os podengos comportam-se de maneira diferente consoante o seu tamanho, quando obrigados a caçar igual variedade cinegética, fenómeno visível na detecção, na perseguição, na captura e na entrega. Os podengos grandes seguem tendencialmente os círculos odoríferos de cabeça levantada, desprezam a caça que se encontra mais perto e vão procurar outra mais longe, avançam sorrateiros, avisam menos e caçam a salto (por intercessão), resistindo por vezes à entrega da presa. Os podengos médios, que são os que fazem mais alarido, apresentam a mesma propensão para caçar longe, não esperam pela caça, perseguem-na e tendem a mutilá-la, embrenham-se no mato, constituem-se em grupo com facilidade e por competição podem desprezar presas mais fáceis, para não cederem aos outros aquela que perseguem. Por vezes é necessário arrancar-lhes o animal da boca, porque demoram a entregá-lo. Com a idade e a experiência adquirem outra postura. Os podengos anões (podengo português pequeno) são sorrateiros, avançam de nariz no chão debaixo de cautela, detectam a caça mais próxima e tendem a entrar nas suas tocas, cedem as presas com mais facilidade e muitos deles transportam-nas para os donos. Ao contrário dos outros podengos, que com facilidade se separam dos seus donos e se perdem, os anões nunca se afastam muito deles, o que lhes garante o retorno seguro a casa. Se compararmos o número de quilómetros batidos e o tempo gasto para a captura, os podengos pequenos são os mais produtivos.
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