sábado, 2 de novembro de 2013

O NACIONAL-PORREIRISMO

O termo “nacional-porreirismo”, tirado em primeira instância do adjectivo calão “porreiro”, que pode ter como significado algo de bom, óptimo, agradável, fixe ou excelente, ainda antes de ser criado, já havia subido à cabeça de muitos portugueses, em particular daqueles que, a despeito da razão, continuam a viver de acordo com os seus abusos e ao sabor dos seus ímpetos, sendo por norma gente simpática, conformada, desprecavida, pouco reflectida, entregue a emoções, dada à pândega e inofensiva, mais comum nas classes sociais mais baixas e nos indivíduos mais simples, ainda que os altíssimos políticos usem e abusem do nacional-porreirismo nas campanhas eleitorais, como arma prà caça ao voto, o que de imediato baixa o povo à condição de massa, ainda que ele não dê por isso e as promessas nunca venham a ser cumpridas.
Como não podia deixar de ser, o nacional-porreirismo acaba por contagiar também a classe média, a mesma que sustenta a canicultura e a cinotecnia, hoje a necessitar de um verdadeiro milagre para a sua sobrevivência, agora que os bancos não lhe oferecem dinheiro e deixaram de importuná-la pelo telefone (acabou o dinheiro fácil). Afortunadamente, não são muitos os nacional-porreiristas no seu seio, porque o optimismo pariu o pessimismo e anda por aí meio mundo com “credo na boca” ou com o desemprego à perna. Não obstante, porque os hábitos enraizados são difíceis de arrancar, ainda desembarcam alguns no adestramento. Estes indivíduos, que não primam pela pontualidade, são geralmente pouco esforçados, avessos a compromissos e de fácil contentamento, não gostam de traçar metas e raramente têm objectivos, vindo somente pelo gozo e camaradagem, detestando que os confrontem e abominando as correcções, apesar do treino ser dinâmico, exigir regra e não dispensar o progresso. Furam qualquer plano de aula e costumam faltar quando contamos com eles, palram em demasia e depressa atingem a exaustão. Como os cães aprendem com os donos (oxalá aprendessem sozinhos!), na ausência de uma liderança capaz, os deles não chegarão a parte alguma, podendo abandonar prematuramente as lições de que tanto precisavam e acabar num canil até que a euforia retorne aos seus donos. 
E o mais engraçado disto tudo, se alguma graça houver, é que são os animais dos nacionais-porreiristas os primeiros a dar mau nome aos cães em geral, porque se encontram mal-amanhados de obediência e pior ataviados de liderança, acabando enleados num sem número de disparates, tanto em casa como na rua, o que lamentavelmente condenará alguns ao abate. Que não se fiquem a rir os estrangeiros, porque o nacional-porreirismo é uma praga mundial, sendo apelidado noutras latitudes de “dolce farniente”, “jeitinho”, easy way”, etc., porque só o incómodo levantado pelo comodismo é capaz de levantar, sustentar e venerar encantadores de cães por toda a parte.

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