Dizem
alguns dos mentores dos actuais cães ditos de “trabalho”, que de trabalho têm
pouco e de circo muito, porquanto prometem demasiado e correspondem de menos,
que os seus cães nos espaços públicos deverão circular do seu lado direito e
usar apenas o lado contrário, o esquerdo, para quando se encontram a trabalhar (a
treinar ou a competir), pretendendo dessa maneira estabelecer para os animais
uma clara distinção entre o lado laboral e o modo lúdico, consoante os conduzem
à esquerda ou à direita, o que pretensamente lhes garantirá maior concentração
e acerto nos momentos de trabalho e a absoluta descontracção quando arredados
dele. A intenção é boa face ao bem-estar e salvaguarda dos que connosco se
cruzam, mas será suficiente? Não poderão os cães reagir sem os seus donos se
aperceberem? Não poderá alguém provocá-los involuntariamente por indução ou por
confusão com uma presa? Mesmo conduzido à direita, o animal não poderá ser
surpreendido e reagir instintivamente, agora que sabe que os seus dentes não
servem só para comer? Poderei eu garantir em absoluto que o meu cão quando
circula à direita jamais atacará alguém? Julgo que ninguém o poderá garantir e
a prová-lo estão os inúmeros e constantes incidentes com cães.
Hoje,
já no final da minha caminhada diária com o meu cão, ao virar de uma esquina,
uma jovem entre os 17 e 20 anos abalroou literalmente o Paco e abraçou-o forte
e demoradamente. Também surpreso, disse à jovem que não deveria ter agido
assim, que aquele comportamento poderia colocá-la em risco e que sempre deverá
esperar pela autorização do dono para mexer num cão, ainda mais quando não o conhece.
Sem dizer “ai nem ui”, o semblante da jovem entristeceu-se rapidamente e sem
razão aparente, uma vez que tudo lhe disse em tom cordial. Finalmente
contestou-me e repetiu: “Eu sou autista!”
Se porventura não tivesse um cão seguro e bem controlado, a sorte da jovem seria a mesma? E mesmo debaixo das mesmas condições, poderei garantir sempre o mesmo desfecho? Obviamente que não, porque posso evoluir distraído e o cão reagir instintivamente perante a surpresa| No meu escasso entendimento e à luz no exposto na lei, mais do que alterar-lhes o lado de condução para evitar o dolo de terceiros, os cães que já atacaram mangas e fatos de ataque, porque são potencialmente perigosos, mordendo a quem lhes for indicado, deverão sair à rua açaimados em abono do bem-estar geral e em particular dos deficientes, para que a exclamação “Eu sou autista!” não venha a ser sucedida por “Era uma vez uma autista!”
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