segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

A PRIMEIRA VIAGEM DE COMBOIO

Uma vez respeitado o bem-estar animal e salvaguardados os vínculos afectivos entre homens e cães, preciosos auxiliares para a comunicação interespécies, o adestramento em termos práticos nada mais é do que adaptar os cães a um conjunto de situações e serviços debaixo da preocupação com a sua sobrevivência. Hoje já é possível ir para muito lado na companhia dos cães, mesmo que alguns donos não conduzam ou não tenham carro, porque os cães têm cada vez mais acesso aos transportes públicos e raras são as pousadas e os hotéis que não os aceitam, pelo que podem ir connosco de férias, o que é óptimo atendendo aos preços dos hotéis caninos na época alta, por vezes mais dispendiosos que as férias da família ou que os custos das passagens para os seus destinos turísticos. Para podermos usufruir desta abertura dada aos cães, torna-se urgente adaptá-los aos diferentes meios de transporte ao seu dispor. Ontem os CPA’s Bohr e Gaia efectuaram a sua primeira viagem de comboio, percorrendo 70km no espaço de uma hora, de açaime posto e na companhia dos donos, que querendo ser solidários com eles se sentaram a seu lado no chão. Na foto acima vemos o binómio Paulo/Bohr a aguardar a chegada do comboio e na seguinte os dois binómios estreantes dentro de uma das composições.

Uma vez chegados ao seu destino, estes binómios juntaram-se a outros no local combinado e procederam ao aquecimento sobre pequenos obstáculos artificiais. Após isto, porque tínhamos cães carenciados da indispensável sociabilização entre iguais, enveredámos por um conjunto de manobras de sociabilização com uns cães soltos e outros atrelados. Na foto abaixo podemos ver um desses momentos, com uma condutora curvada e a contrastar com os demais, condenando assim o seu cão ao stresse e à desobediência. Ensinar cães passa também pela postura dos condutores que deve ser a indicada para o reforço das ordens.

Com a continuidade dos exercícios e com a concentração dos condutores, os binómios começaram a encontrar os alinhamentos necessários, evoluindo os cães descontraidamente conforme indica linguagem da sua cauda, apesar de se encontrem num espaço público pejado de outros cães.

Enquanto a classe se esforçava para atingir os seus objectos, não muito longe dali, a pequena Nicole passeava briosa como sempre a SRD Keila, cadelinha amorosa agora dispensada pela idade dos trabalhos escolares. 

Valendo-nos das escadas de uma passagem pedonal aérea, procedemos à aplicação prática dos comandos de “à frente” e “atrás”, conforme subíamos ou descíamos. Na foto seguinte podemos ver os cães a fazer acertadamente o “à frente”, o que demonstra inequivocamente e em primeiro lugar o seu actual nível de confiança. CPA Dobby, o cão que sobe na frente, assumiu naturalmente o comando como parte do seu quotidiano e sem grande esforço da sua dona e condutora, porque é naturalmente valente e disponível.

Na descida das escadas, onde o comando de “atrás” se torna imperativo em abono da segurança dos donos, podemos ver em simultâneo duas situações antagónicas, uma certa e outra errada, com Jorge a descer correctamente as escadas com a CPA negra Gaia e a Maria a deixar-se enganar pelo CPA Dobby, que de modo dissimulado conseguiu ludibriar os intentos da sua condutora colocando-se a seu lado, o que colocou em risco a descida desta.

Com o cão a descer como convém, vemos o nosso histórico Fila-guia, o Paulo Jorge, amigo que muito estimamos e que é membro fundador desta família apaixonada por cães. Desde que entrou na escola já conheceu muita gente e já assistiu à partida de alguns, ausência que primeiro se estranha e que depois cai no esquecimento pelo pouco interesse das suas prestações. Também aqui as palavras proféticas “muitos são chamados mas poucos os escolhidos” parecem ganhar algum sentido. Certo é que o Bohr cumpriu sem reticências a ordem dada!

A mesma sorte, se assim se puder dizer, não teve a Maria com o Dobby, ambos estreantes nestas andanças e com os papéis trocados, com o cão invariavelmente a comandar e a dona a reboque. Como se pode ver na foto abaixo, a esforçada Maria não conseguir manter o cão atrás, dificuldade que virá a ultrapassar quando se constituir numa verdadeira líder (nós estamos cá para a ajudar). E quando isso acontecer, ela descobrirá o muito que o Dobby tem para dar, cão que é sem sombra de dúvidas um dos seus sinceros e fiéis amigos.

Agora a querer vir a ser médica, a Nicole andou com a Keila pelas escadas como um pequeno duende vestido de vermelho, lembrando também a famosa Tinker Bell personagem da autoria de Matthew Barrie e apresentada na sua peça “Peter and Wendy”, em 1904 (Fada Sininho).

Agora direita como exigem as boas práticas do adestramento, muito embora atrasada em relação ao cão, vemos a Maria a mandar saltar o Bobby sobre a Nicole e o Simão. E isto para quê? Para reforço da sua liderança e como subsídio para a sociabilização com crianças, crianças que deverão ser sempre entendidas como parte do seu mundo e nunca como desafiantes, presas ou intrusas. Os miúdos adoraram ser convocados e o cão não os estranhou.

Depois de 4 km de marcha e de outros tantos a trabalhar, voltámos também a casa de comboio, donde estivemos ausentes quase 8 horas. Carente de descanso e nada dada a tremeliques, A CPA Gaia deitou-se n chão da carruagem perto da perto da porta, não se importando com a sua abertura ou com as pessoas que entravam e saiam.

Do transporte ferroviário dos nossos cães não resultaram quaisquer incidentes, contratempos ou incómodos – a sua adaptação foi perfeita! Ficou provado que uma simples viagem de comboio pode constituir-se numa excelente ocasião para a sociabilização dos cães. Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Clarinda/Keila; Jorge/Gaia; Maria/Dobby; Nicole/Keila; Paulo/Bohr e Pedro Rodrigues/Luna. A chuva não nos importou, o Benfica-Sporting também não. Os objectivos foram cumpridos e todos regressámos a casa felizes, ainda que ligeiramente cansados (nada que uma boa noite de sono não resolvesse).

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