Uma
vez respeitado o bem-estar animal e salvaguardados os vínculos afectivos entre
homens e cães, preciosos auxiliares para a comunicação interespécies, o
adestramento em termos práticos nada mais é do que adaptar os cães a um
conjunto de situações e serviços debaixo da preocupação com a sua
sobrevivência. Hoje já é possível ir para muito lado na companhia dos cães,
mesmo que alguns donos não conduzam ou não tenham carro, porque os cães têm
cada vez mais acesso aos transportes públicos e raras são as pousadas e os hotéis
que não os aceitam, pelo que podem ir connosco de férias, o que é óptimo
atendendo aos preços dos hotéis caninos na época alta, por vezes mais dispendiosos
que as férias da família ou que os custos das passagens para os seus destinos
turísticos. Para podermos usufruir desta abertura dada aos cães, torna-se
urgente adaptá-los aos diferentes meios de transporte ao seu dispor. Ontem os
CPA’s Bohr e Gaia efectuaram a sua primeira viagem de comboio, percorrendo 70km
no espaço de uma hora, de açaime posto e na companhia dos donos, que querendo
ser solidários com eles se sentaram a seu lado no chão. Na foto acima vemos o binómio
Paulo/Bohr a aguardar a chegada do comboio e na seguinte os dois binómios
estreantes dentro de uma das composições.
Uma
vez chegados ao seu destino, estes binómios juntaram-se a outros no local combinado
e procederam ao aquecimento sobre pequenos obstáculos artificiais. Após isto,
porque tínhamos cães carenciados da indispensável sociabilização entre iguais, enveredámos
por um conjunto de manobras de sociabilização com uns cães soltos e outros
atrelados. Na foto abaixo podemos ver um desses momentos, com uma condutora
curvada e a contrastar com os demais, condenando assim o seu cão ao stresse e à
desobediência. Ensinar cães passa também pela postura dos condutores que deve
ser a indicada para o reforço das ordens.
Com
a continuidade dos exercícios e com a concentração dos condutores, os binómios
começaram a encontrar os alinhamentos necessários, evoluindo os cães descontraidamente
conforme indica linguagem da sua cauda, apesar de se encontrem num espaço
público pejado de outros cães.
Enquanto a classe se esforçava para atingir os seus objectos, não muito longe dali, a pequena Nicole passeava briosa como sempre a SRD Keila, cadelinha amorosa agora dispensada pela idade dos trabalhos escolares.
Valendo-nos das escadas de uma
passagem pedonal aérea, procedemos à aplicação prática dos comandos de “à frente”
e “atrás”, conforme subíamos ou descíamos. Na foto seguinte podemos ver os cães
a fazer acertadamente o “à frente”, o que demonstra inequivocamente e em
primeiro lugar o seu actual nível de confiança. CPA Dobby, o cão que sobe na
frente, assumiu naturalmente o comando como parte do seu quotidiano e sem
grande esforço da sua dona e condutora, porque é naturalmente valente e
disponível.
Na
descida das escadas, onde o comando de “atrás” se torna imperativo em abono da
segurança dos donos, podemos ver em simultâneo duas situações antagónicas, uma
certa e outra errada, com Jorge a descer correctamente as escadas com a CPA
negra Gaia e a Maria a deixar-se enganar pelo CPA Dobby, que de modo dissimulado
conseguiu ludibriar os intentos da sua condutora colocando-se a seu lado, o que
colocou em risco a descida desta.
Com
o cão a descer como convém, vemos o nosso histórico Fila-guia, o Paulo Jorge,
amigo que muito estimamos e que é membro fundador desta família apaixonada por cães.
Desde que entrou na escola já conheceu muita gente e já assistiu à partida de
alguns, ausência que primeiro se estranha e que depois cai no esquecimento pelo
pouco interesse das suas prestações. Também aqui as palavras proféticas “muitos
são chamados mas poucos os escolhidos” parecem ganhar algum sentido. Certo é
que o Bohr cumpriu sem reticências a ordem dada!
A
mesma sorte, se assim se puder dizer, não teve a Maria com o Dobby, ambos
estreantes nestas andanças e com os papéis trocados, com o cão invariavelmente
a comandar e a dona a reboque. Como se pode ver na foto abaixo, a esforçada
Maria não conseguir manter o cão atrás, dificuldade que virá a ultrapassar
quando se constituir numa verdadeira líder (nós estamos cá para a ajudar). E
quando isso acontecer, ela descobrirá o muito que o Dobby tem para dar, cão que
é sem sombra de dúvidas um dos seus sinceros e fiéis amigos.
Agora
a querer vir a ser médica, a Nicole andou com a Keila pelas escadas como um
pequeno duende vestido de vermelho, lembrando também a famosa Tinker Bell personagem
da autoria de Matthew Barrie e apresentada na sua peça “Peter and Wendy”, em
1904 (Fada Sininho).
Agora
direita como exigem as boas práticas do adestramento, muito embora atrasada em
relação ao cão, vemos a Maria a mandar saltar o Bobby sobre a Nicole e o Simão.
E isto para quê? Para reforço da sua liderança e como subsídio para a
sociabilização com crianças, crianças que deverão ser sempre entendidas como
parte do seu mundo e nunca como desafiantes, presas ou intrusas. Os miúdos adoraram
ser convocados e o cão não os estranhou.
Depois
de 4 km de marcha e de outros tantos a trabalhar, voltámos também a casa de
comboio, donde estivemos ausentes quase 8 horas. Carente de descanso e nada dada
a tremeliques, A CPA Gaia deitou-se n chão da carruagem perto da perto da
porta, não se importando com a sua abertura ou com as pessoas que entravam e
saiam.
Do transporte ferroviário dos nossos cães não resultaram quaisquer incidentes, contratempos ou incómodos – a sua adaptação foi perfeita! Ficou provado que uma simples viagem de comboio pode constituir-se numa excelente ocasião para a sociabilização dos cães. Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Clarinda/Keila; Jorge/Gaia; Maria/Dobby; Nicole/Keila; Paulo/Bohr e Pedro Rodrigues/Luna. A chuva não nos importou, o Benfica-Sporting também não. Os objectivos foram cumpridos e todos regressámos a casa felizes, ainda que ligeiramente cansados (nada que uma boa noite de sono não resolvesse).
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