quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

UNIDOS NA VIDA E NA MORTE

 

À imitação dos antigos faraós do Egipto, há gente que quer ser sepultada com os seus cães e na Alemanha já existem alguns cemitérios próprios para esse fim (provavelmente já existirão outros noutros lugares) e, sem se saber ao certo com que base bíblica ou teológica, não falta por aí quem espere abraçar a eternidade com os seus cães ao lado, o que me parece fantasioso e demasiado, uma verdadeira apostasia como se dizia no tempo da caça às bruxas. Eu penso que os cães são criaturas deste mundo e para este mundo, que estão cá para nos ajudar e merecem ser amplamente compensados pelo seu esforço. Assim, não espero pela eternidade para tratá-los bem, faço-o diariamente, aqui e agora, porque eles nem sequer têm noção de futuro. Por causa de os tratar bem e alcançar com eles a cumplicidade, tenho-os como bons amigos e sinto-me seguro, protejo-os e eles protegem-me, interagimos e dividimos várias tarefas – somos inseparáveis. Por tudo isto já chorei a morte de alguns e tudo faria para que não perecessem, porque ao longo da sua curta existência nunca me pediram algo para além das minhas posses, antes aliviaram a minha carga e permaneceram sempre ao meu lado quando outros se foram embora.

Hoje recebi uma notícia que me deixou profundamente emocionado. Ao quarto dia de escavações no deslizamento de terras que o correu na passada sexta-feira, dia 16 de dezembro, na Fazenda Pai, na cidade malaia de Batang Kali, foi encontrada a 26ª vítima a 4 metros de profundidade, um homem abraçado a um cão, suspeitando-se que tivesse consigo outros dois cães, faltando encontrar um deles. De acordo com a polícia de Hulu Selangor, sabe-se que homem e cão deslizaram de um ponto para o outro durante o deslizamento, mas desconhece-se ainda a idade e a raça do homem agora descoberto. Nesta inequívoca manifestação de amor, penso que o homem em questão não queria que o cão morresse com ele, mas que o puxou para si na tentativa de o salvar, porque quase diariamente recebo notícias de gente que morre a tentar salvar os seus cães, o que fica a dever-se, na maioria dos casos, ao estreitamento recíproco dos laços afectivos entre donos e cães. Apesar de terem morrido em aflição, a sua imagem mortuária é um hino à unidade interespécies, muito embora a sua mensagem seja triste por força da morte. Identifico-me com o homem agora descoberto, porque também eu poderia morrer a tentar salvar o meu cão!

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