Saber escolher um cachorro
não é uma arte, um dom ou produto de uma ciência oculta, mas resultado dos
conhecimentos erudito e empírico que possibilitam observar, identificar e
tipificar correctamente os animais que nos são propostos. Convém dizer como
preâmbulo, considerando os aspectos morfológicos, psicológicos e cognitivos,
responsáveis directos pelos futuros bem-estar, interacção e desempenho dos
animais, que ainda está para vir uma ninhada que seja toda excelente e que o
contrário é infelizmente muito comum, apesar de não se poder avaliar uma cadela
exclusivamente pela sua primeira ninhada, cujos cachorros são por norma mais
leves e por isso mesmo mais mexidos, esquivos e atletas, factores que não
impedirão os criadores destes cães de ficar com algum deles graças ao apego
fornecido pela novidade, fazendo jus ao outro que dizia: “pai é quem cria” e “mãe
é mãe” (os cadilhos virão depois).
Observando o que dizem os
livros e de acordo com a nossa experiência, entre outros pormenores que variam
de raça para raça, somos obrigados a considerar e a procurar no indivíduo a
escolher os seguintes impulsos herdados: ao alimento, ao movimento, à defesa, à
luta, ao poder e ao conhecimento, cujo equilíbrio e potenciação deverão ser próprios
para a futura função do animal. A somar a isto, para quem sabe consultar o
estalão da raça e a partir dele estabelecer uma curva de crescimento padrão,
auxiliado também pelos dados fornecidos por raças morfologicamente congéneres
ou contribuintes para a raça em questão, importa calcular o peso desejável, o
aceitável e o reprovável para a idade do cachorro a escolher, porque o peso,
intrinsecamente ligado ao impulso ao alimento, é também um indicador seguro da
maior ou menor valentia dos cachorros a observar, já que os mais fracos e
medrosos nunca comeram em paz, somente quando lhes é consentido ou seja, depois
dos mais fortes se encontrarem saciados.
Como a transição de um
cachorro famélico para medroso é quase automática, a escolha de um exemplar
assim não estará isenta de sérios problemas. Mesmo desconsiderando que um cão que
mal usa os dentes para comer dificilmente virá a usá-los para outro fim, os
cães de fraco impulso ao alimento, ao comer pouco, desenvolver-se-ão menos do
que os demais, serão menos receptivos à recompensa, acusarão em demasia a
repreensão, terão menor autonomia e manifestarão uma vontade indómita de voltar
para casa, fugindo à observação e escondendo-se, detestando em simultâneo sentir
outros ou alguém na sua retaguarda, para já não se falar dos sustos que apanham
quando surpreendidos por vários ruídos. Estes animais que depenicam comida, ao
contrário dos saudáveis que só necessitam de controlo, obrigarão literalmente
os seus donos a “carregá-los ao colo” no treino, a incentivá-los efusivamente
por mais pequenas que sejam as suas vitórias, criando dessa forma uma base de
confiança e cumplicidade parcialmente capazes de encobrir as suas
impropriedades genéticas.
Milagres ninguém faz,
apenas uns quantos charlatões que exploram a crendice alheia, mas a
administração de comida fresca e a distribuição de ossos não lesivos parecem
fazê-lo, até porque um cachorro guardá-los-á com maior afinco do que uma tijela
cheia de ração seca, o que torna a comida confeccionada a mais indicada para
cachorros com esta problemática até serem adultos. Por outro lado e visando o
mesmo propósito, a experiência da cópula nos machos e o exercício da
maternidade nas fêmeas tendem a contrabalançar o descontrolo destes cães, a
devolver-lhes parte da sua estabilidade interna e a harmonizá-los q.b. com o
mundo ao seu redor.
Concretizando o que temos
dito, jamais adquiriríamos um cachorro rectangular de altura, ossatura e peso médios
que aos 2 meses e meio pesasse abaixo dos 7.5 kg. Assim, para
se evitar males maiores, um cachorro com 20 kg em adulto deverá
pesar aos 2 meses 5.45 kg
e 6.800 aos 2,5 meses; um de 25 kg deverá
pesar respectivamente 6.8 e 7.9; um de 30, 6.6 e 8.25; um de 35, 7 e 8.75; um de 40,
10 e 12 kg e um de 45, 11 e 13.750. Torna-se evidente que estes
valores estatísticos não poderão ser aplicados em raças pernaltas, serôdias ou
de curta curva de crescimento, muito menos em Retrievers do Labrador e nos
comuns rafeiros de cuja ascendência invariavelmente só Deus saberá.
Quando for escolher o seu
cachorro, por mais que se sinta tocado a fazê-lo, não escolha um dos mais leves
da ninhada, para que não se venha a transformar num pesado fardo para si É
evidente que o desenvolvimento dos cachorros, para além da sua carga genética,
irá depender do seu número, da abundância e qualidade do leite materno e do
desmame operado. Cientes disto, preferimos comprar cachorros a quem não faz
deles um negócio, gente que facilmente tira da barriga dos cães para meter ao
bolso. Cadelas subnutridas ou com dietas impróprias tendem a adelgaçar-se e a
condenar os seus cachorros à míngua. Muito mais haveria a dizer e a esclarecer sobre
um sem número de detalhes, pormenores que adiantaremos a quem nos solicitar de
acordo com a especificidade de cada caso.
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