sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

EU NUNCA CONSEGUI COMPREENDER PORQUÊ

A homenagem após morte de um cão-polícia premiado, levada a cabo pela unidade de cães-polícias de Norfolk e Suffolk, na Inglaterra, um CPA bicolor chamado Reiker, que morreu na passada Segunda-feira, 30 de Dezembro, com 10 anos de idade e que “faleceu pacificamente enquanto dormia”, trouxe-me à memória algo que nunca consegui compreender: porque razão ou razões vivem os cães policiais e militares tão pouco? Antes de nos debruçarmos sobre o tema, adiantamos que o cão-polícia em questão foi parar às mãos da sua treinadora às 8 semanas e que permaneceu com ela depois de ser dispensado de serviço. Com ela, a agente Emma Grosvenor, ganhou em 2014 o Prémio da Comunidade Mais Segura de Norfolk (NOSCA), servindo a polícia de 2011 até Fevereiro de 2019, 10 anos de vida e 8 de serviço – honra lhe seja feita!
Como criador civil de Cães de Pastor Alemão ao longo de décadas, sei que a esperança de vida média-baixa desta raça aponta para os 10 anos, a média-alta para os 12, a alta para os 14 e a extraordinária chega a atingir os 16 anos de idade, que raramente são ultrapassados. É evidente que estamos a tratar de cães de trabalho, seleccionados para esse efeito, de boa compleição física e de carácter sólido, altamente treinados e continuamente sujeitos a tarefas muito exigentes dos pontos de vista físico, psicológico e cognitivo. Mesmo assim, conforme temos dado notícia, é natural que os nossos cães atinjam em média os 14 anos de idade com alguma saúde.
Diante deste quadro, nunca compreendi porque se estafam tão cedo os nossos cães policiais e militares, quando são objecto de selecção, têm acompanhamento médico-veterinário constante, o seu descanso é respeitado, o seu treino é baseado na brincadeira e recompensa (reforço positivo) e nem sempre são sujeitos a esforços continuados. Há quem diga que tal acontece pela dureza do trabalho a que se encontram sujeitos, o que me custa a acreditar, uma vez que não são ou raramente são convidados para as pistas tácticas ainda existentes, ruínas transformadas em monumento aos gloriosos e afamados binómios de outrora.
É possível que a menor esperança de vida destes cães esteja ligada à sua fraca apresentação. Comerão eles uma ração própria para a sua idade e actividade ou comerão “rações de combate”, com um percentual de proteína abaixo dos 18% e um percentual de gordura inferior aos 10%? Como “quem está no convento é que sabe o que vai lá dentro”, eu não sei, mas de uma coisa posso testemunhar: que os cães militares, quando comparados com os seus pares nas mãos de civis, são manifestamente mais franzinos e leves, menos vistosos e de lastimável apresentação, dando a impressão que “são carne para canhão!” Será que a Fazenda Nacional não tem como pagar uma ração decente para estes esforçados militares? Com os juros da dívida que por aí vão, eu já não digo nada, que se salve pelo menos o Serviço Nacional de Saúde, antes que alguns utentes mais exaltados varram à chapada os poucos médicos que nele trabalham!

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