Há trinta, trinta e cinco
anos atrás, quando aconteceu entre nós o boom da comida industrializada para
animais de estimação e importava que todos comessem ração, as marcas hoje mais
conhecidas, ávidas de se implantar no mercado, ofereciam mundos e fundos a todos
que estivessem directamente relacionados com animais, desde adestradores a clínicos.
Lembro-me inclusive de dois veterinários na zona saloia que, sendo sócios, se
incompatibilizaram para causa da comida a recomendar aos seus pacientes, porque
um queria vender ração em bardo e outro insistia em recomendar a comida confeccionada
e fresca. Inevitavelmente acabaram por dissolver a sociedade. Como estava cá
quando tudo aconteceu, lembro-me dos chorudos patrocínios que as marcas de
ração dispensavam às equipas desportivas ou de exibição das diversas escolas
caninas. No meio disto tudo, houve quem se abotoasse, quem desse o “golpe do
baú” e quem apenas quisesse dar o melhor aos seus cães.
A esse tempo remonta também
o aparecimento de uma ração pioneira nacional, cujo nome não manifesto mas que
me é impossível esquecer, por ser de tão mal qualidade que obrigava os cães a constantes
diarreias laranjas. Graças aos milhares investidos e ao marketing, quase que
por milagre e de um momento para o outro, a esmagadora maioria dos cães passou
a comer ração seca industrial vinda da estranja, tornada o melhor repasto do
mundo pelo comodismo e ignorância dos ludibriados proprietários caninos. Ontem
como hoje, por deliberada omissão ou conveniência, o conteúdo dos sacos nem
sempre corresponde ao que se encontra impresso no seu exterior e os baratos subprodutos
usados na sua composição são disfarçados por nomes aceitáveis para esconder a mixórdia
da sua proveniência. Esta comida de recurso, a que alguns mais radicais chamam
de “comida de lixo”, a despeito do parecer dos cães, vulgarizou-se somente por
ser mais prática.
Estou à vontade para falar
do assunto porque ao longo de décadas criei e acompanhei o crescimento de
milhares de cães, a quem aconselhei, para além da ração, a administração diária
de um reforço de comida confeccionada (fresca). Como resultado disto, os cães assim
criados desenvolveram-se mais que os seus pares, alcançaram maior pujança, manifestaram-se
mais determinados, foram mais saudáveis e viveram por mais tempo (ainda hoje crio
cães assim). Há por aí, por este mundo afora, quem entenda fazer ração para
cães idêntica à dos porcos e quem jure que os cães são também omnívoros. Pouco
a pouco, aqui e ali, as autoridades fiscalizadoras do sector têm vindo a
denunciar certas marcas de rações como impróprias e lesivas para os cães,
elaborando para o efeito uma lista como já sucede nos Estados Unidos. Em face
disto, cada um deve estar atento e manter-se informado.
Sem comentários:
Enviar um comentário