terça-feira, 21 de janeiro de 2020

JÁ CÁ ESTAVA QUANDO ACONTECEU

Há trinta, trinta e cinco anos atrás, quando aconteceu entre nós o boom da comida industrializada para animais de estimação e importava que todos comessem ração, as marcas hoje mais conhecidas, ávidas de se implantar no mercado, ofereciam mundos e fundos a todos que estivessem directamente relacionados com animais, desde adestradores a clínicos. Lembro-me inclusive de dois veterinários na zona saloia que, sendo sócios, se incompatibilizaram para causa da comida a recomendar aos seus pacientes, porque um queria vender ração em bardo e outro insistia em recomendar a comida confeccionada e fresca. Inevitavelmente acabaram por dissolver a sociedade. Como estava cá quando tudo aconteceu, lembro-me dos chorudos patrocínios que as marcas de ração dispensavam às equipas desportivas ou de exibição das diversas escolas caninas. No meio disto tudo, houve quem se abotoasse, quem desse o “golpe do baú” e quem apenas quisesse dar o melhor aos seus cães.
A esse tempo remonta também o aparecimento de uma ração pioneira nacional, cujo nome não manifesto mas que me é impossível esquecer, por ser de tão mal qualidade que obrigava os cães a constantes diarreias laranjas. Graças aos milhares investidos e ao marketing, quase que por milagre e de um momento para o outro, a esmagadora maioria dos cães passou a comer ração seca industrial vinda da estranja, tornada o melhor repasto do mundo pelo comodismo e ignorância dos ludibriados proprietários caninos. Ontem como hoje, por deliberada omissão ou conveniência, o conteúdo dos sacos nem sempre corresponde ao que se encontra impresso no seu exterior e os baratos subprodutos usados na sua composição são disfarçados por nomes aceitáveis para esconder a mixórdia da sua proveniência. Esta comida de recurso, a que alguns mais radicais chamam de “comida de lixo”, a despeito do parecer dos cães, vulgarizou-se somente por ser mais prática.
Estou à vontade para falar do assunto porque ao longo de décadas criei e acompanhei o crescimento de milhares de cães, a quem aconselhei, para além da ração, a administração diária de um reforço de comida confeccionada (fresca). Como resultado disto, os cães assim criados desenvolveram-se mais que os seus pares, alcançaram maior pujança, manifestaram-se mais determinados, foram mais saudáveis e viveram por mais tempo (ainda hoje crio cães assim). Há por aí, por este mundo afora, quem entenda fazer ração para cães idêntica à dos porcos e quem jure que os cães são também omnívoros. Pouco a pouco, aqui e ali, as autoridades fiscalizadoras do sector têm vindo a denunciar certas marcas de rações como impróprias e lesivas para os cães, elaborando para o efeito uma lista como já sucede nos Estados Unidos. Em face disto, cada um deve estar atento e manter-se informado.

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