Uma fräulein, que o jornal Bild online designa apenas por Celine B.,
moça de 20 anos, proprietária de um cão e residente em Bönen, comuna burguesa
do Distrito de Unna, na Renânia do Norte- Vestefália/Alemanha, decidiu ligar
para o número de emergência no passado Domingo, supostamente porque dois homens
do Sul da Europa tentaram roubar o seu cão “Mailo”. Para além disso, lançou um
alerta no Facebook onde dizia: “Cuidado com os seus cães na área ao redor de
Bönen!" Chegou também a contactar a redacção do Bild para contar a sua
história. Porém, quando reunida com dois investigadores da polícia que
procediam à reconstituição do crime, a moça optou por ficar calada e não se
manifestar, admitindo posteriormente que havia inventado aquela tentativa de
roubo, segundo fez saber Thomas Röwekamp, porta-voz da polícia.
De modo intencional ou
não, esta menina andou a brincar com o fogo, diante dos actuais populismos,
exacerbados nacionalismos e subida ao poder de vários grupos de
extrema-direita, manifestamente neonazis e convictamente anti-imigrantes.
Estaria com esta “brincadeira” a reforçar as suas convicções, a procurar
prosélitos ou a apelar a uma nova Kristallnacht
contra os nativos do Sul da Europa? Historicamente, os povos da Europa
Meridional são vistos com algum desdém pelos alemães, como mão-de-obra-barata e
gente rudimentar, apesar de portugueses, espanhóis, italianos, gregos e até
turcos, terem ajudado de sobremaneira na reconstrução da Alemanha do
pós-guerra. A desconfiança alemã relativa aos povos do Sul da Europa tende a
reverter-se no bode expiatório da sua sociedade, como se tudo o que é mau
viesse dos imigrantes e os alemães fossem uma raça assaz virtuosa, pura e …
superior.
Também temos por cá
manifestações idênticas de racismo e xenofobia, exactamente pelas mesmas “razões”,
só que os nossos alvos são outros: os africanos, os asiáticos, os romenos e os
ciganos (os portugueses tendem a confundir os dois últimos, o que é uma
tremenda injustiça para os restantes romenos). Nem todos os trabalhadores do
Leste são vistos da mesma maneira, já que são poucos os que têm a aceitação
dispensada aos ucranianos, normalmente ortodoxos, trabalhadores esforçados, instruídos
e portadores de uma cultura que não desprezam. Aqui ninguém se preocupa com os
diferentes credos, muito embora os muçulmanos, por razões históricas e do
passado recente, sejam vistos com alguma desconfiança, desconfiança que é
agravada pela diferença de alguns costumes. Contudo, ninguém é preto ou monhé
se for rico ou ocupar um lugar de destaque na administração pública (julgo
desnecessário citar exemplos).
Se teimosamente continuarmos
com dificuldades em aceitar-nos uns aos outros tal qual somos e, se a religião,
a política e a economia não nos unem, que seja o amor pelos cães uma das pontes
possíveis para o mútuo entendimento, mútuo entendimento que é um dos principais objectivos deste
blogue, que a todos ouve, responde e que a ninguém vira a cara. Sim, os cães
são para nós um instrumento para a paz, jamais um pretexto fratricida! Gente
como a fräulein Celine B. não precisará de tratamento? É melhor que o faça
quanto antes para que ninguém venha a pagar pelas suas maluqueiras.
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