quarta-feira, 3 de abril de 2019

OS VELHOS PAPÕES DO SUL DA EUROPA

Uma fräulein, que o jornal Bild online designa apenas por Celine B., moça de 20 anos, proprietária de um cão e residente em Bönen, comuna burguesa do Distrito de Unna, na Renânia do Norte- Vestefália/Alemanha, decidiu ligar para o número de emergência no passado Domingo, supostamente porque dois homens do Sul da Europa tentaram roubar o seu cão “Mailo”. Para além disso, lançou um alerta no Facebook onde dizia: “Cuidado com os seus cães na área ao redor de Bönen!" Chegou também a contactar a redacção do Bild para contar a sua história. Porém, quando reunida com dois investigadores da polícia que procediam à reconstituição do crime, a moça optou por ficar calada e não se manifestar, admitindo posteriormente que havia inventado aquela tentativa de roubo, segundo fez saber Thomas Röwekamp, porta-voz da polícia.
De modo intencional ou não, esta menina andou a brincar com o fogo, diante dos actuais populismos, exacerbados nacionalismos e subida ao poder de vários grupos de extrema-direita, manifestamente neonazis e convictamente anti-imigrantes. Estaria com esta “brincadeira” a reforçar as suas convicções, a procurar prosélitos ou a apelar a uma nova Kristallnacht contra os nativos do Sul da Europa? Historicamente, os povos da Europa Meridional são vistos com algum desdém pelos alemães, como mão-de-obra-barata e gente rudimentar, apesar de portugueses, espanhóis, italianos, gregos e até turcos, terem ajudado de sobremaneira na reconstrução da Alemanha do pós-guerra. A desconfiança alemã relativa aos povos do Sul da Europa tende a reverter-se no bode expiatório da sua sociedade, como se tudo o que é mau viesse dos imigrantes e os alemães fossem uma raça assaz virtuosa, pura e … superior.
Também temos por cá manifestações idênticas de racismo e xenofobia, exactamente pelas mesmas “razões”, só que os nossos alvos são outros: os africanos, os asiáticos, os romenos e os ciganos (os portugueses tendem a confundir os dois últimos, o que é uma tremenda injustiça para os restantes romenos). Nem todos os trabalhadores do Leste são vistos da mesma maneira, já que são poucos os que têm a aceitação dispensada aos ucranianos, normalmente ortodoxos, trabalhadores esforçados, instruídos e portadores de uma cultura que não desprezam. Aqui ninguém se preocupa com os diferentes credos, muito embora os muçulmanos, por razões históricas e do passado recente, sejam vistos com alguma desconfiança, desconfiança que é agravada pela diferença de alguns costumes. Contudo, ninguém é preto ou monhé se for rico ou ocupar um lugar de destaque na administração pública (julgo desnecessário citar exemplos).
Se teimosamente continuarmos com dificuldades em aceitar-nos uns aos outros tal qual somos e, se a religião, a política e a economia não nos unem, que seja o amor pelos cães uma das pontes possíveis para o mútuo entendimento, mútuo entendimento que é um dos principais objectivos deste blogue, que a todos ouve, responde e que a ninguém vira a cara. Sim, os cães são para nós um instrumento para a paz, jamais um pretexto fratricida! Gente como a fräulein Celine B. não precisará de tratamento? É melhor que o faça quanto antes para que ninguém venha a pagar pelas suas maluqueiras.

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