Treinar cães entre civis
em qualquer parte do mundo não é uma tarefa fácil e em Portugal muito menos,
considerando o carácter passional de muitos dos nossos compatriotas, o individualismo
inveterado que patenteiam e que obsta ao necessário espírito de equipa,
dificuldades infelizmente hoje reforçadas pela contestação gratuita a qualquer
tipo de autoridade. A vulnerabilidade que acompanha grande número de
proprietários caninos, para quem desistir é tão natural como trocar de camisa, quando
somada à sua falta de pontualidade, escassa carga horária, ausência de ambição,
desprezo pela recapitulação e outros (muitos) interesses, acaba por condicionar
negativamente todo e qualquer programa de adestramento previamente delineado,
por atentar contra o cronograma de actividades e obrigar à constante mudança de
planos de aula. Este caos, que acabará por levar ao desaproveitamento de avultado
número de cães, atinge outras áreas e actividades na nossa sociedade, ao ponto
de transformar um esforçado ucraniano com 30 anos de Portugal num refinado preguiçoso
e um austero pregador teutónico num borracho incorrigível.
Transitando
para o que nos toca, importa dizer que os nossos trabalhos de Sábado
iniciaram-se com percursos urbanos pré-determinados, visando o melhor controlo
dos condutores sobre os cães e um desempenho binomial confortável e descontraído,
percursos desenvolvidos em forma de gincana entre árvores e mesas de jardim.
O andamento natural
solicitado aos cães foi o passo, para que melhor atentassem para os donos e
pudessem acompanhá-los em qualquer velocidade ou andamento nos mais variados
percursos. Na foto abaixo podemos ver o desempenho confortável e seguro do
binómio Paulo/Bohr.
Logo no início dos
trabalhos fomos visitados pela Joana Moura, ex-aluna que entre nós cresceu e
que vai terminar agora o Curso de Medicina. “Como quem sabe nunca esquece” e
importava alentar os condutores presentes, pedimos à Joana que conduzisse por
momentos o CPA Bohr, pedido a que acedeu prontamente e de modo descontraído.
Entre exercícios e sempre
a pensar na melhor preparação do CPA Bohr, o Adestrador aproveitava os
obstáculos mais intrincados para esse efeito, apostado em melhorar a resposta do
Pastor Alemão e aumentar a sua capacidade de resolução.
Quando menos esperávamos,
fomos surpreendidos por uma tuna académica constituída unicamente por mulheres
que, com a irreverência e arrojo próprios da idade, cantavam e encantavam todos
os que por ela passavam. Pedimos-lhes que nos deixassem colocar os cães a seu
lado, para melhor acostumá-los aos diferentes ruídos e sons, à música, aos
músicos e aos dançarinos de ocasião. O Adestrador deu o exemplo e tudo parecia correr
conforme o esperado. Só que a Doberman Lupa não se agradou muito da tocadora do
tambor e do seu instrumento, entendendo-os respectivamente como presa e corneta
de caça.
Perante a excitação das
manas Doberman, optámos por afastá-las um pouco daquela tuna, tendo o cuidado
de acalmá-las, conforme atesta a foto seguinte onde vemos a Svetlana a serenar
a Russa.
Ainda que relutante a
princípio, o Bohr acabou por aproveitar aquele concerto de jardim, indiciando
estar a tomar conta das ofertas. O Paulo também apreciou a apresentação e a sua
alegria encontra-se estampada na foto que se segue.
Aproveitando as novidades
na transição dos ecossistemas, o Adestrador ia descobrindo novos obstáculos
para o CPA Bohr. Na foto abaixo podemos ver o cão a vencer um obstáculo tipo
alvo elevado a 90 cm de altura.
Com o José Maria e o João
como testemunhas, o Bohr foi ainda convidado para vencer um obstáculo estreito
e sem balizas, executando um salto de precisão sobre uma caixa metálica cuja
utilidade continuamos a desconhecer.
Em substituição da “Mesa
Alemã” e da “Passerelle”, valemo-nos de dois bancos de jardim para convidar os
cães a deitar-se correctamente, primeiro na base mais larga e depois na mais
estreita. Na foto seguinte vemos a prestação do José Maria e da Mel, onde é visível
o indesejável encaracolar da cadela, invariavelmente sujeita a poucas sessões
de treino.
Em baixo podemos ver a
execução correcta de uma das Doberman, obra do João que na ocasião se
prontificou a executá-la. A posição de esfinge da cachorra não deixa dúvidas a ninguém
e a alegria do seu condutor ocasional muito menos.
Perante as dificuldades de
acerto do José Maria e da excelência da CPA Mel, o Adestrador veio em socorro
do binómio e exemplificou como executar correctamente a tarefa, realçando o
particular e importância das ajudas a aplicar.
O Afonso, por desígnio do
pai, acabou por executar a mesma tarefa com o CPA Bohr, trabalho que executou
de modo deficitário, uma vez que o CPA aparece de cauda recolhida, quiçá por se
sentir incomodado e estranhar aquela liderança.
A Svetlana conseguiu
deitar correctamente a Doberman Russa sem maiores dificuldades. Contudo, o
desaprumo de joelhos desta cachorra russa é por demais notório, uma vez que não
consegue encostar totalmente os anteriores no solo, menos valia morfológica que
não impede grandemente o seu desempenho laboral.
Como o trabalho da manhã
deu frutos, o José Maria conseguiu deitar correctamente a CPA Mel no “Espelho
de Solo”. Se repararmos com atenção no pé esquerdo deste condutor, vemos que se
encontra a pisar levemente a trela, o que indicia dificuldades no “quieto”
quando a cadela se encontra deitada, dificuldade que obviamente terá breve
duração.
A foto seguinte, típica do
Paulo Jorge e digna de antologia, com o seu quê de deselegante e caricato,
parece sugerir que o João se está a borrar para a cadela ou a ameaçar dar-lhe
com o traseiro caso não se deite, quando na verdade se está a levantar, depois
de se ter dobrado para ajudar a cachorra no exercício. No entanto,
desconhece-se o porquê da cara de espanto do José Maria.
José Maria que
experimentou com a CPA Mel, pela primeira vez, a subida e descida de uma
escarpa pedregosa, onde foi por demais evidente a inexistência e socorro do
comando de “atrás”, uma vez que a cadela avança na frente do seu condutor,
provocando-lhe insegurança, desequilíbrio e desconforto.
Quando as balanças acusam
a sobrecarga e um homem ultrapassa os 100 kg (fala a experiência), a melhor
maneira de descer uma ravina “é de quatro”, isto se não quisermos descer mais
depressa que o esperado. Aqui a Doberman também não foi simpática, porque ao
invés de obedecer aos comandos do dono, que lhe solicitava quer a imobilização
quer o “atrás”, antes quis embalar na descida.
No meio de tanta azáfama
fomos surpreendidos por dois arco-íris, que engalanaram a cidade e que nos
acompanharam até ao final dos trabalhos, dando-lhes um carácter simultaneamente
intemporal e mítico, apesar de serem simples fenómenos da refracção da luz.
Este Sábado bem podia
chamar-se de “O Sábado do José Maria”, porque o homem “foi a todas” e nem
hesitou em ser cobaia, mostrando uma prontidão louvável mercê das suas
disponibilidades física e anímica. Na foto abaixo vemo-lo prontíssimo para
arrancar.
As Doberman gostaram
deveras daquela presa, porque se mostrava bem, provocava quanto baste e fugia
como uma desalmada. Também, se assim não fosse, o José Maria teria levado para
casa alguns mimos inesperados.
A dispensa ou inexistência
de protecções levou o homem a defender-se como pôde, defendendo vigorosamente o
seu refúgio da invasão das cadelas, que apesar da resistência oferecida e dos
golpes desferidos não desistiram dos seus intentos.
Participaram nos trabalhos
os seguintes binómios: Afonso/Bohr; Afonso/Lupa; Joana/Bohr; João/Lupa; José
Maria/Mel; Paulo/Bohr e Svetlana/Russa. Os donos do Bjorn aproveitaram o
fim-de-semana para ir à Ilha da Madeira, o dono do Soneca foi obrigado a
trabalhar no Sábado e a Carla não deu sinal de vida. No próximo Sábado descobriremos
novas aventuras lado-a-lado com os nossos cães, provavelmente sem a companhia
do Arco-da-Velha.
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