terça-feira, 2 de abril de 2019

COMPANHEIROS DO ARCO-DA-VELHA

Treinar cães entre civis em qualquer parte do mundo não é uma tarefa fácil e em Portugal muito menos, considerando o carácter passional de muitos dos nossos compatriotas, o individualismo inveterado que patenteiam e que obsta ao necessário espírito de equipa, dificuldades infelizmente hoje reforçadas pela contestação gratuita a qualquer tipo de autoridade. A vulnerabilidade que acompanha grande número de proprietários caninos, para quem desistir é tão natural como trocar de camisa, quando somada à sua falta de pontualidade, escassa carga horária, ausência de ambição, desprezo pela recapitulação e outros (muitos) interesses, acaba por condicionar negativamente todo e qualquer programa de adestramento previamente delineado, por atentar contra o cronograma de actividades e obrigar à constante mudança de planos de aula. Este caos, que acabará por levar ao desaproveitamento de avultado número de cães, atinge outras áreas e actividades na nossa sociedade, ao ponto de transformar um esforçado ucraniano com 30 anos de Portugal num refinado preguiçoso e um austero pregador teutónico num borracho incorrigível.
Transitando para o que nos toca, importa dizer que os nossos trabalhos de Sábado iniciaram-se com percursos urbanos pré-determinados, visando o melhor controlo dos condutores sobre os cães e um desempenho binomial confortável e descontraído, percursos desenvolvidos em forma de gincana entre árvores e mesas de jardim.
O andamento natural solicitado aos cães foi o passo, para que melhor atentassem para os donos e pudessem acompanhá-los em qualquer velocidade ou andamento nos mais variados percursos. Na foto abaixo podemos ver o desempenho confortável e seguro do binómio Paulo/Bohr.
Logo no início dos trabalhos fomos visitados pela Joana Moura, ex-aluna que entre nós cresceu e que vai terminar agora o Curso de Medicina. “Como quem sabe nunca esquece” e importava alentar os condutores presentes, pedimos à Joana que conduzisse por momentos o CPA Bohr, pedido a que acedeu prontamente e de modo descontraído.
Entre exercícios e sempre a pensar na melhor preparação do CPA Bohr, o Adestrador aproveitava os obstáculos mais intrincados para esse efeito, apostado em melhorar a resposta do Pastor Alemão e aumentar a sua capacidade de resolução.
Quando menos esperávamos, fomos surpreendidos por uma tuna académica constituída unicamente por mulheres que, com a irreverência e arrojo próprios da idade, cantavam e encantavam todos os que por ela passavam. Pedimos-lhes que nos deixassem colocar os cães a seu lado, para melhor  acostumá-los aos diferentes ruídos e sons, à música, aos músicos e aos dançarinos de ocasião. O Adestrador deu o exemplo e tudo parecia correr conforme o esperado. Só que a Doberman Lupa não se agradou muito da tocadora do tambor e do seu instrumento, entendendo-os respectivamente como presa e corneta de caça.
Perante a excitação das manas Doberman, optámos por afastá-las um pouco daquela tuna, tendo o cuidado de acalmá-las, conforme atesta a foto seguinte onde vemos a Svetlana a serenar a Russa.
Ainda que relutante a princípio, o Bohr acabou por aproveitar aquele concerto de jardim, indiciando estar a tomar conta das ofertas. O Paulo também apreciou a apresentação e a sua alegria encontra-se estampada na foto que se segue.
Aproveitando as novidades na transição dos ecossistemas, o Adestrador ia descobrindo novos obstáculos para o CPA Bohr. Na foto abaixo podemos ver o cão a vencer um obstáculo tipo alvo elevado a 90 cm de altura.
Com o José Maria e o João como testemunhas, o Bohr foi ainda convidado para vencer um obstáculo estreito e sem balizas, executando um salto de precisão sobre uma caixa metálica cuja utilidade continuamos a desconhecer.
Em substituição da “Mesa Alemã” e da “Passerelle”, valemo-nos de dois bancos de jardim para convidar os cães a deitar-se correctamente, primeiro na base mais larga e depois na mais estreita. Na foto seguinte vemos a prestação do José Maria e da Mel, onde é visível o indesejável encaracolar da cadela, invariavelmente sujeita a poucas sessões de treino.
Em baixo podemos ver a execução correcta de uma das Doberman, obra do João que na ocasião se prontificou a executá-la. A posição de esfinge da cachorra não deixa dúvidas a ninguém e a alegria do seu condutor ocasional muito menos.
Perante as dificuldades de acerto do José Maria e da excelência da CPA Mel, o Adestrador veio em socorro do binómio e exemplificou como executar correctamente a tarefa, realçando o particular e importância das ajudas a aplicar.
O Afonso, por desígnio do pai, acabou por executar a mesma tarefa com o CPA Bohr, trabalho que executou de modo deficitário, uma vez que o CPA aparece de cauda recolhida, quiçá por se sentir incomodado e estranhar aquela liderança.
A Svetlana conseguiu deitar correctamente a Doberman Russa sem maiores dificuldades. Contudo, o desaprumo de joelhos desta cachorra russa é por demais notório, uma vez que não consegue encostar totalmente os anteriores no solo, menos valia morfológica que não impede grandemente o seu desempenho laboral.
Como o trabalho da manhã deu frutos, o José Maria conseguiu deitar correctamente a CPA Mel no “Espelho de Solo”. Se repararmos com atenção no pé esquerdo deste condutor, vemos que se encontra a pisar levemente a trela, o que indicia dificuldades no “quieto” quando a cadela se encontra deitada, dificuldade que obviamente terá breve duração.
A foto seguinte, típica do Paulo Jorge e digna de antologia, com o seu quê de deselegante e caricato, parece sugerir que o João se está a borrar para a cadela ou a ameaçar dar-lhe com o traseiro caso não se deite, quando na verdade se está a levantar, depois de se ter dobrado para ajudar a cachorra no exercício. No entanto, desconhece-se o porquê da cara de espanto do José Maria.
José Maria que experimentou com a CPA Mel, pela primeira vez, a subida e descida de uma escarpa pedregosa, onde foi por demais evidente a inexistência e socorro do comando de “atrás”, uma vez que a cadela avança na frente do seu condutor, provocando-lhe insegurança, desequilíbrio e desconforto.
Quando as balanças acusam a sobrecarga e um homem ultrapassa os 100 kg (fala a experiência), a melhor maneira de descer uma ravina “é de quatro”, isto se não quisermos descer mais depressa que o esperado. Aqui a Doberman também não foi simpática, porque ao invés de obedecer aos comandos do dono, que lhe solicitava quer a imobilização quer o “atrás”, antes quis embalar na descida.
No meio de tanta azáfama fomos surpreendidos por dois arco-íris, que engalanaram a cidade e que nos acompanharam até ao final dos trabalhos, dando-lhes um carácter simultaneamente intemporal e mítico, apesar de serem simples fenómenos da refracção da luz.
Este Sábado bem podia chamar-se de “O Sábado do José Maria”, porque o homem “foi a todas” e nem hesitou em ser cobaia, mostrando uma prontidão louvável mercê das suas disponibilidades física e anímica. Na foto abaixo vemo-lo prontíssimo para arrancar.
As Doberman gostaram deveras daquela presa, porque se mostrava bem, provocava quanto baste e fugia como uma desalmada. Também, se assim não fosse, o José Maria teria levado para casa alguns mimos inesperados.
A dispensa ou inexistência de protecções levou o homem a defender-se como pôde, defendendo vigorosamente o seu refúgio da invasão das cadelas, que apesar da resistência oferecida e dos golpes desferidos não desistiram dos seus intentos.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Afonso/Bohr; Afonso/Lupa; Joana/Bohr; João/Lupa; José Maria/Mel; Paulo/Bohr e Svetlana/Russa. Os donos do Bjorn aproveitaram o fim-de-semana para ir à Ilha da Madeira, o dono do Soneca foi obrigado a trabalhar no Sábado e a Carla não deu sinal de vida. No próximo Sábado descobriremos novas aventuras lado-a-lado com os nossos cães, provavelmente sem a companhia do Arco-da-Velha.

Sem comentários:

Enviar um comentário