sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O SEGREDO DOS OBSTÁCULOS RESIDE NA SUA ENTRADA E SAÍDA

Se a sorte de um obstáculo joga-se na sua entrada e garante-se na saída, o que realça a importância dos momentos anterior e posterior à transposição propriamente dita, isto se quisermos que os cães lá voltem e não corram risco de lesão, já que as más experiências induzem-nos à resistência, porque resultam do improviso e são tiradas de esforço, então seremos obrigados à acuidade técnica, considerando a emissão das ordens, o posicionamento do condutor, a distância do obstáculo, a progressão do animal, a velocidade ou andamento requerido, a marcação do salto, a sua linha de transposição e o impacto ao solo na saída, nunca esquecendo a recompensa que é devida ao animal. Como nunca nos acostumámos a dar milho aos pombos, abanando sacos de plástico ou cartuchos ou a incentivar gatos com novelos de lã, no intuito de melhor capacitar homens e cães, perante a novidade dos obstáculos, sempre aconselhamos a prévia capacitação à trela, dispensando-a, quando tornada desnecessária, pela plena resolução binomial das transposições pretendidas. A foto da transposição abaixo, mal executada tecnicamente pelo condutor(a menos que espere um salto e ida e volta), que se encontra para trás da linha de salto, é um atentado contra a integridade do cão, que não o vendo, salta enviusado à sua procura (pendurado à direita), enquanto emissor das ordens, o que tornará anómalo o impacto do animal ao solo, para além de evidenciar a velha política de “meia-bola e força”, independentemente do cão já conhecer o obstáculo ou não (assim se arranjam lesões e a persistência no erro pode induzir, por desgaste, à displasia de origem ambiental).
No que toca à emissão das ordens, o cão deverá partir debaixo do comando de “junto”, formar o salto ao ouvir o “em frente”, transpor o obstáculo pelo “up” e reagrupar à saída pelo comando de “junto”. Como se depreende, até à execução do salto, o posicionamento do condutor é ao lado do cão. Nas transposições de obstáculos mais largos ou compostos, o comando de “up” deve ser prolongado e nos de transposição prolongada deverá ser repetido amiúde, para alertar e incentivar o animal. No momento da execução do salto, o condutor deve adiantar-te em relação ao cão, para não o obrigar ao excessivo travamento e operar naturalmente a sua recepção pelo “junto”, porque ao atrasar-se, três coisas podem suceder: o salto transversal do animal, o seu adiantamento ou fuga, sendo que a primeira é caricata e revela imperfeição e as duas últimas comprometem a obediência. Na foto abaixo, na transposição de um top simples (porque os há com manga de ejecção, sendo por isso compostos), onde são visíveis as dificuldades do condutor, que deveria ter-se mantido um degrau sempre à frente do cão, servindo-lhe de estímulo e orientação, já que a execução teve início no primeiro degrau ascendente e importa manter a velocidade de execução. Nestas circunstâncias, atendendo à altura do obstáculo e à posição do condutor, qualquer cão manhoso aproveitaria a ocasião para voltar para trás ou para se esgueirar na frente.
Sobre a progressão do animal debaixo de ordem já falámos. A distância mínima entre a partida do cão e o obstáculo deverá ser de 3m, para permitir a transição segura dos seus andamentos naturais (do passo até ao galope). A velocidade a imprimir-lhe dependerá da natureza dos obstáculos, consoante a sua altura e extensão. Nos obstáculos extensores com altura inferior a 80cm, o embalo é necessário e o galope indispensável, o mesmo sucedendo com os verticais até 1m de altura. As comuns paliçadas irão requerer o mesmo andamento e os túneis ao nível do dolo também. Ainda que o galope seja o andamento preferencial para a execução dos obstáculos, a combinação entre eles e a presença de específicos podem obrigar à desaceleração. A sequência vertical-rastejador e a pneu-túnel disso são exemplo. Na foto que se segue, é possível ver um pastor alemão a executar um podium ascendente e descendente de difícil execução, devido à estreiteza dos pilares, pouca distância entre eles e à reduzida área de apoio. Quando a distância entre os pilares é inferior a 1m e as zonas de contacto não excedem os 20cm, como é o caso, a transição deverá ser feita em marcha (trote), já que a galope seria impossível. Estamos em crer que o condutor militar captado na objectiva, não se encontra atrasado para melhor segurar o cão ou o impedir a sua aceleração, uma vez que vai a correr, o que seria contraproducente. O mais natural é ter-se atrasado aquando da marcação do salto pelo cão, correndo agora contra o atraso.
A marcação do salto encontra-se ligada à altura do obstáculo, para garantir uma transposição tangível à curvatura natural de salto empreendida pelos cães e dispensá-los da transição de andamentos. Os mais angulados saltam naturalmente a 21º do obstáculo e os rectos de angulação a 45º. Nas pistas tácticas os obstáculos encontram-se marcados para o segundo caso, considerando a variedade dos cães que nelas se exercitam e a menor propensão atlética dos cães menos angulados ou sem angulação, também para que os mais angulados não produzam saltos inusitados, capazes de comprometê-los à saída, particularmente quando os obstáculos seguintes se encontram desalinhados em relação ao transposto. Se um obstáculo tem 1m de altura, a marcação do salto deve acontecer 1m antes da sua linha de transposição, o que garantirá na saída do obstáculo igual distância. Quando os obstáculos têm escoras laterais, assentes sobre bases perpendiculares à linha de salto, o comprimento das bases indicará qual o sítio exacto para a marcação do salto, porque deve ser igual à altura do obstáculo. E quando isso acontece, tanto na condução à trela como em liberdade, a angulação das escoras indicará o salto a 45º. Como os obstáculos tácticos são por norma fixos, há quem destaque a marcação do salto pela indicação no solo, marcando-a pela alteração de piso, como é o caso adiantado na foto seguinte, onde a marcação é feita em cimento e o cão salta a 45º. Pena é que o condutor tenha ficado para trás, muito embora o obstáculo não seja de extrema dificuldade. É possível que o condutor tenha agido assim para melhor se ver o cão, garantindo desse modo um salto para a fotografia.
Se a correcta entrada aos obstáculos possibilita a sua transposição segura, será a saída equilibrada dos cães que garantirá a satisfação plena dos obstáculos. Quando os impactos ao solo são demasiado violentos, descentrados e desequilibrados, os cães resistem justificadamente à sua transposição, pela insegurança, transtorno e dolo, o que implica em dizer que deverão ser ajudados na recepção ao solo, ajuda normalmente efectuada pelo adiantamento dos seus condutores. Nos muros, obstáculos entendidos por outros como paliçadas, nos de altura superior a 1.8m, é obrigatório colocar-lhes na saída uma mesa, para que os cães nunca saltem para o solo de uma altura igual ou superior a 1.5m, o que a acontecer, colocaria em risco a integridade física dos atletas caninos. Na foto abaixo vemos um cão a saltar um muro de sensivelmente 2.5m e podemos observar o seu bloco de saída (corpo posterior do obstáculo), uma rampa constituída em “escorrega”, suavizada por algumas traves ligeiras e transversais, que impede o cão de sair para a frente pelo travamento a que obriga, certamente responsável pelo maior esforço sobre as mãos do animal, apesar do travamento ali ser o primeiro dos objectivos. Num obstáculo idêntico, sempre preferidos colocar um tampo perpendicular à linha de transposição, com 1.2 de altura e com o mesmo comprimento, sendo rematado com uma rampa a 45º, para que os cães distribuam, mais rapidamente, o seu peso corporal sobre a totalidade dos membros, não sobrecarregando os anteriores e mantendo a velocidade funcional.
Como o assunto é extenso, iremos retomá-lo quando se justificar. O que importa guardar é que a correcta transposição de um obstáculo obriga a uma entrada certeira e a uma saída segura.

Sem comentários:

Enviar um comentário