Se a
sorte de um obstáculo joga-se na sua entrada e garante-se na saída, o que
realça a importância dos momentos anterior e posterior à transposição
propriamente dita, isto se quisermos que os cães lá voltem e não corram risco
de lesão, já que as más experiências induzem-nos à resistência, porque resultam
do improviso e são tiradas de esforço, então seremos obrigados à acuidade
técnica, considerando a emissão das ordens, o posicionamento do condutor, a distância do obstáculo, a progressão do animal, a velocidade ou andamento requerido, a marcação do salto, a sua linha de
transposição e o impacto ao solo na
saída, nunca esquecendo a recompensa que é devida ao animal. Como nunca nos
acostumámos a dar milho aos pombos, abanando sacos de plástico ou cartuchos ou
a incentivar gatos com novelos de lã, no intuito de melhor capacitar homens e
cães, perante a novidade dos obstáculos, sempre aconselhamos a prévia
capacitação à trela, dispensando-a, quando tornada desnecessária, pela plena
resolução binomial das transposições pretendidas. A foto da transposição
abaixo, mal executada tecnicamente pelo condutor(a menos que espere um salto e
ida e volta), que se encontra para trás da linha de salto, é um atentado contra
a integridade do cão, que não o vendo, salta enviusado à sua procura (pendurado
à direita), enquanto emissor das ordens, o que tornará anómalo o impacto do
animal ao solo, para além de evidenciar a velha política de “meia-bola e
força”, independentemente do cão já conhecer o obstáculo ou não (assim se
arranjam lesões e a persistência no erro pode induzir, por desgaste, à
displasia de origem ambiental).
No que
toca à emissão das ordens, o cão deverá partir debaixo do comando de “junto”,
formar o salto ao ouvir o “em frente”, transpor o obstáculo pelo “up” e
reagrupar à saída pelo comando de “junto”. Como se depreende, até à execução do
salto, o posicionamento do condutor é ao lado do cão. Nas transposições de
obstáculos mais largos ou compostos, o comando de “up” deve ser prolongado e
nos de transposição prolongada deverá ser repetido amiúde, para alertar e
incentivar o animal. No momento da execução do salto, o condutor deve adiantar-te
em relação ao cão, para não o obrigar ao excessivo travamento e operar naturalmente
a sua recepção pelo “junto”, porque ao atrasar-se, três coisas podem suceder: o
salto transversal do animal, o seu adiantamento ou fuga, sendo que a primeira é
caricata e revela imperfeição e as duas últimas comprometem a obediência. Na
foto abaixo, na transposição de um top simples (porque os há com manga de
ejecção, sendo por isso compostos), onde são visíveis as dificuldades do
condutor, que deveria ter-se mantido um degrau sempre à frente do cão,
servindo-lhe de estímulo e orientação, já que a execução teve início no
primeiro degrau ascendente e importa manter a velocidade de execução. Nestas
circunstâncias, atendendo à altura do obstáculo e à posição do condutor,
qualquer cão manhoso aproveitaria a ocasião para voltar para trás ou para se
esgueirar na frente.
Sobre a
progressão do animal debaixo de ordem já falámos. A distância mínima entre a
partida do cão e o obstáculo deverá ser de 3m, para permitir a transição segura
dos seus andamentos naturais (do passo até ao galope). A velocidade a
imprimir-lhe dependerá da natureza dos obstáculos, consoante a sua altura e
extensão. Nos obstáculos extensores com altura inferior a 80cm, o embalo é necessário
e o galope indispensável, o mesmo sucedendo com os verticais até 1m de altura.
As comuns paliçadas irão requerer o mesmo andamento e os túneis ao nível do
dolo também. Ainda que o galope seja o andamento preferencial para a execução
dos obstáculos, a combinação entre eles e a presença de específicos podem
obrigar à desaceleração. A sequência vertical-rastejador e a pneu-túnel disso
são exemplo. Na foto que se segue, é possível ver um pastor alemão a executar
um podium ascendente e descendente de difícil execução, devido à estreiteza dos
pilares, pouca distância entre eles e à reduzida área de apoio. Quando a
distância entre os pilares é inferior a 1m e as zonas de contacto não excedem
os 20cm, como é o caso, a transição deverá ser feita em marcha (trote), já que
a galope seria impossível. Estamos em crer que o condutor militar captado na
objectiva, não se encontra atrasado para melhor segurar o cão ou o impedir a
sua aceleração, uma vez que vai a correr, o que seria contraproducente. O mais
natural é ter-se atrasado aquando da marcação do salto pelo cão, correndo agora
contra o atraso.
A marcação do salto encontra-se ligada à altura do obstáculo, para
garantir uma transposição tangível à curvatura natural de salto empreendida
pelos cães e dispensá-los da transição de andamentos. Os mais angulados saltam
naturalmente a 21º do obstáculo e os rectos de angulação a 45º. Nas pistas
tácticas os obstáculos encontram-se marcados para o segundo caso, considerando
a variedade dos cães que nelas se exercitam e a menor propensão atlética dos
cães menos angulados ou sem angulação, também para que os mais angulados não
produzam saltos inusitados, capazes de comprometê-los à saída, particularmente
quando os obstáculos seguintes se encontram desalinhados em relação ao
transposto. Se um obstáculo tem 1m de altura, a marcação do salto deve
acontecer 1m antes da sua linha de transposição, o que garantirá na saída do
obstáculo igual distância. Quando os obstáculos têm escoras laterais, assentes
sobre bases perpendiculares à linha de salto, o comprimento das bases indicará
qual o sítio exacto para a marcação do salto, porque deve ser igual à altura do
obstáculo. E quando isso acontece, tanto na condução à trela como em liberdade,
a angulação das escoras indicará o salto a 45º. Como os obstáculos tácticos são
por norma fixos, há quem destaque a marcação do salto pela indicação no solo,
marcando-a pela alteração de piso, como é o caso adiantado na foto seguinte,
onde a marcação é feita em cimento e o cão salta a 45º. Pena é que o condutor
tenha ficado para trás, muito embora o obstáculo não seja de extrema
dificuldade. É possível que o condutor tenha agido assim para melhor se ver o
cão, garantindo desse modo um salto para a fotografia.
Se a correcta entrada aos obstáculos possibilita a sua transposição
segura, será a saída equilibrada dos cães que garantirá a satisfação plena dos
obstáculos. Quando os impactos ao solo são demasiado violentos, descentrados e
desequilibrados, os cães resistem justificadamente à sua transposição, pela
insegurança, transtorno e dolo, o que implica em dizer que deverão ser ajudados
na recepção ao solo, ajuda normalmente efectuada pelo adiantamento dos seus
condutores. Nos muros, obstáculos entendidos por outros como paliçadas, nos de
altura superior a 1.8m, é obrigatório colocar-lhes na saída uma mesa, para que
os cães nunca saltem para o solo de uma altura igual ou superior a 1.5m, o que
a acontecer, colocaria em risco a integridade física dos atletas caninos. Na
foto abaixo vemos um cão a saltar um muro de sensivelmente 2.5m e podemos
observar o seu bloco de saída (corpo posterior do obstáculo), uma rampa
constituída em “escorrega”, suavizada por algumas traves ligeiras e
transversais, que impede o cão de sair para a frente pelo travamento a que
obriga, certamente responsável pelo maior esforço sobre as mãos do animal,
apesar do travamento ali ser o primeiro dos objectivos. Num obstáculo idêntico,
sempre preferidos colocar um tampo perpendicular à linha de transposição, com
1.2 de altura e com o mesmo comprimento, sendo rematado com uma rampa a 45º,
para que os cães distribuam, mais rapidamente, o seu peso corporal sobre a
totalidade dos membros, não sobrecarregando os anteriores e mantendo a
velocidade funcional.
Como o
assunto é extenso, iremos retomá-lo quando se justificar. O que importa guardar
é que a correcta transposição de um obstáculo obriga a uma entrada certeira e a
uma saída segura.
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