Há muito que gostaríamos de ter posto uma pedra
sobre este assunto, mas infelizmente sempre somos obrigados a abordá-lo,
contrariados e face ao mal-estar dos cães. Bem sabemos que as diversas raças
caninas apresentam diferentes angulações de metacarpos, mas em nenhum delas é
desejável o seu exagerado abatimento, insuficiência grave e de funestas
repercussões, considerando risco de lesão, o mal-estar que provocam, o esforço
a que obrigam, as agressões sobre o esqueleto, a perca de qualidade de vida e o
seu encurtamento. Se a anomalia for de origem genética, pouco ou nada haverá a
fazer, muito embora os ortopedistas possam, dependendo dos casos, minorar a
deficiência e os seus efeitos. Felizmente que o fenómeno, ao contrário do que
por aí se prega, é na maioria dos casos de origem ambiental, resultando das más
dietas e da sua distribuição em acessórios impróprios, comedouros e bebedouros
colocados no chão, que obrigam os cães a comer e a beber como as girafas da
foto, desengonçadas e em esforço.
O ideal,
aquilo que é desejável, é que os cães comam em comedouros reguláveis, colocados
a uma altura 5cm abaixo da encontrada ao seu garrote, para que não venham a
perpetuar o abatimento de metacarpos, o pé chato, a divergência de mãos, o
estreitamento do peito, o descodilhar em marcha, o selamento do dorso e a
agravar o jarrete de vaca. Proceder assim, é também dar combate à indolência e à
obesidade, aumentando os índices de prontidão dos nossos fiéis amigos, que
doutro modo se tornarão bonacheirões, desatentos, menos propensos à parceria,
mais irritadiços e resistentes à novidade de desafios, já que a breve trecho,
por lhes ser mais cómodo, acabariam por comer deitados. Mas mais importante
ainda que as razões físicas e psicológicas, sobressai a relativa à sua
salvaguarda, já que comer à altura certa é prevenir contra os envenenamentos,
pela alteração de hábitos que induzirá ao desprezo pela comida jogada no solo, estratégia
que ajudará de sobremaneira a recusa de engodos e levará à formação de cães
impolutos e incorruptíveis, se formos ajustando a altura dos pratos de acordo
com o crescimento dos cachorros.
Considerando
esta última preocupação e vantagem, encaramos com alguma reticência a
introdução à pistagem pelo recurso a engodos, apesar de se tornar mais fácil
para os cães e menos trabalhosa para os donos. Ainda que mais tarde esse
procedimento venha a ser abandonado, ele não desaparecerá por decreto e poderá
ficar para sempre gravado na memória afectiva dos cães. Somos conhecedores dos
diferentes aproveitamentos do faro canino e reconhecemos que algumas
especialidades não dispensam este tipo de procedimento, contudo ele não deve
ser único, não é absoluto e nalguns casos é até contraproducente. Como não nos
dedicamos à detecção de explosivos, de drogas ou de cadáveres, sempre
preterimos a indiciação pelo aproveitamento dos círculos odoríferos. Todos já
vimos na televisão, que até tem um canal que a isso se dedica, perseguições
empreendidas por cães policiais, normalmente bem sucedidas para mal dos
fugitivos, geralmente reclusos evadidos ou criminosos a monte com bloodhounds
no seu encalço. Até hoje eles não se lembraram, dizemos nós por ausência de
notícia, de engodarem os seus trajectos ou de criar outros com comida
envenenada, valendo-se dos produtos químicos usados nas limpezas e lavandarias
das penitenciárias, capazes de imobilizar, afrouxar, desnortear e até matar os
seus perseguidores de quatro patas, isto se induzidos à perseguição pelo
recurso ao alimento.
Mas deixemo-nos de suposições e doutras realidades,
de dramas quotidianos que mais parecem ficção. O que importa guardar é que os
cães devem comer à altura certa, para não sofrerem indesejáveis alterações
físicas e psicológicas, responsáveis pela menor qualidade de vida e pelo seu
subaproveitamento, para melhor resistirem ao suborno dos envenenadores que
sempre os cercam. O facto dum cão comer à altura certa, não irá dispensar o
treino aturado na recusa de engodos, mas facilitá-lo-á e muito, pelo abandono
dos maus hábitos que atentam contra a sua vida.
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