quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O POUCO VISTO LAEKENOIS

Quem teve um, não quer outro e quem o observa, rende-se de imediato, constata da sua nobreza e apaixona-se. Estamos a falar do Pastor Belga Laekenois, a variedade menos conhecida dos Pastores Belgas e hoje, infelizmente, quase desaparecida, um cão igual aos outros belgas da mesma categoria, que difere deles essencialmente pela pelagem e pelo comportamento, porque tem o pêlo cerdoso (de arame), é mais seguro e concentrado, curioso e ávido de novos desafios, para além mais rústico e mais dado à parceria: um cão na verdadeira acepção da palavra! Um ovelheiro que prefere o dono ao bardo e que reclama trabalho e excursão, um companheiro de eleição com uma disponibilidade enorme, tanto física quanto cognitiva, que livre da produção em série, não apresenta as eventuais menos valias físicas e psicológicas que afectam as outras variedades no actual Pastor Belga, o que leva os seus fãs a considerá-lo como o mais genuíno e autêntico representante da raça. Os poucos exemplares que ainda subsistem, guardam os campos de linho, labutam no pastoreio e têm sido utilizados na busca e salvamento.
Apesar de reconhecido desde 1897, hoje é difícil de encontrar, sendo muito raro. Ao longo da nossa existência só treinámos dois (propriedade de um cidadão espanhol), só vimos por cá seis e há três anos atrás, quando menos esperávamos, encontramos um criador com um casal (em Lisboa), o que nos encheu de alegria. Atribuem-se duas razões para a sua perca de popularidade e proliferação: o facto de ser de pêlo crespo e de não ser reconhecido nos Estados Unidos. Parece-nos que a razão estética foi a que teve maior peso e o desprezo pelos cães crespos na selecção do Cão de Pastor Alemão, também em nada ajudou, reconhecida que foi a sua menor prevalência. Ao que consta, originalmente de Antuérpia, veio a ser a raça preferida da Rainha Henrietta e o seu nome adveio do castelo que a monarca visitava amiúde: Laecken.
Cão quadrado, de grande porte e harmonioso, combinando elegância e força, de dorso paralelo ao solo, o Laekenois apresenta um stop moderado e o nariz preto, olhos de tamanho médio, ligeiramente amendoados e acastanhados, oblíquos e preferencialmente escuros, sugerindo-lhe uma expressão viva, inteligente e penetrante. As suas orelhas são pequenas, triangulares, com alta implantação e terminam em ponta. A sua cabeça é fina e apresenta uma testa ligeiramente achatada, o focinho vai-se estreitando para a ponta, sem contudo ser afiado. As suas mandíbulas têm músculos desenvolvidos mas não salientes e a sua mordedura é em forma de tesoura. O pescoço é relativamente longo e forte, inserido num peito largo. Enquanto cão de trabalho, ostenta um corpo musculado sem ser demasiado pesado (deve indiciar agilidade). Os membros anteriores são compridos, musculados, rectos e paralelos (quando vistos de frente), as suas mãos arredondadas e com os dedos unidos. Os membros posteriores são ligeiramente arqueados, devem ser pouco angulados, musculados e nunca pesados ou excessivamente gordos. Os pés são ovalados. Contrariamente aos outros pastores belgas, a cauda do Laekenois, apesar de totalmente coberta de pêlo, não deve formar uma pluma na sua extremidade, sendo comprida, mantida baixa e ligeiramente curvada, alinhar pelos jarretes ou um pouco abaixo deles.
A cor do seu manto deve ser fulva, vermelha com nuances de carbono nas extremidades, particularmente no focinho e na cauda, contudo mais discretas do que as presentes nas outras variedades. São admitidas pequenas manchas brancas no peito e nos dedos. O seu pêlo é cerdoso, distintivo, desgrenhado, rijo, duro e seco, com um comprimento médio de 6cm, sendo mais curto no focinho e nas pernas. O pelo deverá adornar a cabeça mas nunca ocultar a sua forma. O estalão da raça indica 62cm de altura para os machos e 58cm para as fêmeas, os machos deverão pesar entre os 25 e 30kg e as suas companheiras entre 20 a 25kg. Segundo mesmo standard, os machos vão de 60 a 66cm e as fêmeas dos 56 aos 62cm, admitindo também uma variação de 4cm como limite máximo e de 2cm como limite mínimo.
Do ponto de vista biomecânico, ele transita naturalmente de andamentos, galope muito bem, descontrai a passo e usa preferencialmente a marcha, sendo um exímio trotador, ainda que a amplitude da passada seja mediana, muito embora regular e fluente, graças à boa propulsão dos posteriores. Não descodilha em marcha e a linha do dorso, ao permanecer bem firme, dispensa a exagerada elevação dos anteriores, factores que todos somados o dotam de grande resistência e força.
O Laekenois evidencia uma alta capacidade de aprendizagem e uma excelente disponibilidade, é territorial, logo protector, e reclama por trabalho. Sendo precoce, irá exigir pronta sociabilização inter pares. Quando não tem trabalho, aborrece-se facilmente e tende a ser destrutivo, apesar de ser o menos nervoso e mais consistente dos pastores belgas. Cão pastor por excelência, tende a pastorear tudo e todos, quer eles sejam animais ou pessoas, podendo morder os calcanhares a quem lhe resista. Vive em constante alerta, é leal e difícil de corromper, valente, de grande vitalidade e fácil de ensinar, desde que se opte pelo método certo e o seu dono seja firme e justo. Puni-lo gratuitamente poderá acarretar em problemas e respostas inesperadas, porque dependendo do seu perfil psicológico, tanto pode enveredar pela letargia como responder violentamente. Tende a escolher o seu dono, a agradá-lo e a ficar perto dele, não dispensa a atenção da família, que defenderá com unhas e dentes, adapta-se sem dificuldades dentro dum apartamento, desde que a excursão lhe seja garantida e fica felicíssimo se o deixarem viver dentro de casa (detesta ser enclausurado num canil ou remetido para um quintal).
Excelente observador das emoções dos donos, exige um dono calmo e assertivo, porque sentindo a sua instabilidade, poderá agir por conta própria, o que lamentavelmente poderá dar azo ao disparate. Essa extraordinária qualidade que o leva a identificar as emoções dos seus donos, irá possibilitar outras formas de entendimento recíproco para além das usuais, vindo a espelhar comportamentos visíveis no seu proprietário (focinho de um, cara de outro). Como não é um cão para ficar o dia inteiro aos seus pés e contentar-se com um único passeio ao final do dia, ele irá exigir um dono disponível para o acompanhar nos longos passeios do seu agrado e que em simultâneo lhe forneça novidade de desafios, práticas que lhe servirão de estímulo e que não dispensam um dono experiente.
Trabalhar com um Laekenois é reconhecer o muito que tem para dar e aproveitar a sua extraordinária disponibilidade física e cognitiva, porque se desnuda no trabalho e nele se dá a conhecer. Ao invés, isentá-lo da complementaridade e arredá-lo das tarefas, pode torná-lo insuportável, desregrado e até incontrolável. Se o Pastor Alemão é cão para uma légua diária, o Laekenois é-o para duas!
Aluno aplicado e apostado no agrado do dono, irá exigir um quadro de experiências variado e rico, porque é muito versátil e multifacetado, desinteressando-se das tarefas pobres e repetitivas. Entretanto, porque a excelência dum cão não depende somente do tipo de instalação doméstica, do método de treino e da sociabilização efectuada, cabendo à genética a maior fatia do sucesso, antes de comprar um Laekenois, procure um criador sério e experiente, cujos reprodutores tenham sido testados e aprovados no melhor que esta variedade tem de único e exclusivo. Depois de certificadas essas qualidades, compre finalmente o seu cachorro e sentir-se-á imensamente feliz por ter agido assim!

Sem comentários:

Enviar um comentário