Quem teve um, não quer outro e quem o observa, rende-se de imediato,
constata da sua nobreza e apaixona-se. Estamos a falar do Pastor Belga
Laekenois, a variedade menos conhecida dos Pastores Belgas e hoje,
infelizmente, quase desaparecida, um cão igual aos outros belgas da mesma
categoria, que difere deles essencialmente pela pelagem e pelo comportamento,
porque tem o pêlo cerdoso (de arame), é mais seguro e concentrado, curioso e
ávido de novos desafios, para além mais rústico e mais dado à parceria: um cão
na verdadeira acepção da palavra! Um ovelheiro que prefere o dono ao bardo e
que reclama trabalho e excursão, um companheiro de eleição com uma
disponibilidade enorme, tanto física quanto cognitiva, que livre da produção em
série, não apresenta as eventuais menos valias físicas e psicológicas que
afectam as outras variedades no actual Pastor Belga, o que leva os seus fãs a
considerá-lo como o mais genuíno e autêntico representante da raça. Os poucos exemplares
que ainda subsistem, guardam os campos de linho, labutam no pastoreio e têm
sido utilizados na busca e salvamento.
Apesar de reconhecido desde 1897, hoje é difícil de encontrar,
sendo muito raro. Ao longo da nossa existência só treinámos dois (propriedade
de um cidadão espanhol), só vimos por cá seis e há três anos atrás, quando
menos esperávamos, encontramos um criador com um casal (em Lisboa), o que nos
encheu de alegria. Atribuem-se duas razões para a sua perca de popularidade e
proliferação: o facto de ser de pêlo crespo e de não ser reconhecido nos
Estados Unidos. Parece-nos que a razão estética foi a que teve maior peso e o
desprezo pelos cães crespos na selecção do Cão de Pastor Alemão, também em nada
ajudou, reconhecida que foi a sua menor prevalência. Ao que consta,
originalmente de Antuérpia, veio a ser a raça preferida da Rainha Henrietta e o
seu nome adveio do castelo que a monarca visitava amiúde: Laecken.
Cão
quadrado, de grande porte e harmonioso, combinando elegância e força, de dorso
paralelo ao solo, o Laekenois apresenta um stop moderado e o nariz preto, olhos
de tamanho médio, ligeiramente amendoados e acastanhados, oblíquos e
preferencialmente escuros, sugerindo-lhe uma expressão viva, inteligente e
penetrante. As suas orelhas são pequenas, triangulares, com alta implantação e
terminam em ponta. A
sua cabeça é fina e apresenta uma testa ligeiramente achatada, o focinho vai-se
estreitando para a ponta, sem contudo ser afiado. As suas mandíbulas têm
músculos desenvolvidos mas não salientes e a sua mordedura é em forma de
tesoura. O pescoço é relativamente longo e forte, inserido num peito largo.
Enquanto cão de trabalho, ostenta um corpo musculado sem ser demasiado pesado
(deve indiciar agilidade). Os membros anteriores são compridos, musculados,
rectos e paralelos (quando vistos de frente), as suas mãos arredondadas e com
os dedos unidos. Os membros posteriores são ligeiramente arqueados, devem ser
pouco angulados, musculados e nunca pesados ou excessivamente gordos. Os pés
são ovalados. Contrariamente aos outros pastores belgas, a cauda do Laekenois,
apesar de totalmente coberta de pêlo, não deve formar uma pluma na sua
extremidade, sendo comprida, mantida baixa e ligeiramente curvada, alinhar
pelos jarretes ou um pouco abaixo deles.
A cor
do seu manto deve ser fulva, vermelha com nuances de carbono nas extremidades,
particularmente no focinho e na cauda, contudo mais discretas do que as
presentes nas outras variedades. São admitidas pequenas manchas brancas no
peito e nos dedos. O seu pêlo é cerdoso, distintivo, desgrenhado, rijo, duro e
seco, com um comprimento médio de 6cm, sendo mais curto no focinho e nas
pernas. O pelo deverá adornar a cabeça mas nunca ocultar a sua forma. O estalão
da raça indica 62cm de altura para os machos e 58cm para as fêmeas, os machos
deverão pesar entre os 25 e 30kg e as suas companheiras entre 20 a 25kg. Segundo mesmo
standard, os machos vão de 60 a
66cm e as fêmeas dos 56 aos 62cm, admitindo também uma variação de 4cm como
limite máximo e de 2cm como limite mínimo.
Do ponto
de vista biomecânico, ele transita naturalmente de andamentos, galope muito bem,
descontrai a passo e usa preferencialmente a marcha, sendo um exímio trotador,
ainda que a amplitude da passada seja mediana, muito embora regular e fluente,
graças à boa propulsão dos posteriores. Não descodilha em marcha e a linha do
dorso, ao permanecer bem firme, dispensa a exagerada elevação dos anteriores,
factores que todos somados o dotam de grande resistência e força.
O
Laekenois evidencia uma alta capacidade de aprendizagem e uma excelente
disponibilidade, é territorial, logo protector, e reclama por trabalho. Sendo
precoce, irá exigir pronta sociabilização inter pares. Quando não tem trabalho,
aborrece-se facilmente e tende a ser destrutivo, apesar de ser o menos nervoso
e mais consistente dos pastores belgas. Cão pastor por excelência, tende a
pastorear tudo e todos, quer eles sejam animais ou pessoas, podendo morder os
calcanhares a quem lhe resista. Vive em constante alerta, é leal e difícil de
corromper, valente, de grande vitalidade e fácil de ensinar, desde que se opte
pelo método certo e o seu dono seja firme e justo. Puni-lo gratuitamente poderá
acarretar em problemas e respostas inesperadas, porque dependendo do seu perfil
psicológico, tanto pode enveredar pela letargia como responder violentamente.
Tende a escolher o seu dono, a agradá-lo e a ficar perto dele, não dispensa a
atenção da família, que defenderá com unhas e dentes, adapta-se sem
dificuldades dentro dum apartamento, desde que a excursão lhe seja garantida e
fica felicíssimo se o deixarem viver dentro de casa (detesta ser enclausurado
num canil ou remetido para um quintal).
Excelente
observador das emoções dos donos, exige um dono calmo e assertivo, porque
sentindo a sua instabilidade, poderá agir por conta própria, o que
lamentavelmente poderá dar azo ao disparate. Essa extraordinária qualidade que
o leva a identificar as emoções dos seus donos, irá possibilitar outras formas
de entendimento recíproco para além das usuais, vindo a espelhar comportamentos
visíveis no seu proprietário (focinho de um, cara de outro). Como não é um cão
para ficar o dia inteiro aos seus pés e contentar-se com um único passeio ao
final do dia, ele irá exigir um dono disponível para o acompanhar nos longos
passeios do seu agrado e que em simultâneo lhe forneça novidade de desafios,
práticas que lhe servirão de estímulo e que não dispensam um dono experiente.
Trabalhar
com um Laekenois é reconhecer o muito que tem para dar e aproveitar a sua extraordinária
disponibilidade física e cognitiva, porque se desnuda no trabalho e nele se dá
a conhecer. Ao invés, isentá-lo da complementaridade e arredá-lo das tarefas,
pode torná-lo insuportável, desregrado e até incontrolável. Se o Pastor Alemão
é cão para uma légua diária, o Laekenois é-o para duas!
Aluno
aplicado e apostado no agrado do dono, irá exigir um quadro de experiências
variado e rico, porque é muito versátil e multifacetado, desinteressando-se das
tarefas pobres e repetitivas. Entretanto, porque a excelência dum cão não
depende somente do tipo de instalação doméstica, do método de treino e da
sociabilização efectuada, cabendo à genética a maior fatia do sucesso, antes de
comprar um Laekenois, procure um criador sério e experiente, cujos reprodutores
tenham sido testados e aprovados no melhor que esta variedade tem de único e
exclusivo. Depois de certificadas essas qualidades, compre finalmente o seu
cachorro e sentir-se-á imensamente feliz por ter agido assim!
Sem comentários:
Enviar um comentário