Não subsistirão diferenças assinaláveis entre a prestação de um cão e de
uma vaca, de um bode ou de uma ovelha, que justifiquem a diferença de métodos,
visando a parceria? Nós entendemos que sim, mas pelo que vimos parece que não!
Desde que as orcas e os lobos-marinhos deram à costa e pernoitam nos
zoomarines, para alegria de grandes e pequenos, a universalidade da zootecnia
tem tomado conta da cinotecnia e o suborno virou prática corrente. Esta
tendência de subaproveitar os cães e de poupar os donos, tem muito que se lhe
diga, já que o facilitismo tem aproveitado instintos em detrimento do carácter
dos cães, relegando os melhores para a mediocridade e exaltando os piores pela
necessidade de barriguinha cheia. Apesar de sabermos há muito que todos os
animais domésticos correm atrás da comida, sendo ela que os liga aos donos, a
urbe parece só agora ter descoberto essa evidência.
E do jeito que as coisas vão, tendo em conta as menos valias dos cães
actuais e a franca ascensão dos restantes animais domésticos, uns e outros
ensinados do mesmo modo, não espantaria que os macacos viessem também a ser
usados para guarda, devido ao baixo custo da sua manutenção, à sua fácil
camuflagem, à pronta evasão e à multivariedade dos seus ataques, que tanto
poderiam suceder à dentada como à paulada, assim como pelo arremesso de pedras
e dejectos (os bodes e carneiros fá-los-iam à cornada!). O “canicross” poderá
vir a ser substituído para uma corrida em “slow motion”, constituída por
caracóis, que espevitados por um molho de couves, se encaminhariam prá linha da
meta. E corrida por corrida, em substituição à dos galgos, pode ser que alguém
se lembre de fazer uma com chimpanzés montados em porcos vietnamitas,
reclamando para esse arrojo o título de modalidade desportiva (ainda agora
acabaram com os animais no circo e já sentem a falta deles). Como os primeiros
passos já foram dados, é possível que venhamos a ter ainda bodes e vacas no
“agility”, o que certamente nos obrigará a sentar nas bancadas mais afastadas,
para evitar o cheiro da bosta!
Não, não nos revemos nestes métodos, primeiro pela salvaguarda dos cães
e depois por respeito ao seu particular e dignidade, porque não queremos vê-los
ludibriados, abusados e muito menos mortos, desgraças a que “a arte do suborno”
se presta. Não é com isco que se pescam
os peixes e com engodo os animais para o cativeiro? E se o adestramento for só
isso, nós vamos ali e já vimos, quiçá a comprar tabaco, tendo o cuidado de não
tropeçar numa bola e de levarmos com um cão desenfreado em cima! Quando sair de
casa rumo a um jardim público, coma primeiro, porque é mais seguro, e atavie-se
de capacete, não vá apanhar com um “frisbee” transviado, que o vire de pernas
para o ar! Serão estes os únicos meios para alcançar a tão almejada coabitação
harmoniosa? Se são, todo o cuidado é pouco!
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