sábado, 19 de julho de 2014

O ESTRANHO CASO DO LEITOR DE JERSEY

Pela primeira vez tivemos um leitor de Jersey e imediatamente julgámo-lo norte-americano por causa do conhecido Estado de New Jersey, engano que depressa desfizemos, apesar do nome desse Estado estar ligado à Jersey de que iremos falar, o que nem toda a gente sabe, mormente muitos europeus (portugueses inclusive). A ilha de Jersey encontra-se situada no Canal Inglês (Canal da Mancha) e junto com Gernsey, a Ilha de Man e outros ilhéus formam as Ilhas do Canal. Jersey é uma dependência do governo britânico que não faz parte do Reino Unido e da CEE. Tratada pelos portugueses como Jérsia, situa-se mais perto da França (Normandia) do que da Inglaterra e ocupa uma área de 116km2. Possui duas línguas oficiais, o Inglês e o Francês, conservando ainda o normando daquela região, designado por Jèrriais ou Jersês, língua nativa pouco utilizada oficialmente. Administrativamente a ilha encontra-se dividida em 12 distritos eleitorais (freguesias), cujos nomes advêm dos padroeiros das antigas paróquias. Apenas metade dos seus habitantes é natural da Ilha, 31% veio de diversos lugares das Ilhas Britânicas, 7% é oriundo de Portugal e da Ilha da Madeira, 8% de outros países europeus e os restantes 4% são preenchidos por gente oriunda de outras paragens. Jersey foi ocupada pelas tropas nazis entre 01de Julho de1940 e 09 de Maio de 1945, sendo o único território do Império Britânico ocupado pelos alemães. Essa ocupação viria mais tarde a ser retratada numa série televisiva inglesa.
Situada na Baía do Mont St. Michel, tendo como capital St. Helier, ela tem algumas das maiores marés do mundo, podendo aumentar a sua área até mais um terço e as suas praias foram consideradas mais limpas do que as da Grã-bretanha. Com um litoral com 48km de extensão e com temperaturas mais amenas do que as verificada nas Ilhas Britânicas, Jersey oferece ainda um passeio subaquático ao longo da sua costa e a possibilidade dos turistas poderem alugar um forte napoleónico ou um bunker da II Guerra Mundial. Também os paleontólogos encontrão lá motivos de interesse, uma vez que ali foram encontradas várias ossadas de Malamutes. Apesar da ilha ter as suas própria moeda, a libra esterlina é também aceite como moeda oficial.
Os nativos de Jersey têm o comportamento típico dos insulares e como tal, são prontos na caracterização e denominação dos que lá aportam para trabalhar, apesar de não gostarem que os outros lhe façam o mesmo, sendo normalmente alcunhados de “Jersey beans”, muito por causa dum prato tradicional da ilha: o feijão crock, designação que lhes desagrada e quebra a fleuma, já que a entendem pejorativa. Para além do tecido Jersey, esta ilha criou e seleccionou uma raça bovina a quem deu o seu nome, que rapidamente se espalhou pelo mundo como excelente leiteira, sendo a segunda raça que mais leite produz entre os bovinos.
Agora que já sabemos um pouco mais sobre Jersey, resta-nos saber qual a etnia do nosso leitor ali residente, se é Jersey bean, de origem inglesa, francesa, portuguesa ou outra, não nos custando acreditar que seja luso, luso descendente ou brasileiro. Vale a pena visitar a ilha britânica mais meridional, especialmente para os apaixonados de desportos náuticos, para os que praticam caiaque, se deleitam a velejar, não dispensam o surf e preferem o mergulho. O maior evento de Jersey é a Batalha Anual das Flores, que se realiza desde 1902 e que acontece na segunda quinta-feira do mês de Agosto (este ano será no dia 14 desse mês), um desfile carnavalesco de carros alegóricos decorados com flores, que municia os participantes para a “batalha” com 5 milhões de flores diferentes e que culmina ao luar.
A British Airways tem voos directos de Lisboa e do Funchal para Jersey, os preços são convidativos e o aeroporto da ilha dista apenas 7km do centro da Capital (St. Helier), sendo bem servido de transportes públicos. Se for de carro ou pretender passar por França primeiro, então terá que apanhar o ferrie em St. Malo; se estiver em Inglaterra e quiser ir por mar, terá que deslocar-se até ao porto de Southampton e valer-se também dos ferries, geralmente catamarans, que propiciam uma viagem rápida e agradável.
Se pretender ir para lá e levar o seu cão consigo, então terá que observar as seguintes condições: o animal terá que ter microchip, ter a vacina anti-rábica em dia, ter sido vacinado depois da inserção desse identificador, possuir um passaporte da UE para animais de estimação, emitido pelo seu veterinário a certificar o microchip e a vacinação, ter sido desparasitado contra a ténia (echinococcus multiocularis) até 5 dias antes e ser transportado por uma empresa transportadora aprovada, o que não implicará na separação dos donos.
Muito mais haveria para dizer sobre Jersey, os seus habitantes, belezas naturais e atracções, enquanto reduto insular anglo-normando, excursão cultural e destino paradisíaco. Resta dizer que a maioria dos portugueses que lá vivem trabalham na hotelaria ou na restauração, ao contrário doutros no passado que iam para as “farms”. Se por acaso lá for, é possível que vá a um hotel ou restaurante e seja atendido por um português. E se assim não acontecer, à cautela, escolha outro prato e não peça feijões de Jersey, não vá o caldo ficar entornado! Brincadeiras à parte, as gentes da ilha são reconhecidamente afáveis e simpáticas, que ao invés de tratarem a rainha de Inglaterra por “The Queen”, a tratam por “Our Duke” numa alusão ao seu passado histórico. 

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