Pela primeira vez tivemos um leitor de Jersey e
imediatamente julgámo-lo norte-americano por causa do conhecido Estado de New
Jersey, engano que depressa desfizemos, apesar do nome desse Estado estar
ligado à Jersey de que iremos falar, o que nem toda a gente sabe, mormente
muitos europeus (portugueses inclusive). A ilha de Jersey encontra-se situada
no Canal Inglês (Canal da Mancha) e junto com Gernsey, a Ilha de Man e outros
ilhéus formam as Ilhas do Canal. Jersey é uma dependência do governo britânico
que não faz parte do Reino Unido e da CEE. Tratada pelos portugueses como
Jérsia, situa-se mais perto da França (Normandia) do que da Inglaterra e ocupa
uma área de 116km2. Possui duas línguas oficiais, o Inglês e o Francês,
conservando ainda o normando daquela região, designado por Jèrriais ou Jersês,
língua nativa pouco utilizada oficialmente. Administrativamente a ilha
encontra-se dividida em 12 distritos eleitorais (freguesias), cujos nomes advêm
dos padroeiros das antigas paróquias. Apenas metade dos seus habitantes é
natural da Ilha, 31% veio de diversos lugares das Ilhas Britânicas, 7% é oriundo de Portugal e
da Ilha da Madeira, 8% de outros países europeus e os restantes 4% são
preenchidos por gente oriunda de outras paragens. Jersey foi ocupada pelas
tropas nazis entre 01de Julho de1940 e 09 de Maio de 1945, sendo o único
território do Império Britânico ocupado pelos alemães. Essa ocupação viria mais
tarde a ser retratada numa série televisiva inglesa.
Situada na Baía do Mont St. Michel, tendo como
capital St. Helier, ela tem algumas das maiores marés do mundo, podendo
aumentar a sua área até mais um terço e as suas praias foram consideradas mais
limpas do que as da Grã-bretanha. Com um litoral com 48km de extensão e com
temperaturas mais amenas do que as verificada nas Ilhas Britânicas, Jersey
oferece ainda um passeio subaquático ao longo da sua costa e a possibilidade
dos turistas poderem alugar um forte napoleónico ou um bunker da II Guerra
Mundial. Também os paleontólogos encontrão lá motivos de interesse, uma vez que
ali foram encontradas várias ossadas de Malamutes. Apesar da ilha ter as suas
própria moeda, a libra esterlina é também aceite como moeda oficial.
Os
nativos de Jersey têm o comportamento típico dos insulares e como tal, são
prontos na caracterização e denominação dos que lá aportam para trabalhar,
apesar de não gostarem que os outros lhe façam o mesmo, sendo normalmente
alcunhados de “Jersey beans”, muito por causa dum prato tradicional da ilha: o
feijão crock, designação que lhes desagrada e quebra a fleuma, já que a
entendem pejorativa. Para além do tecido Jersey, esta ilha criou e seleccionou uma
raça bovina a quem deu o seu nome, que rapidamente se espalhou pelo mundo como
excelente leiteira, sendo a segunda raça que mais leite produz entre os
bovinos.
Agora que
já sabemos um pouco mais sobre Jersey, resta-nos saber qual a etnia do nosso
leitor ali residente, se é Jersey bean, de origem inglesa, francesa, portuguesa
ou outra, não nos custando acreditar que seja luso, luso descendente ou
brasileiro. Vale a pena visitar a ilha britânica mais meridional, especialmente
para os apaixonados de desportos náuticos, para os que praticam caiaque, se
deleitam a velejar, não dispensam o surf e preferem o mergulho. O maior evento
de Jersey é a Batalha Anual das Flores, que se realiza desde 1902 e que
acontece na segunda quinta-feira do mês de Agosto (este ano será no dia 14
desse mês), um desfile carnavalesco de carros alegóricos decorados com flores,
que municia os participantes para a “batalha” com 5 milhões de flores
diferentes e que culmina ao luar.
A British
Airways tem voos directos de Lisboa e do Funchal para Jersey, os preços são
convidativos e o aeroporto da ilha dista apenas 7km do centro da Capital (St. Helier), sendo bem servido de transportes
públicos. Se for de carro ou pretender passar por França primeiro, então terá
que apanhar o ferrie em St.
Malo ; se estiver em Inglaterra e quiser ir por mar, terá que deslocar-se
até ao porto de Southampton e valer-se também dos ferries, geralmente
catamarans, que propiciam uma viagem rápida e agradável.
Se pretender ir para lá e
levar o seu cão consigo, então terá que observar as seguintes condições: o
animal terá que ter microchip, ter a vacina anti-rábica em dia, ter sido
vacinado depois da inserção desse identificador, possuir um passaporte da UE
para animais de estimação, emitido pelo seu veterinário a certificar o
microchip e a vacinação, ter sido desparasitado contra a ténia (echinococcus
multiocularis) até 5 dias antes e ser transportado por uma empresa
transportadora aprovada, o que não implicará na separação dos donos.
Muito mais
haveria para dizer sobre Jersey, os seus habitantes, belezas naturais e
atracções, enquanto reduto insular anglo-normando, excursão cultural e destino
paradisíaco. Resta dizer que a maioria dos portugueses que lá vivem trabalham
na hotelaria ou na restauração, ao contrário doutros no passado que iam para as
“farms”. Se por acaso lá for, é possível que vá a um hotel ou restaurante e
seja atendido por um português. E se assim não acontecer, à cautela, escolha
outro prato e não peça feijões de Jersey, não vá o caldo ficar entornado!
Brincadeiras à parte, as gentes da ilha são reconhecidamente afáveis e
simpáticas, que ao invés de tratarem a rainha de Inglaterra por “The Queen”, a
tratam por “Our Duke” numa alusão ao seu passado histórico.
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