sábado, 19 de julho de 2014

CARTA PARA O MEU AMIGO LUDOVICO

Amigo Ludovico (que Deus cá tem e que se deseja sempre com os pés assentes na terra, porque amigos há poucos e companheiros de jornada muito menos)
Quando insisti consigo para andar com a sua cachorra à trela, nunca tive como propósito sobrecarregar o animal ou sacrificá-lo a si, porque a coisa que mais adoraria seria que os cães não necessitassem de treino, fossem todos fortes, perfeitos e não precisassem de ajuda, o que de certa maneira os colocaria nas mãos de pessoas excelentes que não os prejudicariam, o que se sabe também ser falso. Pensando bem, o que tornou o lobo em cão foi o uso da trela e como nem todos os silvestres estiveram pelos ajustes, a selecção operada pelos homens recaiu sobre os mais moldáveis, resultando daí algumas impropriedades e a perca de certas características, que à partida lhe interessaria preservar nos lobos domesticados. O uso da trela, mais profícuo na fase plástica dos cães e anterior à sua maturidade sexual, tende a colmar e a resolver problemas atávicos ou individuais de origem mecânica, social ou psicológica, que uma vez enraizados, virão a ser perpetuados. Aproveitando o sentimento gregário canino, mediante a trela, podemos constatar mais de perto e de modo objectivo, tanto as qualidades quanto as impropriedades do animal que nos coube em mãos, até porque não temos a possibilidade de o mandar mais um ano para o campo e esperar que a natureza actue.
Assim, cabe a cada um de nós, os que amamos e não dispensamos a companhia dos cães, ajudá-los a levar de vencida os seus entraves, para que de alguma forma se bastem a si próprios, tenham vida em abundância e sejam capazes de resolver os desafios que terão pela frente, muitos deles artificiais e só ultrapassáveis pelo reforço, cumplicidade e empenho humanos, parte de um todo a que chamamos amor. Quando publiquei os artigos "MARCHA SIM, PASSO DE ANDADURA NÃO!", "MEDOS E OS ABUSOS NA CONDUÇÃO À TRELA" e "AS FUGAS DO JUNTO EM LIBERDADE", tive como propósito alertar para a importância da condução à trela, enquanto excelente subsídio para o melhor conhecimento e integração dos cães. Mal por mal, já nos bastam os filhos de hoje, que mal vêem os pais durante os dias úteis e que ao fim de semana são recambiados para actividades extra curriculares, isto se não marcharem, semana sim; semana não, prá casa de cada um dos seus progenitores! Um cão constrói-se na trela para vir a ser solto sem problemas, anda connosco lado a lado para conhecer os perigos que o cercam, aprender os seus limites e se possível, complementar o nosso trabalho. Circulamos com ele assim para melhor comunicarmos, melhor o conhecermos e lhe podermos valer, condições que o farão confiar em nós. Quanto a isto parece não restar qualquer dúvida. Cumprimentos ...

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