Como
muitos cães adestrados nunca passaram pelo arco do fogo, é lícito questionar
qual a sua utilidade ou propósito. O medo pelo fogo nos cães é atávico e
automaticamente accionado pelo seu instinto de sobrevivência, impedindo-os
invariavelmente de se socorrerem ou prestar socorro, acabando por vezes
esturricados e incapazes de resgatar pessoas no meio dessas circunstâncias.
Sempre será mais fácil para um cão resgatar uma criança dentro de um piscina do
que dentro duma casa a arder, apesar do seu auxílio poder ser urgente em ambas
as situações. Uma vez dito isto, facilmente se compreende o triplo propósito do
arco do fogo: a certificação do condicionamento, a salvaguarda dos cães e o
resgate de pessoas.
A certificação do condicionamento é-nos dada pela
pronta resposta canina ao código, ao ponto de não depender de qualquer
circunstância, ainda que isso obrigue à familiarização e ao treino aturado em
diferentes simulacros, muito embora seja impossível antever todas as situações,
o que irá remeter a valentia do cão para a confiança no dono, mercê da
experiência prévia e conjunta em desafios análogos. Sem maiores dificuldades,
um cão condicionado a vencer obstáculos, ultrapassará o arco do fogo debaixo do
comando de “Up”, desde que a sua base não se encontre inflamada ou
incandescente.
Ensinar
um cão a encontrar entrada e saída no meio de um incêndio, é trabalhar de
imediato para a sua salvaguarda, aptidão difícil de adquirir sem a ajuda ou
intervenção humana. Todos já tivemos notícia de cães que morreram queimados por
terem ficado estarrecidos e à espera de ajuda, cuja salvação era possível se
houvessem sido adestrados para isso. O último caso que nos vem à memória
passou-se num velho bairro habitacional de Lisboa, onde entre dois prédios em
chamas, se encontravam alojados vários cães num quintal, separados da via
pública por uma cerca de madeira com 1m de altura. Ignorados e incapazes de se
valer, num ápice, todos acabaram imolados pelo fogo.
Com o cão
acostumado a desembaraçar-se no meio de fogos é possível estender o seu socorro
às pessoas, quanto tal for viável e se justificar. À imitação do “Pórtico
Latino”, obstáculo que abordámos há algumas edições atrás, também o “Arco do
Fogo” deverá ser regulável em altura e obrigar a transposições entre os 60 e os
120cms, considerando a altura média das janelas do rés-do-chão visível nos
nossos prédios urbanos. À parte disso e visando a experiência canina feliz,
importa que todos os cães sejam introduzidos ao obstáculo com ele a 60cms do
solo. Dependendo da altura dos cães a utilizar para este serviço ou do seu
particular psicológico, os arcos poderão encontrar-se ainda na linha do solo.
Apesar de tantas vezes ignorado, o “Arco do Fogo” mantém a sua utilidade e
propósitos, sendo mais uma ferramenta para o apetrechamento e robustecimento
dos cães.
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