sexta-feira, 11 de julho de 2014

ARCO DO FOGO: ULTRAPASSAR O PASSADO PARA ALCANÇAR O FUTURO

Como muitos cães adestrados nunca passaram pelo arco do fogo, é lícito questionar qual a sua utilidade ou propósito. O medo pelo fogo nos cães é atávico e automaticamente accionado pelo seu instinto de sobrevivência, impedindo-os invariavelmente de se socorrerem ou prestar socorro, acabando por vezes esturricados e incapazes de resgatar pessoas no meio dessas circunstâncias. Sempre será mais fácil para um cão resgatar uma criança dentro de um piscina do que dentro duma casa a arder, apesar do seu auxílio poder ser urgente em ambas as situações. Uma vez dito isto, facilmente se compreende o triplo propósito do arco do fogo: a certificação do condicionamento, a salvaguarda dos cães e o resgate de pessoas.
A certificação do condicionamento é-nos dada pela pronta resposta canina ao código, ao ponto de não depender de qualquer circunstância, ainda que isso obrigue à familiarização e ao treino aturado em diferentes simulacros, muito embora seja impossível antever todas as situações, o que irá remeter a valentia do cão para a confiança no dono, mercê da experiência prévia e conjunta em desafios análogos. Sem maiores dificuldades, um cão condicionado a vencer obstáculos, ultrapassará o arco do fogo debaixo do comando de “Up”, desde que a sua base não se encontre inflamada ou incandescente.
Ensinar um cão a encontrar entrada e saída no meio de um incêndio, é trabalhar de imediato para a sua salvaguarda, aptidão difícil de adquirir sem a ajuda ou intervenção humana. Todos já tivemos notícia de cães que morreram queimados por terem ficado estarrecidos e à espera de ajuda, cuja salvação era possível se houvessem sido adestrados para isso. O último caso que nos vem à memória passou-se num velho bairro habitacional de Lisboa, onde entre dois prédios em chamas, se encontravam alojados vários cães num quintal, separados da via pública por uma cerca de madeira com 1m de altura. Ignorados e incapazes de se valer, num ápice, todos acabaram imolados pelo fogo.
Com o cão acostumado a desembaraçar-se no meio de fogos é possível estender o seu socorro às pessoas, quanto tal for viável e se justificar. À imitação do “Pórtico Latino”, obstáculo que abordámos há algumas edições atrás, também o “Arco do Fogo” deverá ser regulável em altura e obrigar a transposições entre os 60 e os 120cms, considerando a altura média das janelas do rés-do-chão visível nos nossos prédios urbanos. À parte disso e visando a experiência canina feliz, importa que todos os cães sejam introduzidos ao obstáculo com ele a 60cms do solo. Dependendo da altura dos cães a utilizar para este serviço ou do seu particular psicológico, os arcos poderão encontrar-se ainda na linha do solo. Apesar de tantas vezes ignorado, o “Arco do Fogo” mantém a sua utilidade e propósitos, sendo mais uma ferramenta para o apetrechamento e robustecimento dos cães. 

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