sexta-feira, 11 de julho de 2014

O BRASIL, OS 7-1 E KOEHLER

O facto do Brasil ter sido um sonho português, não implica que seja um pesadelo para os brasileiros, que apesar de independentes há quase dois séculos, ciclicamente vêem agravadas as suas condições de vida, a despeito do tamanho, recursos naturais e possibilidades do País, que o tornam numa potência mundial e numa das terras mais promissoras do Globo. E perante isto, vale a pena perguntar: como pode uma Nação tão rica ter tanta gente tão pobre? Antes de tentar responder à pergunta, quero esclarecer que o faço como estrangeiro, sem pretensões imperialistas ou debaixo de qualquer sentimento paternalista, unicamente como admirador dessa Terra e amigo dessas gentes, Nação que bem conheço e povos com quem tenho trabalhado lado a lado. E digo isto porque já senti na pele o peso de ser português em Terras de Vera Cruz, ao ser responsabilizado pela escravatura e caricaturado como “Manuel e Joaquim”, particularmente no Sul do Brasil. Exemplo disso (entre tantos) foi o que me aconteceu em Curitiba, cidade onde as pessoas têm fama de serem “grossas”, numa Escola Secundária e na Sala dos Professores, onde fui apresentado a alguns deles. Mal disse que era português, a coordenadora pedagógica daquele estabelecimento de ensino, uma afro-brasileira, em tom amargo e sentencial logo soltou: “vocês são responsáveis pela escravatura!”, o que em termos de boas-vindas não foi a melhor das recepções. Mais do que ligar para o passado, inalterável e nem sempre bem contado, importa que os brasileiros construam já hoje o Brasil do futuro, mais fraterno, mais justo e por consequência menos miserável.
Que bem calharia à Presidente Dilma Roussef, se a Selecção Brasileira de Futebol tivesse ido à final e ganhasse a Copa do Mundo, porque pela alegria dos simples sufocaria, mais uma vez, as vozes de descontentamento e as reformas que tardam em chegar, inevitáveis e mais do que justas. Infelizmente para ela e para todos os que transpiram futebol, tal não aconteceu e o “escrete canarinho” sofreu uma derrota inesperada, desusada, histórica e humilhante frente à Selecção Alemã (7-1), a mesma que deu 4-0 à Selecção Portuguesa, resultado mais do que justo diante da prestação dos nossos jogadores, que mal se sustinham nas pernas (Ronaldo inclusive). Com o afastamento da Selecção Brasileira, o Governo do País perdeu o melhor dos seus aliados e vê comprometido o cumprimento do seu mandato, a soldo não se sabe de quem e manifestamente contra os interesses dos seus cidadãos, outra vez manietados, ignorados e espoliados.
O descontentamento social, visível nas ruas de várias cidades brasileiras, deverá continuar e até agravar-se, porque os milhões destinados ao futebol deveriam ter como destinatários os que vivem no limiar da pobreza, mas que apesar disso ainda sentem orgulho em ser brasileiros. Por detrás dessas manifestações espontâneas, velhos algozes desalojados espreitam oportunidade, em tudo iguais àqueles que hoje governam, que devolvem em porrada as promessas feitas ao povo, a quem tratam como massa inerte e desprezível. Assim como a selecção não podia viver só de Neymar, também o Brasil não necessita de um iluminado, mas de se unir em torno do que é essencial: a melhoria das condições de vida dos brasileiros, direito alienável que deverá ser discutido por todos, sem excepção, já que o País necessita de um amplo consenso nacional e não de ser fraccionado.
Como tenho vivido com o “povão” e visitado amiúde o Brasil, ouvindo todos e deslocando-me de Norte a Sul, conheço razoavelmente as suas assimetrias e choco-me com a xenofobia que grassa um pouco por toda a parte, apesar de condenável à luz da Lei, como se o País ainda vivesse debaixo de um regime colonial  e as pessoas fossem melhor ou pior aceites de acordo com a sua raça ou origem. Termos pejorativos como “baiano”, “cabeça-chata”, “alemão-batata” e “carcamano” (o léxico é imenso e não se esgota aqui), parecendo inofensivos, são adjectivos que pretendem estabelecer diferenças a partir de estereótipos, entraves para a unidade que o Brasil necessita. Algum dos nossos assíduos leitores brasileiros poderá justamente dizer: “Com que direito fala este portuga dos nossos problemas, já que Portugal se encontra na bancarrota?”. Infelizmente, queira Deus que esteja enganado, mais depressa se livrará Portugal da bancarrota do que o Brasil do racismo e da xenofobia.
Esse desrespeito mútuo, expoente máximo de sectarismo, vício antigo e bastante enraizado, reaproveitado pelos “novos senhores”, tem colocado todos os brasileiros na mão de políticos corruptos e nada escrupulosos, independentemente da sua origem, raça ou credo, sendo tratados como indigentes ou casta de intocáveis (vulgo pé rapado), até porque as desigualdades sempre foram terreno fértil para toda a casta de usurários, fazendo jus à célebre máxima de “dividir para reinar”. A incapacidade de cada um se rever no outro, só tem agravado a miséria global e a política do “Deus por todos e cada um por si”, jamais conseguirá erigir uma nação, por maior que ela seja como é o caso do Brasil, cuja sociedade sente as diferenças e sobrevive pela indiferença. No dia em que índios, caboclos, pardos, amarelos, negros e brancos deram as mãos, os políticos corruptos debandarão para outras paragens e o Brasil será finalmente terra abençoada por Deus, saindo das margens do Ipiranga para o Mundo com a maior das lições de vida: a fraternidade, contribuindo desse modo para a paz universal.
Gostaria que isso acontecesse, pois o meu ADN está mais próximo dos brasileiros do que dos europeus a que pertenço, o que me põe o Brasil a circular nas veias e me faz amá-lo como se fosse também meu. E como a verdadeira revolução começa dentro de cada um de nós, recomendo como estudo e reflexão, a quem me der ouvidos, lute pela paz entre os homens e aposte num Brasil melhor, a leitura da obra “Sumário da Doutrina Cristã” de Edward Koehler, da Editora Concórdia (BR), porque se o cristianismo acabou com a escravatura no Império Romano, também conseguirá libertar este grande País das desigualdades que ainda o fazem vacilar, não pela espada, pelo ódio ou pela vingança, mas pela Paz que Cristo trouxe ao mundo, Amor reconciliador que estende, de igual modo e com a mesma intensidade, a todas as raças e nações da Terra.

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