domingo, 14 de novembro de 2010
A trela é uma arma
O cão ioiô
O cão que corre sem lebre à frente
O que é um bom aluno da escola?
Novo binómio
Caderno de ensino: XXXVII. O ladra
Condicionar um cão a ladrar é tão-somente aproveitar uma das suas vozes naturais, muito embora existam raças que ladrem mais do que outras. Podemos fazê-lo por aproveitamento, instigação ou persuasão de acordo com as características individuais de cada cão. O que se procura é o ladrar ordenado e não o instintivo, considerando a sobrevivência dos cães, o uso a dar-lhes e a salvaguarda binomial. Convém que o comando transite para a linguagem gestual e seja accionado por ela, o que impedirá a denúncia do binómio e possibilitará o uso do cão à distância. O ladrar é naturalmente uma voz de aviso que antecede o rosnar, que tanto o pode substituir como eliminar. Ensinar os cães mais submissos a ladrar é um requisito indispensável e um subsídio para a vida, considerando a sua ajuda ou socorro, porque o ladrar soa mais alto que o vulgar gemido. E neste sentido, fomentar o ladrar irá implicar num melhor equilíbrio dos indivíduos. Por outro lado e servindo o mesmo propósito, também os donos dos cães agressivos saiem a ganhar, porque vêem aumentado o seu controlo sobre eles, evitando assim a transição automática do rosnar para o ataque. Para além do aviso, o ladrar pode ser usado como intimidação tanto dentro do lar quanto nas saídas ao exterior. Diante das actuais especificações caninas o ladrar tem vindo a ser usado como sinal de identificação ou detecção.Mais do mesmo e menos do mais
sábado, 6 de novembro de 2010
E já agora, porque não construir o 1º lupino português?
Agora que a hibridação parece ter vindo para ficar, muito se tem falado sobre uma nova tendência, a do cruzamento do Pastor Alemão com o Malinois, bastardia que muitos julgam excelente e outros miraculosa, a despeito das raças e em prol de pretensos benefícios, como se o alemão precisasse de maior inquietude e o belga de mais juízo, o primeiro de maior instinto e o segundo de melhor personalidade. Ainda não sabemos se a ideia terá muitos adeptos ou se fica pelo desejo, porque o mundo é feito de mudança e altera-se a olhos vistos. A incontestada supremacia laboral dos lupinos dentro da canicultura levou muitos países à formação de um cão nacional com essas características. Assim nasceram os Pastores Holandeses, o Lobo Checo, o Lobo Italiano, O Pastor de Shiloh, entre tantos outros. Agora que em Portugal a investigação científica começa a dar mostras da sua credibilidade, havendo por cá excelentes genetistas ou geneticistas, etólogos desempregados e treinadores credíveis, porque não construir o 1º lupino português? A raça nacional mais próxima deste grupo somático é o Cão de Castro Laboreiro, um lupóide amastinado, mais mastim e menos lupóide à medida que o tempo passa. No passado recente alguém tentou fazê-lo, lançando mão do Pastor Alemão e do Podengo Gigante, o projecto não passou da fase embrionária, foi inconclusivo e bem depressa foi abandonado, porque foi feito às expensas de um canil e sem qualquer subsídio. Sabemos como fazer e temos gente para isso, não nos falta mercado interno e podemos chegar à exportação, O que será melhor para todos: andar constantemente a comprar ou ter algo valioso para vender? Este é um desafio para os novos canicultores, a canicultura nacional agradece e o País só tem a ganhar com isso. Continuaremos eternamente a andar com cães alheios?A queda da liderança e a ascensão do condicionamento
Desde o último quarto do Sec. XX até aos nossos dias a canicultura e a cinotecnia sofreram profundas alterações tanto nos pressupostos selectivos quanto nos métodos de treino, mudanças que resultaram do avanço científico, do questionamento social, de uma menor exigência, de uma maior sensibilidade e também da banalização dos cães. O passar dos anos levou à inevitável troca de gerações e nalguns casos ao rompimento entre a ancestral cinecultura e a actual, criando vazios pela reinvenção e atrasos pela ignorância, tendência comum entre nós na procura do último grito, num calcorrear de atalhos que nos leva à cópia, não fossemos um estado periférico, desnorteado e dependente de outros. A maior benfeitoria que os novos adestradores nos legaram, no meio de tantas outras, foi o condicionamento alegre e descontraído, um conjunto de regras que tenta substituir a indispensável liderança humana, tornando o uso dos cães ao alcance de todos, bem hajam!
Porém, como não há bela sem senão, a mecanicidade afectiva acabou por encobrir cães impróprios e desprezar outros de excelente qualidade, porque são mais difíceis, um pouco menos eufóricos e por vezes demasiado sérios, criando graves problemas ao facilitismo que por aqui faz escola. Por todo o lado e por onde menos se espera, existem cães à espera que os vão buscar, esquecidos em canis onde poucos ousam entrar, como se fossem feras ou monstros apocalípticos, papões de quatro patas ou habitantes do quinto dos infernos. Grande número dos actuais condutores cinotécnicos (podíamos usar outra designação), à imitação dos automobilistas, opta pelo “test drive” e procura um cão à medida das suas conveniências. Longe vão os tempos em que a escolha não era possível e o domínio do inteligente se sobrepunha às arremetidas do irracional. Hoje a palavra de ordem é incompatibilidade e partir dela se esconde o comodismo. Temos como experiência que os cães mais difíceis são invariavelmente os melhores, os menos sujeitos a subornos, os que mais se empenham e os que maior aptidão manifestam, companheiros em quem vale a pena apostar. Falta trabalho, porque os cães depois de atrelados rapidamente se submetem.A recuperação dos medrosos
Estes cães têm um comportamento marginal e irão obrigar a uma terapia própria e a medidas excepcionais, porque desde cedo se isolam e sujeitam-se às investidas dos seus pares. A sua extrema dependência quando associada a uma inusitada carga instintiva levá-los-á a alimentar-se debaixo de suspeita, a carreiras evasivas, à troca da defesa pelo esconderijo, ao evitar de confrontos, ao temor face à autoridade e à resistência diante da novidade. O problema é anterior à transição do canis lupus para o lupus familiaris e ao eugenismo operado pelo homem, muito embora o último tenha contribuído para a sua proliferação, porque doutro modo dificilmente estes animais sobreviveriam nas alcateias, particularmente durante estações ou ecossistemas parcos em alimentos. Apesar de definhar dentro de uma matilha, o cão medroso sentir-se-á ali mais protegido do que perante a irrecusável constituição binomial, mercê do seu particular biológico, das suas características inatas e histórico social, condições que irão dificultar excessivamente a sua futura integração.
Apesar de subsistirem casos ligados à sagacidade de quem os vende e à ignorância de quem os adquire, a maioria dos cães medrosos chegará às nossas casas por comiseração, sentimento que mais tarde poderá transformar-se numa temível decepção e perpetuar pródigos desalentos na pessoa dos seus benfeitores, porque contrariamente ao amor, as paixões são volúveis e o desânimo enfraquece. A recuperação de um cão com estas características aponta para um processo inequívoco de reeducação, só possível pela dependência canina e pela alteração do seu viver social, esforço conjunto direccionado ao despoletar condicionado dos seus impulsos herdados indispensáveis e que induzirá a um renascimento por parto ambiental. Ainda que o sucesso seja possível, sempre será mais fácil regrar um valente do que suscitar valentia a um medricas. A haver alteração, ela resultará em primeira instância do super empenho do agregado humano, esperançado e apostado na sua recuperação. Dono e demais família do lar adoptivo, adestradores, condutores e cães escolares, todos estarão implicados neste projecto colectivo que visa esta emancipação individual, enquanto arautos da esperança e artífices da mudança.
A doação do cachorro problemático deverá considerar a sua recuperação e bem-estar, atentar para o perfil psicológico do obsequiado (que deverá ser experiente, disponível, empenhado, tolerante e compassivo), para as condições que oferece e para a existência ou não doutros cães de que poderá ser proprietário. Como o problema tem reflexos sociais e apostamos na transcendência operativa ambiental, não descuidando o possível contributo positivo de outros cães (biológico), é desejável que o cachorro venha a conviver um cão adulto do sexo oposto, equilibrado e razoavelmente controlado, porque a recuperação de um cachorro macho acontece naturalmente pela generosidade de uma cadela adulta e uma fêmea jovem sentir-se-á segura junto de um macho decidido, imitando-o e seguindo-o por toda a parte (vai com as costas quentes). O convívio entre cadelas deverá ser evitado, particularmente após a maturidade sexual, momento em que a mais velha procurará o agrado da liderança e escorraçará a mais nova da sua presença, fortalecendo-se de sobremaneira e enfraquecendo a outra sobejamente mais carenciada de ajuda. Do mesmo modo, a amizade entre um cachorro medroso e um cão adulto será comprometida durante o cio duma cadela residente, quando o instinto sexual despoletar sem rodeios o impulso ao poder do mais velho. A coabitação do cachorro problemático com cães castrados, considerando a sua recuperação, tanto poderá ser benéfica como catastrófica, ficando isso a dever-se ao carácter desses eunucos, à ocasião da mutilação e aos seus reflexos (taras e singularidades).
Assim, coabitação no lar adoptivo com outro cão garante a celeridade do processo reeducador, particularmente no convívio canino sem o espectro da exiguidade territorial e na permanência do espaço que lhes é comum. Este entendimento biológico, quando reforçado pela cumplicidade entre o líder e cão adulto, suscitará do cachorro a competitividade que gera a brincadeira, levá-lo-á a aceitar a hierarquia de modo natural e a assimilar a liderança como uma experiência feliz., porque só o equilíbrio doméstico poderá garantir as saídas ao exterior sem maiores atropelos. Os membros do agregado familiar, enquanto elementos neutros, deverão coibir-se de dar ordens ao cachorro ou proceder-lhe a reparos, forçar a sua presença ou contribuir para o seu afastamento, o que implicaria numa despromoção social facilmente absorvida pelo infante e que comprometeria a sua desejável ascensão. A brincadeira e a distribuição de brinquedos propicia a obtenção dum espólio próprio e as crianças responsáveis podem contribuir para a eliminação do espectro da autoridade, graças à parceria, à relação de proximidade, particularidade vocal e de interesses, à menor rigidez de postura e ao reduzido volume da sua silhueta, subsídios pedagógicos de valor inestimável para a recuperação do cachorro. A constituição binomial resultará das brincadeiras divididas com o cão adulto, da contribuição do agregado familiar e da propriedade da liderança, legitimada pelo exemplo e fundamentada na cumplicidade.
Se houver necessidade de atrasar o treino escolar, coisa difícil de acontecer diante do cenário acima descrito, espera-se o tempo necessário e o surgimento da autonomia que o suporta, porque o tempo não é um obstáculo mas um amigo que corre em nosso auxílio. No treino e porque queremos aproveitar a plasticidade física e cognitiva presente nos cachorros entre os 4 e os 6 meses de idade, abraçaremos a mobilidade em desfavor do travamento, os subsídios direccionais em prejuízo dos de imobilização, insistiremos na ginástica e no “junto”, porque sabemos que o desenvolvimento físico providencia o aumento cognitivo e que a experiência variada e rica opera por equilíbrio o seu desenvolvimento. A troca gradual de condutores, as distintas manobras de sociabilização, a disciplina das classes e o exemplo dos cães mais velhos tornarão viável a recuperação quase absoluta do cachorro, sintonizando-se com a sua espécie e preparando-o para a vida entre os homens, solicitando-lhe serviços que naturalmente e por si mesmo jamais alcançaria. Nisto reside a força do amor, dínamo do adestramento, força que massifica e quantifica os sentimentos nesta exigente arte de ensinar cães.
Poderá um cachorro medroso transformar-se num autêntico cão guardião? Sim e não, se entendermos a disciplina de guarda sem subtilezas e como modo de confrontação. Sim - se os simulacros produzirem alteração, preparação e capacitação; não - diante da novidade, da surpresa e na ausência de reciclagem, porque o condicionamento não ultrapassa a experiência animal e não consegue esconder os seus entraves individuais, apesar de muitos cães com estas características poderem vir a alcançar excelentes resultados em provas, por força da ficção que se transforma em realidade. O cão genuinamente guardião nasce assim e o devidamente estimulado adquire um comportamento quase idêntico, facto que toda a gente reconhece e que recentemente vimos denunciado, mais uma vez, no opúsculo “The Downfall of the German Shepherd” da autoria de Koos Hassing, cinotécnico holandês de reconhecidos méritos desportivos, um contestador de fórmulas sem questionar a sua essência ou denunciar a sua filosofia. Aqui como noutras disciplinas e para além das características individuais de cada cão, só a experiência sustenta a soberania do condicionamento.
Para transformar um medroso num guardião é necessário revitalizar-lhe os impulsos herdados inerentes a essa prestação, activando cada um deles pelo reforço positivo e dando tempo ao progresso. A primeira meta a atingir será a do bem-estar entre iguais, depois seguir-se-á a aceitação da liderança, logo a seguir a sociabilização e finalmente as induções. Provavelmente teremos de alterar as dietas, insistir na ginástica e não desprezar a recompensa. As induções começarão por ser domésticas, evoluirão para a Escola, acontecerão noutros terrenos e revitalizar-se-ão de novo em casa, considerando a fragilidade do seu particular gregário e a resistência que oferece perante a novidade de territórios e circunstâncias. As induções recairão inicialmente sobre o objecto e nunca sobre a pessoa do agressor, por convite e não por desafio, devendo ser projectadas debaixo do mesmo estímulo e acontecer sob condições óptimas, aquelas que o cão conhece e que lhe darão a certeza da vitória. Para que o cão vá adiante é necessário que perca o medo das pessoas, que as considere ao seu alcance e sujeitas ao seu domínio, benefício que geralmente alcançamos pelo exercício do APC e pelo convite à transposição de obstáculos humanos, debaixo de subsídios direccionais amplamente repetidos até se constituírem em rotinas, porque a familiarização é um trunfo que não podemos dispensar. Os indivíduos convidados para este trabalho não deverão temer por si , tudo fazendo para que a normalidade se mantenha e o imprevisto não gere confusão ou provoque retrocesso.Sol na eira e chuva no nabal
Usámos este fim-de-semana para a aplicação prática dos conteúdos constantes no Caderno de Ensino. A chuva assustou alguns alunos e deixou outros sem telefone, incomunicáveis e sem hipótese de receberem ou devolver chamadas. A instrução decorreu em 3 locais diferentes e a chuva poupou-nos. Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Bruno/Iris, Célia/Igor, Francisco/Iris, Francisco/Nick, João/Flikke, João Moura/Bonnie, Joaquim/Maggie, Luis Leal/ Rocky & Teka I, Megan/Champ, Miriam/Índigo, Nuno SP/Nicky, PSPedro/Tag, Rodrigo/Tarkan, Tatiana/Teka, Tiago/Sane, Teresa/Buster e Vitor Hugo/Yoshi. Colaboram nos trabalhos os seguintes NE’s: Fátima Figueiredo, Pedro Figueiredo e Rui Coito.quinta-feira, 28 de outubro de 2010
O peso dos 4 meses no cão do amanhã
As considerações aqui adiantadas reportam-se ao desenvolvimento do CPA, muito embora possam ser válidas para cães com curvas de crescimento idênticas, igualmente rectangulares e com o mesmo coeficiente de envergadura (CAP). Tanto o peso quanto a altura aos 4 meses de idade são indícios claros do que virá a ser o futuro cão, já que nessa ocasião atingirá de 71 a 73% da sua altura e à volta de 54% do peso indicado pelo estalão. Nunca nos conformámos com exemplares pequenos, pernaltos ou débeis, atendendo à presença ostensiva, à robustez pró serviço, à força de impacto, ao instinto de presa e ao ajuste binomial. Por causa disso pesamos os cachorros à nascença, depois semanalmente e após o desmame mensalmente, porque sabemos que os exemplares mais fracos, os que não recuperarem até à 9ª semana de vida, dificilmente o farão depois disso, crescendo deficitários tanto na ossatura quanto na envergadura, por razões genéticas ou ambientais, isoladas ou combinadas, intrinsecamente ligadas à ignorância e ao factor económico. Não havendo desaproveitamento do património genético, um cachorro CPA saudável deverá pesar aos 4 meses 40 vezes mais do que pesou à nascença, sem agravo nos aprumos, aceleração dos ritmos vitais ou dificuldades locomotoras. A proliferação de CPA’s anões ou ratões resulta da matreirice de alguns e da austeridade de outros, podendo encontrar razões em desmames precários, em beneficiamentos sem sentido, na consanguinidade, num património genético deplorável e numa dieta inadequada ou forçada. Sempre será melhor comprar cachorros a quem não necessita deles para sobreviver, porque a relação preço-qualidade nas ninhadas sempre será suportada pela escassez de alimento adequado no bucho de quem não fala.
Nunca é demais relembrar que aos 4 meses, quando em contacto com outros cães adultos, os cachorros são impelidos a segui-los, dando início à excursão que os levará ao entendimento do seu viver social. Com eles aprenderão a juntar-se ao seu bando, a achar pistas, a caçar, a identificar perigos, presas e inimigos. É nesta ocasião que começam a absorver a hierarquia, viver social que se firmará por volta dos seis meses de idade. Como diz o povo: “quem vai para o mar avia-se em terra” e o cachorro aos quatro meses já deve partir ataviado da robustez para essa aventura, rica em experiências que se tornarão para ele em lições de vida. É nesta fase da vida dos cachorros que iniciamos o seu treino, valendo-nos dos cães adultos escolares que se transformarão em seus guias, segundo o Método de Trumler e por aproveitamento da precocidade, no acompanhamento dos seus ciclos infantis a partir da experiência variada e rica. Metaforicamente falando, como podemos aceitar um aluno que mal tem força para pegar na caneta ou que não se aguenta nas “canetas”? É de há muito conhecida a guerra entre criadores e adestradores, uma escaramuça onde cada um dia tira a água de cima do capote, inútil e inconclusiva que a nenhuma das partes serve, porque a dissidência obsta ao propósito que lhes é ou deveria ser comum. De acordo com a nossa tosca sensibilidade, isenta de erudição, mal chegada a guerras e afastada de tutelas, entendemos que criadores e adestradores deveriam complementar-se, constituir-se numa sólida equipa em torno da qualidade, porque ambos prestam serviço e aos dois se exige responsabilidade.Caderno de ensino: XXXIV. Os brinquedos
Caderno de ensino: XXXV. O transporte
Caderno de ensino: XXXVI. O nó de corda
Mensagem para os atrasados e carta a Rui Meneses
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: António Almeida/Shadow, Carla Abreu/Becky, Célia/Igor, Francisco/Iris, Hugo/Lobi, Joana/Flikke, João Moura/Bonnie, Joaquim/Maggie, Luis Leal/Teka I & Rocky, Maria luís/Tyson, Megan/Champ, Patrícia/Boneca, Roberto/Turco, Rodrigo/Tarkan, Teresa/Buster, Tiago/Sane e Vitor Hugo/Yoshi. Colaboraram nos trabalhos os seguintes NE’s: Américo Abreu, Fátima Figueiredo, Isabel Silva, Olga Oliveira, Pedro Figueiredo e Rui Coito.quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Muda do pêlo e higiene
Os 12 de Inglaterra e as 24 da Acendura
U.S. Team: Megan Lavelle / Champ
O Carlos e o Tote
O Carlos chegou-nos primeiro com o Toureiro, depois com a Luna e finalmente com o Tote. Assim tem sido o seu caminhar entre os CPA’s. Com o Toureiro pouco trabalhou, porque o animal apresentava algumas insuficiências que lhe dificultavam o treino, com a Luna labutou afincadamente e excedeu as expectativas, com o Tote encontrou um companheiro, uma alma gémea como hoje se diz. A união e a cumplicidade entre ambos são tão grandes que é impossível pensar num sem imaginar o outro. O Carlos tem a sobranceria típica dos ribatejanos (garbo), um fervor nas veias que o torna excêntrico, vibra com pequenos nadas e espraia-se pela emoção. O Tote dá menos nas vistas e segue o dono por toda a parte, silencioso e quase ausente, como quem se esconde e foge à vista. Há seis anos que fazem equipa e têm andado por todo o lado, suscitando admiração e apreço, enaltecendo o nome da Escola e alegrando as crianças. A relação binomial excede a encontrada entre o apoderado e artista, lembra a união entre o cavalo e o cavaleiro numa tarde de “ sol e sombra”, porque não se sabe onde acaba um e começa o outro. Ambos têm servido de inspiração e sempre se fazem presentes quando são chamados. Olha o diabo, Passo Doble e Olé!
O outono das otites
A propensão pràs otites é maior nas Estações intermédias e no Outono acontecem com frequência. Otite é um termo técnico que designa as inflamações do ouvido e elas são mais frequentes nos cães de orelhas grandes e tombadas (peludas ou não). O facto dos CPA’s terem orelhas erectas não os isenta do problema e alguns acabam assolados por ele, não havendo cuidado na prevenção, alguns poderão acabar com elas irremediavelmente tombadas. São várias as causas que contribuem para a otite e as mais comuns são: entrada de água no ouvido, infecções bacterianas ou por levedura, alergias, doenças de pele, stress, queda de imunidade, presença de corpos estranhos, infestação parasitária ou tumores. Os principais sintomas são: sensibilidade, secreção com cheiro desagradável, canal auditivo avermelhado, inclinação e meneio da cabeça e ao desconforto que leva ao coçar com a pata. E porque é mais sábio prevenir do que remediar, aconselhamos o tratamento preventivo contra as otites, a conselho e parecer do veterinário assistente.Caderno de ensino: XXXIII. O "atenção"
Comandos em liberdado e detecção de intrusos
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
A folgança dos zés-pereiras e a infelicidade dos seus cães
No Sul do País confunde-se frequentemente os “Zé Pereiras” com os “Cabeçudos” nos desfiles carnavalescos, ainda que ambos sejam parte integrante dessas folias e possam complementar-se. Os “Zé-Pereiras” são grupos de foliões que tocam instrumentos de precursão (tambores, bombos, pífaros, gaitas de foles e concertinas) que geralmente antecedem ou anunciam o início dessas festividades. “Cabeçudos”, como o próprio nome sugere, são carantonhas satíricas e não raramente são caricaturas fiéis de pessoas a ridicularizar. Entre nós, na Acendura Brava, o termo “Zé-Pereira” destina-se àqueles que apenas desfilam com os seus cães ao fim-de-semana, quando vêm à escola e que nos restantes dias os mantêm arredados da sua presença, como se eles não existissem ou fossem pesado fardo. Quando um “Zé Pereira” dos nossos tem muitos cães é alcunhado de “Cabeçudo”, porque tem mais olhos que barriga, não vê a infelicidade que causa e dorme satisfeito sobre o assunto, ainda que viva no limiar da pobreza e possa prejudicar com isso a sua pessoa ou o seu agregado familiar.
Quando um “Cabeçudo” se transforma em criador a situação agrava-se, porque as despesas não dão para os gastos, os cachorros são vendidos abaixo do preço de mercado e a sua sorte poderá não ser a melhor, já que os oportunistas, sabendo que os bons negócios acontecem na compra, irão vendê-los a outrem ou descartá-los-ão, quando desinteressados e considerando o baixo prejuízo. O “Cabeçudo” raramente paga a pronto, vai pagando aos soluços e sempre tem débitos a vencer, corta na barriga das gestantes e pode abusar delas, procura desparasitantes e vacinas mais baratas e tenta despachar os cachorros o mais cedo possível, porque não lhe sobra outro remédio e a situação agrava-se dia após dia. Debaixo deste cenário decrépito e ruinoso, não irá ser capaz de operar melhoramentos nas suas instalações, de dar melhores condições aos cães, de adquirir melhores reprodutores e publicitar eficazmente o seu produto, porque cada ninhada agrava a sua já insustentável economia. Diga-se em abono da verdade, que a existência de intermediários, acima tratados como oportunistas, é benéfica neste caso, porque vendendo os cachorros ao preço de mercado, impedirão o “Cabeçudo” de prejudicar outros criadores, gente apostada na qualidade dos seus cachorros e que tenta ver rentabilizado o seu trabalho, muito embora saiba de antemão que a criação de cães não lhes irá aumentar a riqueza. Nasce-se “Cabeçudo” e dificilmente se morre doutra forma, é isso que a experiência nos tem ensinado, a menos que alguém tome as rédeas do seu destino e movido pelo amor contrarie a sua inclinação suicida.
Mas voltemos aos “Zé-Pereiras”, àqueles que ignoram os seus cães ao longo das semanas e cujo rendimento escolar isso reflecte, condutores de desfile e objecto de zombaria, anunciantes da paródia que os expõe ao ridículo e não poupa os seus cães. Alguma desta gente lembra os macacos que saltam de galho em galho, porque pulam de escola em escola na procura de sucesso, como se a ausência do seu gozo não resultasse da sua exclusiva irresponsabilidade. Mais cedo ou mais tarde, porque o progresso não é visível, o “Zé Pereira” dir-nos-á adeus, rumará para outras paragens (as do seu contentamento) e o cão retornará ao seu chiqueiro, tal qual porco que aguarda alimento e que fica entregue aos seus desígnios, gordo e reluzente (se for esse o caso e nem sempre é). Com o passar dos anos iremos esquecer-nos dele (do condutor), a menos que tenha sido por demais bronco, doutra forma, lembrar-nos-emos somente do infeliz do cão, um companheiro subaproveitado a quem por má sorte não pudemos valer. Temos por hábito e nisto nos conserve a Divina Providência, porque buscamos alteração e apostamos no bem-estar dos cães, denunciar estes comediantes e alertá-los para a precariedade do seu desempenho, que sendo impróprio e insuficiente, relegará os seus fiéis companheiros para indíces de aproveitamento contrários à sua natureza e mais-valias, comprometendo dessa forma a cumplicidade possível e desejável. Os “Zés” serão sempre Zés, independentemente de se chamarem Antónios, Marias, Manueis ou Joaquins.
Depois de muitos anos a trabalhar cães, a ouvir e observar milhares de donos (cerca de 4.000 nos últimos 20 anos), atendendo ao sucesso no adestramento, descobrimos que por detrás do êxito persiste o amor que o sustenta, um sentimento filial e fraternal que não se envergonha, que produz alteração e vai adiante, que depura a ambição, desperta a tolerância e constrói a inevitável relação de paridade. Descobrimos também que o empenho e à habilidade dos condutores se encontram ligados ao seu modo de ser e à sua prestação noutras áreas, resultando como complemento ao seu quadro de afeições, viver social e atributos, porque o estar nos cães acaba por desnudar o equilíbrio, as aspirações e o trajecto dos indivíduos devido ao dualismo das vontades (as dos donos e as dos cães). Um condutor desleixado e mandrião, vulgo calinas e para nós “Zé-Pereira”, terá alguma dificuldade em comportar-se em casa e no emprego de outro modo, já que o cão é doméstico e exige serviço. Infelizmente, ninguém será melhor por ser condutor de cães, mas os mais aptos sem dificuldade abraçarão o adestramento. Havendo excepções, porque o concurso ao adestramento pode ser um escape, resultar de uma veleidade ou de um comportamento marginal, o tratamento dado aos cães não diferirá em muito do dispensado ao agregado familiar (conjugues, pais e filhos), que não sendo de imediato manifesto, não demorará a revelar-se, porque as dificuldades apressam tanto as qualidades quanto as incapacidades. E nisto, os cães levam-nos à leitura correcta dos seus condutores, pelo teor da resistência que oferecem e pelas atitudes tomadas como resposta.
A recuperação de um “Zé-Pereira” é uma tarefa muitas vezes inglória e votada ao fracasso, porque resulta de uma personalidade que adoptou um tipo de carácter que não a contrapõe, o que nos remete para problemas pedagógicos alheios e anteriores ao treino propriamente dito. O facto do adestramento ser uma actividade lúdica e encarado como tal, também não ajuda, porque ele é sustentado por adultos pouco dados a mudanças, cuja plasticidade é menor e a quem as alterações provocam algum desconforto. O mesmo não se passa com os pseudo “Zé-Pereiras”, os jovens que nos são confiados e nos quais alcançamos alteração, mercê da regra que estabelece o método e dos procedimentos que garantem o êxito. Porém, considerando o seu número em relação aos demais, cada vez mais temos menos jovens, fenómeno ligado à novidade de interesses e à actualidade social das famílias, onde cada membro se ocupa super ocupado e distante das actividades dos outros, muitas vezes entregue a si próprio e desterrado para o virtual. Assim como nenhuma escola será digna desse nome se não produzir alteração, também nenhuma subsistirá sem o contributo dos jovens. Conhecedores dos benefícios prestados pelo adestramento, intimamente ligados ao exercício da liderança, à formação de um carácter forte e ao equilíbrio entre a emoção e razão, alguns pais (também eles verdadeiros “Zé-Pereiras”), inscrevem os seus filhos nas escolas caninas, esperando delas aquilo que naturalmente é sua incumbência, porque não tiveram tempo ou “a vida não lhes permitiu”, o que transformará a escola canina num verdadeiro ATL (Actividades de Tempos Livres), sobrecarregará os instrutores e levará ao desinteresse dos instruendos. Apesar de tudo, meia dúzia deles permanecerá entre nós, manterá amizade connosco e ficar-nos-á grata. O nosso êxito junto dos jovens tem sido possível pela participação conjunta dos pais nas actividades que levamos a cabo, acção que incentivamos e que muito nos apraz.
Falta falar da infelicidade dos cães, animais emocionais que por desalento alcançam várias doenças (físicas psicológicas) por força da sua dependência social. Os “Zé-Pereiras”, quiçá por hedonismo e por terem uma cabeça desproporcionada, ainda que possa ter uma aparência normal, tratam os seus cães como lobos, como se eles não precisassem da intervenção humana e não lhes solicitassem ajuda. Estes cães passam a semana praticamente isolados, confinados em pequenas divisões ou varandas, em quintais exíguos ou à molhada com outros cães, viver social impróprio que entrava o seu desenvolvimento físico e cognitivo, que apela aos seus instintos e obsta à parceria. Alguns deles irão desenvolver diferentes taras e a maioria manifestará um profundo desencanto pelo treino, estranhará a liderança e desencantar-se-á pelos exercícios. Contra natura irão envelhecer mais rapidamente, engordarão com mais facilidade, perderão mobilidade, tornar-se-ão silvestres e serão precocemente atingidos por várias doenças. O cativeiro forçado dos animais tem sido responsável pelo surgimento de doenças típicas que atentam contra o seu bem-estar e qualidade de vida. Ainda que algumas raças caninas possam ter doenças típicas da sua raça, todos os cães sofrem misérias quando sujeitos ao isolamento. O que dá gozo ao “Zé-Pereira” é ter um cão e o que mais o maça é ter de cuidar dele! Ele não escova o cão diariamente, raramente o tira do cárcere, atrasa o calendário de vacinação, esquece-se de o desparasitar, dá-lhe rações baratas, deixa-o apanhar otites e, como está sempre com pressa, deixa de olhar para ele, não vá o bicho importuná-lo ou causar-lhe problemas de “consciência”. Libertar os cães do corso carnavalesco é um imperativo e para que isso aconteça é necessário dar combate aos “Zé-Pereiras” que nos aparecem. Eis aqui um dos nossos propósitos.
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