No Sul do País confunde-se frequentemente os “Zé Pereiras” com os “Cabeçudos” nos desfiles carnavalescos, ainda que ambos sejam parte integrante dessas folias e possam complementar-se. Os “Zé-Pereiras” são grupos de foliões que tocam instrumentos de precursão (tambores, bombos, pífaros, gaitas de foles e concertinas) que geralmente antecedem ou anunciam o início dessas festividades. “Cabeçudos”, como o próprio nome sugere, são carantonhas satíricas e não raramente são caricaturas fiéis de pessoas a ridicularizar. Entre nós, na Acendura Brava, o termo “Zé-Pereira” destina-se àqueles que apenas desfilam com os seus cães ao fim-de-semana, quando vêm à escola e que nos restantes dias os mantêm arredados da sua presença, como se eles não existissem ou fossem pesado fardo. Quando um “Zé Pereira” dos nossos tem muitos cães é alcunhado de “Cabeçudo”, porque tem mais olhos que barriga, não vê a infelicidade que causa e dorme satisfeito sobre o assunto, ainda que viva no limiar da pobreza e possa prejudicar com isso a sua pessoa ou o seu agregado familiar.
Quando um “Cabeçudo” se transforma em criador a situação agrava-se, porque as despesas não dão para os gastos, os cachorros são vendidos abaixo do preço de mercado e a sua sorte poderá não ser a melhor, já que os oportunistas, sabendo que os bons negócios acontecem na compra, irão vendê-los a outrem ou descartá-los-ão, quando desinteressados e considerando o baixo prejuízo. O “Cabeçudo” raramente paga a pronto, vai pagando aos soluços e sempre tem débitos a vencer, corta na barriga das gestantes e pode abusar delas, procura desparasitantes e vacinas mais baratas e tenta despachar os cachorros o mais cedo possível, porque não lhe sobra outro remédio e a situação agrava-se dia após dia. Debaixo deste cenário decrépito e ruinoso, não irá ser capaz de operar melhoramentos nas suas instalações, de dar melhores condições aos cães, de adquirir melhores reprodutores e publicitar eficazmente o seu produto, porque cada ninhada agrava a sua já insustentável economia. Diga-se em abono da verdade, que a existência de intermediários, acima tratados como oportunistas, é benéfica neste caso, porque vendendo os cachorros ao preço de mercado, impedirão o “Cabeçudo” de prejudicar outros criadores, gente apostada na qualidade dos seus cachorros e que tenta ver rentabilizado o seu trabalho, muito embora saiba de antemão que a criação de cães não lhes irá aumentar a riqueza. Nasce-se “Cabeçudo” e dificilmente se morre doutra forma, é isso que a experiência nos tem ensinado, a menos que alguém tome as rédeas do seu destino e movido pelo amor contrarie a sua inclinação suicida.
Mas voltemos aos “Zé-Pereiras”, àqueles que ignoram os seus cães ao longo das semanas e cujo rendimento escolar isso reflecte, condutores de desfile e objecto de zombaria, anunciantes da paródia que os expõe ao ridículo e não poupa os seus cães. Alguma desta gente lembra os macacos que saltam de galho em galho, porque pulam de escola em escola na procura de sucesso, como se a ausência do seu gozo não resultasse da sua exclusiva irresponsabilidade. Mais cedo ou mais tarde, porque o progresso não é visível, o “Zé Pereira” dir-nos-á adeus, rumará para outras paragens (as do seu contentamento) e o cão retornará ao seu chiqueiro, tal qual porco que aguarda alimento e que fica entregue aos seus desígnios, gordo e reluzente (se for esse o caso e nem sempre é). Com o passar dos anos iremos esquecer-nos dele (do condutor), a menos que tenha sido por demais bronco, doutra forma, lembrar-nos-emos somente do infeliz do cão, um companheiro subaproveitado a quem por má sorte não pudemos valer. Temos por hábito e nisto nos conserve a Divina Providência, porque buscamos alteração e apostamos no bem-estar dos cães, denunciar estes comediantes e alertá-los para a precariedade do seu desempenho, que sendo impróprio e insuficiente, relegará os seus fiéis companheiros para indíces de aproveitamento contrários à sua natureza e mais-valias, comprometendo dessa forma a cumplicidade possível e desejável. Os “Zés” serão sempre Zés, independentemente de se chamarem Antónios, Marias, Manueis ou Joaquins.
Depois de muitos anos a trabalhar cães, a ouvir e observar milhares de donos (cerca de 4.000 nos últimos 20 anos), atendendo ao sucesso no adestramento, descobrimos que por detrás do êxito persiste o amor que o sustenta, um sentimento filial e fraternal que não se envergonha, que produz alteração e vai adiante, que depura a ambição, desperta a tolerância e constrói a inevitável relação de paridade. Descobrimos também que o empenho e à habilidade dos condutores se encontram ligados ao seu modo de ser e à sua prestação noutras áreas, resultando como complemento ao seu quadro de afeições, viver social e atributos, porque o estar nos cães acaba por desnudar o equilíbrio, as aspirações e o trajecto dos indivíduos devido ao dualismo das vontades (as dos donos e as dos cães). Um condutor desleixado e mandrião, vulgo calinas e para nós “Zé-Pereira”, terá alguma dificuldade em comportar-se em casa e no emprego de outro modo, já que o cão é doméstico e exige serviço. Infelizmente, ninguém será melhor por ser condutor de cães, mas os mais aptos sem dificuldade abraçarão o adestramento. Havendo excepções, porque o concurso ao adestramento pode ser um escape, resultar de uma veleidade ou de um comportamento marginal, o tratamento dado aos cães não diferirá em muito do dispensado ao agregado familiar (conjugues, pais e filhos), que não sendo de imediato manifesto, não demorará a revelar-se, porque as dificuldades apressam tanto as qualidades quanto as incapacidades. E nisto, os cães levam-nos à leitura correcta dos seus condutores, pelo teor da resistência que oferecem e pelas atitudes tomadas como resposta.
A recuperação de um “Zé-Pereira” é uma tarefa muitas vezes inglória e votada ao fracasso, porque resulta de uma personalidade que adoptou um tipo de carácter que não a contrapõe, o que nos remete para problemas pedagógicos alheios e anteriores ao treino propriamente dito. O facto do adestramento ser uma actividade lúdica e encarado como tal, também não ajuda, porque ele é sustentado por adultos pouco dados a mudanças, cuja plasticidade é menor e a quem as alterações provocam algum desconforto. O mesmo não se passa com os pseudo “Zé-Pereiras”, os jovens que nos são confiados e nos quais alcançamos alteração, mercê da regra que estabelece o método e dos procedimentos que garantem o êxito. Porém, considerando o seu número em relação aos demais, cada vez mais temos menos jovens, fenómeno ligado à novidade de interesses e à actualidade social das famílias, onde cada membro se ocupa super ocupado e distante das actividades dos outros, muitas vezes entregue a si próprio e desterrado para o virtual. Assim como nenhuma escola será digna desse nome se não produzir alteração, também nenhuma subsistirá sem o contributo dos jovens. Conhecedores dos benefícios prestados pelo adestramento, intimamente ligados ao exercício da liderança, à formação de um carácter forte e ao equilíbrio entre a emoção e razão, alguns pais (também eles verdadeiros “Zé-Pereiras”), inscrevem os seus filhos nas escolas caninas, esperando delas aquilo que naturalmente é sua incumbência, porque não tiveram tempo ou “a vida não lhes permitiu”, o que transformará a escola canina num verdadeiro ATL (Actividades de Tempos Livres), sobrecarregará os instrutores e levará ao desinteresse dos instruendos. Apesar de tudo, meia dúzia deles permanecerá entre nós, manterá amizade connosco e ficar-nos-á grata. O nosso êxito junto dos jovens tem sido possível pela participação conjunta dos pais nas actividades que levamos a cabo, acção que incentivamos e que muito nos apraz.
Falta falar da infelicidade dos cães, animais emocionais que por desalento alcançam várias doenças (físicas psicológicas) por força da sua dependência social. Os “Zé-Pereiras”, quiçá por hedonismo e por terem uma cabeça desproporcionada, ainda que possa ter uma aparência normal, tratam os seus cães como lobos, como se eles não precisassem da intervenção humana e não lhes solicitassem ajuda. Estes cães passam a semana praticamente isolados, confinados em pequenas divisões ou varandas, em quintais exíguos ou à molhada com outros cães, viver social impróprio que entrava o seu desenvolvimento físico e cognitivo, que apela aos seus instintos e obsta à parceria. Alguns deles irão desenvolver diferentes taras e a maioria manifestará um profundo desencanto pelo treino, estranhará a liderança e desencantar-se-á pelos exercícios. Contra natura irão envelhecer mais rapidamente, engordarão com mais facilidade, perderão mobilidade, tornar-se-ão silvestres e serão precocemente atingidos por várias doenças. O cativeiro forçado dos animais tem sido responsável pelo surgimento de doenças típicas que atentam contra o seu bem-estar e qualidade de vida. Ainda que algumas raças caninas possam ter doenças típicas da sua raça, todos os cães sofrem misérias quando sujeitos ao isolamento. O que dá gozo ao “Zé-Pereira” é ter um cão e o que mais o maça é ter de cuidar dele! Ele não escova o cão diariamente, raramente o tira do cárcere, atrasa o calendário de vacinação, esquece-se de o desparasitar, dá-lhe rações baratas, deixa-o apanhar otites e, como está sempre com pressa, deixa de olhar para ele, não vá o bicho importuná-lo ou causar-lhe problemas de “consciência”. Libertar os cães do corso carnavalesco é um imperativo e para que isso aconteça é necessário dar combate aos “Zé-Pereiras” que nos aparecem. Eis aqui um dos nossos propósitos.
Quando um “Cabeçudo” se transforma em criador a situação agrava-se, porque as despesas não dão para os gastos, os cachorros são vendidos abaixo do preço de mercado e a sua sorte poderá não ser a melhor, já que os oportunistas, sabendo que os bons negócios acontecem na compra, irão vendê-los a outrem ou descartá-los-ão, quando desinteressados e considerando o baixo prejuízo. O “Cabeçudo” raramente paga a pronto, vai pagando aos soluços e sempre tem débitos a vencer, corta na barriga das gestantes e pode abusar delas, procura desparasitantes e vacinas mais baratas e tenta despachar os cachorros o mais cedo possível, porque não lhe sobra outro remédio e a situação agrava-se dia após dia. Debaixo deste cenário decrépito e ruinoso, não irá ser capaz de operar melhoramentos nas suas instalações, de dar melhores condições aos cães, de adquirir melhores reprodutores e publicitar eficazmente o seu produto, porque cada ninhada agrava a sua já insustentável economia. Diga-se em abono da verdade, que a existência de intermediários, acima tratados como oportunistas, é benéfica neste caso, porque vendendo os cachorros ao preço de mercado, impedirão o “Cabeçudo” de prejudicar outros criadores, gente apostada na qualidade dos seus cachorros e que tenta ver rentabilizado o seu trabalho, muito embora saiba de antemão que a criação de cães não lhes irá aumentar a riqueza. Nasce-se “Cabeçudo” e dificilmente se morre doutra forma, é isso que a experiência nos tem ensinado, a menos que alguém tome as rédeas do seu destino e movido pelo amor contrarie a sua inclinação suicida.
Mas voltemos aos “Zé-Pereiras”, àqueles que ignoram os seus cães ao longo das semanas e cujo rendimento escolar isso reflecte, condutores de desfile e objecto de zombaria, anunciantes da paródia que os expõe ao ridículo e não poupa os seus cães. Alguma desta gente lembra os macacos que saltam de galho em galho, porque pulam de escola em escola na procura de sucesso, como se a ausência do seu gozo não resultasse da sua exclusiva irresponsabilidade. Mais cedo ou mais tarde, porque o progresso não é visível, o “Zé Pereira” dir-nos-á adeus, rumará para outras paragens (as do seu contentamento) e o cão retornará ao seu chiqueiro, tal qual porco que aguarda alimento e que fica entregue aos seus desígnios, gordo e reluzente (se for esse o caso e nem sempre é). Com o passar dos anos iremos esquecer-nos dele (do condutor), a menos que tenha sido por demais bronco, doutra forma, lembrar-nos-emos somente do infeliz do cão, um companheiro subaproveitado a quem por má sorte não pudemos valer. Temos por hábito e nisto nos conserve a Divina Providência, porque buscamos alteração e apostamos no bem-estar dos cães, denunciar estes comediantes e alertá-los para a precariedade do seu desempenho, que sendo impróprio e insuficiente, relegará os seus fiéis companheiros para indíces de aproveitamento contrários à sua natureza e mais-valias, comprometendo dessa forma a cumplicidade possível e desejável. Os “Zés” serão sempre Zés, independentemente de se chamarem Antónios, Marias, Manueis ou Joaquins.
Depois de muitos anos a trabalhar cães, a ouvir e observar milhares de donos (cerca de 4.000 nos últimos 20 anos), atendendo ao sucesso no adestramento, descobrimos que por detrás do êxito persiste o amor que o sustenta, um sentimento filial e fraternal que não se envergonha, que produz alteração e vai adiante, que depura a ambição, desperta a tolerância e constrói a inevitável relação de paridade. Descobrimos também que o empenho e à habilidade dos condutores se encontram ligados ao seu modo de ser e à sua prestação noutras áreas, resultando como complemento ao seu quadro de afeições, viver social e atributos, porque o estar nos cães acaba por desnudar o equilíbrio, as aspirações e o trajecto dos indivíduos devido ao dualismo das vontades (as dos donos e as dos cães). Um condutor desleixado e mandrião, vulgo calinas e para nós “Zé-Pereira”, terá alguma dificuldade em comportar-se em casa e no emprego de outro modo, já que o cão é doméstico e exige serviço. Infelizmente, ninguém será melhor por ser condutor de cães, mas os mais aptos sem dificuldade abraçarão o adestramento. Havendo excepções, porque o concurso ao adestramento pode ser um escape, resultar de uma veleidade ou de um comportamento marginal, o tratamento dado aos cães não diferirá em muito do dispensado ao agregado familiar (conjugues, pais e filhos), que não sendo de imediato manifesto, não demorará a revelar-se, porque as dificuldades apressam tanto as qualidades quanto as incapacidades. E nisto, os cães levam-nos à leitura correcta dos seus condutores, pelo teor da resistência que oferecem e pelas atitudes tomadas como resposta.
A recuperação de um “Zé-Pereira” é uma tarefa muitas vezes inglória e votada ao fracasso, porque resulta de uma personalidade que adoptou um tipo de carácter que não a contrapõe, o que nos remete para problemas pedagógicos alheios e anteriores ao treino propriamente dito. O facto do adestramento ser uma actividade lúdica e encarado como tal, também não ajuda, porque ele é sustentado por adultos pouco dados a mudanças, cuja plasticidade é menor e a quem as alterações provocam algum desconforto. O mesmo não se passa com os pseudo “Zé-Pereiras”, os jovens que nos são confiados e nos quais alcançamos alteração, mercê da regra que estabelece o método e dos procedimentos que garantem o êxito. Porém, considerando o seu número em relação aos demais, cada vez mais temos menos jovens, fenómeno ligado à novidade de interesses e à actualidade social das famílias, onde cada membro se ocupa super ocupado e distante das actividades dos outros, muitas vezes entregue a si próprio e desterrado para o virtual. Assim como nenhuma escola será digna desse nome se não produzir alteração, também nenhuma subsistirá sem o contributo dos jovens. Conhecedores dos benefícios prestados pelo adestramento, intimamente ligados ao exercício da liderança, à formação de um carácter forte e ao equilíbrio entre a emoção e razão, alguns pais (também eles verdadeiros “Zé-Pereiras”), inscrevem os seus filhos nas escolas caninas, esperando delas aquilo que naturalmente é sua incumbência, porque não tiveram tempo ou “a vida não lhes permitiu”, o que transformará a escola canina num verdadeiro ATL (Actividades de Tempos Livres), sobrecarregará os instrutores e levará ao desinteresse dos instruendos. Apesar de tudo, meia dúzia deles permanecerá entre nós, manterá amizade connosco e ficar-nos-á grata. O nosso êxito junto dos jovens tem sido possível pela participação conjunta dos pais nas actividades que levamos a cabo, acção que incentivamos e que muito nos apraz.
Falta falar da infelicidade dos cães, animais emocionais que por desalento alcançam várias doenças (físicas psicológicas) por força da sua dependência social. Os “Zé-Pereiras”, quiçá por hedonismo e por terem uma cabeça desproporcionada, ainda que possa ter uma aparência normal, tratam os seus cães como lobos, como se eles não precisassem da intervenção humana e não lhes solicitassem ajuda. Estes cães passam a semana praticamente isolados, confinados em pequenas divisões ou varandas, em quintais exíguos ou à molhada com outros cães, viver social impróprio que entrava o seu desenvolvimento físico e cognitivo, que apela aos seus instintos e obsta à parceria. Alguns deles irão desenvolver diferentes taras e a maioria manifestará um profundo desencanto pelo treino, estranhará a liderança e desencantar-se-á pelos exercícios. Contra natura irão envelhecer mais rapidamente, engordarão com mais facilidade, perderão mobilidade, tornar-se-ão silvestres e serão precocemente atingidos por várias doenças. O cativeiro forçado dos animais tem sido responsável pelo surgimento de doenças típicas que atentam contra o seu bem-estar e qualidade de vida. Ainda que algumas raças caninas possam ter doenças típicas da sua raça, todos os cães sofrem misérias quando sujeitos ao isolamento. O que dá gozo ao “Zé-Pereira” é ter um cão e o que mais o maça é ter de cuidar dele! Ele não escova o cão diariamente, raramente o tira do cárcere, atrasa o calendário de vacinação, esquece-se de o desparasitar, dá-lhe rações baratas, deixa-o apanhar otites e, como está sempre com pressa, deixa de olhar para ele, não vá o bicho importuná-lo ou causar-lhe problemas de “consciência”. Libertar os cães do corso carnavalesco é um imperativo e para que isso aconteça é necessário dar combate aos “Zé-Pereiras” que nos aparecem. Eis aqui um dos nossos propósitos.
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