domingo, 14 de novembro de 2010

A trela é uma arma

Não queremos aqui plagiar os ditos cantores de intervenção e um tema que lhes foi querido: “A canção é uma arma”, mas promover a defesa daqueles que rotineiramente saiem à rua com o seu cão e que temem pela sua segurança, despreparados, distantes das câmaras, de um policiamento eficaz e em horas passíveis de maus encontros, face ao aumento da criminalidade urbana e à inevitável instabilidade social que se agiganta. Os jovens de hoje já não tiveram a felicidade de brincar na rua, as nossas crianças idem, o que lhes dificulta a sua segurança, a defesa sua da integridade e a dos seus pertences, nem que seja a de um simples par de ténis. Diante de tal cenário e contrariando os mais optimistas, a ideia geral é: levem tudo mas não nos façam mal! Atendendo à situação ainda bem que assim é! Até à década de 70 do século passado (parece que foi ontem para os mais maduros e uma eternidade para os mais jovens), era comum ver-se pelas ruas e em todos os bairros bandos de crianças à solta: “índios e cow-boys”, “polícias e ladrões”, “portugueses e espanhóis”, heróis bravamente empenhados na liça e sempre atrasados para o jantar. No olho da rua todos aprendiam a defender-se, a juntar-se ao seu grupo e a ripostar as incursões dos bandos rivais. Qualquer jogo podia acabar “à pêra” ou à pedrada e raros eram aqueles que se iam queixar para casa, porque ainda apanhavam mais. As medalhas eram ganhas com nódoas negras e ocasionalmente alguém partia a cabeça. Coisas de miúdos! - Diziam os mais velhos. Hoje as ruas são doutros índios, de ladrões autênticos e doutros que nem espanhóis são! Dos cow-boys não há memória, ser polícia é ingrato e os portugueses passaram à história (acoitam--se em casa).

Quem passeia ao romper da aurora e ao lusco-fusco quando os polícias de turno são recolhidos e quando todos vão prà cama? Quem vagueia por locais ermos e por vielas ignotas? Certamente os proprietários caninos, gente que trabalha durante o dia e que se vê a braços com o repúdio geral, plebe segregada e sujeita a uma catrefa de proibições, cidadãos indefesos por força das circunstâncias, o que tem levado muitos ao abandono da excursão diária e ao borrar consentido dos animais dentro de casa, pois se para certa casta de marginais o cão é um entrave, para outros ele será o melhor dos pretextos, considerando o seu à vontade e a tradicional inoperância defensiva dos cães familiares, mais carentes de protecção e menos dados a desafios.

Quem já combateu na rua sabe da importância do elemento surpresa e da vantagem de quem dá primeiro, que o perigo sempre espreita e da necessidade das costas também verem. Passear na selva urbana é uma opção arriscada e obriga a todos os cuidados, porque os meliantes aguardam ocasião e têm grande predilecção por gente distraída, não são exigentes no furto e qualquer coisa lhes serve de ganho, apesar de violentos e isentos de maiores escrúpulos. Quando passear ao romper da aurora procure circular junto das áreas mais movimentadas (estações de comboios, paragens de autocarro, postos de combustíveis, livrarias, quiosques, cafés, etc.), evite as estradas desertas, os locais de difícil acesso e as azinhagas mal iluminadas. À noite respeite as mesmas condições e evite as zonas densamente arborizadas, porque são excelentes locais de ocultação para quem se serve das embocadas. É de todo recomendável que saia de casa acompanhado por algum familiar ou por outros condutores de cães. Evite o cruzamento próximo com vielas escuras, porque não sabe o que o espera pra lá da esquina, abandone o passeio e passe para o lado contrário, o que lhe dará mais tempo para agir e obrigará o embuçado a mostrar-se, manobra de que não se agradará. Também nos cruzamentos evite circular com o seu cão “à frente”, para que o criminoso não se entreponha entre si e o seu companheiro, dificultando desse modo a defesa de ambos. Saia com o seu cão à rua debaixo do comando de “atenção” e varie sistematicamente os passeios. Se algum desconhecido lhe perguntar se o cão morde, não se faça rogado, peça-lhe que se afaste e diga-lhe que o danado até morde nas estrelas, mesmo que isso não corresponda à verdade, porque tal poderá evitar o assalto imediato ou à posteriori. Ensine o seu cão a ladrar e peça-lhe que o faça diante de indivíduos suspeitos ou de intenções duvidosas, porque o ladrar é um aviso e ninguém sabe quando passará à ameaça. Não estoire o animal e deixe-o recuperar em zonas seguras, pois poderá vir a precisar da sua ajuda para o socorro de ambos. Acostume o animal a refrescar-se somente em casa e não consinta que ele se afaste da sua vista quando intentar defecar, pois pode acabar ludibriado e facilitar o seu assalto. Estas são algumas medidas preventivas para evitar confrontações indesejáveis, lamentáveis escaramuças onde só perde quem tem e quando menos se espera.

Acautelando a possível confrontação, infortúnio que abominamos e queremos evitar a todo o custo, é desejável que o binómio se encontre em maioria e que você se sirva do cão como escudo e da trela como lança, desde que o assaltante não venha munido de arma de fogo. O cão já deverá saber defender-se e contra-atacar, para poder ser solto e evitar assim o manietar do dono. A trela possibilita diferentes movimentos e acções, evoluções circulares de diversas combinações que projectam golpes bastante contundentes, quando usada como funda e dardo constantes ou como matraca, o que dificultará a abordagem do assaltante, a braços com o cão e sujeito e sujeito a contra golpes. O conjunto do fecho com o remate da trela, e estamos a referir-nos aquela que usamos, pesa sensivelmente 300 g, podendo atingir velocidades entre os 90 e os 135 km/h e alcançar forças de impacto entre os 27 e os 40.5 kg, dependendo isso da aceleração imprimida (se 2 ou 3 voltas por segundo), o que poderá ser letal ou colocar o agressor KO diante da certeza de algum golpe. A trela deverá trabalhar como reforço das acções caninas atingindo o assaltante noutras zonas do seu corpo, o que dificultará deveras a sua defesa, porque se agarrar a trela não se poderá defender das arremetidas do nosso companheiro. Nunca se deverá perder a trela para o assaltante, porque ao munir-se dela poderá neutralizar os ataques do cão e causar-nos igual dolo. Neste caso, de imediato e para além do incentivo a dar ao animal, seremos obrigados ao confronto físico e à luta corpo-a-corpo, usando para isso os pés e as mãos, estímulos que o cão bem aproveita e que reforçam o seu instinto de presa.

Qualquer confronto exige uma predisposição inata, uma preparação prévia e sangue frio, condições para muitos inalcançáveis ainda que em sonhos as desejassem. Diz-se que a necessidade aguça o engenho, que determinada cultura banaliza acções que outras culturas não alcançam e que a experiência tende a vencer os obstáculos seus conhecidos. Já vimos casos em que isso aconteceu e lamentavelmente muitos mais onde tal não se verificou. No entanto, considerando os possíveis ataques à sobrevivência dos proprietários caninos, aconselhamos que adquiram técnicas de defesa pessoal, subsídios que lhes garantam a defesa da sua integridade, muito embora a sabedoria possa desarmar os intentos de uns tantos, sendo por isso mesmo a melhor arma, porque trabalha por antecipação e produz o desconserto alheio, apesar da absorção do conceito não se propagar à prática na cabeça de muitos, fenómeno justificado pela sua individualidade. E porque não podemos ficar de braços cruzados e entregar ao fado todos os infortúnios, treinamos a defesa com a trela nas diferentes induções que praticamos, tendo o cuidado de proteger as cobaias. A trela é e pode ser uma arma, tal qual uma moeda ou um simples pente, o que a torna eficaz é o seu uso acertado, o que nos remeterá para a mecanicidade das acções, sem contudo desaconselharmos a procura de qualquer confronto, até porque qualquer ataque é inválido se desconsiderar o contra-ataque e qualquer arma levará ao surgimento de uma contra-arma. Diante disto, a prevenção será sempre a escolha mais acertada.

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