“O cão é do patrão e ele paga-me para isto!” Esta é uma afirmação que se repete vezes sem conta e que tem vindo a aumentar, uma opção própria dos ricos e dos famosos e também daqueles que pretendem “armar ao cágado”. A situação é fácil de descrever: determinado senhor, para quem o dinheiro não é problema e porque tem mais que fazer, absorvido que anda nos seus múltiplos afazeres, delega num empregado a responsabilidade de levar o seu cão à Escola. Sejamos sinceros, todos os adestradores sonham com clientes destes e gostariam de ver o seu número aumentado, porque é dinheiro certo e o preço pode ser inflacionado, a delonga não é problema e concorre a seu favor, engordando a carteira de quem normalmente a tem vazia.
“O homem da confiança do patrão” é geralmente um serviçal com pouca instrução, um jardineiro ou motorista, alguém que se desenrasca e não despreza qualquer biscate, rotulado de pouco inteligente e de quase nenhum préstimo, a quem se dá trabalho muitas vezes por compaixão: um lacaio. E quando assim é, o ardil está montado “Vossa Excelência adquiriu um bom cão, sem dúvida, o seu empregado é que não tem jeiteira nenhuma, mas é esforçado e tem força de vontade”. Perante isto, porque não quer ser incomodado, o patrão conforma-se com a sua sorte e ainda incentiva o adestrador à paciência e à continuação dos trabalhos. Gabar o trabalho do empregado torna-se perigoso, dar a ideia de conluio, algo a que o patrão sempre se sentirá sujeito. E quando o cão é apenas um pretexto, adoça-se o lacaio com umas minis e umas sandochas, porque a despesa sai à casa e é sempre o mesmo a pagar! Há gente que paga para ser enganada!
E quando o patrão apanha um adestrador honesto, daqueles que o informam acerca da evolução do trabalho, sente-se incomodado e remete para o empregado os assuntos relativos ao cão, ainda que possa reclamar da morosidade do processo pedagógico. Em termos de ensino, dificilmente estes cães chegarão a algum lado, porque aceitam o empregado e desprezam o patrão. Essa “ingratidão” levará ao abandono dos trabalhos escolares, perante a conformação do lacaio e a consternação do patrão. E ainda não falámos do cão!
Perante o fim adivinhado, o que faremos com ele?
Muitos dirão que nunca deveríamos ter aceite tal encargo, outros insistirão na satisfação plena do compromisso assumido, alguns adiantarão a opção do “deixa andar” e outros reclamarão pela felicidade do animal. Estamos perante um problema deontológico. Se analisarmos a situação pelo prisma do adestrador, todos terão alguma razão, mas se o bem-estar do cão for o objecto, a maioria abraça o equívoco, porque o objectivo central do adestramento é a sobrevivência canina que obriga ao sacrifício pessoal em prol da salvaguarda animal. E depois, a causa do problema é alheia à responsabilidade do cão, porque o bicho vai para onde o levam e nem sequer foi ouvido. Conciliar os interesses do patrão, o respeito pelo lacaio e os direitos do animal não é tarefa fácil, porque o patrão reclama por brevidade, o lacaio não se sente motivado, o cão resiste ao ensino e o adestrador compadece-se do animal. O imbróglio lembra o ditote brasileiro: “se pegar, o bicho mata; se fugir, o bicho pega!”
Contrariados, somos obrigados a ministrar obediência ao cão, na esperança efémera que a sua prestação leve a uma melhor aceitação, apesar de sabermos que o desuso eliminará os conteúdos de ensino aplicados, porque o lacaio já cumpriu e o patrão não se sentirá na obrigação. Se não houver uma evolução laboral substantiva, o destino do cão poderá sair ainda mais comprometido, vir a ser objecto de maior desprezo ou entregue a terceiros. A precariedade social do animal não deverá ser agravada pelo método pedagógico escolhido, que sempre deverá sujeitar-se à memória afectiva e considerar o particular do cão. É importante responsabilizar o lacaio pelo insucesso nas metas a atingir, para que de alguma forma, melhore as suas prestações e se socorra dos vínculos afectivos necessários. O cão necessita de ser amado!
O treino deverá devolver ao animal a liberdade que lhe é negada em casa, quando suja a roupa que não deve, parte alguns tarecos, danifica o jardim ou risca os carros acidentalmente. É evidente que trabalharemos para que isso não aconteça, mas ao mesmo tempo, faremos da pista um espaço próprio para a sua alegria e evasão. Como a maioria dos disparates caninos são pedidos de atenção e súplicas de parceria, importa estabelecer, nos dias em que o cão não vai à escola, a excursão diária, coisa que alcançaremos pela anuência do patrão e pela prestação do lacaio. Disto jamais abriremos mão, ainda que para ambos, o canil seja a melhor das opções. Ao alcançarmos isto, não trabalhámos em vão e o cão fica mais feliz. Esta deve ser a nossa preocupação.
“O homem da confiança do patrão” é geralmente um serviçal com pouca instrução, um jardineiro ou motorista, alguém que se desenrasca e não despreza qualquer biscate, rotulado de pouco inteligente e de quase nenhum préstimo, a quem se dá trabalho muitas vezes por compaixão: um lacaio. E quando assim é, o ardil está montado “Vossa Excelência adquiriu um bom cão, sem dúvida, o seu empregado é que não tem jeiteira nenhuma, mas é esforçado e tem força de vontade”. Perante isto, porque não quer ser incomodado, o patrão conforma-se com a sua sorte e ainda incentiva o adestrador à paciência e à continuação dos trabalhos. Gabar o trabalho do empregado torna-se perigoso, dar a ideia de conluio, algo a que o patrão sempre se sentirá sujeito. E quando o cão é apenas um pretexto, adoça-se o lacaio com umas minis e umas sandochas, porque a despesa sai à casa e é sempre o mesmo a pagar! Há gente que paga para ser enganada!
E quando o patrão apanha um adestrador honesto, daqueles que o informam acerca da evolução do trabalho, sente-se incomodado e remete para o empregado os assuntos relativos ao cão, ainda que possa reclamar da morosidade do processo pedagógico. Em termos de ensino, dificilmente estes cães chegarão a algum lado, porque aceitam o empregado e desprezam o patrão. Essa “ingratidão” levará ao abandono dos trabalhos escolares, perante a conformação do lacaio e a consternação do patrão. E ainda não falámos do cão!
Perante o fim adivinhado, o que faremos com ele?
Muitos dirão que nunca deveríamos ter aceite tal encargo, outros insistirão na satisfação plena do compromisso assumido, alguns adiantarão a opção do “deixa andar” e outros reclamarão pela felicidade do animal. Estamos perante um problema deontológico. Se analisarmos a situação pelo prisma do adestrador, todos terão alguma razão, mas se o bem-estar do cão for o objecto, a maioria abraça o equívoco, porque o objectivo central do adestramento é a sobrevivência canina que obriga ao sacrifício pessoal em prol da salvaguarda animal. E depois, a causa do problema é alheia à responsabilidade do cão, porque o bicho vai para onde o levam e nem sequer foi ouvido. Conciliar os interesses do patrão, o respeito pelo lacaio e os direitos do animal não é tarefa fácil, porque o patrão reclama por brevidade, o lacaio não se sente motivado, o cão resiste ao ensino e o adestrador compadece-se do animal. O imbróglio lembra o ditote brasileiro: “se pegar, o bicho mata; se fugir, o bicho pega!”
Contrariados, somos obrigados a ministrar obediência ao cão, na esperança efémera que a sua prestação leve a uma melhor aceitação, apesar de sabermos que o desuso eliminará os conteúdos de ensino aplicados, porque o lacaio já cumpriu e o patrão não se sentirá na obrigação. Se não houver uma evolução laboral substantiva, o destino do cão poderá sair ainda mais comprometido, vir a ser objecto de maior desprezo ou entregue a terceiros. A precariedade social do animal não deverá ser agravada pelo método pedagógico escolhido, que sempre deverá sujeitar-se à memória afectiva e considerar o particular do cão. É importante responsabilizar o lacaio pelo insucesso nas metas a atingir, para que de alguma forma, melhore as suas prestações e se socorra dos vínculos afectivos necessários. O cão necessita de ser amado!
O treino deverá devolver ao animal a liberdade que lhe é negada em casa, quando suja a roupa que não deve, parte alguns tarecos, danifica o jardim ou risca os carros acidentalmente. É evidente que trabalharemos para que isso não aconteça, mas ao mesmo tempo, faremos da pista um espaço próprio para a sua alegria e evasão. Como a maioria dos disparates caninos são pedidos de atenção e súplicas de parceria, importa estabelecer, nos dias em que o cão não vai à escola, a excursão diária, coisa que alcançaremos pela anuência do patrão e pela prestação do lacaio. Disto jamais abriremos mão, ainda que para ambos, o canil seja a melhor das opções. Ao alcançarmos isto, não trabalhámos em vão e o cão fica mais feliz. Esta deve ser a nossa preocupação.
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