terça-feira, 10 de novembro de 2009

::: Cachorros: 1º. ciclo escolar (dos 4 aos 6 meses) :::

A necessidade escolar não é absoluta, porque a escola não é um fim em si mesmo e a integração doméstica pode acontecer sem problemas. No entanto, gente preocupada com os seus cachorros, sempre procura conselho e ajuda junto dos profissionais, para melhor compreender e agir em conformidade. Quando a instalação doméstica é satisfatória, a escola surge como um complemento e isso pode não ser obrigatório, ser até dispensável. Todos já vimos cães bem comportados sem nunca terem pisado um centro de treino, felizes no seu grupo e exalando parceria. Apesar de não serem casos comuns, acontecem um pouco por toda a parte, ligados à disponibilidade dos donos e à consequente comunhão de vida. Sim, o cão pode ser educado em casa, sem o contributo alheio e para além do benefício escolar, desde que o dono o consiga e saiba fazer, isto se entendermos a educação no seu sentido mais restrito: na assimilação da regra. Contudo, o propósito escolar deve ultrapassar a conveniência e apostar numa maior capacitação, mercê dos impulsos herdados presentes em cada cão. Por outro lado, a subtracção da sobrevivência animal invalida qualquer método, obsta a qualquer serviço e aponta para um final indesejado.
O hábito de levar os cães à escola remonta à divisão arcaica dos cães de utilidade, intrinsecamente ligado aos exemplares de raça e às expectativas neles depositadas, funcionando a escola como distrito de recrutamento, laboratório de testes e simulacro das acções pretendidas, como se a raça definisse o indivíduo e a excelência somente nela habitasse, o que como se sabe, é a maior das inverdades, considerando a inadequação de muitos e a prestação inesperada de outros, que muitas vezes sem raça ou doutra dita imprópria, suplantam “os eleitos” naquilo que deveria ser o seu oficio. Mais do que olhar para a raça, importa reconhecer o indivíduo à nossa frente, naquilo que o torna particular e diferente dos demais. Sobre isto deve também assentar o ensino escolar, porque a melhor das pedagogias sempre respeitará o princípio da individualização, para além das expectativas e em abono do indivíduo. E neste sentido, a escola é uma oficina de consertos, nisto se compreende o significado do verbo adestrar, muito pra além do comum “treinar” e bem distante das preocupações gerais.
Naturalmente, o cachorro aos 4 meses passa a seguir os cães adultos que se tornarão os seus mestres. Eles ensiná-lo-ão a achar pistas, a caçar, a defender-se, a identificar perigos e inimigos, a juntar-se ao bando e a assimilar a sua hierarquia. Este ensino é dinâmico e acontece pela excursão, mercê da predação que garante simultaneamente a sobrevivência e a perpetuação da espécie. Porquê aos 4 meses?
Até às 3 semanas de vida, o cachorro é um “come e dorme” interrompendo somente o sono pelo ciclo das mamadas, (dorme mais do que come). A partir daí começa a comer, salta da maternidade e passa a dormir noutros locais, ainda que limítrofes ao lugar do seu nascimento e sem perder a mãe de vista. Dos 30 aos 60 dias a sua actividade aumenta, ataca os sapatos das visitas e enceta lutas com os irmãos. Pouco a pouco, vai regulando a sua azáfama pelo relógio biológico e a partir daí ganha desenvoltura. Aos 3 meses já ensaia pequenos saltos, recorre ao galope e aumenta os seus giros, movido pela curiosidade e pela robustez adquirida. Todavia, a sua autonomia é reduzida e nivelada pela necessidade de descanso. A autonomia que garante a excursão, tanto física quanto psicológica, só lhe é possível aos 4 meses, altura em que se encontra na idade da cópia e parte à descoberta. Este deve ser, pelas razões expostas e segundo o nosso entendimento, o momento certo para iniciarmos o seu adestramento, através da inscrição escolar e pelo contributo das classes mais adiantadas. Não obstante, a coleira deve-lhe ser colocada aos 2 meses e partir daí, de modo suave e progressivo, iniciar-se a condução à trela. O uso da coleira e o exercício da trela não devem ser simultâneos, primeiro deixamos que o cachorro se acostume à coleira e só depois o convidaremos a seguir-nos pela indução da trela, porque não queremos traumas e não seguimos a política “dos fins que justiçam os meios”.
A QUESTÃO DO PRÉ-TREINO: UMA MEDIDA EXCEPCIONAL
Quando há essa oportunidade e a título excepcional, convidamos alguns binómios para o Pré-Treino, momento pedagógico que antecede o treino propriamente dito e que repara alguns atrasos cognitivos, físicos, psicológicos ou sociais, causadores de desaproveitamento no 1º Ciclo Escolar. O objectivo do Pré-Treino é a capacitação, visa a recuperação dos cachorros atrasados quando comparados com outros da mesma idade, colocando-os no mês seguinte em pé de igualdade com os seus colegas de classe. O convite é feito para os cachorros com 3 meses de idade, geralmente vítimas de uma má instalação doméstica, de um acompanhamento precário, de um desenvolvimento anómalo ou sujeitos a impropriedades genéticas de vária ordem. À parte disto e acontece com frequência, o convite é extensível aos donos menos hábeis e mais descuidados, independentemente das características dos seus cachorros ou por causa da sua excelência, porque o dono é o seu principal agente de ensino. Os parâmetros que levam ao convite são os constantes no Quadro de Crescimento Funcional em uso na Escola. É importante não esquecer: ainda que as metas de qualquer “Plano de Aula” sejam escolares, os seus objectivos serão sempre domésticos. Entre nós, o tempo útil do Pré-Treino evolui semanalmente de 15 para 30%, quando comparado com os momentos de supercompensação, respectivamente: 10 minutos na primeira semana; 12 minutos na segunda; 15 minutos na terceira e 20 minutos na última. A actividade cognitiva é subdividida em 2 momentos e o reforço positivo é indispensável.
A CORRECÇÃO MORFOLÓGICA: O PRIMEIRO DOS NOSSOS TRABALHOS
A correcção morfológica é a primeira das nossas preocupações, porque são raros os cachorros que não apresentam alguma impropriedade. Estamos a falar, entre outras coisas, do abatimento de metacarpos, do dorso selado, do jarrete de vaca, do pé chato e da anomalia “peito estreito e mãos atiradas para fora”. A correcção será operada pelo contributo de aparelhos específicos, onde o Extensor de Solo alcançará naturalmente um lugar de destaque. Quando os desaprumos ou menos valias são de origem genética, apenas podemos suavizá-los; quando se reportam somente à fase de crescimento, conseguiremos eliminá-los. O desuso da correcção morfológica pode perpetuar incapacidades não hereditárias, intrinsecamente ligadas à cadeia alimentar e ao tipo de exercício dos cachorros, porque aumentarão de peso naturalmente e mais sobrecarregarão os seus membros e articulações. A correcção morfológica encontra-se sujeita a uma regra: primeiro recuperam-se os aprumos e só depois o dorso. Os cachorros rectangulares devem merecer especial cuidado, porque têm uma curva de crescimento mais alongada e encontram-se mais sujeitos a incapacidades relativas à sua morfologia. Como atrás foi dito, a ginástica aqui é fundamental e deve ser neste ciclo a disciplina maioritária.
O QUE FAZER PARA FACILITAR O 1º CICLO ESCOLAR
Considerando as 4 áreas do adestramento clássico (obediência, ginástica, guarda e pistagem), adiantamos por disciplina as tarefas domésticas indutoras ao treino e ao seu sucesso:
Obediência: O cachorro já deve obedecer ao chamamento pelo nome, chegar atrelado e acostumado a andar à esquerda, com os comandos de “junto” e “aqui” assimilados.
Ginástica: Correr atrás de uma bola ou brinquedo, executar pequenas subidas a 30º, saltar obstáculos naturais com 40 cm de altura e estar acostumado a uma marcha diária de 1 km, são benefícios de todo desejáveis (estes valores compreendem indivíduos que atingirão os 60 cm na idade adulta)
Guarda: O cachorro deve ser capaz de agarrar e puxar um trapo, estar acostumado a sinalizar a presença de estranhos, habituado a diferentes ecossistemas e não se intimidar perante ameaças.
Pistagem: A procura do prato da comida e do dono, assim como a absorção do comando de “busca”, são tarefas desejáveis e profícuas para o 1º Ciclo Escolar.
PERCENTUAL DA CARGA HORÁRIA INERDISCIPLINAR NO 1º CICLO
Tendo em conta o apetrechamento físico e o robustecimento do carácter dos cachorros, adiantamos o percentual da carga interdisciplinar neste ciclo: Ginástica 50%, Pistagem 30%, Guarda 10% e Obediência 10%. Neste Ciclo os momentos de evasão e supercompensação são superiores aos reservados para o trabalho útil. No 1º Ciclo equipa-se o cachorro e só depois dos 10 meses o capacitaremos para a finalidade, segundo o particular da sua vocação e de acordo com a sua morfologia. Nenhuma precocidade é desejável, porque a perca da plasticidade obsta à absorção cognitiva, diminui os indíces de progresso e compromete a adaptação. Há que dar tempo ao tempo e apostar na experiência variada e rica, enquanto subsídio para o aumento da capacidade de aprendizagem. Os cães a quem foi surripiado o 1º Ciclo, por ignorância ou estupidez, jamais alcançarão os índices atléticos que lhe eram próprios, necessários para o seu bem-estar e superior desempenho. Na nossa opinião, por isso não entregamos o trabalho a novatos, o 1º Ciclo Escolar é aquele que se reveste de maior importância na vida de um cão, porque ele vive de memórias e sabe com o que contar. Como o assunto não se esgota aqui, estamos ao seu dispor.

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