terça-feira, 21 de março de 2017

SE UM NÃO SABE ENSINAR, O OUTRO NÃO TEM COMO APRENDER!

Lá voltamos nós ao velho assunto das pistas tácticas, cada vez mais desusadas por condutores caninos civis, militares e policiais, sequências de obstáculos específicos para um melhor desempenho e capacitação dos cães na sua especialidade. À parte destes benefícios, estas pistas têm muito para ensinar aos binómios, experiência que possibilita a cumplicidade nas situações mais difíceis, obriga os condutores cinotécnicos ao acerto e liberta os cães de esforços desnecessários e consequentemente de indesejáveis lesões. O problema hoje é que tecnicamente os condutores são deploráveis, desconhecendo o que fazer diante de obstáculos onde o simples aliciamento não basta para a sua resolução e, quando basta, acaba por colocar em risco a integridade física e psicológica dos animais pelo mau atavio técnico de quem os conduz nas tentativas indutoras ao acerto.
Este abandono dos cães a si próprios, que desconsidera as ajudas dos seus condutores e que obviamente dispensa também o auxílio da trela (utensílio célere que possibilita o sucesso na transposição dos obstáculos por garantir a direcção certa, a necessária marcação do salto, a sua entrada, área a transpor e saída), acaba por causar-lhes entraves cognitivos sérios e resistência por força dos insucessos experimentados. Devido às tentativas fracassadas, a liderança sai enfraquecida e a cumplicidade comprometida por conta da inusitada autonomia (não estamos a falar de lobos mas de animais que sempre esperam a nossa orientação para a resolução de problemas mútuos).
É evidente que os cães melhoram as suas prestações com o tempo e o treino (estamos a falar da experiência que neles se transforma em lições de vida), mas se nunca aprenderem a ultrapassar correctamente os obstáculos jamais o farão, empregando invariavelmente exagerados esforços ou empreendo desnecessárias reduções da marcha segundo o método de transposição que encontraram mais conveniente. Importa dizer que os diferentes grupos de obstáculos constantes nas pistas tácticas têm sequências naturais, partindo-se do mais simples para o mais complicado e do mais fácil para o mais difícil, só se devendo nelas evoluir depois da aprovação canina nos antecedentes.
Um condutor cinotécnico, para além de ser lesto em recompensar, deve saber ajudar o cão onde ele necessita de auxílio, não o abandonar nas dificuldades, saber colocar-se nas transposições e adiantar-se na saída dos obstáculos, incentivar o animar à voz e acalmá-lo quando dominado pelo stress. Mais, não deve convidar o cão para esforços para além da sua preparação, força e capacidade de resolução, capacidade de resolução que será tanto melhor quanto for a do seu condutor.
Poderemos ensinar cães como se de gatos se tratassem? Nunca! Por vezes, assim como quem não quer a coisa, perante a inoperância do racional e com os cães entregues à sua sorte, observamos certos condutores que nos lembram símios a tentar dialogar infrutiferamente com os seus incompreendidos lobos familiares, valendo-se de umas tantas macacadas para o alcance dos seus intentos. 
No adestramento uma das grandes verdades é esta: tramado está o cão cujo dono não o sabe ensinar!

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