Lá voltamos nós ao velho assunto das pistas
tácticas, cada vez mais desusadas por condutores caninos civis, militares e
policiais, sequências de obstáculos específicos para um melhor desempenho e
capacitação dos cães na sua especialidade. À parte destes benefícios, estas
pistas têm muito para ensinar aos binómios, experiência que possibilita a
cumplicidade nas situações mais difíceis, obriga os condutores cinotécnicos ao
acerto e liberta os cães de esforços desnecessários e consequentemente de
indesejáveis lesões. O problema hoje é que tecnicamente os condutores são
deploráveis, desconhecendo o que fazer diante de obstáculos onde o simples
aliciamento não basta para a sua resolução e, quando basta, acaba por colocar
em risco a integridade física e psicológica dos animais pelo mau atavio técnico
de quem os conduz nas tentativas indutoras ao acerto.
Este abandono dos cães a si próprios, que
desconsidera as ajudas dos seus condutores e que obviamente dispensa também o
auxílio da trela (utensílio célere que possibilita o sucesso na transposição
dos obstáculos por garantir a direcção certa, a necessária marcação do salto, a
sua entrada, área a transpor e saída), acaba por causar-lhes entraves
cognitivos sérios e resistência por força dos insucessos experimentados. Devido
às tentativas fracassadas, a liderança sai enfraquecida e a cumplicidade comprometida
por conta da inusitada autonomia (não estamos a falar de lobos mas de animais
que sempre esperam a nossa orientação para a resolução de problemas mútuos).
É evidente que os cães melhoram as suas
prestações com o tempo e o treino (estamos a falar da experiência que neles se
transforma em lições de vida), mas se nunca aprenderem a ultrapassar
correctamente os obstáculos jamais o farão, empregando invariavelmente
exagerados esforços ou empreendo desnecessárias reduções da marcha segundo o
método de transposição que encontraram mais conveniente. Importa dizer que os
diferentes grupos de obstáculos constantes nas pistas tácticas têm sequências
naturais, partindo-se do mais simples para o mais complicado e do mais fácil
para o mais difícil, só se devendo nelas evoluir depois da aprovação canina nos
antecedentes.
Um condutor cinotécnico, para além de ser
lesto em recompensar, deve saber ajudar o cão onde ele necessita de auxílio,
não o abandonar nas dificuldades, saber colocar-se nas transposições e adiantar-se
na saída dos obstáculos, incentivar o animar à voz e acalmá-lo quando dominado
pelo stress. Mais, não deve convidar o cão para esforços para além da sua
preparação, força e capacidade de resolução, capacidade de resolução que será
tanto melhor quanto for a do seu condutor.
Poderemos ensinar cães como se de gatos se
tratassem? Nunca! Por vezes, assim como quem não quer a coisa, perante a
inoperância do racional e com os cães entregues à sua sorte, observamos certos
condutores que nos lembram símios a tentar dialogar infrutiferamente com os
seus incompreendidos lobos familiares, valendo-se de umas tantas macacadas para
o alcance dos seus intentos.
No adestramento uma das grandes verdades é
esta: tramado está o cão cujo dono não o sabe ensinar!
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