sábado, 25 de março de 2017

PORQUE SE TORNA IMPORTANTE COMBATER O AUTOMATISMO DAS ACÇÕES CANINAS

Todos os que nos dedicamos ao adestramento sabemos que sem o contributo das memórias afectiva e mecânica jamais chegaríamos à associativa e o condicionamento canino procurado seria impossível. Sem prejuízo da cumplicidade que não dispensamos, preferimos os cães cuja memória mecânica seja superior à afectiva, porque são mais fáceis de ensinar, não dependem de estados anímicos, são menos propensos à abstracção e assimilam os conteúdos de ensino com maior celeridade. Todavia, depois de alcançados os automatismos julgados como básicos, importa combater a mecanicidade das acções, obrigatoriedade pedagógica que se prende com a salvaguarda dos animais, com o seu aprimoramento técnico, desenvolvimento cognitivo, superior capacitação, reforço da liderança e melhor uso, tudo através de obstáculos ou exercícios que tendo diversos modos de resolução tornam os cães mais atentos, versáteis e menos previsíveis.
Todos os cães com rotinas assimiladas são presa fácil à mão de quem não lhes quer bem, cativam-se ao conhecem e comprometem a sua salvaguarda, não encontrando solução imediata para novos problemas, por força da novidade, exagerada dependência, menor autonomia e fraca carga instintiva, impropriedades que os levam a correr sérios riscos pelos hábitos adquiridos e sem ordem expressa para isso, como foi o caso do Labrador de um aluno nosso, que acostumado a saltar bancos de pedra, saltou naturalmente um pequeno muro empedrado que lhe surgiu na frente, vindo a cair inesperadamente de 3 metros, exactamente sobre uma entrada subterrâneo dum parque automóvel. Este acidente, que resultou na fractura dos ossos da bacia do animal, seria evitado se esperasse a ordem de salto e o seu dono fosse previdente (o homem passeava descontraidamente e ia falando ao telemóvel).
Desde que se descubra por onde passa um javali, o que não é difícil de descobrir pelos indícios que deixa, é fácil armar-lhe um laço e caçá-lo. Também o cão de guarda, em abono da surpresa que lhe garante a vantagem e a salvaguarda, deverá ser ensinado a ocultar-se em diferentes locais de vigilância e a alterar os seus percursos de ronda. Simultaneamente deverá avançar silencioso e dissimulado, porque caso denuncie a sua presença facilmente será eliminado. E como qualquer cão ignora o que está para além do que salta, importa ensiná-lo a transpor os obstáculos à sua frente com diferentes abordagens, o que possibilitará a sua evasão perante armadilhas e reforçará a liderança. E para que isto aconteça torna-se imperativo recorrer a obstáculos de uso duplo ou triplo.

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