Todos os que nos dedicamos ao adestramento
sabemos que sem o contributo das memórias afectiva e mecânica jamais
chegaríamos à associativa e o condicionamento canino procurado seria impossível.
Sem prejuízo da cumplicidade que não dispensamos, preferimos os cães cuja
memória mecânica seja superior à afectiva, porque são mais fáceis de ensinar,
não dependem de estados anímicos, são menos propensos à abstracção e assimilam
os conteúdos de ensino com maior celeridade. Todavia, depois de alcançados os
automatismos julgados como básicos, importa
combater a mecanicidade das acções, obrigatoriedade pedagógica que se prende
com a salvaguarda dos animais, com o seu aprimoramento técnico, desenvolvimento
cognitivo, superior capacitação, reforço da liderança e melhor uso, tudo
através de obstáculos ou exercícios que tendo diversos modos de resolução
tornam os cães mais atentos, versáteis e menos previsíveis.
Todos os cães com rotinas assimiladas são
presa fácil à mão de quem não lhes quer bem, cativam-se ao conhecem e
comprometem a sua salvaguarda, não encontrando solução imediata para novos
problemas, por força da novidade, exagerada dependência, menor autonomia e fraca
carga instintiva, impropriedades que os levam a correr sérios riscos pelos
hábitos adquiridos e sem ordem expressa para isso, como foi o caso do Labrador
de um aluno nosso, que acostumado a saltar bancos de pedra, saltou naturalmente
um pequeno muro empedrado que lhe surgiu na frente, vindo a cair inesperadamente
de 3 metros, exactamente sobre uma entrada subterrâneo dum parque automóvel.
Este acidente, que resultou na fractura dos ossos da bacia do animal, seria
evitado se esperasse a ordem de salto e o seu dono fosse previdente (o homem passeava
descontraidamente e ia falando ao telemóvel).
Desde que se descubra por onde passa um javali,
o que não é difícil de descobrir pelos indícios que deixa, é fácil armar-lhe um
laço e caçá-lo. Também o cão de guarda, em abono da surpresa que lhe garante a vantagem
e a salvaguarda, deverá ser ensinado a ocultar-se em diferentes locais de
vigilância e a alterar os seus percursos de ronda. Simultaneamente deverá
avançar silencioso e dissimulado, porque caso denuncie a sua presença
facilmente será eliminado. E como qualquer cão ignora o que está para além do
que salta, importa ensiná-lo a transpor os obstáculos à sua frente com
diferentes abordagens, o que possibilitará a sua evasão perante armadilhas e reforçará
a liderança. E para que isto aconteça torna-se imperativo recorrer a obstáculos
de uso duplo ou triplo.
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