Vamos primeiro à
malfadada história e depois às considerações. Uma senhora britânica, de nome Judith
Carling, moradora em Middlesbrough/England, encarregada de tomar conta do cão
do neto, que se encontrava a trabalhar ao momento, um mestiço de Husky com
Akita, acabou por receber a visita de um irmão mais velho, um cidadão com 77
anos de idade. Com os três dentro da mesma habitação e o cão a roer um osso
junto à lareira, quando a visita se levantou da cadeira onde estava para ver
uma foto no telefone da irmã, o mestiço atacou aquele ancião na mão direita,
vindo a jogá-lo ao solo sem cessar o seu ataque, arremetida que durou de 3
minutos. Devido aos ferimentos infligidos, o desafortunado ancião foi remetido
para o hospital mais próximo onde permaneceu três dias internado. A sua irmã e
tutora daquele mestiço acabou condenada a 12 semanas de prisão com pena
suspensa por 1 ano, a indemnizar a vítima em 1.000 £ e a pagar mais
85 £ de custos judiciais. O tribunal poupou a vida ao cão, obrigando ao
encarceramento num canil sempre que possível e a circular quando necessário à
trela curta e açaimado.
Adiantamos para
quem não sabe que mestiços como o cão deste incidente são muito procurados,
quer pela sua beleza quer pela sua maldade, sendo baptizados por “Huskitas”,
considerando o nome das duas raças que contribuem para a sua formação. Quando
se mistura um cão lupino com outro tipo spitz ou primitivo assiste-se a um
regresso ao atavismo, tanto do ponto de vista físico como do sensorial, o que
diminui a dependência, reforça a carga instintiva e aumenta a autonomia dos
cães assim procedentes (não é por acaso que nestes cruzamentos, visando a
utilidade dos cães, se recorra ao chacal como melhorador, cite-se como exemplo os
cães de Sulimov). Mestiços assim tendem a ser ardilosos, porque juntam à
argúcia dos lupinos o carácter indómito dos spitz orientais. E se a estes se
juntar, como é o caso, um lupino como o Husky, então temos o caldo entornado,
conhecida que é a obstinação presente nestes cães nórdicos de trenó. E sobre o
cruzamento Lupino/Spitz vale a pena lembrar o Kunming wolfdog chinês, cão
criado para fins militares e que hoje é usado maioritariamente como cão de
guarda, raça a que dedicámos o artigo: “WOLFDOG KUNMING (昆明狼狗):A HIBRIDAÇÃO
LUPINO/SPITZ PARA FINS MILITARES”, editado em 20/07/2015.
É evidente que o
mundo canino está cheio de disparates iguais, de cruzamentos experimentais e
arbitrários dentro dos cães ditos de trabalho, como é o caso do Malinois, muitos
deles chegados aqui via Holanda e provenientes dos mais variados países do
Leste Europeu e duns tantos tontos ocidentais, animais cuja aparência e comportamento evidenciam a mestiçagem
de que foram alvo, acabando alguns deles rotulados de imprestáveis e condenados
ao isolamento, à castração e ao abate. Aqui há que tirar o chapéu a um
procedimento usual nos canis de acolhimento, já que sempre insistem na
castração dos animais para adopção, norma que acaba por revelar-se de extrema
utilidade para a salvaguarda de pessoas e cães. A maldade dos cães tem solução,
a maldade dos homens que se servem deles é que parece não ter fim à vista!
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